Novo poema de Eugénio Lisboa, académico e crítico literário, que publico com imenso prazer:
Em tempos de antigamente,quando andava no liceu,numa terra que era quente,com um mar que era meu,ali sendo o paraíso,de pouco fazendo tudo,muito não sendo preciso,buscando prazer no estudo,estudando-me já eu,a descobrir os mistériosdo sexo no apogeue dos dramas do império,nesses tempos, eu dizia,em que tudo era grandee o amor descobriaque a vida se expande,nesses tempos de começode um mundo que se abria,de viagens sem regresso,num tempo em que já sabiaque a dor também existee que o triunfo se paga,mesmo quando se não desiste,pelo preço de uma chagaque o tempo não amacia;naquele tempo enriquecidopor tudo que aconteciae era por mim sentidoser tesouro amealhado,- eu sonhava, com fervor,num futuro apontadoà grandeza e ao amor!Que sonhar, nessa idade,mesmo sendo o sonho alto,não é grande enfermidadenem dá grande sobressalto!Foi assim que certo dia,- havia sol e promessae meu coração ardia –parti, com dor e com pressa,deixando amores e festas,a caminho do futuroque eu pensava sem arestas,radioso e bem seguro!Quando se deixa um tesouro,em busca de outro maior,trocamos talvez um ouropor outro muito pior.E foi assim que parti,nesse dia de Setembro,saindo de onde nasci-ai como disso me lembro!Foi o futuro o que foi,cheio do bom e do mau,pleno de tudo o que dói,logo que saí da nau.Nas águas de um novo mar,comecei nova aventura,aprendi outro voare ganhei grande fartura!Mas foi no outro oceano,lá longe, no além mar,que eu abri todo o panoe me pus a navegar!
Eugénio Lisboa,
num regresso ao meu passado Índico, a um tempo mítico
que nunca mais esquecerei!
2 comentários:
Caravela, caravela
Porque partes tão cedinho?
Leva do vento a vela
Espera mais um bocadinho
Não queiras já navegar
Recolhe do sopro, o pano
Pensa antes de sonhar
Pois sonhar é engano
Caravela, pára ao largo
Do mar longo e profundo
Da sereia o canto amargo
Revela a presa ao mundo
Marinheiro, fica em terra
Fecha os olhos devagar
Desiste do mapa que erra
Do caminho por achar
Tão curta é a distância
Remoinho espiralado
Da morte até à infância
Retrocesso adiantado
Ver ao longe é recuar
Saber que é e o que vai ser
Marinheiro, navegar
É fazer tudo acontecer
Bússola, norte perdido
Tempestade e furacão
Mar agitado erguido
Em furiosa ondulação
Porque a noite é enorme
Maior que o dia inteiro
E a lua cheia, disforme
Uiva no lobo primeiro
Para além do céu eterno
Para além do meu olhar
Marinheiro, o inferno
É fogo vivo azul do mar
Caravela, caravela
Embala o meu cantar
Deixa a última estrela
O firmamento apagar
10 quadras.
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