quinta-feira, 21 de julho de 2022

Os teus passos a quebrarem as pedras

Os teus passos a quebrarem as pedras,

A caminharem rentes a mil cardos-de-ouro,

Chegam para não cismar no desdouro

Que é estar onde a luz do sol me negas.


Num breve instante passa o moedouro,

Já não grita quem sente o chão que quebras.

De viés volta o teu rosto e me enxergas,

Neste ir, lado a lado, com um tesouro.


Encontrámo-nos por acaso embaixo,

Bebemos algo e trocámos palavras.

Foi o que trocámos até onde me acho.


Com 'sforço abro as pálpebras magoadas

E não me deparo com nenhum facho,

Nem com as flores com que me esperavas.


Ângelo Alves

1 comentário:

Anónimo disse...

No pódio absoluto, a morte
Sozinha, como todos os vencedores...
E não há força, nem tristeza, nem sorte
Que a demova da presença das flores!

Nas cúpulas basílicas, a reza.
Nos espirituais vazios, o sonho.
Nos materialistas, a parca mesa
Onde me sento e a taça ponho!

A taça ganha, donde nunca bebi,
A reza desfeita a Quem nunca rezei,
O sonho irracional que recusei...

No caminho de pedra, há muito parti
Fantasmática prisão dos meus passos
No pódio de todos os cansaços!

F.C.

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