sábado, 13 de fevereiro de 2021

PLAYLIST DA TSF DE CARLOS FIOLHAIS

A minha Playlist da TSF aqui com os comentários que escrevi. A ordem não é a que passou na rádio, pois aqui está por géneros musicais e dentro destes por ordem cronológica.

 

MÚSICA CLÁSSICA

 

1         Antonio Vivaldi, “Ah fuggi rapido”,  da ópera “Orlando o Furioso” (1727), por Cecilia Bartoli (2018), 2’22

 

           https://www.youtube.com/watch?v=h-x5C9wOxpo&list=RDh-x5C9wOxpo&start_radio=1

Em 1727 ficava terminada a construção da Biblioteca Joanina na Universidade de  Coimbra, que já tive a honra de dirigir. Data precisamente desse ano a ópera barroca “Orlando o Furioso” do compositor italiano Antonio Vivaldi, que se  baseia no famoso poema épico do seu compatriota Ludovico Ariosto. Sugiro a ária “Ah fuggi rapido”, na voz excepcional da mezzo-soprano italiana Cecila Bartoli, uma das minha divas preferidas. Aqui Bartoli canta acompanhada pelo ensemble Natheus dirigido por Jean-Christophe Spinosi, numa gravação de 2018. É o barroco no seu esplendor. 

2.  Johann Sebastian Bach, Concerto Brandeburguês n.º 1 (1741), Orquestra Mozart, dirigida por                 Claudio Abbado (2007), Allegro, 4.33 

https://www.youtube.com/watch?v=e0c-qGMTb1E

Embora seja difícil definir um génio, não tenho dúvidas de que o alemão Johann Sebastian Bach é um génio. É talvez o maior músico de todos os tempos. Os cientistas, em particular, são grandes entusiastas da sua música. Proponho a escuta do Allegro que abre o Concerto Brandeburguês n.º 1, que data de 1741, do tempo do nosso rei D. João V que mandou construir a Biblioteca Joanina (curiosamente Bach e D. João V morreram no mesmo ano, 1750). Foi uma música que me acompanhou no início dos anos 80 quando fazia o doutoramento em Frankfurt am Main, na Alemanha. Nessa altura a terra natal de Bach, Eisenach, ainda pertencia à República Democrática Alemã, pois o muro só caiu em 1989.  A versão que vamos ouvir de uma obra que esteve muitos anos perdida é tocada pela Orquestra Mozart, dirigida pelo italiano Claudio Abbado, num teatro de Reggio Emilia, Itália, em 2007.

3         Carlos Seixas, “Concerto em lá maior” (séc. XVIII) para cravo e orquestra, pela Orquestra Barroca da Casa da Música no Porto  (2020 )  5’17

https://www.youtube.com/watch?v=LeQ9kY1Pymc 

No tempo de D. João V houve um músico genial em Portugal: Carlos Seixas, nascido em Coimbra, nascido a 11 de Junho de 1704 (próximo do meu dia, eu faço anos a 12 de Junho) e falecido escassos 38 anos depois. Vamos ouvir o “Concerto em lá maior” para cravo e orquestra, pela Orquestra Barroca da Casa da Música no Porto, com o alemão Andreas Staier no cravo. É um concerto curto, de cerca de 5 minutos, com três andamentos:  Allegro, Adagio, e Giga allegro. Consta que Domenico Scarlatti, o famoso músico italiano que trabalhou na corte de D. João V, elogiou muito Carlos Seixas. Tinha para isso boas razões: Ouçam esta pérola musical do músico português!

4         Wolfgang Amadeus Mozart, Sinfonia n.º 40 em sol menor (1788), Orquestra  Filarmónica de Viena, dirigida por  Karl Bohm, 6’37.

 https://www.youtube.com/watch?v=nPbxIT9W1AY

Uma das viagens mais enriquecedoras que fiz na vida foi a Salzburg, à terra natal de Mozart. Se Bach era um génio, o austríaco Wolfgang Amadeus Mozart não lhe fica nada atrás. Génio precoce, morreu ainda mais novo do que Carlos Seixas, aos 35 anos, deixando-nos peças magistrais como esta Sinfonia n.º 40 em sol menor (que data de 1788), aqui tocada pela Orquestra Filarmónica de Viena, dirigida por Karl Bohm. Fica o primeiro andamento, molto allegro. Há mais três andamentos de semelhante brilho. Os ouvintes podem procurá-los depois de ouvirem este intróito…

5         Haydn, Oratória, “A Criação” (excerto) (1798) “Mit Staunnen sieht das Wunderwer”, Elsa Dreisig , Orquestra Sinfónica de Berlim, dirigida por  Simon Rattle,  2’00

https://www.youtube.com/watch?v=Yj-dQ5rB3aM

O austríaco Joseph Haydn, mentor e amigo de Mozart, foi um dos mais prolíficos compositores de todos os tempos. Quando me pedem, por vezes, para ilustrar musicalmente o Big Bang, o início do mundo, escolho “A Criação”, de 1798, que começa com o caos primordial onde depois se faz luz. Proponho a ária “Mit Staunnen sieht das Wunderwerk”, “Com espanto vê a obra maravilhosa”, cantada pela jovem soprano franco-dinamarquesa Elsa Dreisig, acompanhada pela Orquestra Sinfónica de Berlim, dirigida pelo maestro Simon Rattle, no Festival de Lucerna, na Suíça, em 2017. Com espanto ouço esta obra maravilhosa. 

6         Giuseppe Verdi, “Va pensiero”, ou “Coro dos Escravos Hebreus”, da ópera “Nabucco” (1842),  Orquestra da Ópera Metropolitana de Nova Iorque (2001), dirigida por  James Levine, 5’15

https://www.youtube.com/watch?v=2VejTwFjwVI

Gosto de ópera. Rossini, Donizetti, Puccini, Wagner e outros que me perdoem, mas, para mim. o maior compositor de ópera de todos os tempos é o italiano Giuseppe Verdi. Escolhi um dos seus coros mais famosos: “Va pensiero”, em português “Vai pensamento", também chamado “Coro dos Escravos Hebreus”, da ópera “Nabucco” (1842), aqui na versão da Metropolitan Opera de Nova Iorque com a orquestra dirigida por James Levine. Quando Verdi morreu em 1901 foi-lhe feita uma grandiosa homenagem fúnebre com o maestro Arturo Toscanini a dirigir uma enorme orquestra que acompanhou um coro de mais de cem mil pessoas na rua em Milão. A versão que vamos ouvir foi cantada exactamente cem anos depois, em 2001, quando se assinalaram os cem anos da morte de Verdi. Verdi continua vivo entre nós através da sua música.

 

7         Franz Schubert, “Quinteto de cordas em dó maior” (1828), Quinteto de cordas  formado por Isaac Stern, Alexandre Schneider, Milton Katim, Pablo Casals e Paul Tortelier, final do allegretto 40’20 – 46’’.37 

https://www.youtube.com/watch?v=S3tmFhrOgNk 

Einstein tocava violino e Heisenberg tocava piano. Eu, físico bem mais modesto, não toco nenhum instrumento musical. Mas sei admirar a excelência dos grandes executantes. Para tocar a peça seguinte, de Franz Schubert, o terceiro austríaco do trio de ouro da música clássica vienense, formado por ele, por Haydn e por Mozart, juntaram-se em 1952 Isaac Stern e Alexandre Schneider (no violino), Milton Katims (na viola), e Pablo Casals e Paul Tortelier (no violoncelo) -  um verdadeiro quinteto de luxo. A peça é “Quinteto de cordas em dó maior” (de 1828). Vale a pena apreciar o virtuosismo dos músicos nos minutos finais do 4.º e último andamento, Allegreto. É raro um quinteto ter dois violoncelos como tem este, razão por que também se chama “quinteto dos violoncelos”. A gravação foi feita no Festival de Prades, nos Pirinéus Franceses, criado por Pablo Casals. Lembro que Casals foi companheiro da violoncelista portuguesa, nascida no Porto, Guilhermina Suggia.

8         Franz Lehár, “Lippen schweigen”, da opereta “Viúva Alegre” (1905), Diana Damrau e Jonas Kaufmann (tocada em 2015) ,  3’26

https://www.youtube.com/watch?v=vJL7r6Xa7Jk´

Lippen schweigen”, “Fechar os lábios” é uma ária do final do 3.º e último  acto da Viúva Alegre”, uma divertida opereta do compositor austro-húngaro Franz Lehár. Estreada em Viena em 1905, o ano da teoria da relatividade restrita de Einstein, a peça pertence à época dourada da opereta vienense. No enredo, várias pessoas tentam casar uma viúva rica para ficar com o seu património. Diz a letra da canção, cuja música lembra uma valsa: “Embora os lábios estejam fechados, os violinos sussurram:/ Cuida de mim!/ Todos os nossos passos de dança me dizem:/ Cuida de mim!” Aqui a gravação é de um espectáculo ao vivo em 2015 com a soprano Diana Damrau e o tenor Jonas Kaufmann, os dois alemães. Formam nesta música um par perfeito.

9         Richard Strauss,  “Assim falava Zarathusta” (início), 1’47

https://www.youtube.com/watch?v=dfe8tCcHnKY

Quando eu entrava na adolescência foi a época das missões Apollo da NASA, cujo destino era a Lua. A música que acompanhava as emissões da RTP da altura era “Assim falava  Zarathustra”, do alemão Richard Strauss, um poema sinfónico inspirado no livro do filósofo Friedrich Nietzsche com o mesmo título, que foi estreada em 1896 em Frankfurt, na Alemanha, a cidade onde fiz o doutoramento. Esta música é muito conhecida porque surge no filme “2001. Odisseia no Espaço” do realizador norte-americano Stanley Kubrick, estreado em 1968, um ano antes de Neil Armstrong e Buzz Aldrin terem pisado pela primeira vez o solo lunar. Ouçamo-la… Para mim é como voltar aos anos dourados da exploração espacial…

10     Gustav Holst, “Os Planetas” (1918). versão vocal de “Júpiter”, por Catherine Jenkins” (2018). 4’46

https://www.youtube.com/watch?v=2TdyNL0y0Jw

Depois da Lua, falemos de outros astros do sistema solar. O inglês Gustav Holst escreveu durante a 1.ª Guerra Mundial uma suite com sete movimentos alusiva a sete planetas do sistema solar: Marte, Vénus, Mercúrio, Júpiter, Saturno, Úrano e Neptuno. Nessa altura ainda não se conhecia Plutão, que hoje nem sequer é planeta. Há pouco de científico nesta música: a influência de Holst era aliás mais astrológica do que astronómica, já que ele era dado ao misticismo. Vamos ouvir uma versão vocal de uma bela melodia do movimento de Júpiter, cantado aqui pela mezzo-soprano galesa Catherine Jenkins, num Concerto Promenade de 2018. Esta música, também chamada “World in Union” foi o hino da Taça de Mundo de Rugby realizada no Reino Unido em 1991. Ganhou a Austrália…

11      Kurt Weyl,  “Die Moritat von Mackie Messer”, cantada por  Ute Lemper, da “Ópera dos três vinténs” (1928)   3’06

https://www.youtube.com/watch?v=Vb7lmLuG6kE

Estudei, como já disse, em Frankfurt, no coração da Alemanha, onde pude assistir a peças do teatro musical do alemão Bertold Brecht. Uma delas é a “Ópera dos três vinténs”, musicada por outro alemão, Kurt Weyl,  que estreou em Berlim em 1928, entre as duas guerras mundiais. Vamos ouvir “Die Moritat von Mackie Messer”, a Balada de Mack the Knife. Esta música já foi cantada por Frank Sinatra, Ella Fitzgerald, Louis Armstrong e Tom Waits, mas proponho a versão de uma artista alemã de que gosto e que já vi ao vivo em Portugal:  Ute Lemper. É, literalmente, a canção de um bandido. 

12     George Gerswin, área da ópera “Porgy and Bess” (1935), Orquestra Sinfónica de Berlim, dirigida por Simon Rattle (2012), 3’.05

https://www.youtube.com/watch?v=3EXndPGTPm0

Passei também um tempo da minha vida nos Estados Unidos. Não admira por isso que um dos compositores que mais admiro seja o norte-americano  George Gerswin, que viveu no início do século XX, tendo morrido com apenas 38 anos. Tenho muitos discos dele e é difícil a escolha. Escolhi um trecho da ópera “Porgy and Bess” (1935), tocada aqui pela Orquestra Sinfónica de Berlim, dirigida por Simon Rattle, sendo solistas  o baixo-barítono britânico Sir Willard White, a soprano Latonia Moore, e a mezzo-soprano Tichina Vaughn, as duas americanas. A ópera está baseada na vida dos negros americanos na Carolina do Sul nos anos 20. Eu vivi mais a Sul, em Nova Orleães, na Louisiana, mas nessa época a situação dos negros do Sul era semelhante.

JAZZ / POP

13     Frank Sinatra, “Night and Day” (1932, tocada em 1957), 4’02

https://www.youtube.com/watch?v=E10L8G67ozU

Há quem chame a Frank Sinatra “a voz”. Venha a nós a sua voz! Escolhi: "Night and Day”, uma canção escrita por Cole Porter em 1932 para o filme musical "The Gay Divorcee", “A alegre divorciada”, que mais tarde foi adaptado num filme homónimo interpretado por esse par extraordinário que foi formado por Fred Astaire e Ginger Rogers. A versão de Sinatra é de 1957, quando eu tinha apenas  um aninho. Não podia apreciar, mas agora posso. É uma das grandes canções de amor do reportório do século XX!

14     Ella Fitzgerald, “Blue Moon” (1934) , 3’17

 https://www.youtube.com/watch?v=dqwSde_eEv4

“Blue Moon” é um tema da música norte-americana que fala de um evento astronómico relativamente incomum, a Lua Azul. Chama-se assim a segunda lua cheia que acontece num mês: A última foi em 31 de Outubro passado e só volta a haver em 31 de Agosto de 2023. Escrita em 1934 pelos americanos  Richard Rodgers e Lorenz Hart, “Blue Moon” é outra canção clássica do século XX. Foi tal como “Night and Day” cantada por grandes artistas como Frank Sinatra, Billie Holiday  e Bob Dylan. Na cultura popular, já apareceu em filmes musicais como Grease e Blue Moon. É o hino do Manchester City, onde joga Bernardo Silva. Vamos ouvir na interpretação extraordinária de Ella Fitzgerald. Ela é ela e não há ninguém como ela!

15     Lady Gaga e Tony Bennett, “Cheek to cheek” (1935, tocada em 2011)  3’40

https://www.youtube.com/watch?v=ZPAmDULCVrU

“Cheek to Cheek” é uma canção escrita pelo compositor norte-americano de origem russa Irving Berlin para o filme musical de 1935 "Top Hat", “Chapéu alto”, que foi imortalizada com uma cena em que Fred Astaire e Ginger Rogers, de quem já aqui falei a propósito de “Blue Moon”, dançam ao som dos versos cantados pelo próprio Astaire.  Na versão que escolhi, mais recente,  o dueto vai ser entre a jovem Lady Gaga   e o veterano Tony Bennett (tem 94 anos, mais 60 anos do que Gaga). Não há diferença de idades no dueto! Nem esta canção mostra qualquer diferença de idade.

 6      Louis Armstrong, “April in Portugal” (1953) 2’55

   https://www.youtube.com/watch?v=UEx5Knw9_xY

Já aqui falei da estada científica que me foi dado fazer em Nova Orleães, a terra de Louis Armstrong, de alcunha Satchmo. De criança pobre de uma cidade do Sul subiu aos palcos de todo o mundo. Do seu enorme reportório escolhi a mais internacional das canções portuguesas, “Abril em Portugal” ou, no original,  “Coimbra”. A canção Coimbra é uma composição de Raul Ferrão com letra de José Galhardo. Surgiu pela primeira vez no filme “Capas Negras” (1947) protagonizado por Amália Rodrigues e Alberto Ribeiro, onde é cantada por esta último. Amália faz de tricana e Alberto de estudante de Direito neste melodrama coimbrão. Mas foi a versão registada por Amália Rodrigues que o tornou um dos fados mais conhecidos internacionalmente. Aqui Armstrong, com o seu trompete e a sua voz, toca-a em 1953.

17     Louis Armstrong, “What a wonderful world” (1967), 3’ 36

 https://www.youtube.com/watch?v=2nGKqH26xlg

Volto a Louis Armstrong, o único artista que aqui repito. Escolhi a canção “What a wonderful world”, dos americanos Bob Thiele e George Weiss, que ele canta  com a sua voz inconfundível. Ouvi-lo-emos cantar após a sua introdução oral original de 1967. O tema visava contrariar o racismo nos Estados Unidos, que estava extremamente agudo no final dos anos 60. E ainda há casos de racismo como o de George Floyd no ano passado. A canção não teve êxito imediato nos Estados Unidos, mas foi um êxito estrondoso na Europa. Hoje é um clássico contemporâneo, uma bandeira de todos os que sonham com um mundo melhor, com o ser humano em harmonia consigo e com a Natureza.

18     Diana Krall, “Garota de Ipanema” (1962, tocada em 2009), 4’03

https://www.youtube.com/watch?v=T1S5BgZmyiY

"Garota de Ipanema" é uma canção brasileira de bossa nova que foi composta em 1962 por António Carlos Jobim, o maior nome da música popular brasileira, com base num poema de Vinicius de Moraes.  Eu já estive no Rio de Janeiro, no botequim que terá inspirado Jobim. Uma versão de 1964, gravada por Astrud Gilberto e Stan Getz nos Estados Unidos, tornou a canção um sucesso internacional. Proponho aqui uma versão em inglesa cantada ao vivo pela pianista e cantora canadiana Diana Krall num espectáculo em 2009.

19     The Beatles, “Hey Jude” (1968), 0,50- 8’00

    https://www.youtube.com/watch?v=A_MjCqQoLLA

Cresci no tempo dos Beatles. “Hey Jude" é uma canção desse grupo britânico composta por Paul McCartney, hoje com 78 anos, que integra o lado A do single “Hey Jude / Revolution” lançado pela Apple Records em 1968, o ano das revoltas estudantis. Apesar da longa duração do tema (mais de sete minutos, o que era incomum na época), foi um dos “singles” mais vendidos pelos Beatles. Vamos a ouvi-la aqui num espectáculo ao vivo na televisão britânica da época do disco em que os jovens Beatles põem toda a gente do estúdio a cantar com eles.

20     Elis Regina e Tom Jobim, “Águas de Março” (1974), 3’30

https://www.youtube.com/watch?v=E1tOV7y94DY

Volto à música brasileira e a Jobim. “Águas de Março" é uma famosa canção brasileira do compositor  António Carlos Jobim ou Tom Jobim, de 1972. Lançada inicialmente no disco “O Tom de Jobim e o Tal de João Bosco”, já foi considerada a melhor canção brasileira de todos os tempos. A versão que vamos ouvir é de 1974, o ano da Revolução de Abril em Portugal, e é um memorável dueto entre Elis Regina – grande voz! - e o próprio compositor Tom Jobim.

21     Whitney Houston, “Greatest Love of all” (1977)

https://www.youtube.com/watch?v=IYzlVDlE72w

A cantora norte-americana Whitney Houston, falecida em 2012, é a artista mais premiada de todos os tempos: recebeu Emmys, Grammys e tudo o mais que havia para receber. Tem vários temas, interpretados no seu estilo inigualável, que foram grandes êxitos mundiais: escolhi como exemplo da sua classe musical o original de 1977 “Greatest Love of All“, uma música que se ouve muito em minha casa. A letra começa assim “Acredito que as crianças são o nosso futuro e deixe-as conduzir o seu caminho”. Dedico-a, por isso, a todos os professores.

22     Rita Lee, “Amor e sexo” de “Balacobaco” (2003)

https://www.youtube.com/watch?v=ho-iGFctXe8

Eu gosto muito da brasileira, Rita Lee, a rainha do rock brasileiro”. “Balacobaco”, que significa no Brasil” Muito Bom”, foi o título de um seu álbum lançado em 2003. Uma das músicas muito boas que me ficou nos ouvidos, graças às suas numerosas passagens nas rádios, foi “Amor e Sexo”. Comprei logo o disco. A letra explica, para quem não saiba, a diferença entre os dois…

MÙSICA PORTUGUESA 

23.   Carlos do Carmo, “Pedra Filosofal” (1975), 5´18 

https://www.youtube.com/watch?v=2QMz6VwxZ8M

Sou um grande admirador da obra de Rómulo de Carvalho, o professor de Física que foi também poeta sob o nome de António Gedeão, além de divulgador e historiador da ciência. Em sua honra criei há 12 anos o Rómulo,  Centro Ciência Viva da Universidade de Coimbra. “Pedra Filosofal” é um poema de Gedeão publicado no seu primeiro livro, “Movimento Perpétuo”, saído em Coimbra em 1956, quando Rómulo já tinha 50 anos e decidiu criar o pseudónimo de Gedeão. Nem a mulher sabia quem era Gedeão… Manuel Freire musicou o poema em 1970,  tornando-se um tema contra o regime então vigente. Passo aqui a versão de Carlos do Carmo, de 1975, em homenagem ao artista recentemente falecido.

24     Sérgio Godinho, “Com um brilhozinho nos olhos” (1981, tocada em 2020), 4’51 

https://www.youtube.com/watch?v=Gqea5-hrg6I

Tenho o gosto de conhecer pessoalmente um dos artistas portugueses que mais admiro, Sérgio Godinho, que além de músico é romancista, poeta, actor, etc.. “Canto da boca” foi o seu álbum lançado em 1981, que conheceu um grande e merecido sucesso. Tem lá dentro, entre outras pérolas como “É terça-feira”, e “Espalhem a Notícia”, uma canção que entrou no nosso imaginário colectivo:  "Com um brilhozinho nos olhos". Na versão que vamos ouvir o arranjo foi de Filipe Raposo (que está ao piano) para a Orquestra Metropolitana de Lisboa. O espectáculo de Sérgio Godinho teve lugar no Teatro de S. Luís em Lisboa (2020) e o disco saiu há pouco tempo.

25     Carlos Paredes, “Dança Palaciana”, Concerto em Frankfurt (1983), 2’01

https://www.youtube.com/watch?v=pVqmf1PRmGU

Já aqui falei do coimbrão Carlos Seixas, do século XVII. No século XX um outro grande artista de Coimbra foi Carlos Paredes, um virtuoso da guitarra portuguesa, cuja música levou aos quatro cantos do mundo. Em 1983 publicou o álbum ao vivo “Concerto em Frankfurt”, gravado na Ópera Antiga, em Frankfurt. Não pude assistir a esse espectáculo porque tinha saído de Frankfurt em Dezembro de 1982, após um doutoramento que demorou pouco mais de três anos. Desse disco proponho a escuta da melodiosa “Dança Palaciana”. 

26. Dulce Pontes, “Canção do Mar” (1993) 5’,16

https://www.youtube.com/watch?v=kVqbGQLF9To

97% de Portugal é mar, pelo que temos, como um poeta já disse, o mar nas veias. Dulce Pontes canta desde 1983 “Canção do Mar” escrita em 1955 Frederico de Brito (letra) e Ferrer Trindade (música), que foi cantada por Amália Rodrigues no filme “Os Amantes do Tejo” desse ano.  É uma das canções portuguesas mais conhecidas no estrangeiro graças não apenas a Amália, mas também a Dulce Pontes. Foi incluída no filme americano “A Raiz do Medo”, de 1996, com Richard Gere. E há várias versões internacionais… 

27     António Chainho e Marta Dias, “Fadinho Simples” (2003), 4´27´´

https://www.youtube.com/watch?v=v2nXJ-hgJDk

Outro grande guitarrista português é António Chaínho, que em Janeiro de 2003 gravou ao vivo um disco no Centro Cultural de Belém, “Ao Vivo no CCB”.  A cantora Marta Dias, uma portuguesa com origens em S. Tomé e Príncipe, que actuou com  Chaínho em digressões nacionais e internacionais,  acompanhou-o no CCB. Aqui Marta Dias interpreta o tema "Fadinho Simples", que tinha sido publicado no disco de Chainho “A Guitarra e outras mulheres”, de 1998. Tal como noutros temas anteriores, surgem na letra o sol e a lua. A música tende a reflectir o céu.

28     José Afonso, “Os índios da meia praia” , de álbum “Com as Minhas Tamanquinhas,” (1976) 3’42

https://www.youtube.com/watch?v=J7ntDFAF1AE

José Afonso é natural de Aveiro, mas passou por Coimbra. Um colega meu do Departamento de Física tocou com ele. Foi um grande criador de música portuguesa: escolhi, o tema "Os índios da Meia Praia" um tema de José Afonso, incluído no álbum “Com as Minhas Tamanquinhas,” lançado em 1976, nos anos quentes da Revolução de Abril, a que assisti como estudante universitário. Os “índios da meia-praia” eram os moradores do bairro 25 de Abril na Meia-Praia, em Lagos, que beneficiaram de apoios do SAAL, em 1974. A letra começa assim: “Aldeia da Meia-Praia / Ali mesmo ao pé de Lagos/ Vou fazer-te uma cantiga/ Da melhor que sei e faço.”  E não é que é mesmo do melhor que Zeca Afonso sabia e fez?!

29     Brigada Vítor Jara, “Ao Romper da Bela Aurora”, de “Eito Fora” (1977)

https://www.youtube.com/watch?v=_zxgNzS7NRA

Um grupo de Coimbra que marcou uma época da música popular portuguesa no pós 25 de Abril foi a Brigada Vítor Jara. Fundada em 1975, publicou dois anos depois o disco em vinil – não havia aliás CDs na época -  “Eito Fora – Cantares regionais“, de onde extraí este belo “Ao romper da bela aurora”, com letra e música popular da Beira Alta. A letra diz “Gosto de quem canta bem/ Que é uma prenda bonita/ Não empobrece ninguém / Assim como não enrica.” Pode não enriquecer os músicos, mas esta música enriquece-nos a todos.

30. “Alfama”, de “Lisbon Story” (1994), Madredeus  com  Teresa Salgueiro, 3’33

https://www.youtube.com/watch?v=E51Laabj7ZU

Só fui uma vez ao Japão, onde os portugueses chegaram em 1543. E entre os poucos discos de música portuguesa que lá encontrei estavam os do grupo “Madredeus”. Escolhi desse grupo o tema “Alfama” que aparece no filme “Lisbon story” ou “Viagem a Lisboa” de 1994, do realizador alemão Wim Wendres. A vocalista é Teresa Salgueiro. Escolhi-o como homenagem à cidade de Lisboa, onde nasci. É uma cidade com uma luz extraordinária onde gosto sempre de voltar.

31     Cristina Branco com Mário Laginha e a Frankfurt Radio Big Band, “Oh Laurinda Linda Linda” (2019) 6’38

https://www.youtube.com/watch?v=QjbClnL7KOI

Outra grande voz da moderna música portuguesa é Cristina Branco. Escolhi aqui uma sua interpretação jazzística do tema de música popular “Ó Laurinda, linda, linda”, uma canção recolhida em Monchique por Michel Giacometti e Fernando Lopes Graça.  Lembra-nos a enorme riqueza do nosso património musical. Cristina Branco é acompanhada por Mário Laginha no piano e pela Frankfurt Radio Big Band, numa gravação de 2019 feita na Alemanha para a Hessische Rundfunk, a Rádio do Estado do Hessen. Trago aqui esta interpretação como um exemplo de caldo de culturas.

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