sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

ECONOMIA DIVERTIDA


Minha crónica do "Público" de hoje:

Uma das minhas resoluções de ano novo foi a de tentar saber mais sobre algumas coisas de que sei pouco. E uma das coisas de que sei menos é economia. Confesso que tenho sido muito económico no que respeita a leituras de economia. Mas, agora, descobri que há livros de ”economia divertida”, que têm o mérito de pôr essa disciplina ao alcance de ignorantes. Livros como “Freakonomics” (de Steven Levitt e Stephen Dubner, Presença, 2006) e “O Economista Disfarçado” (de Tim Harford, na mesma editora e ano) estão para a economia como os livros de divulgação científica estão para a ciência. Fazem sentir próximo algo que parecia longínquo.

Julgo ser um sintoma do nosso progresso que comecem a aparecer também livros de divulgação da economia escritos em português e por portugueses. É o caso daquele que tenho entre mãos: “Os Mitos da Economia Portuguesa”, de Álvaro Santos Pereira (Guerra e Paz, 2006). O autor é um economista licenciado em Coimbra, doutorado em Vancouver, Canadá, e professor em York, Inglaterra. A obra explica-nos que o atraso económico português tem muito que ver com o nosso atraso na chegada ao trabalho: segundo o autor, só chegamos a horas ao futebol e à missa. Sobre o funcionamento dos serviços públicos, conta-nos as suas aventuras em repartições de finanças e governos civis. Mas não se esquece de acrescentar que não é só o Estado que tem culpa da nossa baixa produtividade: aponta também o dedo a gestores e a sindicatos. E, justificando o título, desmonta vários mitos. Desmonta o mito da “paixão educativa”, que deu os resultados conhecidos: apesar do investimento, éramos educados mal e continuamos mal educados. Mas refere que a culpa não é apenas do governo: por exemplo, nas universidades nacionais professores e estudantes são corresponsáveis pela mediocridade. Desmonta o mito da Europa (precisamos dela, é claro, mas a Europa por si só não nos garante a boa vida), o mito da ameaça espanhola (precisamos de mais empresas espanholas), o mito do excesso de emigrantes (devemos querer mais ucranianos e mais brasileiros) e o mito da independência da Madeira (se Malta é independente, porque é que a Madeira não poderá ser?). E conclui que devíamos insistir naquilo em que somos bons, mesmo que isso seja futebol, Fátima e fado.

Apesar dos nossos defeitos, o autor lembra-nos que ocupamos um lugar bastante razoável no “ranking” da riqueza mundial (estamos entre os 25 por cento mais ricos), pelo que há muitos países atrás de nós (por exemplo, Angola, que neste momento é o país do mundo com maior taxa de crescimento económico). Pegando na expressão do historiador de economia Pedro Lains, lembra-nos que há “progressos do atraso”.

É, portanto, munido com algumas noções de economia aprendidas de fresco que me preparo para tomar outra decisão no novo ano: passar o dinheiro da Caixa Geral de Depósitos para o Millenium BCP ou passar o dinheiro do Millenium BCP para a Caixa Geral de Depósitos. Há, claro, uma outra opção: passar o dinheiro dos dois para uma conta nova num outro banco, português ou espanhol (segundo o “El País” de 31/12/2007, o Banco Santander Central Hispano já é, em capitalização, o sexto maior do mundo ao passo que o Banco Bilbao e Vizcaya é o décimo sexto). Somos bons nos três éfes, mas em finanças nem por isso. Apesar das minhas leituras de economia, ainda não percebi porque é que os nossos bancos privados têm de passar a ter os gestores públicos seus concorrentes quando fazem asneiras, ainda que das grossas. E estou sem perceber porque não se privatiza o banco público que Scolari, muito bem pago, publicitava com grande entusiasmo (não, o burro não é ele). Os espanhóis não têm nenhum banco público como a nossa Caixa e vivem felizes. Ou talvez perceba: é o capitalismo português que gosta de dormir na almofada do Estado. E o Estado gosta disso. Jorge Coelho mostrava-se outro dia tão escandalizado com a hipótese de a Caixa ser privatizada que fiquei convencido que era mesmo uma boa ideia. Pelo menos serviria para diminuir o défice e talvez servisse para acordar a economia.

11 comentários:

Anónimo disse...

Retire-se a publicidade descarada e as frases perdidas de política popularista, nada sobra nestes dois post do Carlos Fiolhais.

Enquanto a Palmira, o Desidério, o Luís Alcácer se dão ao trabalho de tentar escrever, de tentar divulgar o conhecimento que têm, Carlos Fiolhais é isto: Ou faz publicidade (de si e dos seus amigos) ou dá provas da sua superficialidade.

Um dos grandes méritos deste Blog foi ter posto a nú o compadrio do academísmo português e essa fraude intelectual que dá pelo nome de Carlos Fiolhais.

Anónimo disse...

Gostaria de vêr o CF e o NC a divulgar, na medida que lhes for possivél a obra de BJC, de que seguramente, também eles são benefeciários, e cujo valor é ímenso, e por vezes abafado, por mentes fechadas à grandeza trágica do debate. Obrigado

Anónimo disse...

É urgente o bloguer Carlos Fiolhais encontrar uma "rita" que lhe dê apoio e sirva de corpo de segurança pessoal na caixa de comentários.

Ninguém se torna um bloguer respeitável sem guarda-posts que o protejam dos ataques inimigos.

Veja-se o exemplo da Prof. Palmira Silva que muito deve à sua "rita", evitando um desgaste prematuro contra comentadores sortidos ou delegando-lhe umas valentes pauladas nos criacionistas anónimos (Bom Ano Novo, Senhor Perspectiva! Cumprimentos!).

Ao Prof. Carlos Fiolhais

Se quer aprender economia a sério leia o "Microeconomia e Comportamento". Não é da Gradiva mas é bom.

Anónimo disse...

Cuidado Fiolhais, cuidado, a Economia é mais matéria de clérigo que de cientista.

Se há coisa que os economistas fazem em coerência é errar insistentemente.

Em geral fazem a apologia de um determinado modelo económico por uma questão de fé, não têm memória pois ignoram os erros do passado para continuar a defender as mesmas ilusões, falham nas previsões mas continuam a confiar nos mesmos métodos. São terrivelmente anticientíficos, por melhor que saibam de estatística.

É como consultar os mestres Seidis, os Fatis ou as abelhólogas Maias para decidir o futuro do país. Cuidado, muito cuidado...

ass: Céle

Anónimo disse...

Muito do que se passa no mundo capitalista de hoje é como a religião: baseia-se cada vez mais na fé e cada vez menos em factos. Depois quando alguém se lembra dos factos...

Em Portugal o Estado é um papão... e tudo o que é dos Estado funciona mal. Não é o que diz a OCDE ( http://dn.sapo.pt/2006/09/27/editorial/gestores_xeque.html ), pelo que se tem vindo a passar com falências atrás de falências em empresas que se calhar têm mais que viabilidade (apesar de não ser bem o caso, exemplifica o que é possível fazer quando há vontade de quem gere: http://dn.sapo.pt/2006/11/30/economia/fabrica_abandonada_factura_mil_euros.html , de notar que este ano surgiu há cerca de um mês nova notícia sobre esta fábrica, já pagou todas as dívidas à Seg. Social) e pelo que se tem visto com as vergonhas milionárias do BCP (será que é o único?), se calhar quem se safa melhor são alguns empresários realmente sérios sem a ganância capitalista de outros e algumas partes do Estado.

Se se tem que melhorar muita coisa no Estado? Claro que sim... especialmente a nível de alguns gestores e chefias. Mas se calhar tanto o Estado como o privado não estarão muito dispares (o estudo da OCDE poderá ser um bom indício).


Não me faz comichão nenhuma a CGD existir como existe. Tanto quanto sei tem os seus lucros e o seu orçamento, quem paga ao Scolari certamente não são os contribuintes.
Mas antes pagar, como cliente, ao Scolari pela publicidade que pagar a publicidade E AINDA as dívidas dos amigos... face ao que custa hoje em dia pagar empréstimos, é VERGONHOSO perdoar dívidas a "capitalistas" que brincam com o dinheiro, se fosse a outro iam-lhe buscar a casa, o carro, a roupa...

Anónimo disse...

"é o capitalismo português que gosta de dormir na almofada do Estado"

Desde os finais do séc. XIX que isto ocorre com demasiada frequencia e intensidade, o estado é visto como o subsidiador, e há a cultura da subsidio-dependencia, o subsidio serve para ajudar mas não para sustentar.
Sou a favor de um estado mais magro, que mantenha os pilares da democracia progressivamente gratuitos: Justiça, educação, saude , tudo o resto pode ser privatizado, deixar de ser o grande patrão ou detentor para ser um bom regulador, vendam o restante da telecom, da edp e de outras empresas publicas que o que fazem é o estado gastar dinheiro dos contribuintes a gerir-las.
Mas perguntamos nós porque isso não é desejável a muita gente? Porque assim diminuem os lugares para as clientelas politicas, por boys, para os compadrios..
Trata-se de hipocrisia e de pensamentos do tempo da guerra fria, esse tipo de atitudes estão obsoletas mas são usadas porque grande parte dos governantes ainda são do tempo em que se ia a espanha fazer compras e não havia livre circulação de pessoas, bens e capitais e do tempo em que só havia uma estação de televisão, 1 unica empresa telefonica..
Tambem precisamos de novos gestores e novos politicos, aos que lá estão no parlamento, velhos dos restelo é por-los a andar..

Anónimo disse...

"E estou sem perceber porque não se privatiza o banco público..."

Apesar de ser jovem e não economista, a explicação parece-me simples... Num caso de crise económica e de falência bancária (todos os bancos privados ficarem sem dinheiro devido aos seus investimentos de risco), deve haver um banco de "segurança" que resista a tal abalo.... E esse chama-se público e é do Estado....

Para alguns este cenário de crise é utópido, mas com a recente crise dos empréstimos norte-americano não me parece tão irreal quanto isso...

Agora se a CGD está a cumprir este papel ou não já são outras questões...

Anónimo disse...

É preciso ter cuidado com esta "paixão" das "privatizações"....

A pergunta que devemos fazer acima de tudo é para que serve de o Estado? Alguns defendem um Estado que seja apenas regulador.... Eu acredito que isso é uma utopia ao mesmo nivel do Estado "totalitário".
O Estado deve manter o controlo sobre áreas que não devem seguir as normais regras do capital e do mercado. Por exemplo, a saúde ou a educação.... Basta ver o recente filme de Michael Moore para perceber no que deu a privatização da saúde nos EUA. E a privatização das universidades no modelo americano... As mais famosas são privadas, mas quantas são? 10 em 6000?

Assim, defendo deve haver um equilibro entre o Estado Social e o Mercado livre, concorrente e capitalista. O Estado Social deve defender o essencial para o desenvolvimento da sociedade... O resto que se entregue ao capitalismo...

Anónimo disse...

"Há, claro, uma outra opção: passar o dinheiro dos dois para uma conta nova num outro banco, português ou estrangeiro (segundo o “El País” de 31/12/2007, o Banco Santander Central Hispano já é, em capitalização, o sexto maior do mundo ao passo que o Banco Bilbao e Vizcaya é o 16º)."
Há coisas difíceis de perceber....16º? Dezasseis graus? Matemáticos, deve ser...
Se se quer escrever décima sexta posição, tal deve ser 16.º!
Afinal é só um ponto...no novo acordo ortográfico para e pára é a mesma coisa...talvez o mesmo se passe com 16º e 16.º.
O erro trivial é muito feio...Favor corrigir pois os blogues também devem ser educativos.

Anónimo disse...

É sempre interessante ver homens de ciência (ou supostos) falarem de matérias religiosas.

Na próxima talvez possa dedicar o "post" à psicanálise, tem potencial para ser interessante.

Sérgio O. Marques disse...

Não é nada prudente andar em terrenos movediços sem precavimento. Uma coisa é certa, apesar da lei da impulsão funcionar, muita gente morre afogado principalmente quando não sabe nadar.
A física, como ciência exacta, é menos dependente da opinião ou orientação política do que a pseudo-ciência designada por economia (que na minha opinião, nem sequer segue o método científico).
Penso que, para quem percebe de física ou matemática, se trata de um terreno muito mais firme e agradável de escrever.

AS FÉRIAS ESCOLARES DOS ALUNOS SERÃO PARA... APRENDER IA!

Quando, em Agosto deste ano, o actual Ministério da Educação anunciou que ia avaliar o impacto dos manuais digitais suspendendo, entretanto,...