Com a devida vénia transcrevemos artigo de Camilo Soldado no último jornal universitário "A Cabra":
Desde a origem do pensamento científico, percebeu-se que religião e iência seriam dois campos paralelos embora com coincidências, até aos dias de hoje. “Ciência e a religião partem de necessidades diferentes do homem”. Quem o diz é o docente do Departamento de Física da Universidade de Coimbra, Carlos Fiolhais.
Professor na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra mas também teólogo e filósofo, Anselmo Borges considera que as duas áreas “não se incompatibilizam”, mas admite que a ideia do contrário possa existir devido ao “facto de ter havido conflitos de parte a parte” ao longo da história.
Moisés Espírito Santo, professor catedrático na Universidade Nova de Lisboa (UNL) e especialista em sociologia e etnologia, considera que os domínios da religião e da ciência são “paralelos, mas não forçosamente contraditórios”. O sociólogo esclarece que “a prática religiosa tem um fundo da utopia, do ideal, enquanto a ciência nos permite encontrar os objectivos”.
Se Moisés Espírito Santo afirma que há domínios comuns aos dois temas, Carlos Fiolhais sustenta que tanto a doutrina religiosa como o pensamento científico “têm obviamente o homem como denominador comum”.Precisamente devido a esse factor humano em comum é que a relação entre fé e ciência nem sempre foi a mais pacífica. O exemplo mais célebre será o de Galileu Galilei, que defendia um modelo solar contrário ao defendido pela Igreja Católica e, por isso, foi perseguido. Anselmo Borges defende que, neste caso, “houve uma má interpretação da Bíblia”. O cientista vai mais longe e afirma que, quando a religião é confrontada com a ciência, geralmente “sai a perder desse embate”. “A tensão entre ciência e religião começou com o próprio início da ciência moderna”, afirma o cientista. Sobejamente conhecido é também a oposição da Igreja face à teoria da evolução das espécies de Charles Darwin. É consensual que estes são apenas dois exemplos do choque entre dois campos distintos que não devem ser misturados.
No mundo ocidental, regista-se cada vez mais um abandono da fé, pelo menos da forma como esta é praticada. Estará este facto relacionado com o avanço da tecnologia? Tanto Moisés Espírito Santo como Carlos Fiolhais acreditam que não. O professor da UNL considera que “se a ideia de Deus se perde na história da humanidade, é por culpa das diversas crenças que confundem religião com culturas locais e costumes de uma determinada época”. Carlos Fiolhais entende que “pode haver uma perda de fiéis presentes em cerimónias, mas isso pode ser contrabalançado por outras formas mais difusas de religiosidade” e que “a crença tem muito a ver com a aculturação num dado meio.” Já Anselmo Borges acredita que tal pode ser possível, nomeadamente “por causa do avanço das neurociências”, que pode fazer com que “alguns pensem que fica em causa toda a dimensão espiritual”.
A ciência tem uma base empírica que “recorre à racionalidade e à experimentação, pronta a corrigir os erros se houver evidência para eles. Isso assegura-lhe a capacidade de progressão ao longo dos tempos”, explica Fiolhais. O docente da FCTUC esclarece que “quando um cientista é dogmático não está decerto a ser científico. E quando um religioso está disposto a rever continuamente as verdades da sua religião não está decerto a ser religioso”. “As religiões são mutantes, a ciência é inflexível”, acrescenta Espírito Santo, que entende que apenas a “liberdade individual permite a criação e a evolução do pensamento científico”. É nesta tese que se apoia para dizer que o pensamento científico apenas existe nos continentes europeu e americano, pois afirma que no exemplo do Islão isso não acontece: “a condição para o desenvolvimento científico é a religião não interferir no pensamento individual. O Islão é incompatível com a ciência por causa disso”.
Pode então afirmar-se que a crença religiosa não constitui um entrave ao desenvolvimento do pensamento científico, mas depende muito do contexto cultural no qual o indivíduo está inserido e, como conclui Carlos Fiolhais, “a eventual crença religiosa de um cientista não o limita ou retira objectividade e valor à ciência que faz”.
Desde a origem do pensamento científico, percebeu-se que religião e iência seriam dois campos paralelos embora com coincidências, até aos dias de hoje. “Ciência e a religião partem de necessidades diferentes do homem”. Quem o diz é o docente do Departamento de Física da Universidade de Coimbra, Carlos Fiolhais.
Professor na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra mas também teólogo e filósofo, Anselmo Borges considera que as duas áreas “não se incompatibilizam”, mas admite que a ideia do contrário possa existir devido ao “facto de ter havido conflitos de parte a parte” ao longo da história.
Moisés Espírito Santo, professor catedrático na Universidade Nova de Lisboa (UNL) e especialista em sociologia e etnologia, considera que os domínios da religião e da ciência são “paralelos, mas não forçosamente contraditórios”. O sociólogo esclarece que “a prática religiosa tem um fundo da utopia, do ideal, enquanto a ciência nos permite encontrar os objectivos”.
Se Moisés Espírito Santo afirma que há domínios comuns aos dois temas, Carlos Fiolhais sustenta que tanto a doutrina religiosa como o pensamento científico “têm obviamente o homem como denominador comum”.Precisamente devido a esse factor humano em comum é que a relação entre fé e ciência nem sempre foi a mais pacífica. O exemplo mais célebre será o de Galileu Galilei, que defendia um modelo solar contrário ao defendido pela Igreja Católica e, por isso, foi perseguido. Anselmo Borges defende que, neste caso, “houve uma má interpretação da Bíblia”. O cientista vai mais longe e afirma que, quando a religião é confrontada com a ciência, geralmente “sai a perder desse embate”. “A tensão entre ciência e religião começou com o próprio início da ciência moderna”, afirma o cientista. Sobejamente conhecido é também a oposição da Igreja face à teoria da evolução das espécies de Charles Darwin. É consensual que estes são apenas dois exemplos do choque entre dois campos distintos que não devem ser misturados.
No mundo ocidental, regista-se cada vez mais um abandono da fé, pelo menos da forma como esta é praticada. Estará este facto relacionado com o avanço da tecnologia? Tanto Moisés Espírito Santo como Carlos Fiolhais acreditam que não. O professor da UNL considera que “se a ideia de Deus se perde na história da humanidade, é por culpa das diversas crenças que confundem religião com culturas locais e costumes de uma determinada época”. Carlos Fiolhais entende que “pode haver uma perda de fiéis presentes em cerimónias, mas isso pode ser contrabalançado por outras formas mais difusas de religiosidade” e que “a crença tem muito a ver com a aculturação num dado meio.” Já Anselmo Borges acredita que tal pode ser possível, nomeadamente “por causa do avanço das neurociências”, que pode fazer com que “alguns pensem que fica em causa toda a dimensão espiritual”.
A ciência tem uma base empírica que “recorre à racionalidade e à experimentação, pronta a corrigir os erros se houver evidência para eles. Isso assegura-lhe a capacidade de progressão ao longo dos tempos”, explica Fiolhais. O docente da FCTUC esclarece que “quando um cientista é dogmático não está decerto a ser científico. E quando um religioso está disposto a rever continuamente as verdades da sua religião não está decerto a ser religioso”. “As religiões são mutantes, a ciência é inflexível”, acrescenta Espírito Santo, que entende que apenas a “liberdade individual permite a criação e a evolução do pensamento científico”. É nesta tese que se apoia para dizer que o pensamento científico apenas existe nos continentes europeu e americano, pois afirma que no exemplo do Islão isso não acontece: “a condição para o desenvolvimento científico é a religião não interferir no pensamento individual. O Islão é incompatível com a ciência por causa disso”.
Pode então afirmar-se que a crença religiosa não constitui um entrave ao desenvolvimento do pensamento científico, mas depende muito do contexto cultural no qual o indivíduo está inserido e, como conclui Carlos Fiolhais, “a eventual crença religiosa de um cientista não o limita ou retira objectividade e valor à ciência que faz”.
16 comentários:
São frequentes os Encontros e Colóquios sobre Ciência e Religião/Teologia, Fé e Razão, que aspiram a uma espécie de ecumenismo cognitivo vicariante: ambas ambicionariam, bona fide, conhecer o desconhecido, e cada uma supriria, dialecticamente, as limitações da outra. Invocam-se então intenções e desideratos afins, convocam-se de permeio religiosos com produção científica (Mengel, Lemaître) e, conversamente,figuras da história da ciência com consabido chamamento religioso (Newton, invariavelmente), ou tão-somente tentadas por um teísmo indefinido e lacunar (Einstein, porque “Deus não joga aos dados” e os seus ministros também não). Depois, é claro, zurze-se com ligeireza o trabalho crítico dos "New Atheists" Richard Dawkins, Daniel Dennett, Sam Harris, Christopher Hitchens, como se fossem autores de Sumas Ateológicas e cultores de uma espécie de Dogmática Ateia, o que é, naturalmente, um refalsado simplismo que tresleu os textos, mas que tem passado por tópico argumentativo judicioso.
Como por aqui se prefere a companhia daqueles que procuram a verdade à daqueles que já a encontraram, eis dois autores com relações avisadas com a religião e que merecem ser relidos.
« In all modern history, interference with science in the supposed interest of religion, no matter how conscientious such interference may have been, has resulted in the direst evils both to religion and science, and invariably; and, on the other hand, all untrammeled scientific investigation, no matter how dangerous to religion some of its stages may have seemed for the time to be, has invariably resulted in the highest good both of religion and science.»
A. D. White - A History of the Warfare of Science with Theology in Christendom
« O esforço pra reconciliar a ciência e a religião é quase sempre feito, não por teólogos, mas por cientistas, incapazes de renunciar totalmente à piedade que beberam com o leite materno. Os teólogos,sem um tal dualismo a baralhar-lhes o raciocínio, têm clarividência suficiente para compreender que ambas são implacável e eternamente antagónicas, e que qualquer esforço para as meter dentro do mesmo saco terminará com uma delas engolindo a outra.»
H.L. Menken - Minority Report
P.Ferreira
Acho particularmente graça à acusação que de que em países islâmicos não há actividade científica. A verdade mostra-nos o contrário, há actividade científica não só em países islâmicos, como desenvolvida por pessoas que seguem o islão. Já chega de falar em lugares comuns televisionados e propalados pelos mass média, porque isso qualquer um faz. Eu falo por experiência de ter estado num país 95% islâmico.
Quanto a tentar estabelecer pontes e/ou correlações entre ciência e religião: é um absurdo.
Boa tarde.
Sem muita demora: eu cá acho bastante complicado um cientista seguir uma religião e um religioso acreditar na ciência.
Como bióloga não acredito em nenhum ser superior aka deus ou deuses. Não sou religiosa de forma nenhuma...e duvido que algum dia mude de opinião.
E no entanto sobram sempre algumas questões:
Quem somos?
O que somos?
Donde vimos?
Temos algum sentido ou destino, enquanto conjunto de seres sensíveis e pensantes?
Ou estas questões são ilegítimas? Ou mal colocadas?
Se eu sou só matéria, porque sinto dor, alegria, deslumbramento, espanto ou admiração? Um dia, a ciência, por um lado, e o que sobra dela (a filosofia...?), por outro, vão deixar tudo esclarecido?
Para dizer isso, cara senhora, não valia a pena perder e fazer-nos perder... tempo e feitio! JCN
Helga,
Sou religioso, interesso-me por ciência, sobretudo astrofísica, biologia e neurociências, e não acho nada complicado fazer a síntese destas várias áreas da vida humana. Complicado seria ter só a ciência ou só a religião. Como eu há muitas outras pessoas que também têm esta experiência.
Mais complicado ainda seria para mim ter que aceitar que a realidade é assim porque sim: o universo existe porque sim. Não há nenhuma razão especial pela qual o universo existe e é tal que permitiu o aparecimento da vida humana, de seres humanos auto-conscientes. Porquê tudo isto? Porque sim. Simples?
Cordiais saudações,
Alfredo Dinis
Complicado seria ter só a ciência?! A religião não serve para nada, a nenhum nível, excepto ao nível da auto-ajuda cuja única diferença em relação à auto-ajuda convencional é o bolor nos livros.
Dá pena ver tratado este magno assunto, personalizando-o e confinando-o a fúteis comentários de de displicente banalidade! JCN
Os adoradores das magnas sanitas de casa-de-banho concordam consigo, certamente. Embora as sanitas sirvam um propósito essencial!
Ó meu criador, de todas as coisas incluindo estas sanitas, porquê tão magnas sanitas? mas porquê?
Aprende-se tanto, acho que vou voltar p'rá catequese aprender mais um bom bocado. E evolui-se tanto, por exemplo, já descobri o porquê de tudo, incluindo das magnas sanitas.
Isto requer umas vestes sacerdotais e umas bugigangas penduradas ao pescoço para dar sentido à coisa. Ai, estas magnas sanitas, porquê santo magno das sanitas, por que as fizeste tão bem feitas e ajustadas ao dito cujo? E poderia ter sido de outra meneira? poderia? responde-me, meu deus
Acho que já estou atrasado para a catequese, vou na volta e aprendo mais um bom bocado, mas não sem antes rezar a estas magnas sanitas.
Sobre a junção da ciência e da religião , ou seja, sobre um fenómeno global,
Para compreender o conceito de globalização, é necessário compreender o que é integralismo holístico, como esquema unificador de forma de vida, ou seja, compreender o universo no seu todo como impulso para o conhecimento, para a sociedade de conhecimento. Quando se sente e pensa a vida como um todo, aparece o belo e a ausência de problemas (Krishnamurti, 1993:36). Estes, só surgem quando se vê a vida de
forma fragmentária (Krishnamurti, 1993:36).
O global está relacionado com tempo e o movimento, o crescimento pessoal,a visão noológica (bioenergética) ou a física das energias, com a nossa sensibilidade vibratória à luz, ao som que nos permite receber algumas vibrações existentes e no processamento do reconhecimento da tensa relação entre a mente consciente e o subconsciente, penetrando mais no nosso intimo. A humanidade, nesta sequência
de pensamento, sente o fascínio da atracção pelos globalismos, na convivência pacífica
dos seres humanos, onde o amor é a principal energia que unifica todos os seres
sensíveis.
De acordo com Cristina Sarmento, a ciência política é interdisciplinar, cuja principal
função é redescobrir as ciências sociais, enquanto ciências da cultura e do espírito
(Sarmento, 2008:32).
O grande desafio da filosofia actual será a descoberta da espiritualidade de cada
um, do seu semelhante, do seu comportamento e dos actos da sua consciência na síntese
da percepção transcendental no pensamento crítico não conformista.
Seguindo esta perspectiva, a vida psíquica é um fenómeno holístico.
Abraço,
Madalena
Senhor Anónimo das 05:01: donde lhe vem essa sua obsessão pelas "magnas sanitas"? Será que o seu "dito cujo" não cabe nas pequenas? Quer-me parecer que todo o seu problema não é de "catequese", mas sim de cagadeira. Aguente-se, homem! JCN
HELGA,
RELIGIÃO SIGNIFICA , LIGAR OU RELIGAR.Já neguei a existência de deus , do todo. Agora, acho absurdo, vazio, mas contínuo gnóstica, ainda à procura. Ao desligarmos negamos tudo, a não ser que consideremos a ciência uma religião, é uma teoria interessante, até porque existe a cientologia.
Cumpts,
Madalena
Realmente, caro Anónimo das "magnas sanitas", o seu problema não é de catequese, mas de retrete. Como se arrabja... fora de casa? JCN
IRRECUSÁVEL GRAÇA
Católolico, apostólico, romano,
defendo a obrigação que o homem tem
de procurar ir sempre mais além
em tudo o que respeira ao ser humano.
Não deve ter limites a ciência,
pois seria de todo lamentável
que o homem sem motivo razoável
menosprezasse a sua inteligência.
Seria ofensa a Deus, que no-la deu,
negar-se a perscrutar o que se passa
na terra que habitamos e no céu.
A fé, seja qual for a sua igreja,
não deve pôr reservas a essa graça
que em cada humano cérebro lateja!
JOÃO DE CASTRO NUNES
Corrijo, no anterior poema, "Católolico" por "Católico" e "respeira" por "respeita". Acontece, embora não deva.
E, já agora, na mensagem das 15:48, corrijo "arrabja" por "arranja", não se vá pensar em qualquer intencional ou subreptícia ligação com "rabo". Nem por sombras! JCN
Cara senhora: "religião" não significa "ligar" ou "religar", até porque "religião" é um substatntivo e "ligar" e "religar" são verbos. Quando muito, estão remotamente relacionados quanto ao radical, não se percebendo bem qual a relação, que já Cícero tentou estabelecer.. com fios de arame. Nada convencido... nem convincente. JCN
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