terça-feira, 31 de janeiro de 2012
DE VOLTA À LUA?
Destaque para a coluna What's New do físico Robert Park:
"LUNACY: BACK TO THE APOLLO MOON RACE?
Newt Gingrich, the other top contender of the US Presidential election, wants to construct a permanent human base on the Moon before China does. In fact, Gingrich says he would like to see six or seven lunar launches every week. Doing what? It's been 40 years sincea human traveled beyond low Earth orbit. Since then, space has become an essential element of the fastest growing segment of our economy: Space communications, weather observations, remote viewing, global positioning, climate monitoring, exploration of the solar system, the discovery of exoplanets, and global climate change studies, are all robotic. Nothing of significance has been learned from human spaceflight.
Apollo itself was a political mission. The space shuttle was terminated and the ISS, which produced nothing of value, now belongs to an international consortium. For an American astronaut to visit the ISS, a ticket on a Russian rocket would have to be purchased. We already have a word for those who clamor to send Americans back to the moon: "lunatics." It's a popular idea in Florida, which lost a lot of space jobs. Mitt Romney warns that the Gingrich plan would be "an enormous expense." It's worse than that; it's insane. Gingrich says his Moon base would be "90% private sector." How do you persuade the private sector to get involved in something as useless as a Moon base? Gingrich says he will offer incentives to the private sector in the form of "prizes" for meeting specific technical goals. Is a prize cheaper than a contract?"
Robert Park
Saquinho de carregar não pode?
A idade de ser nós mesmos
"A coroa poderosa não se preocupa com rugas, celulites, quilos a mais. Ela está se divertindo com tudo o que conquistou com a maturidade: liberdade, segurança, charme, amizades, sucesso, reconhecimento, respeito, independência e muito mais. Ela quer rir, conversar, sair, passear, dançar, viajar, estudar, cuidar da saúde, ter bem-estar e qualidade de vida, enfim, “ser eu mesma”, e não responder, desesperadamente, às expectativas dos outros. Quer exibir seu corpo sem medo do olhar dos homens e das mulheres, sem vergonha de suas imperfeições e sem procurar a aprovação dos outros.A coroa poderosa descobriu que a felicidade não está no corpo perfeito, na família perfeita, no trabalho perfeito, na vida perfeita, mas na possibilidade de “ser eu mesma”, exercendo seus desejos, explorando caminhos individuais e tendo a coragem de ser diferente. Ela descobriu que as amizades são riquezas imensas, e o quanto é importante investir em “ser eu mesma” em todos os domínios da vida. Ela sabe também que não deve jamais se comparar a outras mulheres, porque cada uma é única e especial" (Mirian Goldenberg).
Veja matéria abaixo:
Satélites e o Campo Magnético da Terra
Em 31 de Janeiro de 1958: Um novo horizonte para os humanos
A origem das deslumbrantes auroras polares:
Durante os períodos de intensa atividade solar, grande parte das partículas eletricamente carregadas vindas do Sol consegue romper a barreira formada pelos cinturões de radiação de Van Allen. Ao atingir a alta atmosfera produzem os fenômenos conhecidos como auroras polares.
Veja matéria abaixo:
Entrevista a Guilherme Valente
Com a devida vénia, transcrevemos a entrevista que Guilherme Valente, editor da Gradiva e colaborador habitual deste blogue, deu ao Blogtailors:
O que une José Rodrigues dos Santos a Rogério Casanova? Guilherme Valente, fundador e editor da Gradiva, sabe e conta-o nesta entrevista. Não gosta do título de editor independente e admite que este é o momento de recorrer ao mealheiro. E como sobreviverá uma editora, que aposta na divulgação da ciência, num país em que desaparecem os leitores?
P- Qual a maior dificuldade que um editor independente sente no dia-a-dia?
R- Não acho adequado o sentido com que anda a ser usada a expressão «editor independente». Independente de quem ou de quê? Todos os editores, que eu saiba, são independentes, não estão a cumprir qualquer desígnio que não seja editarem.
P- Qual a situação mais delicada por que passou enquanto editor?
R- Delicada, no sentido de difícil, só me recordo da situação que vivíamos antes do 25 de Abril, um tempo em que chegavam a apreender livros (nas editoras onde então trabalhei) por causa do texto numa contracapa. Ou seja, uma contingência sempre imprevisível, até ao ridículo. Muitas vezes percebia-se a razão (e podíamos prevê-lo), mas outras estupidamente — ou talvez não, porque o objetivo era sempre também fragilizar a editora. Um exemplo: num pequeno livrinho duma coleção das Publicações Dom Quixote, dedicado à questão da Irlanda, de que fui autor, escrevi na contracapa, para ilustrar a fotografia de um edifício em chamas, algo como isto: «Não há exército que consiga apagar o incêndio que devasta a Irlanda.» E o censor terá visto no meu texto uma alusão à guerra colonial… e viu bem.
Mas conseguíamos passar muitas mensagens, claro, muitas vezes no fio da navalha. Um exercício de criatividade, cujo êxito nos divertia muito.
Se a pergunta se refere a dificuldades económicas na minha condição de editor da Gradiva, respondo que temos sabido antecipar-nos sempre. Treino a antecipação todos os sábados no jogo de futebol com os meus Amigos.
Num outro sentido acrescento ainda que a maior dificuldade para uma editora como a nossa é a morte da escola, o domínio do analfabetismo e do iletrismo, a perda do desejo de saber, da curiosidade e da liberdade intelectual. Por isso é tão relevante publicar livros que façam leitores. Para acompanharmos um espírito livre em permanente inquietação e indagação intelectual — esse é um intelectual! — e, já agora, para nos apercebermos da miséria da nossa realidade intelectual dominante de hoje, leiam-se as cartas de António José Saraiva para Luísa Dacosta, um livro que acabámos de publicar, de que os especialistas em livros não irão falar, claro. Um bálsamo para quem o ler.
P- O que devem os editores saber rapidamente, sob pena de desaparecerem?
R- Disse-me um dia um grande editor americano que a atividade empresarial da edição é a mais difícil de todas. Quem tiver êxito nesta atividade empresarial terá em qualquer outra, disse-me. Uma editora como a Gradiva vive com gente culta e de talento. E depende da sobrevivência de leitores, de curiosidade intelectual e desejo de saber.
P- Como é a sua relação com o autor bestseller José Rodrigues dos Santos?
Perfeita. É um homem com uma inteligência brilhante e muito pragmático.
P- O que esteve por detrás da ideia de criar a Gradiva?
R- Contribuir para mudar a cultura portuguesa, pensando desde logo na promoção da cultura científica e na educação. Parecia uma ambição delirante, mas não esqueço o que o meu Amigo Professor Sedas Nunes me disse quando considerei a possibilidade de criar uma editora, hipótese que ele muito encorajou e apoiou: «O País precisa mais de um grande editor do que de mais um grande professor, não hesite.» O Professor Sedas Nunes era muito meu Amigo, de qualquer modo, sem falsa modéstia, acho que não o teria dececionado completamente.
Na verdade, não conseguimos tanto como sonhámos, mas tive testemunhos de que o nosso trabalho terá contribuído para a descoberta de algumas vocações e para suscitar outras iniciativas. Curiosa e surpreendentemente, nem só de Portugal. E houve mesmo um tempo, breve, em que o resultado da nossa intervenção se manifestou nas escolas. Depois veio o eduquês, e aconteceu o que Mário de Sottomayor Cardia bem previu, bem antes de eu o ter começado a combater — o eduquês com o seu efeito de idiotização geral. E a Gradiva trouxe-me Amigos fantásticos, que alimentam hoje a minha vida, a minha vontade de continuar a combater.
P- É dos poucos editores que não têm medo de dizer que ganham dinheiro com o seu trabalho. Quais os segredos da Gradiva e afinal quanto vale a editora?
R- Não me ficará mal revelar um dos segredos: as pessoas, as pessoas competentíssimas e generosas (generosas também porque conseguem ser minhas Amigas) que me rodeiam, o espírito da Gradiva, que também a mim me condiciona e de que se apercebe logo quem vem conviver connosco. Se há atividade em que a qualidade intelectual, profissional e humana das pessoas é decisiva, é a edição.
A editora, como caso singular que é, não tem preço. Quanto ao dinheiro que a Gradiva ganhou, podemos agora, temos agora, de começar a ir ao mealheiro.
P- Que projetos podemos esperar para o futuro da Gradiva?
R- Grandes livros, ainda mais rigorosamente selecionados, nos vários géneros que publicamos, desde logo na ciência (agora, uma verdadeira resistência). Enfim, livros de que a generalidade da crítica de hoje não é capaz de falar, mas que os nossos leitores esperam de nós e sabem apreciar.
Acho, aliás, ao contrário do que muita gente nesta atividade me parece continuar a pensar, que muito em breve só haverá mesmo lugar para os grandes livros.
Os e-books não serão capazes de salvar a leitura na dimensão que estou a referir. De facto, temos estado a assistir (há muitos indicadores disto) ao fim da leitura enquanto fenómeno generalizado, instrumento estruturante praticado, promovido, pela escola. Restará uma elite cada vez mais restrita. Repare que mesmo nas universidades já se lê muito pouco — não apenas os alunos, mas também os professores. Vou anualmente a uma Universidade participar em aulas ou conferências e todos anos vou verificando crescentemente isso. E os meus Amigos professores sentem e verificam o mesmo. A partir de 1500 (período em que grandes especialistas consideram ter ocorrido a única revolução total) não houve nenhuma grande manifestação humana, nas artes, nas ciências, etc., que não implicasse, de algum modo, a leitura e o livro. Estaremos a viver o fim dessa era?
P- Se pudesse fazer uma pergunta ao atual secretário de Estado da Cultura, qual seria?
R- Com o meu Amigo Francisco José Viegas tenho muitos temas para agradáveis e enriquecedoras conversas. Ao Secretário de Estado da Cultura não tenho nada para perguntar.
P- Dê-nos uma boa ideia para o setor editorial português.
R- Ter boas ideias próprias. Além da vergonha que devia ser andar atrás das boas ideias e dos bons autores que outros descobriram, a falta de ideias próprias traduz-se numa empobrecedora falta de diversidade editorial e, logo, intelectual e cultural.
P- Como vê as críticas que apontam a inclusão de José Rodrigues dos Santos como um fator de deterioração do catálogo da Gradiva?
R- Li com muito interesse e sempre com grande proveito todos os livros de José Rodrigues dos Santos. Se não fosse assim, não o publicaríamos. Recusei muitos livros que sabia irem ser best-sellers (perdoem-me não dizer quais). Também sempre achei incompreensível aquela ideia que se tornou quase um slogan: «Publicamos os maus para podermos publicar os bons.
Hoje, infelizmente, não leio tanta ficção como gostaria, mas estou a ler cada vez mais outra vez, sobretudo os clássicos que não li na altura própria — eu que julgava ter lido tudo. Tenho uma filha que é leitora compulsiva e se mete muito comigo por não ter lido o que ela já leu… Leio igualmente alguns autores contemporâneos, autores que o nosso meio literato promove muito, e interrogo-me: será que daqui a 50 anos alguém falará neles ainda? Que autores resistirão ao julgamento isento do tempo? A História está cheia de revelações surpreendentes.
Sabe, José Rodrigues dos Santos comete o pecado que entre nós, Portugueses, é o mais difícil de ser perdoado: o do êxito.
A inveja é um sentimento humano universal. Mas entre nós, na nossa cultura dominante, manifestamo-la de um modo terrível, autoflagelador (esse sentimento — ao contrário do que no meio popular se costumava ouvir — fere é quem o sente e exerce): tenta-se destruir os que invejamos, em vez de se tentar perceber o que os faz serem o que são e conseguirem o que conseguem e, assim, ir-se mais além, para benefício próprio e de todos. A visão do outro traduz-se, deste modo, numa dialética negativa, de que resulta uma diminuição de nós próprios, em vez de se traduzir numa dialética positiva, a superação das nossas próprias limitações.
E já agora, porque falamos em José Rodrigues dos Santos e estamos na época das prendas, vou oferecer ao Blogtailors uma «cacha»: não é José Rodrigues dos Santos, de facto, o autor dos livros publicados com o seu nome. O verdadeiro autor é… Rogério Casanova!
NOTA BIOGRÁFICA:
Guilherme Valente nasceu em Leiria a 1 de julho de 1941. Licenciado em Filosofia e pós-graduado em Relações Interculturais. É um dos editores mais prestigiados, no país e no estrangeiro, cultural e empresarialmente. Trabalhou nas Publicações Europa-América, nas Publicações D. Quixote e na Editorial Presença, editoras em que assumiu várias funções, tendo sido responsável pela publicação de inúmeras obras e por inúmeras iniciativas de promoção do livro e da leitura. Criou a editora Gradiva em 1981, um projeto editorial cuja novidade, qualidade e ação cultural têm sido amplamente reconhecidos. Criou e dirige na sua editora várias colecções pioneiras dedicadas à divulgação científica, à ciência, à matemática. Foi condecorado, em 1993, pelo presidente da República Dr. Mário Soares, com a comenda da Ordem do Infante D. Henrique, pelo contributo continuado e diversificado que tem prestado para a valorização da cultura portuguesa. Em 1998, foi agraciado pelo presidente Dr. Jorge Sampaio com o grau de Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique, pelo trabalho pioneiro e continuado persistentemente na valorização da cultura científica e do interesse pela ciência, particularmente entre as novas gerações.
O que une José Rodrigues dos Santos a Rogério Casanova? Guilherme Valente, fundador e editor da Gradiva, sabe e conta-o nesta entrevista. Não gosta do título de editor independente e admite que este é o momento de recorrer ao mealheiro. E como sobreviverá uma editora, que aposta na divulgação da ciência, num país em que desaparecem os leitores?
P- Qual a maior dificuldade que um editor independente sente no dia-a-dia?
R- Não acho adequado o sentido com que anda a ser usada a expressão «editor independente». Independente de quem ou de quê? Todos os editores, que eu saiba, são independentes, não estão a cumprir qualquer desígnio que não seja editarem.
P- Qual a situação mais delicada por que passou enquanto editor?
R- Delicada, no sentido de difícil, só me recordo da situação que vivíamos antes do 25 de Abril, um tempo em que chegavam a apreender livros (nas editoras onde então trabalhei) por causa do texto numa contracapa. Ou seja, uma contingência sempre imprevisível, até ao ridículo. Muitas vezes percebia-se a razão (e podíamos prevê-lo), mas outras estupidamente — ou talvez não, porque o objetivo era sempre também fragilizar a editora. Um exemplo: num pequeno livrinho duma coleção das Publicações Dom Quixote, dedicado à questão da Irlanda, de que fui autor, escrevi na contracapa, para ilustrar a fotografia de um edifício em chamas, algo como isto: «Não há exército que consiga apagar o incêndio que devasta a Irlanda.» E o censor terá visto no meu texto uma alusão à guerra colonial… e viu bem.
Mas conseguíamos passar muitas mensagens, claro, muitas vezes no fio da navalha. Um exercício de criatividade, cujo êxito nos divertia muito.
Se a pergunta se refere a dificuldades económicas na minha condição de editor da Gradiva, respondo que temos sabido antecipar-nos sempre. Treino a antecipação todos os sábados no jogo de futebol com os meus Amigos.
Num outro sentido acrescento ainda que a maior dificuldade para uma editora como a nossa é a morte da escola, o domínio do analfabetismo e do iletrismo, a perda do desejo de saber, da curiosidade e da liberdade intelectual. Por isso é tão relevante publicar livros que façam leitores. Para acompanharmos um espírito livre em permanente inquietação e indagação intelectual — esse é um intelectual! — e, já agora, para nos apercebermos da miséria da nossa realidade intelectual dominante de hoje, leiam-se as cartas de António José Saraiva para Luísa Dacosta, um livro que acabámos de publicar, de que os especialistas em livros não irão falar, claro. Um bálsamo para quem o ler.
P- O que devem os editores saber rapidamente, sob pena de desaparecerem?
R- Disse-me um dia um grande editor americano que a atividade empresarial da edição é a mais difícil de todas. Quem tiver êxito nesta atividade empresarial terá em qualquer outra, disse-me. Uma editora como a Gradiva vive com gente culta e de talento. E depende da sobrevivência de leitores, de curiosidade intelectual e desejo de saber.
P- Como é a sua relação com o autor bestseller José Rodrigues dos Santos?
Perfeita. É um homem com uma inteligência brilhante e muito pragmático.
P- O que esteve por detrás da ideia de criar a Gradiva?
R- Contribuir para mudar a cultura portuguesa, pensando desde logo na promoção da cultura científica e na educação. Parecia uma ambição delirante, mas não esqueço o que o meu Amigo Professor Sedas Nunes me disse quando considerei a possibilidade de criar uma editora, hipótese que ele muito encorajou e apoiou: «O País precisa mais de um grande editor do que de mais um grande professor, não hesite.» O Professor Sedas Nunes era muito meu Amigo, de qualquer modo, sem falsa modéstia, acho que não o teria dececionado completamente.
Na verdade, não conseguimos tanto como sonhámos, mas tive testemunhos de que o nosso trabalho terá contribuído para a descoberta de algumas vocações e para suscitar outras iniciativas. Curiosa e surpreendentemente, nem só de Portugal. E houve mesmo um tempo, breve, em que o resultado da nossa intervenção se manifestou nas escolas. Depois veio o eduquês, e aconteceu o que Mário de Sottomayor Cardia bem previu, bem antes de eu o ter começado a combater — o eduquês com o seu efeito de idiotização geral. E a Gradiva trouxe-me Amigos fantásticos, que alimentam hoje a minha vida, a minha vontade de continuar a combater.
P- É dos poucos editores que não têm medo de dizer que ganham dinheiro com o seu trabalho. Quais os segredos da Gradiva e afinal quanto vale a editora?
R- Não me ficará mal revelar um dos segredos: as pessoas, as pessoas competentíssimas e generosas (generosas também porque conseguem ser minhas Amigas) que me rodeiam, o espírito da Gradiva, que também a mim me condiciona e de que se apercebe logo quem vem conviver connosco. Se há atividade em que a qualidade intelectual, profissional e humana das pessoas é decisiva, é a edição.
A editora, como caso singular que é, não tem preço. Quanto ao dinheiro que a Gradiva ganhou, podemos agora, temos agora, de começar a ir ao mealheiro.
P- Que projetos podemos esperar para o futuro da Gradiva?
R- Grandes livros, ainda mais rigorosamente selecionados, nos vários géneros que publicamos, desde logo na ciência (agora, uma verdadeira resistência). Enfim, livros de que a generalidade da crítica de hoje não é capaz de falar, mas que os nossos leitores esperam de nós e sabem apreciar.
Acho, aliás, ao contrário do que muita gente nesta atividade me parece continuar a pensar, que muito em breve só haverá mesmo lugar para os grandes livros.
Os e-books não serão capazes de salvar a leitura na dimensão que estou a referir. De facto, temos estado a assistir (há muitos indicadores disto) ao fim da leitura enquanto fenómeno generalizado, instrumento estruturante praticado, promovido, pela escola. Restará uma elite cada vez mais restrita. Repare que mesmo nas universidades já se lê muito pouco — não apenas os alunos, mas também os professores. Vou anualmente a uma Universidade participar em aulas ou conferências e todos anos vou verificando crescentemente isso. E os meus Amigos professores sentem e verificam o mesmo. A partir de 1500 (período em que grandes especialistas consideram ter ocorrido a única revolução total) não houve nenhuma grande manifestação humana, nas artes, nas ciências, etc., que não implicasse, de algum modo, a leitura e o livro. Estaremos a viver o fim dessa era?
P- Se pudesse fazer uma pergunta ao atual secretário de Estado da Cultura, qual seria?
R- Com o meu Amigo Francisco José Viegas tenho muitos temas para agradáveis e enriquecedoras conversas. Ao Secretário de Estado da Cultura não tenho nada para perguntar.
P- Dê-nos uma boa ideia para o setor editorial português.
R- Ter boas ideias próprias. Além da vergonha que devia ser andar atrás das boas ideias e dos bons autores que outros descobriram, a falta de ideias próprias traduz-se numa empobrecedora falta de diversidade editorial e, logo, intelectual e cultural.
P- Como vê as críticas que apontam a inclusão de José Rodrigues dos Santos como um fator de deterioração do catálogo da Gradiva?
R- Li com muito interesse e sempre com grande proveito todos os livros de José Rodrigues dos Santos. Se não fosse assim, não o publicaríamos. Recusei muitos livros que sabia irem ser best-sellers (perdoem-me não dizer quais). Também sempre achei incompreensível aquela ideia que se tornou quase um slogan: «Publicamos os maus para podermos publicar os bons.
Hoje, infelizmente, não leio tanta ficção como gostaria, mas estou a ler cada vez mais outra vez, sobretudo os clássicos que não li na altura própria — eu que julgava ter lido tudo. Tenho uma filha que é leitora compulsiva e se mete muito comigo por não ter lido o que ela já leu… Leio igualmente alguns autores contemporâneos, autores que o nosso meio literato promove muito, e interrogo-me: será que daqui a 50 anos alguém falará neles ainda? Que autores resistirão ao julgamento isento do tempo? A História está cheia de revelações surpreendentes.
Sabe, José Rodrigues dos Santos comete o pecado que entre nós, Portugueses, é o mais difícil de ser perdoado: o do êxito.
A inveja é um sentimento humano universal. Mas entre nós, na nossa cultura dominante, manifestamo-la de um modo terrível, autoflagelador (esse sentimento — ao contrário do que no meio popular se costumava ouvir — fere é quem o sente e exerce): tenta-se destruir os que invejamos, em vez de se tentar perceber o que os faz serem o que são e conseguirem o que conseguem e, assim, ir-se mais além, para benefício próprio e de todos. A visão do outro traduz-se, deste modo, numa dialética negativa, de que resulta uma diminuição de nós próprios, em vez de se traduzir numa dialética positiva, a superação das nossas próprias limitações.
E já agora, porque falamos em José Rodrigues dos Santos e estamos na época das prendas, vou oferecer ao Blogtailors uma «cacha»: não é José Rodrigues dos Santos, de facto, o autor dos livros publicados com o seu nome. O verdadeiro autor é… Rogério Casanova!
NOTA BIOGRÁFICA:
Guilherme Valente nasceu em Leiria a 1 de julho de 1941. Licenciado em Filosofia e pós-graduado em Relações Interculturais. É um dos editores mais prestigiados, no país e no estrangeiro, cultural e empresarialmente. Trabalhou nas Publicações Europa-América, nas Publicações D. Quixote e na Editorial Presença, editoras em que assumiu várias funções, tendo sido responsável pela publicação de inúmeras obras e por inúmeras iniciativas de promoção do livro e da leitura. Criou a editora Gradiva em 1981, um projeto editorial cuja novidade, qualidade e ação cultural têm sido amplamente reconhecidos. Criou e dirige na sua editora várias colecções pioneiras dedicadas à divulgação científica, à ciência, à matemática. Foi condecorado, em 1993, pelo presidente da República Dr. Mário Soares, com a comenda da Ordem do Infante D. Henrique, pelo contributo continuado e diversificado que tem prestado para a valorização da cultura portuguesa. Em 1998, foi agraciado pelo presidente Dr. Jorge Sampaio com o grau de Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique, pelo trabalho pioneiro e continuado persistentemente na valorização da cultura científica e do interesse pela ciência, particularmente entre as novas gerações.
CENTRO CIÊNCIA VIVA DO LOUSAL
Diaporama sobre as actividades do Centro Ciência Viva do Lousal, uma verdadeira miina da ciência.
Peter Mitchell da Teoria Quimiosmótica? Sim e também de algumas excentricidades...
Post convidado de Alexandra Nobre:
“A mente humana é como um jardim onde são plantados factos e ideias e que passamos o tempo a rearranjar...” Peter Mitchell
Andando para trás no tempo duas décadas e uns pozinhos, vejo-me sentada num anfiteatro a estrear mas já padecendo de alguns problemas genéticos, num edifício com C baptizado e hoje a precisar de cuidados geriátricos, ali para os lados do Campo Grande de uma grande cidade. Coordenadas - Curso de Biologia, ramo de Investigação, cadeira de Bioenergética, Professor Daniel Arrabaça, pessoa que se por um lado me intimidava com o seu modo ríspido de (inter)agir, por outro me encantava com estórias e histórias tão fluidas quanto as membranas ao longo das quais electrões saltitam os degraus de uma escada energética, permitindo, deste modo, que protões, atravessando-as num único sentido, se acumulem de um só lado e, sendo muitos, unam forças e energia e, com elas, fazem “luz”, que neste caso é como quem diz, ATP. Grandes exemplos estas membranas! Adiante. E quando já o tinha colocado no topo de um altar com velinhas acesas tal era a minha adoração por tais momentos, eis que um dia tem a ousadia de contar que trabalhara com o Prémio Nobel Peter Mitchell, pai da Teoria Quimiosmótica, aquela teoria fascinante dos saltinhos e atravessamentos de que falei ali em cima. Pronto! Não se faz! Uma coisa é privarmos com alguém que olhamos de baixo porque o colocamos num plano onde a terra acaba, outra, muito diferente, será termos que distender o pescoço porque ascendeu ao nível onde começa o céu. Ora vamos lá mudar de assunto que desse dia em que me vejo não quero falar.
Peter Mitchell nasceu em 1920 em Surrey, Inglaterra e sempre estudou em colégios como convém a famílias endinheiradas. Em Queens College caiu na graça do Director C. J. Wiseman, (há nomes premonitórios...) reconhecido professor de matemática e talentoso músico amador, cuja credibilidade muito lhe valeu mais tarde quando quis entrar na universidade em Cambridge e o resultado do seu exame de admissão se revelou um episódio para esquecer. Enquanto a guerra acontece por essa Europa fora, fecha-se no local de estudo e trabalho, onde chega todos os dias extravagante no seu Rolls Royce, com o cabelo pelos ombros, jaqueta roxa e camisa aberta até ao umbigo. Depois de ver a sua primeira dissertação rejeitada por “demasiada originalidade”, em 1951 termina o doutoramento com J. F. Danielli (aquele senhor do modelo da membrana com as proteínas espalmadas entre duas paredes de lípidos), no qual estudou os mecanismos de acção da penicilina descoberta vinte anos antes, uns 100 km a sul. Transita, por convite, de monitor no Department of Biochemistry em Cambridge para director da Chemical Biology Unit na Universidade de Edinburgh onde continua o seu percurso académico.
Pessoa de visão abrangente, tem para além da ciência muitos interesses que vão desde a família à arquitectura e restauro, à música, à filosofia e à história do pensamento. É natural que. por isto mesmo, Mitchell esteja interessado não só na ciência em si, mas em todo o mecanismo da descoberta científica como um processo criativo e de triagem de informação. Nas suas próprias palavras “o problema da maioria dos cientistas não é tanto a falta de boas memórias, mas sim o não terem bons esquecimentos”.
Em 1961, num fabuloso exercício de abstracção e mudança do paradigma, que defendia com unhas e dentes a existência de um composto intermédio altamente energético não fosforilado, põe a hipótese do acoplamento energético (o fluxo de electrões através de uma cadeia transportadora de moléculas localizada numa membrana, bombeia, de modo unidireccional, protões através da mesma gerando um potencial electroquímico -força protomotriz- e é o desfazer deste gradiente que permite a síntese de ATP) alicerçada numa série de postulados a validar. Esta abordagem holística da Biologia é controversa, envolve conceitos teóricos muito à frente das evidências experimentais possíveis na altura e abala o modo de pensar instituído em relação a tópicos como: conservação de energia, transporte de metabolitos, estrutura e função das membranas, homeostasia, evolução da célula eucariota, entre outros, bem como todos os aspectos da vida em que estes processos têm lugar. Segundo o seu antigo colega em Cambridge, Leslie Orgel, “...desde Darwin e Wallace que a Biologia não apresentava uma ideia tão contra-intuitiva como as de Einstein, Heisenberg e Schroedinger.” E é por isso natural que a sua visão tenha sido completamente negligenciada pelos seus pares durante anos, o que o levou a alimentar as suas convicções com bastante angústia, recursos financeiros pessoais, noitadas frequentes e uns copos para além da conta. Consta, de fonte fidedigna que eu cá sei, que entre as tarefas dos seus colaboradores mais jovens, estava incluída uma ronda aos pubs da área sempre que o seu atraso passava o limiar estipulado. Mas não há almoços grátis, e entre 1963 e 1965 problemas gástricos agudos afastam-no por completo da investigação. Quis o destino que, quando por conselho médico procurava uma casa a sul onde pudesse recuperar, tivesse tropeçado em Cornwell numa mansão em ruínas pela qual fez uma oferta ridícula. E é assim que, quase sem saber como, se vê mestre das obras de recuperação e nasce a Glynn House, onde adapta a ala oeste para investigação juntamente com a antiga colega Jennifer Moyle, com quem cria um grupo muito restrito de quatro elementos, já a contar com a secretária. E é também assim que é fundado o Glynn Research Institute dedicado à investigação fundamental em Biologia, o famoso local de concepção da Teoria Quimiosmótica que lhe valeu o prémio Nobel da Química em 1978 pela “contribuição para o esclarecimento da transferência de energia biológica”, para muitos a segunda maior descoberta da Biologia do século XX, logo após da estrutura do DNA.
Após a sua morte em 1992, Helen Mitchell, sua segunda mulher, inspirada na entrevista que deu à BBC e que denominou “Gardens of the Mind”, criou um jardim em Glynn em sua homenagem onde se pode ler “Remembering Peter Mitchell in whose gardens of the mind we wonder in joy and gratitude“ .
Quando, nas minhas aulas, conto esta história aos alunos e digo que o meu professor de Bioenergética trabalhou com o laureado Nobel Peter Mitchell também tenho o meu impacto. É certo que não me olham de baixo nem começam a hiper-ventilar, mas fixam-me de olhinhos mais abertos e quer-me cá parecer que até esboçam um sorriso. Se calhar para a próxima sou capaz que completar o ramalhete com “e consegui 19 a Bioenergética que tive que defender numa oral”. É. Vou pensar nisso...
Alexandra Nobre
segunda-feira, 30 de janeiro de 2012
A ética indolor
Será que nesta época em que vivemos o cumprimento do dever foi ofuscado pela fruição do prazer individual, que nos tornámos indiferentes ao sofrimento alheio, que as atitudes altruístas se esfumaram?
Deixámos de louvar a exigência permanente de nos consagrarmos ao outro. E aqui Lipovetsky socorre-se de Jankélévitch: “o tempo do imperativo categórico deu lugar a uma ética minimal e intermitente da solidariedade compatível com a primazia do ego” (p. 157).
Helena Damião e Dulce Silva
Lipovetsky, na obra O crepúsculo do dever: A ética indolor nos tempos democráticos (1994) afirma que as lições intransigentes da moral desertaram do espaço público e privado, o imperativo maximalista do coração puro, os apelos à dedicação absoluta, o ideal hiperbólico de viver para o outro, todas estas exortações deixaram de ter ressonância colectiva; a hora é da desvitalização da forma-dever, do estiolamento do mandamento moral infinito (p. 147).
Porém, se olharmos para a realidade circundante constatamos uma pluralidade de acções humanitárias e de beneficência. Em particular, os media,com destaque para a televisão, lançam constantemente campanhas de solidariedade, sempre que ocorrem catástrofes naturais ou outras, bem como desnortes económicos. Este olhar não pode deixar de nos dar ânimo: afinal não vivemos num quadro apocalíptico configurado pelo vazio axiológico total. Lipovetsky talvez esteja errado.
Um pouco mais adiante (p. 148-150), este auto resclarece esse quadro: a “ética beneficia de uma legitimidade readquirida, isso não significa a reinserção, no coração das nossas sociedades, da boa e velha moral dos nossos pais, mas sim a emergência de uma regulação ética de um tipo inédito”. Aquilo a que assistimos é uma pós-moralidade, traduzida na substituição do “imperativo altruísta” pela agitação caritativa, assente, esta, numa “moral sem obrigações nem sanções”.
O sujeito não tem relutância em afirmar o desejo de viver prioritariamente para si, de afirmar o seu hedonismo narcisista, o qual, por mais acentuado que seja, não aparece como imoral e, ao contrário de ser censurado, é legitimado pelo contexto individualista. Nesta cultura pós-moralista o sujeito tem sobretudo direitos subjectivos e não deveres de abnegação.
Mas, voltando acima, será que o sujeito contemporâneo recusa fazer o Bem? A opinião de Lipovetsky é que esse sujeito, cada um de nós, não renuncia à dádiva e à solidariedade, mas apenas em situações excepcionais de urgência, devida ou e morte, e na condição disso não representar um grande sacrifício ou uma renúncia aos seus próprios prazeres. A “generosidade é circunstancial”, exteriorizada somente em situações de grande sofrimento humano”, a “preocupação ética, gera,no mais fundo de si mesmo, um altruísmo indolor de massas” (p. 153 e 157).
Deixámos de louvar a exigência permanente de nos consagrarmos ao outro. E aqui Lipovetsky socorre-se de Jankélévitch: “o tempo do imperativo categórico deu lugar a uma ética minimal e intermitente da solidariedade compatível com a primazia do ego” (p. 157).
Será pertinente agora perguntar se a moral tradicional, caracterizada pelo “espírito de disciplina uniforme e autoritária” fez perder todos os critérios éticos, tornando quaisquer atitudes e acções aceites e toleráveis.
A resposta de Lipovetsky é também negativa (p. 167): embora seja incontestável o desgaste de muitos referenciais seguros, continuamos a defender um conjunto de valores consensuais que apontam para critérios transsubjectivos, para exigências morais mínimas.
Continuamos a repudiar os comportamentos que ponham em causa a integridade e a segurança, “a escravatura, os crimes de sangue, a crueldade, a espoliação, a humilhação, as mutilações sexuais, a violação, as sevícias psicológicas e físicas” (p. 168). A nossa capacidade de indignação moral não morreu.
domingo, 29 de janeiro de 2012
Ler devia ser proibido
Eis uma campanha de incentivo à leitura com a assinatura daUniversidade de Salvador, Brasil. Agradeço a Conceição Rolo, a mão amiga que no-la enviou.
"Pensando a respeito, eu acho que ler devia ser proibido.
"Pensando a respeito, eu acho que ler devia ser proibido.
Nada contra quem lê, mas de certas coisas não se duvida e ler nãoé nada bom.
A leitura nos torna incapazes de suportar a realidade, a leitura tira o homem de sua vida pacata e o transporta a lugares nada convencionais.
Para uma criança o perigo é ainda maior porque ela pode crescer inconformada com os problemas do mundo e querer até mudá-lo. Dá para imaginar?
E outra coisa: ler pode estimular acriatividade e você não vê uma criancinha bancando geniozinho por aí. É?
Além disso, a leitura pode tornar ohomem mais consciente e ia ser uma confusão se todo o mundo resolvesse exigir oque merece.
Nada devagar pelos caminhos da imaginação, simplesmente porque leu um bom livro.
Há quem diga que ler engrandece, mas eu não conheço um caso sequer.
Quer um conselho? Silêncio.
Ler só serve aos sonhadores e sua vida não é uma brincadeira.
Cuidado, ler pode tornar as pessoas perigosamente mais humanas."
sábado, 28 de janeiro de 2012
Resultado de uma educação de qualidade: Karl Benz
29 de Janeiro de 1886: Uma data histórica para a Alemanha!
O outro motivo pelo qual o dinheiro dos contribuintes deve financiar a Inovação e a Tecnologia : QUANTO MAIS CONHECIMENTO UMA SOCIEDADE ALCANÇAR VALENDO-SE DO MÉTODO CIENTÍFICO, MAIS RICA ELA SE TORNA. Essa visão utilitária tem um forte apelo, especialmente desde a descoberta do genoma e da energia atômica, e da invenção do transistor e da internet. Veja matéria abaixo:
Subestimação da literatura
Para melhor se compreender o sentido de texto anterior, reproduzimos extractos de uma entrevista feita a Maria do Carmo Vieira, professora de Português, e publicada aqui.
"Ao partir-se de uma fasquia tão baixa como é a
leitura de um rótulo ou das instruções de uma máquina de lavar, estaremos
continuamente a nivelar os alunos por baixo. Porque não é na convivência com
esses textos que educamos o interesse dos alunos para outra coisa mais elevada
como a literatura. Tem de se melhorar os programas e voltar à exigência e à
qualidade. Não o será com a implementação desta nova reforma que oficializou o
nivelamento por baixo. Nunca levaria para a aula um rótulo de uma garrafa,
instruções de uma camisola ou de uma torradeira eléctrica. Quando os alunos
aprendem a interpretar os autores que são património, qualquer um saberá
compreender uma instrução.
Falo da subestimação de que a literatura foi alvo, nos vários
ciclos, na implementação da reforma em 2003, e do esvaziamento dos programas
dos autores clássicos. E da rivalidade que se criou entre o “novo” e o “velho”.
O “novo” foi introduzir em avalancha textos informativos e subgéneros [nos
programas]. Os autores clássicos foram banidos porque foram considerados “chatos”
e porque não correspondiam aos interesses dos alunos. A minha experiência e a
de muitos colegas contraria os mentores da nova reforma, porque chatos são os
professores que certamente não leram bem os clássicos e nem os sabem
interpretar. Nesta dicotomia entre o novo e o velho, despreza-se o legado
patrimonial do passado e privilegia-se o “real”, como os reality shows, porque
supostamente correspondem aos interesses dos alunos. Como podemos ajudar o
aluno a ter espírito crítico a discutir o Big Brother?
(...) Sinto que se um aluno consegue interpretar um texto
literário tem todas as ferramentas para quando sair da escola elaborar um
regulamento, um currículo ou uma carta. Se escreve bem é porque sabe pensar,
ora se sei pensar sei ler um regulamento. A aula de Português não é uma aula de
secretariado, sem desprimor para o secretariado.
A escola tem de
acrescentar algo aos alunos, essa é a sua função. Não é fazê-los regredir,
fechando-os nos seus interesses."
“In memoriam” de Aristides de Sousa Mendes
Ontem, “Dia do Holocausto”, uma efeméride a não esquecer pelo mundo civilizado e, como tal, para ficar gravada na memória da actual e vindouras gerações de Portugueses, em herança de uma história trágica sobre a bestialidade nazi, foi publicado no Público um artigo de opinião de Maria do Carmo Vieira, uma distinta professora do ensino secundário, autora de extensa e valiosa obra publicada por uma estrénua e corajosa lutadora para que o ensino da Língua Pátria não deslustre páginas deobras de autores com Camões, Eça, Pessoa, e tantos outros, que, não poucas vezes, têm, com revolta sua, minha boa Amiga, caído no limbo dos programas escolares.
Transcrevendo o referido artigo e o respectivo título, associo-me, com muito gosto, a esta sua causa em reabilitação do nome de Aristides de Sousa Mendes e da reconstrução da Casa do Passal, onde este cônsul nacional viveu os últimos anos de uma vida amargurada e de extrema carência económica de uma numerosa e sacrificada família:
«É preciso salvar a Casa do Passal
“Era realmente meu objectivo salvar toda aquela gente, cuja aflição era indescritível”. (Aristides de Sousa Mendes)
Hoje em dia, providencia-se o culto do esquecimento e o que não pode deixar de ser lembrado despacha-se, muitas vezes, com um discurso evocativo, adequado à efeméride, em que o elogio superlativo abunda, no desfile rápido de palavras, concluindo-se o festejo com a encenação de uma «romaria» ao lugar de memória, caso exista.
De inúmeras promessas vãs e de muitos discursos se tem alimentado a decadência da "Casa do Passal" de Aristides de Sousa Mendes, em Cabanas de Viriato, e o certo é que os anos vão passando,o tempo vai esculpindo a destruição, perante o olhar de todos, e continuamos, de certo modo passivos,a ouvir falar e elogiar, e um dia destes a casa ruirá e lamentaremos o sucedido, acusando-nos mutuamente.
Já houve quem viesse de longe, consternado pelo abandono desta Casa, cuja história atravessando fronteiras se tornou pertença de toda a Humanidade, e se entregasse generosamente ao trabalho de limpeza e de reparação do telhado, tendo interrompido provisoriamente o evoluir da degradação do Passal. Aconteceu em 2004, com João Crisóstomo (emigrante nos EUA) e António Rodrigues, os quais,juntamente com outras pessoas, empresas locais e o Centro Social Prof.ª Elisa Barros Silva, testemunharam, como escreveu João Crisóstomo,«a cena dantesca e apavorante de barrotes ameaçadores, dependurados do telhado ao rés-do-chão, de camadas de terra, de telhas partidas, caliça, pedras,tijolos e dejectos de animais cobrindo o chão, onde se encontravam dispersas várias cartas, umas de Aristides de Sousa Mendes dirigidas a sua esposa Angelina, outras escritas entre os próprios filhos, a par de outros documentos que, neste caos de imundície, foram salvos e entregues ao Dr. Luís Fidalgo», que presidia ao Centro acima referido, e que posteriormente entregou essa documentação à Fundação Aristides de Sousa Mendes
.
Num gesto também solidário com esta causa, o GECoRPA-Grémiodo Património promoveu e custeou «a realização e aprovação dos projectos das intervenções urgentes – cobertura provisória e trabalhos de consolidação provisória – necessários para evitar a derrocada do edifício». E foi ainda o seu presidente, Eng. Vítor Cóias que, numa imagem assaz sugestiva, me referiu há dias que a Casa do Passal é como alguém que se encontra gravemente doente e cuja cura exige uma primeira intervenção que estabilize minimamente o organismo. Nesse sentido, considera de uma irresponsabilidade imperdoável o «protelar das obras provisórias, urgentemente necessárias», acrescentando ainda que «o custod os trabalhos é da ordem dos 150 mil euros, verba pouco relevante quando comparada com o custo da intervenção definitiva, que orçará em cerca de 2 a 3milhões de euros». Com efeito, «uma intervenção definitiva é precedida por um conjunto de fases, a começar pela selecção de uma equipa tecnicamente competente para lançar e dirigir o processo, a definição de uma estratégia de valorização do monumento, a escolha de uma utilização financeiramente sustentável, a selecção de uma equipa projectista, envolvendo depois a elaboração de um projecto geral, a elaboração de projectos de especialidades, a mobilização dos necessários recursos financeiros, o lançamento do concurso, a selecção da empresa executante. Tudo isto consome tempo, um ou dois anos, o que não é compatível com o estado de derrocada iminente do edifício».É também certo que só com um trabalho de qualidade, tanto mais que se trata de um Património Nacional, conseguiremos juntar as verbas suficientes, essencialmente vindas do estrangeiro.
A bo anotícia que agora podemos divulgar começa assim: "A Sousa Mendes Foundation (SMF) está pronta a disponibilizar meios para participar financeiramente em parceria com a Fundação Aristides de Sousa Mendes, proprietária da Casa do Passal, e com a Câmara Municipal de Carregal do Sal, na restauração da antiga casa que não só albergou a família Sousa Mendes como alojou refugiados que procuravam a sua liberdade. O conselho de administração da SMF é composto por netos de Aristides de Sousa Mendes, refugiados, filhos e netos de refugiados salvos pelo Cônsul e por apoiantes da causa, que, unidos, acreditam que acções valem mais que palavras.
Os Estados Unidos estão ligados à história de Aristides de Sousa Mendes: foi Cônsul Geral de Portugal em San Francisco, Califórnia, entre 1921 e 1924; os seus nono e décimo filhos, Carlos e Sebastião, lá nasceram e depois vieram a alistar-se no exército norte-americano durante a II Guerra Mundial; sem apoio em Portugal, para lá emigraram os seus filhos Carlos, Sebastião, Joana, Teresinha, José, e João Paulo. Foi também através das acções dos seus filhos e outros apoiantes residentes nos EUA que o Cônsul injustiçado foi reconhecido pelo Estado de Israel em 1966 como 'Justo entre as Nações' e finalmente pelas entidades portuguesas em 1987. Uma grande parte dos refugiados salvos pelo Cônsul português emigraram para os EUA e muitos só agora estão a ter conhecimento do homem que lhes salvou a vida. Recentemente, a SMF lançou um projecto da criação de uma base de dados para identificar os detentores de vistos atribuídos por Sousa Mendes." (Miguel Valle Ávila, Presidente da SMF).
A 5 de Novembro de 2011, publicou este jornal o texto «Em defesa da Casa do Passal», subscrito por um grupo significativo de pessoas, a que se juntaram posteriormente os nomes de Anselmo Borges, José Gil, Hélia Correia, Esther Mucznik e João Mário Mascarenhas. Agora que somos testemunhas de que o Major Álvaro de Sousa Mendes,presidente da Sociedade Anónima que detém a Casa do Passal e que é pertença da Fundação ASM, autoriza o início das obras, a que se junta a Câmara Municipal de Carregal do Sal, cujo Presidente e Vice-Presidente têm vindo a defender esta causa, e que a verba necessária está garantida, não se criem mais razões para adiar as obras preparatórias dos trabalhos de recuperação, que impedirão a Casa de ruir.
Se o cônsul Aristides de Sousa Mendes tivesse adiado a sua consciência não teria sido punido nem humilhado, a sua família não teria sido obrigada a dispersar-se, ter-se-ia interrompido a vida de milhares de pessoas que receberam o seu visto, e cujos descendentes estão entre nós, e eu não teria escrito este texto».
Maria do Carmo Vieira
Maria do Carmo Vieira
Na fotografia: Ruínas da Casa do Passal.
“Se este costume dura”
Quando se fala em "valor do conhecimento" estamos, provavelmente, a referir-nos a dois tipos de valor: o valor
intrínseco, que é o valor que lhe atribuímos sem pensar na utilidade que possa ter; e o valor instrumental, que é o valor que damos à sua utilidade..
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Se lemos, por exemplo, Camões, podemos fazê-lo pelo prazer de o ler, para fruir a estética dos seus sonetos, para nos determos na estranheza e beleza duma expressão que criou ou duma palavra posta aqui ou ali. Mas também podemos ler o poeta para compreendermos os acontecimentos históricos em que se detém, para aumentarmos o vocabulário, para melhorarmos a qualidade da escrita.
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Se lemos, por exemplo, Camões, podemos fazê-lo pelo prazer de o ler, para fruir a estética dos seus sonetos, para nos determos na estranheza e beleza duma expressão que criou ou duma palavra posta aqui ou ali. Mas também podemos ler o poeta para compreendermos os acontecimentos históricos em que se detém, para aumentarmos o vocabulário, para melhorarmos a qualidade da escrita.
Como se perceberá, valor intrínseco e valor instrumental do conhecimento, seja ele qual for, não são, de modo algum, antagónicos, antes se complementam. Podemos focar a atenção num deles, mas o outro está subjacente.
Escusado será dizer que, em termos didácticos, é possível e desejável conciliá-los, e desde os primeiros passos de escolaridade.
Porém, nas décadas mais recentes, não tem sido essa a opção curricular em diversos sistemas educativos. De modo mais ou menos acentuado, têm eleito, para constar em programas e manuais escolares, o "conhecimento" que emerge e circula no quotidiano, sendo, nessa medida, facilmente descartável, mas que se apresenta como a solução para preparar as novas gerações para a vida real, concreta, para adquirirem competências práticas.
Não está aqui em causa o valor intrínseco nem instrumental do conhecimento, tal como acima se apresentou. O que aqui está em causa é uma lógica utilitarista e imediatista de informação avulsa, que reclama legitimidade na criação de cidadãos participativos que
resolvam os mais diversos e complexos problemas.
Poderá ser assim?
Entendemos que não: a quantidade e superficialidade dessa informação desmerece o conhecimento e afasta-o. Fica a fluidez de um saber que não o é e do vazio do saber que não se usufruiu, como se o objectivo fosse treinar crianças e jovens para se tornarem cidadãos amorfos, seres não pensantes.
Sistemas
educativos onde se proclama que tudo tem a mesma relevância e dignidade para constar no currículo, que, em última instância, tudo se equivale, devendo, nessa medida, optar-se por aquilo que é apenas e só da ordem do funcional, ainda que coadjuvados por teorias pedagógicas, põem em risco o conhecimento que a civilização tem construído, bem como a inteligência individual.
Esta estratégia que se apresenta como igualitária e progressista é, bem vistas as coisas, uma forma elitista e, até, deselegante de impedir que aqueles que se encontram menos protegidos sob o ponto de vista cultural acedam ao conhecimento e compreendam o seu valor intrínseco e instrumental.
Se a escola não preencher o vazio de conhecimento, manter-se-ão as elites
estabelecidas, tal e qual, a transmitirem aos seus descendentes o que lhes permite manter estatutos privilegiados, evitando que se igualem desiguais. Nas palavras de Luís de Camões, “se este costume dura” ficarão alguns, muitos, “tão ásperos (…) tão rudes e de ingenho tão
remisso” que nem consciência
terão do que perderam ou, melhor, lhe foi negado.
O ensino,
ao afastar o conhecimento e do duplo valor que ele tem, vicia os alunos no facilitismo,
cultiva a preguiça e a ignorância, legitima a mediocridade, formata professores, transforma a escola numa entidade cumpridora de ordens,
metas estatísticas e objectivos económicos.
Helena Damião e Ana Grave
"Linguagens"
Considerando a importância da
linguagem no
desenvolvimento cognitivo, nomeadamente na produção e verbalização de abstracções, vemos com preocupação o seu empobrecimento no quotidiano.
Generaliza-se o recurso a
imagens, siglas e códigos, tudo simplificado e convencionado por este ou aquele grupo. São as “linguagens” paralelas, empobrecidas, em que o referente comum se dilui, dando lugar a referentes particulares.
As trocas de informação são condicionadas à mediação do telemóvel e do computador, onde aquilo que se procura (palavras ou imagens) já está seleccionado e pronto a ser utilizado por um emissor que não sabe como dizer, mas tem uma ideia do que quer dizer. Não dominar o como se diz perturba necessariamente o que se quer dizer, pelo que o descuido da comunicação com exigência conceptual, num tempo e espaço partilhados só pode prejudicar o domínio da língua.
As palavras perdem os seus significados e perdem-se elas próprias. O resultado é a dificuldade, ou impossibilidade, de se exprimirem pensamentos ou sentimentos mais elaborados, de se chegar a um entendimento razoável sobre o que quer que seja. É a capacidade de se chegar ao "eu" e ao "outro" que fica em causa.
Helena Damião e Ana Grave
Na imagem: reprodução de um quadro de Marc Chagall.
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