quinta-feira, 7 de julho de 2022

"Oito grandes lições da Natureza” de Gary Ferguson


O livro de Gary Ferguson, “Oito grandes lições da Natureza”, publicado recentemente, é muito bom, pelas grandes ideias que contém e pela inspiração que encerra. É que “nós somos Natureza,” como o autor refere. Parece óbvio, mas nem sempre é bem entendido. Eu diria mais: o que fazemos e o que produzimos é também Natureza. 

Este livro, refere os muitos estudos que evidenciam que a ligação à Natureza é muito importante para a felicidade, saúde e cura. A primeira “lição” é o mistério. Cita Albert Sweitzer “à medida que adquirimos mais conhecimento, as coisas não se tornam mais compreensíveis mas sim mais misteriosas.” Dá vários exemplos: as aranhas que “voam” aproveitando o efeito do gradiente elétrico da atmosfera na sua seda lançada ao ar; os espaços vazios que somos feitos (entre os núcleos e a nuvem eletrónica, não há nada) ; não tocarmos verdadeiramente o chão (devido à repulsão entre átomos); a comunicação química entre as plantas; e muitos outros. Queria chamar a atenção para que muitos dos exemplos têm lapsos e aproximações, mas isso não invalida em nada a tese do livro. Só lhe acrescenta mais encanto e mistério. Um exemplo disto é a descrição da Natureza com fonte de medicamentos. O autor refere 40% da farmácia mundial (são estes o números dos últimos vinte anos – confirmo com base na literatura) e dá alguns exemplos. Mas, infelizmente, alguns são aproximados ou incorretos. Dou um exemplo: a aspirina não é extraída do salgueiro branco. O que é extraído é o ácido salicílico que com uma reação simples dá o ácido acetilsalicílico. Mas repito, isso não interessa para a tese do livro.  Explico. 40%… é espantoso, não é? Mas poder-se-ia perguntar então onde estão os restantes 60%? É isso que aumenta o encanto da ideia. Embora a Natureza seja uma fonte sempre promissora de novos medicamentos, esses 60% não são sequer inspirados pelos seres vivos ou pela Natureza “clássica.” São criações humanas, usando bases de dados de moléculas, computadores, conhecimentos sobre os alvos terapêuticos, síntese química, e muito mais coisas que a química medicinal inventou. Isso não é maravilhoso? Não aumenta o encanto? Eu acho que sim.

Também achei interessante a perspetiva. Por exemplo, refere, "um homem brilhante, chamado Claude Bernard, o fundador da Medicina Experimental, mas que ignorava a crueldade que infligia aos animais. A sua mulher fartou-se e levou consigo os filhos e mais tarde viria a fundar um santuário para cães perdidos e sem-abrigo – os mesmos que o marido apanhava e torturava nas suas experiências." A história é muito próxima da realidade, mas raramente é contada assim. Entretanto, não sabemos se Bernard também tinha pena dos animais, mas pensava obter algo maior. Sim, obteve. Agora é fácil dizer que “ainda bem” que o fez, pois já está feito e deu frutos. Mas se não desse? Mais à frente cita  Temple Grandim, cientista de animais: “Penso que a utilização de animais para obter alimentos é algo ético” - diz Grandim - “Mas temos de o fazer de certa maneira. Dar-lhes uma vida decente e morte indolor. Devemos respeito ao animal”. Hoje em dia usamos suplementos nos alimentos ditos veganos. Já podemos não comer aminais.  E já podemos ter comida sintética. E tudo isto é também Natureza. O que pode parecer paradoxal, afinal, mas não é.

Um livro excelente, mas não devemos concentrar-nos nos pormenores nem ficar paralisados com os paradoxos, mas sim beber das grandes ideias. E sim, abraçar a Natureza e aprender com as suas lições.  

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