segunda-feira, 15 de junho de 2015

Se é permitido ao Zé...

O Diário Económico publica hoje(15.06.2015) uma peça admirável chamada "Como convencer o “Zé da PME” a contratar doutorados?" .  Com a constatação, sem contestação, que cerca de 4% dos doutorados estão no sector privado (imagino que queiram dizer "fora dos centros de investigação do estado") e que o tecido empresarial português (ou qualquer outro) é constituído maioritariamente por pequenas e médias empresas, o estudo "A empregabilidade dos doutorados nas empresas portuguesas" coordenado por uma senhora Ana Barroca, que não conheço, pretende dar um caminho para promover o emprego de doutorados nas empresas. 

A acreditar na peça do jornal, a managing partner da Advancis Business Services  que também não conheço,  consegue reduzir o problema à questão que lhe dá título: "Como convencer o Zé da PME?".  Como acho que oficialmente ainda sou ambas as coisas, um doutorado e um Zé da PME, resolvi ler com atenção a notícia, até porque devo ter empregue mais doutorados no últimos tempos que a Advancis em toda a sua história. E da leitura surgiram-me uns pontos de reflexão que gostaria de partilhar:

1. Não há pessoa mais inteligente que o Zé da PME. Que, aliás, me parece ser o caso da Ana Barroca, managing partner da Advancis, que por sua vez não me parece cumprir com nenhum dos critérios que lhe possam retirar do estatuto de PME.  O Zé da PME, apesar de ser um Zé, é um Zé que meteu os coisos na sua vida profissional e conhece com detalhe o valor dos seus activos e dos seus passivos. Mais, conhece com detalhe as responsabilidades que assumiu. Mas não percebi da peça quantos doutorados emprega a Advancis, que sendo uma PME poderia dar o testemunho em primeira mão;

2. Eu lembro-me de no passado ter trabalhado com um banco do qual o Prof. Daniel Bessa era administrador e esse banco não tinha um único doutorado nos quadros. Talvez porque o banco era no Porto e, se calhar, os doutorados do Porto não têm aquelas qualidades todas. Ou talvez porque o jornalista não traduziu com rigor as palavras do prof., mas confesso que me surpreendeu;

3. Folgo ter percebido que alguns dos Zés da PME's presentes eram também doutorados que saíram em busca de outra vida e criaram a sua própria PME. Muito positivo, mas fiquei sem perceber porque é que metade da peça é dedicada a dirigentes de centros de investigação do estado ou de onde vem o seu conhecimento sobre a empregabilidade de quem quer que seja. Mas, como não são Zés, são da nobreza, talvez possam estar acima destas minudências que só um Zé se preocupa.

 O engraçado em toda a peça é que a acabei de ler e não percebi porque é que devemos contratar um doutorado. Isto para além das patetices do costume das superiores competências, soft skills, e outros palavrões de power point. Deve ser a minha costela de Zé que me torna incapaz de mapear rapidamente essas expressões em valor... ou se calhar fiz asneira quando os contratei!!

2 comentários:

Anónimo disse...

Bom texto.
Concordo plenamente com o que escreveu, e sendo eu um Zé, não das PMEs, mas sim das micro empresas, sei bem o que é "meter os coisos" na nossa vida profissonal.

Anónimo disse...

Caro João Pires da Cruz, faça-nos então esse favor e diga-nos porque contratou doutorados para a sua empresa? Palavras assim tão vagas podem até fazer parecer que ser doutorado ou estudar e pesquisar não tem interesse nenhum...é cultura que faz falta ao país, para que parem de uma vez por todas estes preconceitos.

O BRASIL JUNTA-SE AOS PAÍSES QUE PROÍBEM OU RESTRINGEM OS TELEMÓVEIS NA SALA DE AULA E NA ESCOLA

A notícia é da Agência Lusa. Encontrei-a no jornal Expresso (ver aqui ). É, felizmente, quase igual a outras que temos registado no De Rerum...