terça-feira, 19 de julho de 2022

O que entrará na escola pública depois do "mindfulness" e do "ubuntu"?

O último Relatório da UNESCO (“Reimaginar os nossos futuros juntos: um novo contrato social para a Educação”), apresentado em Novembro de 2021, pretende ser, como antes foi o Relatório Delors, um documento orientador para a educação, no seu sentido mais amplo. 

Alinhando várias "propostas" pelas propostas da OCDE, do Banco Mundial e de outras organizações transnacionais, insiste em "trazer a aprendizagem social e emocional para a corrente principal das práticas educacionais (...)". Explica esta opção do seguinte modo: "ao olharmos para 2050, não podemos nos dar ao luxo de investir pouco na aprendizagem social e emocional – ela é fundamental para a criatividade humana, moralidade, julgamento e ação para enfrentar os desafios futuros" (p. 66). 

Em sequência, para concretizar esta (suposta) necessidade, recomenda diversas filosofias, noções, éticas, práticas, princípios de vida (as expressões são várias e, em rigor, vazias) em que a "humanidade se pode inspirar".

"A atenção plena (mindfulness), a compaixão e a investigação crítica apoiam uma poderosa aprendizagem social e emocional (...) essa aprendizagem impõe exigências extras aos professores e que eles devem ser apoiados para realizar esse trabalho" (p. 66).

"Muitas culturas sabem há séculos ou milênios que não podemos separar a humanidade do resto do planeta. Por exemplo, a noção quíchua de Sumak Kawsay concede direitos à natureza e descreve um modo de vida ecologicamente equilibrado. Os princípios de relacionalidade (eu sou porque somos) da filosofia Ubuntu, encontrada nos povos Ngunis, pertencentes aos Bantus, tem muito a oferecer, assim como a ética budista de Karuna (compaixão)" (p. 111).

Como se sabe, num determinado momento, Portugal entusiasmou-se muitíssimo com o mindfulness. Vimos, no sistema público de ensino, uma expansão de projectos escolares, de experiências pedagógicas, de formação de professores, de investigações e publicações... Entretanto, chegou a filosofia Ubuntu e aí está ela, a percorrer o mesmo caminho. 

Só que a filosofia Ubuntu mostra uma pujança muitíssimo superior. A organização é profissional, as entidades associadas são de peso e, muito importante, tem suporte oficial do Ministério da Educação. 

Ficamos por aqui ou segue-se outra filosofia, noção, ética, prática, princípios de vida... a encher, a substituir o currículo escolar? Em suma, a retirar o que é escolar para introduzir exactamente... o quê?

6 comentários:

Rui Ferreira disse...

“Os currículos devem enfatizar a aprendizagem ecológica, intercultural e interdisciplinar que apoie os estudantes no acesso e na produção de conhecimento. Ao mesmo tempo, a aprendizagem deve desenvolver a capacidade de criticar e aplicar esse conhecimento” (pág. 8)
Quem poderá ousar em discordar de tal finalidade? Ninguém.
No abstrato nada, ou muito pouco, se adianta. Tão doutas pessoas deveriam responder, pois, a questões como: que currículo para estes tempos? Se o relatório “visa catalisar um debate mundial sobre como a educação deve ser repensada em um mundo de crescente complexidade, incerteza e fragilidade” deve, também, iniciar-se na sua concretização.
É bem provável que dos dois perigos que António Sampaio da Nóvoa anteviu no uso deste documento, o segundo, o de apoderamento, venha a degradar ainda mais o estado da Educação.

Anónimo disse...

A Nova Ciência, que Galileu fundou há cerca de quinhentos anos na Europa, é uma originalidade dos ocidentais no desenvolvimento da civilização humana que atualmente se encontra espalhada por todo o mundo. Para difundir o conhecimento foram necessários, e ainda são, professores, escolas primárias, escolas secundárias e Universidades. As filosofias grega e judaico-cristã também contemplam nos seus ensinamentos a compaixão, com uma abordagem eventualmente diferente, num ou noutro ponto doutrinal, das filosofias budista e ubuntu, mas mais do que suficiente para promover uma sociedade baseada no amor entre todos os homens, assim a etérea teoria seja levada à prática terrena.
Voltando à vaca fria, vivermos numa sociedade cheia de amor e compaixão não implica proibir todo o conhecimento racional, nomeadamente a Ciência. O que se está a passar nas nossas escolas secundárias é um absurdo: pretende-se eliminar o conhecimento científico e substituí-lo pela filosofia ubuntu, para que todos possamos ser pelo menos tão felizes como os povos africanos!
Porca miséria!

Rui Ferreira disse...

Estado da Educação:
https://www.rtp.pt/play/p517/e630524/espaco-das-10?fbclid=IwAR3YMjEZUCcbWfu6__h390HgckZV9HUeSLs5W7CIiJOIBsfbdjh3z6J1W9g

Anónimo disse...

O Professor Santana Castilho vê que o rei da educação em Portugal vai nu e diz que o rei da educação em Portugal vai nu. Infelizmente, a maioria em vez de nudez só vê melhoria nas aprendizagens com filosofia ubuntu!

Helena Damião disse...

Obrigada, Rui Ferreira. Vou ouvir e darei conta. Cumprimentos, MHD

Rui Ferreira disse...

Lá como cá, a globalização.
Aos 8min53seg o projétil acerta na mouche.
https://www.youtube.com/watch?v=KLODGhEyLvk&list=RDLVXPrRxhYJMkQ&start_radio=1&rv=XPrRxhYJMkQ

O corpo e a mente

 Por A. Galopim de Carvalho   Eu não quero acreditar que sou velho, mas o espelho, todas as manhãs, diz-me que sim. Quando dou uma aula, ai...