Novo soneto de Eugénio Lisboa:
Quando eu nasci, as frases que hão de salvar a humanidade já estavam todas
escritas, só faltava uma coisa – salvar a humanidade.
Almada Negreiros
Ó Almada, tu até tens razão,
com esse teu espanto sempre tão certo!
As palavras têm sempre tesão,
mas deixam o mundo em desconcerto.
Mas que queres tu que faça quem escreve?
Que atire fora a sua caneta?
Se o pobre escriba ainda se atreve
a usar a palavra como cometa
que, cheio de luz, ameaça
as armadilhas sujas do canalha,
talvez mais não consiga do que pirraça
e do que acender um fogo de palha.
Mas persistir, sabendo bem que perde
rega o capinzal e mantém-no verde.
Eugénio Lisboa
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