fazem o que podem, mas podem pouco.
Elas têm, talvez, algum poder,
mas muito aquém de um desígnio louco.
Pretendem atingir o inefável,
o grandioso e o transcendente,
aquilo tudo que não é viável,
o delicado e o transparente.
As palavras visam o infinito,
o inacessível e o impossível,
mas o seu poder é tão só finito,
não estando ao seu alcance o indizível.
As palavras fazem só o que podem
e aos altos desígnios mal acodem.
Eugénio Lisboa
1 comentário:
O poder das palavras vai sempre mais longe do que as palavras do poder, por mais que isto seja contraditório. Mas é preciso que alguém as ouça, as entenda, as siga, ou as rejeite. Nenhum poder existe sobre o que resiste. Neste aspecto do problema, admiro o burro, tão mal tratado, mas sobrevivente.
O poder das palavras é inescapável e incontornável e inarredável. É um poder que reside no indivíduo que as usa, como autor ou destinatário se e apenas na medida em que as usa e com elas se conforma. Para quem teme o seu poder o melhor não será fugir-lhes. Para quem quer o seu poder o melhor não será usá-las indiscriminadamente.
Mas há as palavras do poder. As palavras que fazem da força poder, que dão poder à força.
Sem embargo de a força ditar palavras que as tornam poderosas, o poder das palavras está para as palavras do poder como o espírito está para a matéria (metaforicamente, porque não alinho nesse dualismo).
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