terça-feira, 28 de junho de 2022

ELOGIO DO ROMANCE POLICIAL

Ler um bom romance policial
é tão bom como beber água fresca,
quando se tem uma sede colossal:
satisfaz nossa sede vampiresca,

isto é, substitui em nós um crime, 
que não precisamos de cometer,
se um instinto profundo nos oprime
e nos põe muito perto de o fazer.

Um bom romance policial purga-nos
de crimes que dentro de nós existem:
com toda a sua sedução, expurga-nos 

de venenos e tóxicos que assistem,
dentro de nós, a turvas fantasias
e a inquietas tentações bravias. 

Eugénio Lisboa

9 comentários:

Ildefonso Dias disse...

Uma melhor leitura, mais proveitosa é o ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA. Seja-me permitida a sugestão.

"Não há dúvida que é cruel. Mas não é a crueldade do pensamento de Saramago, mas da vida, da perspectiva que se oferece ao ser humano no mundo contemporâneo. É essa angústia que leva a um livro de profunda sensibilidade para a observação do que pode vir a ser, se não se evita, a humanidade num futuro próximo." (A. Cunhal)

Eugénio Lisboa disse...

Quando leio os comentários do Sr. Ildefonso Dias aos meus textos, apetece-me sempre perguntar (desculpem-me a expressão popular): "O que é que tem que ver o cu com as calças"? Compara sonetos com romances, invoca Saramago e Cunhal, com total despropósito e leva-me a confirmar uma convicção que há muito tenho: é melhor nenhuma leitura do que muita leitura embrulhada. O saudoso José Sesinando dizia de si próprio ser "homem de cultura vasta porém confusa". Mas isto era pura autocrítica brincalhona, para justificar aforismos faceiros, do género deste: "Garrett vestia calças à inglesa e ela ria-se muito enquanto ele lhas vestia". Estas confusões até têm gracinha. Mas as que o Sr. ID faz não têm graça nenhuma. Repito uma pergunta que há tempos fiz: por que será que o Sr. ID passa a vida a parasitar desastradamente os textos dos outros e não escreve os seus próprios textos? É claro que escrever não é citar atabalhoadamente os textos dos seus egrégios gurus.
Eugénio Lisboa

Mónica disse...

Até pensei que o Sr. Ildefonso Dias fosse o alter-ego do EL (sempre certinho a marcar o contra-ponto) até que descobri que há um deputado do PCP que tem o mesmo nome e fartei-me de rir da coincidência

Eugénio Lisboa disse...

Caríssima Mónica, não me faça a injustiça de pensar que eu pudesse ter um alter ego como o Sr. Ildefonso Dias!!! Eu também já descobrira que havia um deputado no PCP, que dava por esta graça. Se o PCP não é capaz de melhor matéria prima para exibir no Parlamento... O mais interessante é que, segundo me disseram, este senhor anda ainda na casa dos quarenta. Pela sua escrita anquilosada eu metia-o folgadamente nos oitenta e muitos e já muito gastos. Como nós, analistas de estilo, nos enganamos! Ou, então, como certos indivíduos têm muito mais idade do que aquela que têm!!!!
Eugénio lisboa

Anónimo disse...

Os escritores têm uma grande importância na formação dos pareceres alheios.

Eugénio Lisboa escreve livros.

Liev Tolstói escreveu, «Eu escrevo livros, por isso sei todo o mal que eles fazem».

Ora, se os escritores são capazes de influenciar o caminho do mundo, é natural que - aqueles que comprometem e se preocupam com o estado do mundo actual - indiquem os livros que entendem serem os mais relevantes, precisamente, porque se preocupam com o mundo.

"O que é que tem que ver o cu com as calças"?
Pareceu-me o ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA, mais adequado para esse propósito, e para aqueles que genuinamente se preocupam com o caminho do mundo, e não são os livros policiais do soneto do Sr. EL, os mais imprescindíveis a um mundo trágico e muito perturbado nos seus fundamentos.

E a citação de A. Cunhal mostra precisamente essa preocupação, por isso lá foi colocada.

O PCP, e o José Saramago, constituem a maior frustração da vida do Sr. Eugénio Lisboa.

Um dos episódios mais traumatizantes para conselheiro cultural, o Sr. Eugénio Lisboa, foi o da Embaixada de Londres, quando, em 1993, o José Saramago vai a Londres para receber o prestigiado prémio do “The Independent”.

E não foi só traumatizante para o conselheiro cultural em Londres, foi-o também, um ano antes, e na mesma medida, para o subsecretário de estado para a cultura, de um Governo hostil o PCP de direita, ao censurar e por conseguinte vetar o “Evangelho segundo Jesus Cristo” … eles não poderiam imaginar que mais tarde, em 1998, José Saramago, militante do PCP, viria a ganhar o prémio Nobel.

Mais tarde, Eugénio Lisboa, prestador serviço publico, motivado pela descrição do episódio nos “Cadernos de Lanzarote”, não contente, e esquecendo a qualidade de conselheiro cultural, publicou uma violenta “carta aberta” ao José Saramago.

Atendendo à gargalhada fácil da Sra. Mónica, certamente que gostaria ler a “carta aberta” ao escritor, e o Sr. Eugénio Lisboa certamente que não se importava de a publicar aqui, para que se possa divertir, desta vez à conta, talvez, do Sr. Eugénio Lisboa.

A Sra. Mónica deverá compreender, se quiser, que o nome Ildefonso Dias é alheio a este infeliz episódio, e a muitos outros, do Sr. Eugénio Lisboa, do escritor José Saramago que ganhou o prémio Nobel e também do PCP.

Que venha então a “carta aberta”.

Eugénio Lisboa disse...

As pessoas e partidos como o PCP,, que querem salvar o mundo, precipitam-no sempre num inferno. Ver a União Soviética e todas aquelas democracias populares de má memória. Durante períodos angustiantes, como por exemplo uma guerra, eu procuraria, para me distrair, um bom livro policial. Se, à noite, chegar a casa muito cansado, garanto ao Sr. Ildefonso Anónimo Dias, que não vou buscar à minha estante uma Guerra e Paz e, muito menos, um Hamlet (e ainda muito menos um chatíssimo Saramago). Se o Sr. Ildefonso Anónimo Dias, a viver numa cidade a ser bombardeada, vai procurar Todos os Nomes, do seu Saramago, isso é lá consigo. Cada um sofre como pode e a mais não é obrigado. Mas se o Sr. é daqueles que está a todas as horas do dia e todos os dias do ano a querer salvar o mundo, garanto que tenho muito medo de si e do seu programa!
Eugénio Lisboa.

Eugénio Lisboa disse...

Eu confesso que só agora fui ler, com algum cuidado, a última resposta do Sr. João Manuel Ildefonso Dias. Escrevi, sim, uma carta aberta a José Saramago, porque o Sr. José Saramago, nos inefáveis Cadernos dev Lanzarote (que Vergílio Ferreira comparava com a sala de troféus do Benfica) "presumia" várias coisas totalmente falsas, a meu respeito, por pura ignorância e mal avisada leviandade. Duas publicações portuguesas, tendo tido conhecimento da minha carta, pediram-me autorização para publicá-la. Pelo conteúdo da minha carta, ficava bem claro que o Sr. José Saramago não sabia minimamente do que estava a falar. Mas o pior - e que dá do carácter do nosso nobelizado uma ideia muito negativa - foi que Saramago nunca veio reconhecer o seu erro nem pedir desculpa, em público das atoardas que escrevera nos seus incríveis Cadernos de Lanzarote. O Prémio Nobel do Sr. Saramago nem me deslumbra, nem me intimida nem torna Saramago imune às críticas que merecem muitas das suas desastradas atitudes e comportamentos. Um homem que não é capaz de vir a público reconhecer que errou é um homem que me merece pouco respeito.
E já agora, gostaria de perceber por que é que o Sr. Ildefonso dias me mistura com os actos desse secretário de Estado, com o qual nada tive ou tenho que ver e que sempre achei repulsivo e idiota. Mas condenar os actos desse senhor não iliba Saramago de una atitude indecente para comigo. O facto de eu não admirar Saramago, nem como escritor nem como pessoa não tem como corolário que admita qualquer acção censória. Misturar estas coisas é muito grave, mas faz parte das conhecidas estratégias do PCP,para descredibilizar os seus adversários.
Eugénio lisboa

Eugénio Lisboa disse...

Post Scriptum ao meu comentário anterior: no volume IV das minhas memórias - ACTA EST FABULA - dedico todo um capítulo a este triste "CASO JOSÈ SARAMAGO" (pags. 437 a 442). Está lá tudo e nunca foi rebatido. Nem há maneira de o ser.
Eugénio Lisboa

Mónica disse...

Estou esclarecida (e aliviada) quanto aos meus equívocos. Obrigada. Continuação.

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