terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

"FALTA-NOS A OCEÂNIA"

Trancrevo do "Público on-line" a notícia da colocação da primeira pedra do novo Museu dos Coches (ver aqui), que muita gente considera uma obra sumptuária:
"Coincidindo com os 100 dias do Governo Sócrates, [a cerimónia da 1.º pedra do novo Museu dos Coches] serviu sobretudo para lançar uma obra que, disse o primeiro-ministro, é um "sinal claro de investimento numa área cultural e museológica", um "investimento na arquitectura" ("sempre tive a mania de que percebia alguma coisa de arquitectura", confessou) e um sinal de que "Lisboa não desiste da sua ambição cosmopolita e universal".

Mendes da Rocha, também presente, reforçou a ideia de que o museu será elevado do chão, criando por baixo um espaço de passagem, para "não ser um transtorno no passeio a pé". António Costa, presidente da Câmara Municipal de Lisboa - que se tinha oposto a um silo automóvel junto ao rio, previsto no projecto inicial e do qual Mendes da Rocha acabou por abdicar - não poupou elogios ao arquitecto brasileiro. E sublinhou que este projecto faz parte do objectivo de ter obras de arquitectos dos cinco continentes na zona ribeirinha. "Falta-nos a Oceânia", disse. "Arranjaremos um projecto para convidar um arquitecto da Oceânia", prometeu-lhe Sócrates de seguida."
Fica registado: O primeiro-ministro português, não contente com a inutilidade do novo Museu dos Coches, pré-anunciou um projecto, decerto também inútil, de um arquitecto da Oceânia. Assim vai a cultura entre nós...

5 comentários:

João Ventura disse...

"Mendes da Rocha, também presente, reforçou a ideia de que o museu será elevado do chão,"

e os coches vão entrar para lá:

a) saltando
b) por uma rampa semelhante às que dão acesso às cadeiras de rodas
c) desmanchando-os no rés-do-chão e tornando a montá-los no 1º andar
d) sugestão do leitor

Anónimo disse...

A sua parte final em jeito de conclusão é triste porque revela que não leu o artigo que se propõe comentar.
Quem fala em Oceânia? Costa talvez?
Fernando Quintas

Ferreira arq. disse...

Para os que andam arredados deste assunto, transcrevo uma parte do texto que elaborei em Junho de 2009, sobre esta asneira e outras que tais( http://forumsociedadecivil.blogspot.com/2009/06/em-portugal-o-museu-dos-coches-praca-do.html ):


...
Como iremos explicar aos nossos filhos tamanha atoarda?
Num período em que é fundamental eficiência energética em todos os actos humanos no território, já que é a insustentabilidade dos nossos actos que está a danificar irreversivelmente o meio ambiente, como podemos permitir, mesmo agora, a antítese de tudo isso!
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Um edifício enorme, devasso, consumista e gastador.
Ainda por cima edificado para transferir para lá o Museu dos Coches, que se encontra no antigo Picadeiro Real, e é... só... o museu mais frequentado e considerado de todo o país.
Para destruir um casamento que dura há mais de um século entre os velhos coches e o antigo picadeiro real, que tem coerência, é profícuo, consistente, tem escala e tem o carinho dos portugueses.
Se isto não é prazer em destruir o que está bem, em destruir o meio ambiente, é porque é outra coisa com um nome bem pior. Poderá ser mesmo estupidez?
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Os governantes contradizem-se completamente nas atitudes que tomam.
Veja-se o relatório sobre “Energia e Alterações Climáticas”, publicado em 2008/07/07, do Ministério da Economia e da Inovação, orgulho do Ministro António Pinho, e por si subscrito.
Capítulo 5:
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"V.
Eficiência Energética
Apesar da desaceleração do consumo total de energia nos últimos anos, o consumo de energia nos edifícios continua a crescer significativamente, tendo-se verificado para este sector um aumento médio de 3,9% entre 2000 e 2005. Esta tendência é em parte explicada pela aproximação dos níveis de conforto habitacional à média europeia (nomeadamente com o aumento do número de casas com aquecimento central), mas também pela ineficiência energética nos edifícios (Figura 17).

O aumento do consumo energético nos edifícios tem particular reflexo ao nível dos consumos de electricidade, uma vez que este sector é um dos principais utilizadores de energia eléctrica. De facto, se em termos de energia primária por unidade do PIB ou por crescimento, Portugal se aproxima dos níveis médios europeus, ao nível do consumo de electricidade, as taxas de crescimento verificadas nos últimos anos encontram-se entre as mais altas da Europa

Com as medidas já implementadas, o Governo veio imprimir uma alteração relevante no sentido duma trajectória de desenvolvimento sustentável. Para além disso, o Governo acaba de fixar uma nova meta a implementar até 2015, definindo medidas adicionais de redução do consumo de energia equivalentes a 10% do consumo energético (Figura 19).
Nesse sentido, e a curto prazo, o Governo prevê:

Harmonizar fiscalmente o gasóleo de aquecimento com o gasóleo rodoviário, desincentivando, de forma progressiva, a utilização do primeiro para o aquecimento doméstico e permitindo, simultaneamente, financiar o Fundo Português de Carbono para cumprimento de Quioto;

Aprovar um Plano de Acção para a Eficiência Energética com o objectivo de implementar medidas de redução de consumo de energia equivalente ao consumo energético verificado entre 2000 e 2005.”
...
(continua)

Ferreira arq. disse...

(Continuação)
...
Afinal os políticos sabem o que é eficiência energética e porque se deve agir!
Mas isto é só para os privados?
Para o povo apertar o cinto com os encargos disto tudo?
O estado está obrigado a cumprir como todos e devia até dar o exemplo?
Não há programa que justifique minimamente, neste caso, 15000m2 de edifício novo.
Não se pode ESBANJAR em edifícios desproporcionados, e se está assumida a grande quota parte da má gestão dos edifícios, na falta de controlo do dispêndio energético do país, como podem os nossos governantes estar a agravar isto ainda mais? E a questão põe-se nestes termos, por toda a Europa, relativamente à adaptação de edifícios existentes, sendo mesmo inacreditável no que se refere a um NOVO edifício.
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O maior custo deste edifício será a sua manutenção - acabará por ser uma obra a destinar à demolição, já dentro de muito poucos anos! Contraria todas as decisões governamentais quanto a eficiência energética e objectivos determinados pelo governo de redução de consumo nos edifícios, constituindo por isto, motivo mais que suficiente para que tal edifício não possa ser aprovado - para além de todas as outras restantes questões, que são muitas.
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Não temos que pagar do nosso bolso as asneiras de quem afirma uma coisa e faz outra!
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Não seria bem meritório, para quem tem o poder de decidir, assumir já aqui a inversão de atitudes passadas, de efeitos tão nefastos? E dar assim um exemplo que tem que ser seguido em todas as intervenções humanas no território: eficiência energética, respeito e preservação ambiental.
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Lições de humildade não são fáceis, são apenas apanágio de mentes sensíveis. - Deve ser reabilitado o actual Museu dos Coches, como já todos percebemos.
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Nas intervenções urbanas deviam ser sempre responsabilizados, por todos nós, os autores dos projectos, e os decisores da implementação destas acções humanas no território, em parâmetros que correspondam efectivamente ao prejuízo que nos causam a nós e a todos os nossos descendentes, em resultado dos seus actos.
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E que tenham eles que responder aos nossos filhos por actos tão incongruentes (já que não querem saber dos esclarecimentos que terão que prestar aos próprios filhos)!

Outros textos na etiqueta “museu dos coches”:
http://forumsociedadecivil.blogspot.com/search/label/museu%20dos%20coches

Xico disse...

No tempo da outra senhora, um determinado ministro visita um concelho. Como era de bom tom a um ministro, convinha prometer ao povo uma grande obra. Vai daí o ministro prometeu uma ponte. Uma ponte, repetiram embasbacados os pacóvios. Mas oh sr. ministro, a gente nem tem rio? Oh homem, não seja casmurro. Este ano levam a ponte, e o rio logo se vê para o ano.

O corpo e a mente

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