segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

PEDRO NUNES E O PROTOCOLO ACADÉMICO


Que, na Universidade de Coimbra como aliás noutras universidades antigas, os protocolos são importantes pode confirmar-se pela leitura do livro "Pedro Nunes. Em busca das suas origens", de Maria Teresa Lopes Pereira (Colibri, 2009), do qual já aqui falei. O célebre matemático teve vários dissabores com os colegas por causa sobre questões de antiguidade. Transcrevo a este respeito trecho das páginas 105-106:
"Nesta época, na vida social em geral e também na vida universitária, havia regras protocolares exigentes, no tocante ás precedências nos lugares ocupados em sessões públicas, sendo obrigatório atender à concepção hierárquica universitária, que, por vezes, gerava conflitos. estes agravavam-se mais numa universidade recente, em que as regras não estavam ainda claramente definidas. Em vários conselhos, este assunto tinhas já sido debatido a propósito de diferentes questões, de que se destacam, título de exemplo, os de Janeiro e Março de 1547. O próprio reitor afirmara perante o Conselho "quantos desgostos e escandalos naçim de semelhantes diferenças as quais se não podiam determinar por a dúvida que os Estatutos causavam". Muitas vezes tinham de apelar para o Rei, o que em última análise, acabava por tornar a situação ainda mais complexa. Assim, foram muitos os casos de disputas pela primazia na Universidade de Coimbra nesta época.

Destacamos apenas um caso por envolver directamente o nosso protagonista. trata.-se de uma discussão acalorada entre Pedro Nunes e Afonso do Prado, pois o matemático dizia que "elle era mais antigo que o doutor afonso do prado, lente de prima de theologia" (15 de Novembro de 1554). As razões dos dois foram explicadas perante o conselho universitário que verificou que ambos encaravam a questão da primazia como uma questão de honra pessoal e de honra das respectivas faculdades. Tudo se resolveu quando em 1555 (26 de Outubro), Prado foi escolhido para reitor e Pedro Nunes declarou que "não queria mais falar deste caso [...] por o doutor prado lhe dizer que estava doente que o não quisesse perturbasse em sua consciência pois estava pacifico em sua posse". E, na realidade, Nunes aparece como testemunha na sua investidura.

Esta afirmação não deve induzir-nos a pensar que Pedro Nunes desistiu de ver reconhecido o seu direito como mais antigo no grau. Declara-o logo na primeira reunião. E, em 8 de Novembro desse ano, confirma-se a aceitação da sua pretensão pelo facto de se ter sentado na Mesa presidida pelo Reitor, tal como Rodrigo Reinoso, na qualidade de "doctores mais antigos e deputados". No entanto, há mais episódios que envolvem Nunes na disputa acerca dos lentes que deveriam servir na Mesa da Fazenda e outras polémicas, em que o conselho não lhe dá o apoio pretendido..."

2 comentários:

João de Castro Nunes disse...

Em grande parte a nossa longa história foi uma palaciana luta de precedências, como aquela que, na corte espanhola,
pôs em confronto o jovem Rei D. Sebastião com seu poderoso tio, o Rei Filipe II, a que na matéria deu lição memorável de protocolo, respeito e cortesia, passando primeiro em determinada porta como soberano visitante, mas logo, subalternizando-se, afastando o reposteiro para gentilmente dar passagem ao seu idoso e achacoso anfitrião. Quantos exemplos! JCN

João de Castro Nunes disse...

Se assim era entre soberanos, como não haveria de ser com pundonorosos lentes entre si?!... JCN

PELITOS

 Por A. Galopim de Carvalho Já o disse e não é demais repetir que, por razões dinâmicas, decorrentes dos diâmetros das respectivas partícul...