sábado, 6 de junho de 2015

Irão os puns destruir o nosso planeta?

Extracto de "Irão os Puns destruir o nosso planeta?" de Glenn Murphy, que acaba de sair na Gradiva:



Biocombustíveis: centrais eléctricas e etanol celulósico (grassoline)

 E se os mais importantes combustíveis do mundo não fossem extraídos das profundezas da Terra, mas crescessem em florestas, campos, parques e jardins? E se a gasolina e o diesel poluentes que são queimados nos motores pudessem ser substituídos por combustíveis não poluentes, reciclados a partir de relva cortada, papel usado ou serradura? E se fosse possível fornecer energia aos automóveis, autocarros, eléctricos e comboios ao mesmo tempo que limpávamos o ar do dióxido de carbono, reflorestávamos prados e florestas e tornávamos o mundo mais verde? Bem-vindo ao maravilhoso mundo dos biocombustíveis...

O quê? A sério? Os automóveis e os autocarros podem mesmo funcionar com «sumo de plantas»? Claro que sim. De certa forma, até já o fazem.

A sério? Sim. Aprende como...

  O petróleo (ou a gasolina) que a maioria dos automóveis utiliza vem dos corpos fossilizados de antigas plantas (e animais). Enquanto estavam vivos captaram energia do sol e transformaram-na em energia química dentro dos seus corpos. Após milhões de anos, os corpos ricos em energia – enterrados bem fundo por baixo dos solos ou dos fundos marinhos –, acabaram por se transformar em carvão ou petróleo. São por nós localizados, prontamente extraídos e convertidos em petróleo,rico em energia. Por isso, aquilo que bombeamos e queimamos nos nossos motores é, na verdade, um combustível de origem vegetal e, por isso, os nossos automóveis já usam – em certa medida – sumo de plantas. Um sumo altamente energético que, por sua vez, recebeu a sua energia do sol.

OK... Então o que é que os biocombustíveis têm de especial? Os biocombustíveis são uma espécie de petróleo mas melhor e menos poluente. São sumo de planta: versão 2.0. O produto final é um álcool de combustão rápida chamado etanol, fabricado com diversos elementos, desde milho e soja a ervas daninhas, papel usado e aparas de madeira.

A grande vantagem dos biocombustíveis é que – ao contrário dos combustíveis derivados de fósseis, como o diesel e o petróleo – têm potencial para serem neutros em carbono. Isto significa que apanham pelo menos tanto dióxido de carbono da atmosfera quanto o que libertam quando são queimados.

BIOCOMBUSTÍVEIS
 MILHO
SOJA
ERVAS
 DANINHAS
PAPEL
APARAS DE MADEIRA

E como se fazem? Calculo que não baste atulhar o depósito de gasolina de ervas daninhas... Não, claro que não. Os biocombustíveis são feitos colhendo (ou reciclando) resíduos de plantas, transportando-os para uma unidade de transformação e – habitualmente – deixando-os fermentar em enormes cubas de levedura, onde transformam os açúcares das plantas ricas em energia no combustível etanol próprio para utilização. Para plantas de cultivo ricas em açúcar, como o milho, a soja e o açúcar de cana, o processo é relativamente rápido e simples. No caso de vegetação mais dura e lenhosa e ervas daninhas é um pouco mais difícil, já que será preciso quebrar as suas paredes celulares mais duras para se chegar aos açúcares da planta, no seu interior.

 Então de que estamos à espera? Por que não transformamos todo esse milho e açúcar em combustível para os motores? Bem, muitos países, incluindo a Indonésia, o Brasil e os Estados Unidos, já o tentaram – plantando milhões de hectares de milho, soja e cana-de-açúcar para esse fim –, mas acabaram por verificar que cultivar grãos comestíveis para produzir biocombustíveis parece fazer mais mal do que bem.

Porquê?

 Para começar, é difícil plantar, cultivar, transportar e processar estas colheitas sem usar mais energia do que aquela que, eventualmente, se obtém delas como combustível. E, como todas as ceifeiras-debulhadoras, camiões e outras máquinas utilizadas para processar as colheitas usam combustíveis fósseis, acaba por se emitir mais carbono do que aquele que se poupa produzindo os biocombustíveis. As colheitas para biocombustíveis também desalojam colheitas usadas para a alimentação, para além de que são necessárias centenas de litros de água e de fertilizante para fazer crescer um campo destas colheitas. Isto provoca escassez local de alimentos e de água, bem como a poluição das águas subterrâneas e danos no solo. Pior ainda, as florestas, prados e pastagens estão a ser «limpos» para arranjar espaço para as plantações com vista a biocombustíveis, destruindo os habitats naturais de plantas e animais e libertando do solo carbono aí armazenado. Em resumo, não é a melhor solução.

Ohh. Então voltamos ao ponto de partida? Estamos presos à gasolina poluente? Talvez não... se trabalharmos para, em vez dela. produzirmos grassoline – ou etanol celulósico –, que deriva de plantas não comestíveis e desperdícios vegetais, incluindo plantas silvestres e ervas, caules de milho não aproveitados após as colheitas, aparas de madeira, serradura e restos de madeira e papel (que sobra do seu fabrico) e até lodo verde espesso (ou algas) que crescem nas superfícies de lagos poluídos. Estas plantas e produtos delas derivados não requerem mais terra ou água e a energia usada para as recuperar e processá-las pode ser contrabalançada com a energia que acaba por poupar com a sua combustão. Parece bem.

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