quinta-feira, 21 de maio de 2020

DA NÃO EVIDÊNCIA DE TUDO



Do meu muito estimado amigo Eugénio Lisboa, académico e crítico literário, publico mais este soneto:

É tão estranha a vida. É tão estranha a morte.

É estranho que seja tudo tão estranho

e tudo cause, em mim, um tal desnorte,

que o assombro seja, em mim, tamanho,


que fico detido, explorando o espanto

de coisa nenhuma ser evidente!

Resta-me, então, digo eu, o canto

que amacia o que não é transparente!


Viver é assim não compreender,

que é a melhor forma de descobrir.

Se há virtudes no não entender,


se é bom forçar a porta, insistir,

contudo, a um mistério decifrado,

outro logo se apresenta fechado!



Eugénio Lisboa

Congeminações de sempre, que a solidão da peste agudiza!

1 comentário:

Poema eugénico disse...

Aplauso! O poema transbordou!
A morte é sempre em demasia...
Traço de síncope na folha fria,
Excesso que a vida estranhou!

Assombra tamanho desnorte,
Cantar a evidência do nada.
Que causa espanto e má sorte?
A virtude não decifrada!

Pelo labirinto se descobre
O mistério da transparência...
Sem a porta forçar, sendo nobre,

(Diz o mestre da paciência)
Desvelar a virtude pela arte,
É ter alma, engenho e ciência!

(“arte” não rima, pela singularidade - o importante não é o soneto, mas dar cabo dele)

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