A estrela e o Anjo
Vésper caiu cheia de pudor na
minha cama
Vésper em cuja ardência não havia
a menor parcela de sensualidadeInsatisfeito de Deus.
A realidade e a
imagem
O arranha-céu sobe no ar puro lavado pela chuva
e desce refletido na poça de lama do pátio. Entre a realidade e a imagem, no chão seco que as separa,
quatro pombas passeiam.
A Lua
A proa reta abre no oceano
Um tumulto de espumas pampas.
Delas nascer parece a esteira Do luar sobre as águas mansas.
O mar jaz como um céu tombado
Ora é o céu que é um mar, onde a lua, A só, silente louca emerge
Das ondas-nuvens toda nua.
Lua Nova
Meu novo quarto
virado para o nascente:
meu quarto, de novo a cavaleiro
da entrada da barra.
Depois de dez anos de pátio
volto a tomar conhecimento da
aurora.
Volto a banhar meus olhos no
mênstruo incruento das madrugadas.
Todas as manhãs o aeroporto em
frente me dá lições de partir.
Hei de aprender com ele
a partir de uma vez
— sem medo,
sem remorso,
sem saudade.
Não pensem que estou aguardando a
lua cheia
— esse sol da demência
vaga e noctâmbula.
O que mais quero,
o de que preciso
é de lua nova.
Onda
a onda anda
aonde anda
a onda?
a onda ainda
ainda onda
ainda anda
aonde?
aonde?
a onda a onda
Satélite
Fim de tarde.
No céu plúmbeo
A lua baça
Paira.
Muito cosmograficamente
Satélite.Desmetaforizada,
Desmitificada,
Despojada do velho segredo de
melancolia,
Não é agora o golfão de cismas,
O astro dos loucos e enamorados,
Mas tão-somenteSatélite.
Ah! Lua deste fim de tarde,
Demissionária de atribuições românticas;Sem show para as disponibilidades sentimentais!
Fatigado de mais-valia,
gosto de ti, assim:
Coisa em si,
—Satélite.
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