domingo, 17 de maio de 2020

TOADA ÍNDICA (Apontameno biográfico em versos de sete sílabas)


Novo poema de Eugénio Lisboa, académico e crítico literário, que publico com imenso prazer:

Em tempos de antigamente,

quando andava no liceu,

numa terra que era quente,

com um mar que era meu,

ali sendo o paraíso,

de pouco fazendo tudo,

muito não sendo preciso,

buscando prazer no estudo,

estudando-me já eu,

a descobrir os mistérios

do sexo no apogeu

e dos dramas do império,

nesses tempos, eu dizia,

em que tudo era grande

e o amor descobria

que a vida se expande,

nesses tempos de começo

de um mundo que se abria,

de viagens sem regresso,

num tempo em que já sabia

que a dor também existe

e que o triunfo se paga,

mesmo quando se não desiste,

pelo preço de uma chaga

que o tempo não amacia;

naquele tempo enriquecido

por tudo que acontecia

e era por mim sentido

ser tesouro amealhado,

- eu sonhava, com fervor,

num futuro apontado

à grandeza e ao amor!

Que sonhar, nessa idade,

mesmo sendo o sonho alto,

não é grande enfermidade

nem dá grande sobressalto!

Foi assim que certo dia,

- havia sol e promessa

e meu coração ardia –

parti, com dor e com pressa,

deixando amores e festas,

a caminho do futuro

que eu pensava sem arestas,

radioso e bem seguro!

Quando se deixa um tesouro,

em busca de outro maior,

trocamos talvez um ouro

por outro muito pior.

E foi assim que parti,

nesse dia de Setembro,

saindo de onde nasci

-ai como disso me lembro!

Foi o futuro o que foi,

cheio do bom e do mau,

pleno de tudo o que dói,

logo que saí da nau.

Nas águas de um novo mar,

comecei nova aventura,

aprendi outro voar

e ganhei grande fartura!

Mas foi no outro oceano,

lá longe, no além mar,

que eu abri todo o pano

e me pus a navegar!



Eugénio Lisboa,

num regresso ao meu passado Índico, a um tempo mítico

               que nunca mais esquecerei!

2 comentários:

Vesos disse...

Caravela, caravela
Porque partes tão cedinho?
Leva do vento a vela
Espera mais um bocadinho

Não queiras já navegar
Recolhe do sopro, o pano
Pensa antes de sonhar
Pois sonhar é engano

Caravela, pára ao largo
Do mar longo e profundo
Da sereia o canto amargo
Revela a presa ao mundo

Marinheiro, fica em terra
Fecha os olhos devagar
Desiste do mapa que erra
Do caminho por achar

Tão curta é a distância
Remoinho espiralado
Da morte até à infância
Retrocesso adiantado

Ver ao longe é recuar
Saber que é e o que vai ser
Marinheiro, navegar
É fazer tudo acontecer

Bússola, norte perdido
Tempestade e furacão
Mar agitado erguido
Em furiosa ondulação

Porque a noite é enorme
Maior que o dia inteiro
E a lua cheia, disforme
Uiva no lobo primeiro

Para além do céu eterno
Para além do meu olhar
Marinheiro, o inferno
É fogo vivo azul do mar

Caravela, caravela
Embala o meu cantar
Deixa a última estrela
O firmamento apagar

Contar disse...

10 quadras.

O BRASIL JUNTA-SE AOS PAÍSES QUE PROÍBEM OU RESTRINGEM OS TELEMÓVEIS NA SALA DE AULA E NA ESCOLA

A notícia é da Agência Lusa. Encontrei-a no jornal Expresso (ver aqui ). É, felizmente, quase igual a outras que temos registado no De Rerum...