terça-feira, 30 de novembro de 2010

TRILHOS

Informação recebida do Museu de Ciência da Universidade de Coimbra:


Aproveite os seus Domingos e saia de casa com a sua família e amigos para fazer um passeio pedestre pelos lugares à volta do Museu da Ciência e da Universidade de Coimbra à procura da surpreendente ciência que podemos encontrar fora dos edifícios, nas ruas e nos jardins.

As sessões são orientadas por especialistas de diversas áreas do conhecimento.

PRÓXIMA SESSÃO: 05 DE DEZEMBRO | 11H00

PASSEIO COM OS PÁSSAROS
Jaime Ramos (Departamento de Ciências da Vida da FCTUC)

Sabes o que é uma trepadeira? Não, não é a planta... É a ave com unhas grandes e bico curvo que caminha nas árvores à procura de insectos. Vem descobrir esta e outras aves florestais que vivem no Jardim Botânico durante o Inverno. Se tiveres binóculos em casa, podes trazê-los!

MAIS INFORMAÇÕES
- 11H00-12H00
- participação gratuita (marcação prévia)
- inscrições limitadas (25 participantes)
- Aconselhamos os participantes a trazerem chapéu de chuva e calçado confortável.

Quatro Anos de Museu da Ciência

Informação recebida do Museu de Ciência da Universidade de Coimbra:

05 DEZEMBRO 2010
10H00-18H00
ENTRADA LIVRE



No dia 5 de Dezembro, o Museu da Ciência da Universidade de Coimbra comemora o seu quarto aniversário. Para assinalar esta data, gostaríamos de convidar todos os que reconhecem e alimentam este projecto cultural de divulgação científica e de preservação do património científico da Universidade de Coimbra para a festa que realizaremos nesse mesmo dia, pelas 16h00. Preparámos um novo espectáculo de demonstrações científicas, a Camerata Joanina interpretará uma peça de Mozart e terminaremos com o bolo de aniversário.

Esperamos por si!

LIVROS EM SALDO

Informação recebida da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra:

A Biblioteca Geral da UC realiza mais uma vez, uma mini-feira de livros provenientes do seu vasto catálogo de edições próprias, a preços reduzidos, entre 1 e 5 Euros.

A Feira terá lugar no edifício da Biblioteca Geral, no patamar da entrada da Sala do Catálogo.

Decorre desde o dia 29 de Novembro, até 6ª-feira, dia 3 de Dezembro, das 9.30h às 12.30h e das 14.00 às 17.00 horas.

Levava eu um jarrinho

Há setenta e cinco anos morria Fernando Pessoa. Na rádio e em jornais faz-se, muito justamente, referência a esta data por motivos literários.

Assinalo-a, porém, por outro motivo, um motivo que diria ser triste e lamentável: a ausência da poesia deste nosso clássico maior nos manuais escolares do 1.º Ciclo de escolaridade (se não é uma total ausência é próxima disso).

E isto é tanto mais incompreensível se soubermos que Pessoa escreveu poemas lindíssimos para os meninos e as meninas... Que meninos e meninas não gostariam de um poema como o "Levava eu um jarrinho"? A que meninos e meninas não beneficiaria o estudo de poemas como este, sob o ponto de vista da leitura, do vocabulário, do ritmo que se consegue com as palavras, da compreensão...?

Levava eu um jarrinho

Levava eu um jarrinho
P'ra ir buscar vinho
Levava um tostão
P'ra comprar pão:
E levava uma fita
Para ir bonita.
Correu atrás

De mim um rapaz:
Foi o jarro p'ra o chão,
Perdi o tostão,
Rasgou-se-me a fita...
Vejam que desdita!
Se eu não levasse um jarrinho,

Nem fosse buscar vinho,
Nem trouxesse uma fita
Pra ir bonita,
Nem corresse atrás
De mim um rapaz
Para ver o que eu fazia,
Nada disto acontecia.

Pode o leitor ouvir este poema dito por Manuela de Freitas aqui.

Três novos livros da Classica Digitalia

Informação recebida da Classica Digitalia

Três novos livros editados em formato tradicional de papel e também na biblioteca digital.

Colecção Humanitas Supplementum (Estudos) - Francisco de Oliveira, Jorge de Oliveira e Manuel Patrício: Espaços e Paisagens. Antiguidade Clássica e Heranças Contemporâneas. Vol. 3 – História, Arqueologia e Arte (Coimbra, Classica Digitalia/CECH, 2010).

Colecção Autores Gregos e Latinos – Série Textos Latinos - Carlota Miranda Urbano: Santo Agostinho. O De Excidio Vrbis e outros sermões sobre a queda de Roma. Tradução do latim, introdução e notas (Coimbra, Classica Digitalia/ CECH, 2010).

Série Varia - Nair de Nazaré Castro Soares, Diogo de Teive. Tragédia do Príncipe João. Introdução, texto, versão e notas (Coimbra, Classica Digitalia/CECH, 2010).

Universo Observável


A propósito do texto do Miguel Gonçalves e dos meus textos recentemente aqui e aqui colocados a propósito do Universo observável e existência de energia e matéria negra em quantidades quase totalitárias, ocorreu-me uma história que a seguir conto, numa adaptação minha. Aliás, quando me interrogo sobre o "universo", como objecto de estudo e de observação através do método científico, esse exemplo surge imediata e recorrentemente.

“Numa noite escura que nem breu, um sujeito percorre uma rua. Aproxima-se de uma zona iluminada pelo único candeeiro público que conhece. Verifica que há um outro sujeito à procura de algo na zona iluminada e pergunta-lhe:

- Desculpe, anda à procura de alguma coisa?

- Sim, da chave de minha casa? – Responde atarefado o segundo sujeito.

- Tem a certeza de que foi aqui que a perdeu? – Retorque o primeiro.

- Não, mas esta é a única zona iluminada onde a posso procurar.”

Esta breve e anedótica história é uma boa caricatura do trabalho científico: mesmo que teoricamente seja provável que a "chave" esteja logo ali ao lado da zona iluminada, só quando tivermos tecnologia que nos permita estender a procura nesse lado é que poderemos efectuar observações.

As luas de Júpiter já orbitavam este planeta no tempo de Ptolomeu, mas foi preciso observar através da luneta de Galileu para as encontrar.

A energia e matéria negra são pressentidas para explicar o nosso actual modelo do Universo, mas precisamos da tecnologia dos aceleradores de partículas para as podermos encontrar e caracterizar.

Por outro lado, é espantosa a capacidade preditiva dos modelos científicos que "guiam" os desenvolvimentos tecnológicos à procura de novas observações que eventualmente os possam comprovar, mas que também poderão demonstrar que estavam desajustados da realidade.

Mas também não basta possuir uma forma inovadora de observação do universo. É preciso fazer a pergunta certa e procurar no sítio onde está a chave.

É assim a ciência.

António Piedade

CINCO DATAS DECISIVAS NA HISTÓRIA DA CIÊNCIA EM PORTUGAL


Juntamente com o meu colega Décio Martins, dei uma longa entrevista ao "Sol", que foi publicada na sexta-feira opassada na revista "Tabu", a propósito do nosso recente livro "Breve História da Ciência em Portugal" (Imprensa da Universidade e Gradiva). A pedido do entrevistador, indicámos cinco datas importantes na história da ciência portuguesa:

1573 - Publicação de "De arte atque ratione navigandi", a obra maior de Pedro Nunes – o criador da ciência da navegação astronómica e o maior vulto internacional da História da Ciência em Portugal. Os Descobrimentos foram uma época de glória, não só com o desenvolvimento tecnológico associado às navegações (astrolábio, caravela) como com a descoberta de novas espécies e em terras distantes e sua aplicação (Garcia da Orta).

1772 – A Reforma Pombalina da Universidade de Coimbra – a mais profunda renovação do ensino das ciências ocorrida em Portugal, merecendo destaque a criação do Gabinete de Física, o Laboratório Chimico, o Museu de História Natural e o Observatório Astronómico, e merecendo relevo os nomes de Giovanni Dalla Bella, Domenico Vandelli e Monteiro da Rocha. Na sequência desta reforma surgiram nomes de destaque na ciência, como José Bonifácio de Andrada e Silva e Félix Avelar Brotero. Paradoxalmente, foi também a época dos "estrangeirados" que viriam a fundar a Academia das Ciências de Lisboa em 1779 (Abade Correia da Serra e outros)

1836-37 – A criação da Escola Politécnica de Lisboa e Academia Politécnica do Porto resultou numa grande expansão do ensino das ciências. Nestas escolas passaram, em Lisboa, Agostinho Lourenço e Filipe Folque, e, no Porto, Carlos Ribeiro, António Ferreira da Silva e Francisco Teixeira Gomes. A criação nessa época das Escolas Médico-Cirúrgicas de Lisboa e do Porto contribuiu também para o avanço nas ciências médicas. Nelas escolas encontramos referências da medicina nacional como Câmara Pestana e Ricardo Jorge e Miguel Bombarda.

1911 – A criação das Faculdades de Ciências de Coimbra, Lisboa e Porto. Em Lisboa e Porto houve uma reconversão das antigas escolas Politécnicas e das Escolas Médico-Cirúrgicas de Lisboa e do Porto. Na mesma altura foi criado o Instituto Superior Técnico. Ao espírito renovador republicano seguiu-se uma das piores páginas da História da Ciência. Em 1935 e em 1947, quando grandes vultos da ciência foram afastados da Universidades portuguesas. Não soubemos também receber sábios que eram refugiados de guerra.

1949 - Atribuição do Prémio Nobel da Medicina a Egas Moniz, pelos seus trabalhos na âmbito da neurocirurgia. O seu artigo sobre esse tema de 1936 é um dos artigos científicos de autores portugueses mais citados na primeira metade do século XX.

GRANDES ERROS: O HOMEM QUE NÃO BEBE NEM COME HÁ 7O ANOS


Com a devida vénia reproduzimos do blogue Astro.pt a parte final do artigo de Carlos Oliveira sobre o estranho caso do homem que não bebe nem come há 70 anos (alegadamente, claro):

Prahlad Jani é o homem que, ao que se diz, não bebe nem come há 70 anos. Basta fazer uma pesquisa no Google, para perceber que existem 259.000 páginas que falam sobre isto. Por todo o mundo, as agências noticiosas falaram dele. O jornalismo sensacionalista, sem qualquer ponta de sentido crítico, sem qualquer pesquisa decente, tem neste tipo de histórias o seu êxtase. O jornalismo sério, e os jornalistas sérios, deveriam “cruxificar” quem não quer saber de informar devidamente as pessoas. FOXnews, ABC, Telegraph, BBC, CNN, e centenas de outros jornais e TVs por todo o mundo (como podem ver na net) difundiram esta história como sendo verdadeira. As pessoas, sedentas por mistérios e crentes em parvoíces, não querem saber das explicações racionais.

E, no entanto, a constituição do Sol, por exemplo, é que deveria ser mistério, esses sim, que deveriam providenciar uma “mística” às pessoas, que poderão saber mais sobre esse tipo de assuntos “misteriosos”. A ciência nunca foi aborrecida ou desinteressante. Mas não, as pessoas (jornalistas incluídos) preferem acreditar em mentiras. E os jornalistas portugueses e brasileiros também “foram na cantiga”: Globo, Folha, Diário de Notícias, ionline, TVI, etc. Até sites de ciência como o Ciência Hoje, preferiram “vender o mistério”, em vez de fazerem uma análise científica! É a noção que se deve “deixar o mistério no ar”, aproveitar-se disso porque “vende mais”, do que se pesquisar as respostas.

A história é simples: Prahlad Jani tem 81 anos, e diz que há 70 anos utiliza o Sol como alimento – o elixir da Deusa. Supostamente foi observado por cientistas durante 15 dias, e os cientistas concluíram que era verdade que ele nem come nem bebe nada. Supostamente aos 11 anos, diz ele, foi abençoado pela deusa Amba Mata, que lhe fez um buraco no palato, através do qual diz receber uma substância proveniente do Sol que se transforma em nutriente. Como as pessoas só sobrevivem, no limite, cerca de 10 dias sem água e 40 sem comida, então deve ser um milagre! Supostamente o caso despertou "de imediato" a atenção dos cientistas, que puderam comprovar que ele recebe energia do Sol, e o Ministério da Defesa até estaria interessado em utilizar esta técnica nos seus soldados.

Em face destas informações, como não temos todas as respostas, então o que devemos fazer? Devemos utilizar o pensamento crítico? Devemos utilizar a análise racional? Os jornalistas que difundiram estas mentiras e os crentes que por elas são levadas, já fizeram a sua escolha: escolheram ignorar o pensamento crítico.

Nos exemplos acima, estes jornalistas e estes crentes, em face de algo em que não têm as respostas todas, em vez de pesquisarem melhor com um olhar crítico, preferem acreditar que é o Diabo a colocar as manchas vermelhas no corpo, preferem acreditar que um Neandertal fez uma viagem no tempo, preferem acreditar e difundir que unicórnios invisíveis voadores fizeram parar um carro, etc. Se a notícia fosse que um homem consegue voar, estes jornalistas e os crentes que os seguem, suporiam que toda a ciência, sobretudo a lei da gravidade, está errada, e que há pessoas que voam livremente. Vendem o mistério, em vez de informarem devidamente sobre o que se passa.

Mas vamos nós utilizar o pensamento crítico. De um lado, o lado da crença, temos:

- um homem diz que se alimenta do Sol.
- um homem diz que consegue fazer a fotossíntese, como as plantas.
- segundo ele, foi uma deusa que lhe concedeu esse dom.
- a deusa só aparece a alguns, mas não às pessoas que verdadeiramente andam famintas. Ou seja, é uma deusa imoral.
- acreditar que ele realiza a fotossíntese é supor que a ciência está fundamentalmente toda errada, sobretudo a física, a biologia e a medicina (ou seja, os médicos nos hospitais são todos aldrabões que não percebem nada).
- a medicina é uma treta, e toda a investigação biomédica está errada.
- os orientais têm conhecimentos antigos que são muito superiores aos conhecimentos ocidentais actuais – até têm pessoas que não comem nem bebem e outras que vivem para sempre.
- milhões de pessoas que morrem de fome todos os anos, afinal basta-lhes fazerem um furo no palato e colocarem-se ao Sol.
- 7 biliões de pessoas por todo o mundo (e ainda mais todos os animais) andam iludidas, porque pensam que precisam de comer e beber para sobreviver, quando afinal basta porem-se ao Sol, a meditar, e com um furo no palato.

Do outro lado, o lado do pensamento crítico, temos:
- há milhares destas fraudes desmascaradas todos os anos, pelo mundo. Sobretudo em sociedades a oriente. Na Índia são constantes. Todos são fraudes, charlatães, mágicos com truques simples.
- ele é conhecido na vila dele por ser o “fraudulento da vila”. Ou seja, os seus próprios vizinhos sabem que ele está a mentir!
- animais com fotossíntese, sem clorofila, e não verdes (o homem não é verde!), são impossíveis para a biologia.
- é uma notícia dada originalmente pelo jornal The Australian, que, quando contactado, disse que não tinha fontes. Limitou-se a dizer: “Pode ser verdade, não?” Ou seja, inventam-se mentiras, para “vender um mistério” que é falso.
- a notícia é a mesma de há sete anos atrás. Ou seja, quando dizem que o interesse actual foi "imediato" estão a mentir, claro. Já existem artigos sobre isto há vários anos.
- as notícias são contraditórias sobre se ele saiu para fora completamente durante a experiência ou não.
- durante alguns minutos durante a experiência, ele não era vigiado pelas câmaras (saía do sítio onde elas estavam).
- ele podia tomar banho e gorgorejar com água. Não era vigiado quando tomava banho. Ou seja, os testes tiveram vários “buracos”.
- ele até podia receber crentes devotos – se nos hospitais, as pessoas levam comida para os seus familiares doentes, porque não crentes levarem comida para o seu “santo”?
- não há quaisquer dados experimentais sobre o que se passou em revistas científicas da especialidade (ou noutro lado qualquer!) – só há da experiência de 2003 onde se prova haver matéria fecal (ao contrário do que reivindicam).
- não há qualquer confirmação independente para os resultados que ele diz que teve.
- o “cientista” envolvido, Dr. Sudhir Shah, não deixou que mais ninguém, independente, pudesse avaliar a experiência ou os supostos resultados.
- já em 2003 – a tal notícia igualzinha de há sete anos – tinha feito uma experiência semelhante ao Prahlad Jani, e também não deixou que ninguém confirmasse o que ele dizia, provando que não está a fazer ciência (porque não permita confirmações independentes).
- em 2000 e 2001, testou outro “guru”, Hira Ratan Manek, confirmando também que ele se alimentava só do Sol, mas também não deixou que ninguém confirmasse isso.
- o médico neurologista, Dr. Sudhir Shah, é conhecido por ser crente na teoria que os humanos podem viver só da luz do Sol.
- o Dr. Shah é um crente religioso que acredita que a medicina ocidental está errada, e que a super-ciência da religião do jainismo, é que vai salvar toda a humanidade. Para ele, existem 30 graus de Paraíso e 7 graus de Inferno, e o Universo tem o formato de um homem em pé. Ou seja, ele não é imparcial nas experiências que faz – ele visa somente promover a sua religião, dando-lhe uma aura falsamente científica, como faz o Criacionismo.
- um sumário da sua pesquisa diz que faquires e sábios realizam fotossíntese através dos olhos (retinas) e através do “terceiro olho”. Isto é pura pseudociência!
- o “cientista” e os jornalistas dizem que a investigação dele está a ser estudada pela NASA e pela Universidade da Pensilvânia. Ambas negam este absurdo! Ou seja, inventa-se/mente-se sobre relações com instituições científicas para dar credibilidade à idiotice.
- tanto os praticantes como o “cientista”, acreditam no Breatharianism (Respiratorianismo), em que é possível, por influência divina, viver somente da luz solar. Todos os que afirmaram isto, e se sujeitaram a testes da ciência (de verdadeiros cientistas), foram todos provados como fraudes.
- já no passado, alegações feitas por este grupo foram provadas como sendo puras mentiras.
- no entanto, eles continuam a disseminar as suas mentiras. Um curso dado por eles, custa cerca de 250 euros! O “professor” desse curso diz que não come nada, até ter sido apanhado a comprar comida de uma loja… mas continua a vender os cursos! E também têm livros – a autora tem montes de livros do mesmo género e até fundou a Academia da Internet Cósmica. A autora não diz que não come (ela come e bebe!), mas diz nos livros que é possível não comer nem beber nada e sobreviver. A australiana Verity Lynn acreditou nisso, e morreu por desidratação.
- eles até oferecem férias no Resort Hotel Oásis de Saúde, na Tailândia. Por 1600 euros, os crentes têm direito a tudo durante 10 dias. O que neste caso inclui todo o ar, e toda a luz solar que puderem comer! E eles asseguram que a pessoa vai conseguir perder peso! O Hotel é conhecido por isso – pelos programas de perda de peso! Ou seja, para explicar de outra forma: há pessoas que são levadas a pagar 1600 euros para viver de “ar e vento” e ainda se admiram por emagrecerem!
- Outros, como a Amém Paraíso (é o “nome artístico” dela) misturaram isto com o Cristianismo, e como Jesus disse: “Se você acreditar em mim, você nunca terá sede”, então ela e os seus seguidores bebem urina.

Então qual das hipóteses devemos escolher? O que diz o senso comum? O que diz o pensamento crítico? Parece-me que só uma pessoa que acredita no Pai Natal se pode deixar levar por estas mentiras. Parece-me também que o grande problema aqui não são só os cidadãos normais, mas sobretudo os jornalistas dos média que empolam estas situações e disseminam mentiras sem terem o cuidado de pesquisar a verdade. Nem sequer têm o cuidado de usar o pensamento crítico.

Carl Sagan dizia: “Afirmações extraordinárias requerem evidências extraordinárias.” Sagan também disse: “Se sucumbirmos à superstição e à estupidez, iremos caminhar para as trevas.” E deu-nos um kit para apanharmos os impostores e os burlões. Basta seguirmos essa fórmula, assente no pensamento crítico, que é fácil perceber o que e quem é uma fraude. O contrário, a crença nos pseudos, nos burlões, e deixar essas fraudes fazerem o que querem dá sempre maus resultados.

A ciência e o pensamento crítico funcionam! Os pseudos sempre foram uma mentira.

Carlos Oliveira

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

CARTA DE D. CATARINA DE BRAGANÇA AO SEU ESPOSO


Na exposição sobre os portugueses na Royal Society (fundada em 1660 e com carta régia desde 1662), que está patente na Biblioteca Joanina em Coimbra é exibido o original de uma carta da rainha Catarina de Bragança ao seu esposo, Carlos II de Inglaterra, datado de 1661, quando a rainha, casada à distância, ainda não tinha ido para Inglaterra.

Curiosamente, a jornalista e escritora Isabel Stilwell, incorpora parte do texto dessa carta na sua biografia romanceada "Catarina de Bragança. A coragem de uma infanta portuguesa que se tornou rainha de Inglaterra", Esfera dos Livros, 1ª edição, 2008. Lê-se na p. 257:
"Meu caro marido e senhor meu,
Se o contentamento de me ver com carta de Vossa Magestade pudesse ser satisfação igual da pena que me havia custado a falta dela, não seria necessário dizer-lhe a estimação que dela fiz, bem como a alegria com que festejei a chegada de quem ma trouxe.

(...) Mas quererá Deus trazer a armada breve e levar-me à vossa presença, pois só ver-vos apaziguará as minhas saudades. Entretanto, rogo que Ele vos dê prosperidade, como aquela de que depende toda a minha felicidade.
De Vossa Magestade
Sua mulher que mais o ama e sua mãos beija
Catarina R."
A carta foi escrita pela mão da rainha em português porque ela não sabia inglês assim como o marido não sabia português. A armada inglesa veio buscá-la a Lisboa (uma magnífica gravura mostra, na exposição, a exuberância do cortejo), mas o marido não foi recebê-la a Portsmouth, mandando antes o irmão. O casamento, como é sabido, correu mal...

Trabalhos de casa por mail

Recebo por vezes mails muito curiosos. Uma de anónimo (isto é, não assinado) diz isto:

"Estive a ver o seu trabalho e tinha duas questões para lhe colocar porque o meu filho tem um trabalho para fazer.

As questões são:

- Quais as regiões onde viveu Leonard Euler?

- Quais os principais contributos para a Matemática de Leonard Euler?

Se fosse possível agradecia uma resposta rápida."

Não vou responder porque nunca respondo a anónimos. Mas há duas coisas que queria assinalar, e que indiciam o estado da educação nacional. Supondo que a mensagem não é brincadeira, estranho muito que um pai ou mãe venha colocar perguntas para trabalhos de casa substituindo o próprio filho, quando este, para ter de fazer trabalhos sobre Euler, não será propriamente uma criança. E estranho ainda que o pai ou mãe queira saber respostas que encontra rápida e facilmente na Internet ou numa biblioteca. Quer dizer, agora consultar a Internet ou um livro numa biblioteca já é considerado algo demasiado difícil, fica mais fácil perguntar a alguém, mandando um mail...

VIDEO: Cientistas de Pé no Jardim Botânico Tropical

Vídeo com o resumo do espectáculo de stand-up comedy com cientistas na Noite Europeia dos Investigadores 2010, no Jardim Botânico Tropical, em Belém:

5% é tudo!

uma história gráfica do Universo

a minha crónica semanal no jornal i


Se qualquer descoberta em astronomia tivesse de ser comunicada de uma maneira comercial e completamente elucidativa, teria de ter sempre um asterisco remetendo para as letras miudinhas e esquecidas do final do anúncio.

E que diria a nota?

"Todo este conhecimento é baseado em 5% do Universo que conhecemos; os outros 95% ainda são uma enorme incógnita!". Anote: todos os reinos das galáxias, estrelas, planetas, cometas, montanhas e oceanos, plantas, animais, humanos constituem apenas 5% do Universo. Os restantes 95% distribuem-se por algo a que os cosmólogos chamam energia negra (72%) e matéria negra (23%), duas entidades que são a dor de cabeça necessária para a actual compreensão do Cosmos.

A pergunta é inevitável: mas então se não conhecemos 95% do Universo como é que conseguimos construir grandes modelos, teorias, ideias sobre o Cosmos?

Porque podemos construí-los mesmo sem saber o que são. Se teimarmos em abrir uma porta mas se a mesma resiste, então desconfiamos que algo está a impedir o movimento. Podemos não saber o que é, mas algo é! E o mais chato no caso destas "negras" do Cosmos é que são cientificamente pouco sociais; a matéria negra tem massa mas não interage com nada e ninguém; se não existisse não perceberíamos porque e como evoluem os corpos celestes.

A energia negra esconde-se no próprio espaço em si e sem ela a expansão do Universo torna-se confusa. O meu amigo está confuso? Os cosmólogos também... ainda!

ALEXANDRE PINHEIRO TORRES


Mais um texto de Eugénio Lisboa, desta vez sobre Alexandre Pinheiro Torres, bacharel em Físico-Química pela Universidade do Porto e licenciado em Histórico-Filosóficas pela Universidade de Coimbra, grande autor da língua portuguesa (o início da sua obra literária, com o livro de poesia "Novo Génesis", foi há 50 anos):

Um empenhado embaixador da cultura portuguesa

Sobre as facetas de Alexandre Pinheiro Torres, como poeta, romancista, biógrafo, ensaísta e crítico literário – que, em todas, se notabilizou - , outros, estou certo, se debruçarão, com maior competência do que eu. Mas há um pelouro da importante actividade deste empenhado clerc para que me sinto em privilegiada posição de testemunho: refiro-me à sua actividade docente, na Universidade de Wales, em Cardiff.

Quando cheguei ao Reino Unido, em Maio de 1978, ia, confesso, com algum receio de me encontrar com o mítico personagem que era o Alexandre Pinheiro Torres, crítico literário e implacável executor de tantos que às suas mãos haviam sofrido tratos de polé. Eu tinha fama de presencista (publicara três livros sobre o Régio, um sobre o Segundo Modernismo e outro sobre a poesia portuguesa, do Orpheu ao Neorealismo, passando pela presença...) e o Alexandre conotava-se com o neorealismo. Tinha, além disso, fama de dar ao seu combate sonoridades aterradoras ... Íamos ver.

Para o caso, encontrei-me com ele, nos corredores do King’s College, em Londres, pouco depois de ali ter chegado, como Conselheiro Cultural da Embaixada de Portugal no Reino Unido. Nessa minha capacidade, não podia evitar, mais até do que o contacto, o comércio profissional com o encarregado de estudos portugueses na universidade galesa. Esse comércio depressa se tornou comércio de amizade. O Alexandre fez questão de se mostrar, desde logo, afável e amigo de colaborar – ou de me pedir que com ele colaborasse. Fui, por mais de uma vez, a Cardiff, ficando em sua casa, visitando o departamento e falando para os seus alunos. E levei lá personalidades que ali foram também falar: lembro, entre outras, David Mourão-Ferreira. O que ali presenciei calou-me fundo. Alexandre Pinheiro Torres tinha uma cultura fenomenal, que ia muito para além da literatura portuguesa: dominava extremamente bem a literatura brasileira, de que organizou uma magnífica antologia poética, e as literaturas africanas de língua portuguesa. Tinha cultura filosófica, política e sociológica e de tudo isto impregnava com entusiasmo, as suas lições e conversas com os alunos, que tinham, por ele, uma devoção filial.

O espalhafato que o Alexandre às vezes fazia tinha muito de encenação. No fundo era um homem extremamente bondoso e um incansável trabalhador. A sua biblioteca pessoal era gigantesca, trepando pelas paredes da sua casa e invadindo, com eloquência, as do seu gabinete de trabalho: livros obviamente lidos, com voracidade e penetração.

Nunca tive um momento de hesitação, quando se tratou de lhe satisfazer algum pedido: é que os seus pedidos queriam sempre dizer pretextos para ele ter mais trabalho do que já tinha. Quando se reformou como catedrático, disse-me que não se importaria de prolongar a sua actividade de catedrático por mais cinco anos, se o Instituto de Cultura e Língua Portuguesa lhe pagasse o modesto salário de leitor (tratava-se só de uma pequeníssima vantagem monetária a acrescentar a uma reforma longe de ser choruda). O ICALP aceitou e os cinco anos estenderam-se a onze.. Poucas vezes Portugal terá lucrado tanto com um “leitor” e não terá nunca tido um leitor de tal gabarito.

A sua morte surpreendeu-me, estava eu já em Lisboa, depois de 17 anos de convívio com o autor de Espingardas e Música Clássica. Não o sabia doente, porque o Alexandre, com toda a sua exuberância, era um modelo de discrição. A sua perda atingiu-me profundamente. Contava vê-lo, periodicamente, quando viesse a Lisboa. A sua amizade aquecera-me a estadia no Reino Unido e, quando se avança em anos, nada nos parece tão precioso como uma boa amizade. O Alexandre era inteligente, culto, trabalhador e divertido. Mas era, sobretudo, bom. E como isso nos faz falta!

Eugénio Lisboa

A profissão de professor desaparece...

Segue-se um extracto duma entrevista de Mário Crespo a José Gil, que passou na Sic Notícias. São palavras absolutamente sinceras e verdadeiras as do filósofo e professor, tão sinceras e verdadeiras que deviam fazer parar o país para pensar no rumo que tomará, ou que está a tomar, pelo facto de os bons professores serem obrigados a desistir de ensinar: por abandono da profissão, por fadiga, por desnorte...

Mário Crespo: Uma estratégia seguida por este Ministério (…) é exigir ao professor uma ocupação total na sua tarefa, total, para lá das horas do humanamente aceitável (…) para lá das 35 horas obrigatórias, para dentro das pausas lectivas – expressão nova –, o trabalho do professor deve integrar e devorar o tempo de vida privada, de lazer (…), professor só pode ser professor (…) deixa de ser homem, deixa de ser mulher...

José Gil: Isso é quase um homicídio da profissão. A profissão de professor desaparece. Desaparece, porque é impossível fazer isso (…). Estou a lembrar-me de Paul Lenoir, um poeta, que dizia que para fazer boa poesia é preciso não fazer nada (…). É preciso que haja pausa, desafio, reflexão ruminação (….). Eu sou professor, sei que estou a defender a minha causa, mas há vocações extraordinárias, muito maiores que a minha, muito mais admiráveis que eu vejo em professores do secundário, por exemplo (...) pessoas que gostam de ensinar, que adoravam fazer o que estavam a fazer e essas pessoas vão-se embora, foram-se embora (…) sobretudo (…) porque ficam tão desgostosas por elas mesmas, por terem que fazer qualquer coisa que não gostam, que lhes destrói uma missão...

domingo, 28 de novembro de 2010

NOVOS ANIMAIS CAVERNÍCOLAS


Dado ter sido espeleólogo em jovem, continuo a interessar-me pelas novidades que vêm dos mundos subterrâneos. Agora chegou-me a boa notícia da descoberta em Portugal de de duas novas espécies animais adaptadas completamente à vida subterrânea (chamados troglóbios): um novo género e nova espécie de pseudoescorpião, Titanobochica magna (na figura, foto de um dos descobridores, Ana Sofia Reboleira da Universidade de Aveiro) e a nova espécie de escaravelho Trechus tatai.

Segundo a referida investigadora: "O novo pseudoescorpião é um dos maiores do mundo. Um predador de aparência espectacular, de grandes dimensões e com adaptações extremas à vida nas grutas. Pertence à família Bochicidae, cujos representantes são quase todos cavernícolas. É considerado uma relíquia, sendo o segundo representante desta família na Europa. A sua descoberta enfatiza a relevância da Península Ibérica como refúgio de uma fauna antiga de artrópodes."

Por outro lado, acrescenta ela: "O novo escaravelho cavernícola pertence à família Carabidae e vive nas grutas da Serra do Montejunto. Esta descoberta eleva para quatro o número de espécies, de escaravelhos cavernícolas, descritas das grutas cársicas nacionais, todos pertencentes ao género Trechus."

No Ano Mundial da Biodiversidade é de saudar a descoberta de novas espécies em espaços debaixo dos nossos pés!

PREFÁCIO A “AOS OMBROS DE GIGANTES”


MeupPrefácio ao livro "Aos Ombros de Gigantes" (Texto Editores, textos clássicos da ciência escolhidos e comentados por Stephen Hawking), que já se encontra nas livrarias:


Foi o grande físico inglês Isaac Newton o autor do título deste livro. De facto, foi ele quem um dia afirmou:

“Se consegui ver mais longe é porque estava aos ombros de gigantes”.

Os gigantes a que Newton se referia eram o italiano Galileu Galilei e o alemão Johannes Kepler, que foram contemporâneos um do outro e que pertenceram à geração anterior à de Newton (este nasce no ano em que Galileu morre). Por sua vez, Galileu e Kepler estiveram aos ombros de um outro gigante, um pouco anterior, o monge polaco Nicolau Copérnico, que desafiou a longa tradição geocêntrica ao afirmar que a Terra se movia em torno do Sol.

Quer Galileu quer Kepler, enfrentando uma enorme incompreensão à sua volta, defenderam o sistema de Copérnico. Os dois foram observadores dos céus: Galileu construiu e usou a primeira luneta astronómica, e Kepler, com base em sistemáticas observações dos planetas realizadas a olho nu, formulou as três leis que hoje têm o seu nome, dos movimentos planetários.

Portanto, a obra de Newton nunca teria sido possível sem Copérnico, Galileu e Kepler. O sábio inglês viu mais longe aos ombros dele: encontrou uma mecânica que engloba as descrições anteriores dos movimentos na Terra realizadas por Galileu (a primeira lei de Newton não é mais do que o princípio da inércia de Galileu, segundo o qual os corpos permanecem parados ou em movimento uniforme se não forem actuados por forças exteriores); mais ainda, essa mecânica descrevia tanto os fenómenos da Terra como os do céu (tanto a maçã sobre a cabeça de Newton como a Lua que ele via ao longe!); e, finalmente, com base nas leis de Kepler, Newton alcançou a lei de gravitação universal, segundo a qual todos os corpos, tanto na Terra como nos céus, se atraem uns aos outros, obedecendo a uma fórmula matemática. Para um homem só, ainda que aos ombros de outros três, é obra!

Foi longa a espera – mais de duzentos anos - até surgir um outro gigante que conseguiu subir aos ombros de Newton. O seu nome foi Albert Einstein e celebrámos no ano de 2005, declarado pela Organização das Nações Unidas “Ano Mundial da Física”, o centenário dos seus principais trabalhos. Havia, de facto, alguns problemas com a mecânica de Newton (e dos seus antecessores, a respectiva paternidade deve ser partilhada), nomeadamente a sua compatibilidade com o electromagnetismo, a parte da Física que estuda os fenómenos eléctricos e magnéticos e que tinha, entretanto, sido muito desenvolvida. Einstein, movido pela ideia da unidade conceptual da Física, viu-se obrigado a mudar a antiga mecânica, substituindo-a pela mecânica relativista. Na nova mecânica, nomeadamente na teoria da relatividade restrita, o espaço e o tempo deixavam de ser conceitos absolutos e independentes um do outro, existindo um espaço-tempo para cada observador. Mas Einstein fez essa substituição de um modo subtil: a mecânica antiga continuava, afinal, perfeitamente válida para os fenómenos que decorriam a baixas velocidades, as velocidades a que estamos habituados nas nossas vidas. Por outro lado, ao reparar com algumas dificuldades da teoria newtoniana da gravitação, nomeadamente o facto de a interacção gravítica ter lugar a velocidade infinita, Einstein propôs uma nova teoria da gravitação, a teoria da relatividade geral, uma teoria física muito bela segundo a qual o espaço-tempo se encurvava na vizinhança de uma massa, encurvando-se tanto mais quanto maior for a massa. A força da gravitação era a manifestação visível desse encurvamento geométrico. Mais uma vez, a antiga fórmula da força gravítica de Newton valia no caso em que as massas que encurvavam o espaço-tempo à sua volta eram suficientemente pequenas, mas deixava de valer no caso de estrelas supermassiças. O que era novo não mudava completamente o que era velho, antes o mantinha num limite bem preciso.

E é assim que a física – o empreendimento humano da descoberta do mundo – avança... Uns vêem mais do que os outros, mas, ao fazê-lo, prestam homenagem aos outros, que viram o mundo antes deles, mantendo aquilo que for de manter. A pirâmide dos físicos não está certamente acabada: um dia alguém subirá certamente para os ombros de Einstein e verá mais longe do que ele, acrescentando algo a Einstein sem destruir a parte essencial do que ele propôs. Um dos problemas atacados por Einstein, ao longo de décadas da sua vida, foi a tentativa de unificação da força gravítica com a força electromagnética, nomeadamente procurando dar à força electromagnética uma interpretação geométrica semelhante à do caso gravítico. Esse grande problema da unificação das forças permanece hoje em dia por resolver: ele espera um outro Einstein, que poderá surgir a qualquer altura.

Mas o novo Einstein terá de ter lido este livro. A obra que o leitor tem em mãos – compilado por um astrofísico muito conhecido que trabalha nas fronteiras da moderna física, o inglês Stephen Hawking – reúne os textos fundamentais de todos os autores que foram atrás referidos: de Nicolau Copérnico, o texto de “Sobre as Revoluções dos Corpos Celestes”, de Galileu, os seus “Diálogos sobre os Duas Novas Ciências”, de Kepler, as suas “Harmonias do Mundo”, de Newton os seus “Princípios Matemáticos de Filosofia Natural” e, finalmente, de Einstein o conjunto dos seus artigos mais importantes sobre as suas teorias da relatividade restrita e geral. Hawking escreveu resenhas biográficas daqueles famosos autores. Se a Fundação Gulbenkian já nos tinha dado a tradução do livro de Copérnico, feita a partir do latim original, e a tradução dos textos fundamentais de Einstein, feita a partir do alemão original, não podemos deixar de agradecer à Texto Editores o facto de publicar pela primeira vez em português de Portugal os referidos textos de Galileu, Kepler e Newton. Salvo erro ou omissão é até a primeira vez que Kepler aparece na língua portuguesa, o que se afigura tanto mais interessante quanto Kepler era um admirador confesso dos feitos dos navegadores portugueses, tendo até redigido os seus trabalhos como uma narrativa de avanços e recuos na sua elaboração, tal como os cronistas de bordo faziam para descrever as aventuras marítimas.

Nesta tradução, feita a partir da versão brasileira, mais do que ser absolutamente fiel aos originais procurámos tornar os textos minimamente inteligíveis pelo leitor de hoje que se interesse pelos conteúdos.

Este é um grande livro a todos os títulos. É grande não apenas no tamanho, mas é grande por reunir num só volume as maiores ideias dos maiores génios que a humanidade jamais teve! Este volume condensa aquilo que o homem foi sabendo a respeito do mundo físico à sua volta durante cerca de quinhentos anos. O último meio milénio proporcionou um avanço enorme à Física, um avanço conseguido por gigantes intelectuais. Resta-nos sonhar com o próximo meio milénio: é certo que a pirâmide humana vai continuar a subir...

ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS E A PALAVRA DE DEUS


Habitual destaque semanal para a crónica do físico norte-americano Robert Park em "What's New":

FAITH: LIFE IN A MULTICULTURAL DEMOCRACY

"I have a number of devoutly religious physics colleagues who are able to partition their life: scientist on one side, devout believer on the other. I can only admire the ease with which they move from one side of the partition to the other. With climate change as the greatest threat we face, we may only hope that Rep. John Shimkus (R-Ill.), a member of the House Committee on Energy and Commerce since 1997, has such a partition and equal alacrity in making the transition. He submitted a letter to his colleagues earlier this week asking for their blessing in his campaign to assume the gavel of Energy when Republicans take control of the chamber. Shimkus rejects the posibility of man-made climate disaster. "The Earth will end only when God declares it’s time to be over. Man will not destroy this Earth. This Earth will not be destroyed by a Flood," Shimkus then quoted God's promise to Noah after the flood. "never again will I destroy all living creatures as I have done." Genesis 8:21-22. "I do believe that God’s word is infallible," Shimkus said, "unchanging, perfect."

Robert Park

Na imagem: Réplica da arca de Noé.

A Casa da Rua do Loureiro

A propósito da abertura da Casa da Escrita, em Coimbra que acontece no dia de hoje:

«…esta casa em que vivi parte da minha infância triste, ensombrada de doenças, as deslumbradas descobertas da adolescência, as certezas e os entusiasmos da juventude; esta sala por onde passaram quase todos os amigos (poucos mais haveria de ter) e onde tantos sonhámos juntos, onde o Lopes Graça me revelaria as primeiras noções teóricas da música, onde nos reunimos em discretos encontros ou em largas assembleias tempestuosas, para discutir os problemas de que dependia a sorte do Mundo (e então, com o nazismo à porta, e as incertezas da última guerra dependia a valer), ou para sessões de trabalho submersas em fumo de cortar à faca, onde se entreteceram verdes amores, efémeros uns, duradoiros outros, onde nasceram a Altitude, o Novo Cancioneiro e o Vértice; a esta mesma pesada mesa de castanho, que serviu de banca de estudo e de aprendizado literário, centro de traduções (Steinbeck, Aragon, Sherwood, Anderson, Laclos… e comigo à roda da mesa o Rui Feijó, o Carlos de Oliveira, o Veludo, o Henrique Santo) secretária de redacção e administração (todas as publicações começaram por ter sede na Rua do Loureiro, número nove), balcão de empacotamento (quando os primeiros Vértices eram levados para o correio dentro da capa do Arquimedes, segura por três pontas) e a que me sento agora a tentar reunir os fragmentos da história encantada do passado».

É assim que João José Cochofel (Críticas e crónicas, Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1982, 42-43) evoca o seu palacete da Rua do Loureiro, na Alta de Coimbra, «onde o tempo parece suspender-se entre as paredes grossas de mais de metro, [e] a toda a altura dos tectos de estuque ornamentado» e que foi lugar de acontecimentos culturais e literários da maior relevância para o tempo, tendo deixado marcas fundas, como todos sabem, na literatura portuguesa do século XX.

Aqui nasceu, a bem dizer, o Neo-realismo e as revistas que lhe deram apoio teórico, aqui se reuniu a maioria dos seus grandes nomes. Rui Feijó, no prefácio da obra referida e que reúne textos escritos por Cochofel muito antes, acrescenta o quadro «…foi ainda na casa de João Cochofel, que tantos puderam ler pela primeira vez Proust, Malraux, Faulkner ou Charles Morgan, encontraram as edições da Presença, números da Contemporânea, viram poesias de Pessoa. Ou puderam ouvir – estávamos longe da era dos gira-discos e das 33 rotações – obras de Ravel e Prokofief. Na casa de Cochofel, à sombra tutelar de sua Mãe, cuja cultura e elegância tanta influência exerceram na formação do filho, e tão acolhedoramente sabia receber os seus amigos» se travaram discussões acaloradas, se delinearam acções políticas, se trabalhou para páginas culturais de jornais de província, ou para o Ateneu de Coimbra, ali ao lado, se sonhou com o futuro, idealizando perigosamente no cinzento tempo português dos anos 40.

No dizer de Rui Feijó «Cochofel foi a mola-real, o amigo discreto, o interlocutor necessário para tanto projecto e para tanto sonho. E os que passaram por lá chamam-se Fernando Namora, Fernando Lopes Graça, Joaquim Namorado, Luís de Albuquerque, Maria da Graça Amado da Cunha, Arquimedes da Silva Santos, Mário Dionísio, José Gomes Ferreira». E outros ainda como Duarte Pires de Lima, Egídio Namorado, Manuela Porto, Afonso Duarte.

Enfim, mais do que uma geração, e a geração do Neo-Realismo, combatendo a anterior, a da Presença, face à necessidade de intervir, de transformar as canções e as vozes em arma. Sinais dos tempos que se viviam, ardores de uma juventude cheia de ideais e de vontade de melhorar o Mundo e a vida dos homens.

É esta casa que a Câmara Municipal de Coimbra transformou em Casa da Escrita. Com este património cultural, com esta história, e sendo o belo exemplo arquitectónico que é, na Alta de Coimbra, só podemos congratular-nos com o acontecimento. Que o José Carlos Seabra Pereira saiba dar àquele lugar a segunda vida que merece. Acreditamos que sim.

João Boavida

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

INTERVALO CRESCENTE


Crónica escrita a partir do poema "Máquina do Mundo", de António Gedeão (in Máquina de Fogo, 1961), e elaborada para o Exploratório Infante D. Henrique, Centro de Ciência Viva de Coimbra, no âmbito da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, a decorrer entre 22 e 28 de Novembro de 2010.

[α,∞)?

Que intervalo de tempo e de espaço, de matéria e de energia, é esse Universo em que a nossa vida pontua? Em que singularidade se originou? Quando é que foi t = 0? Há cerca de 13,7 mil milhões de anos, quando todo o Universo, conhecido e desconhecido, estava reunido num único ponto infinitesimamente compacto, imensurável, adimensional!?

Foi Georges Lemaître, padre e cientista, o primeiro a propor, em 1927, um início assim para o Universo. Sem dimensões de tempo nem de espaço, uma singularidade. Chamou-lhe a “hipótese do átomo primevo” e baseava-se em assumpções decorrentes da teoria da relatividade geral de Einstein. Anos mais tarde, em 1949, Fred Hoyle haveria de baptizar, ainda que pelo ridículo, esse momento com a designação de “Big Bang”.

O modelo do “Big Bangnão descreve a singularidade, mas sim o que aconteceu imediatamente a seguir a ela e que acabou por nos dar origem. Segundo a teoria mais corrente do “Big Bange a teoria da inflação, a partir da singularidade, esse nada absoluto grávido de tudo, o universo expandiu-se, súbita e incontrolavelmente e, em cerca de 0,0000000000000000000000000000001 segundo, emergiram as forças da gravidade, do electromagnetismo, as forças nucleares fortes e fracas.

Sob acção destas forças, uma revoada de partículas elementares, fotões, electrões, protões, neutrões, resultantes de outras fundamentais como os quarks, polvilharam o nada em todas as direcções, num número de partículas de cada tipo na ordem de 1 seguido de 89 zeros!

Em 1929, Edwin Hubble observou que a distância aparente de galáxias distantes era tanto maior quanto maior fosse o desvio para o vermelho dos seus espectros luminosos observáveis. E, espantosamente, verificou que quanto mais distantes se encontravam maior era a velocidade a que se afastavam da nossa posição aparente.

Constatamos que as galáxias mais longínquas se afastam umas das outras a velocidades tanto maiores quanto mais longe estiverem de nós. Afastam-se de quê? Da singularidade inicial. Vão para onde? Para o nada infinito no tempo, finito num intervalo de espaço em expansão!

Até onde podemos ver, e ver permite-nos calcular distâncias no espaço e no tempo, através dos actuais radiotelescópios, a fronteira do Universo visível encontra-se algures a 145 biliões de triliões de quilómetros (14 000 milhões de anos-luz) de distância aparente!

Universo visível? …O espanto esmaga-nos com o peso do Universo que não é visível, “preenchido” por matéria dita negra e que corresponde a 85% de toda a matéria do Universo. Viajamos num mar de escuridão que não emite radiação electromagnética! E por isso esse oceano cósmico é indetectável pelos nossos olhos, adaptados que estão a sentir uma pequena fresta, um intervalo suficiente do espectro da luz solar.

E que vazio? Incomensurável! Num átomo de hidrogénio, o combustível das estrelas e o elemento mais abundante do Universo, 99,9999% é vazio! O seu núcleo, constituído por um único protão, ocupa apenas 0,00001% do volume de todo o átomo. O resto é nada e uma certa probabilidade de encontramos um electrão, num determinado estado quântico.

E é pelo balanço delicado entre repulsão e atracção electrostática entre nuvens electrónicas e núcleos atómicos, “coreografias” magnéticas e tudo o mais que se expressa nos princípios colombianos, quânticos e de exclusão, que as indiscerníveis partículas fundamentais dos átomos interagem, dando-nos esta sensação de matéria, quando apertamos as mãos.

E, paradoxalmente, é esse intervalo cheio de vazio que permite interacções entre átomos diferentes, gerando compostos que arquitectam a vida tal qual a conhecemos.

Somos então um intervalo vazio semeado de partículas e energia, cerzidos no tear sempre crescente de tempo e de espaço.

E, neste intervalo assim crescente, somos o resultado de uma singularidade de gente.

António Piedade

HUMOR: RECESSÃO E FUTEBOL

Crónica da desgraça anunciada

Destaque para a crónica semanal de J.L. Pio Abreu no "Destak":

O orçamento derrapou, sabem porquê? Porque se anunciaram restrições, e não houve director, presidente ou autarca que não desatasse a gastar dinheiro enquanto podia dispor dele. Aumentou o consumo de medicamentos, sabem porquê? Porque se anunciou que eles ficariam mais caros, e não houve doente que não os comprasse enquanto eram mais baratos.

Quando se anuncia a taxação dos dividendos, não há accionista que não os queira enquanto não forem taxados. Se, por uma crise social, se adivinhar que faltará o abastecimento de bens essenciais, começará sem dúvida o açambarcamento, fazendo apressar a falta. Se alguém souber que um país sairá do Euro, as notas vão sair do circuito económico e dirigir-se rapidamente para debaixo dos colchões.

São os nossos Chicos Espertos? É verdade que sim, mas quem os pode condenar quando seguem o exemplo dos mais respeitáveis gestores? O erro, no mundo em que vivemos, é anunciar a desgraça. Tal como na psicologia humana, só o optimismo, mesmo contra as probabilidades, se torna saudável. Os optimistas sabem que a desgraça é possível e que poderão vir a enfrentá-la, mas apostam antes na esperança e até podem ganhar.

Viver a pensar no mal que nos pode acontecer é doentio. Causa infelicidade e apressa o próprio mal. No mundo de hoje também é assim. Mas a sociedade, ou parte dela, ou a sua parte mais visível, está doente. Anuncia o mal, causa infelicidade e abre o caminho para a desgraça.

J.L. Pio Abreu

O Coração da Poesia e o Coração da Ciência

“O coração tem razões que a razão desconhece” (Blaise Pascal, 1623-1662).

O “Poema do Coração”, do poeta António Gedeão, de seu nome de baptismo Rómulo de Carvalho, aqui publicado no passado dia 23 por Carlos Fiolhais, denuncia o antagonismo entre a veia poética do autor e a sua formação científica, que o obriga a ver no coração não aquilo que, talvez, desejasse ver, mas sim aquilo aquilo que realmente é: uma simples bomba aspirante premente obediente às leis da Física.

Atente-se nestes versos iniciais:

"Eu queria que o Amor estivesse realmente no coração,
e também a Bondade,
e a Sinceridade,
e tudo, e tudo o mais, tudo estivesse realmente no coração
Então poderia dizer-vos:
‘Meus amados irmãos,
falo-vos do coração’,
ou então:
‘com o coração nas mãos’.

Mas o meu coração é como dos compêndios
Tem duas válvulas (a tricúspide e a mitral)
E os seus compartimentos (duas aurículas e dois ventrículos)
O sangue a circular contraio-os e distende-os
Segundo a obrigação das leis e do movimento”.

Neste dilema milenar sobre o desvendar da interrogação de Pascal - “Que quimera é o homem?” - confrontam-se, em busca incessante, a Ciência (Biologia), a Filosofia e a Religião. Para Peter Medawar (Prémio Nobel de Medicina de 1960), “a ciência não pode responder às questões últimas sobre o sentido da vida”. A Biologia hodierna, com pouco mais do que dois séculos de existência, a Filosofia, que atravessou a bruma dos milénios, e a Religião, que se perde na imensidão do tempo, porfiam desesperadamente em dar resposta, embora sem cultivar a interdisciplinaridade, ao grande enigma do “animal racional” de Lineu posto ao lado dos animais irracionais – que geneticistas nos dizem hoje diferenciar-se de um simples rato por uma pequena discrepância do DNA. Este facto foi rejeitado pelo fervor religioso do literato François-René Chateaubriand (1768-1848), que escreveu: “Se nos é permitido dizer, é, parece-nos, uma grande pena encontrar o Homem mamífero classificado, depois do sistema de Lineu, com os macacos, os morcegos e os pássaros”.

Segundo Edgar Morin, uma das melhores cabeças do pensamento contemporâneo, a idade da Terra ascende a 5 mil milhões de anos, a vida a 2,5 mil milhões, o homo sapiens de 100 a 50 mil anos, a Filosofia a 2500 anos, mas as Ciências Humanas estão apenas praticamente no seu ano zero! Julgo, assim, que se torna desejável (ou mesmo imperioso) que as Ciências Humanas, ainda segundo ele, “um pequeno ghetto”, não virem as costas à Biologia na sua tarefa de Sísifo de desvendar os segredos “da humilhação zoológica” do animal racional, apeado do criacionismo que alguns pretendem revigorar nos Estados Unidos da América.

Entretanto, ao debruçarmo-nos sobre a história, podemos avaliar os seus reflexos no tempo actual. Segundo o filósofo contemporâneo Jean-Michel Rey, “a Metafísica e a Religião, nos seus esforços conjugados, lançaram uma proibição sobre qualquer ciência do corpo”. Por outro lado, ao contrário do que vulgarmente se pensa, pelo apogeu das práticas atléticas gregas e o valioso legado da estatuária de apolíneos heróis coroados de folhas de oliveira, a filosofia helénica deverá, também ela, ser responsabilizada por este status quo. Assim, no legado platónico, praça forte do pensamento filosófico da humanidade, o corpo era havido como “um companheiro mau no caminho que leva à verdade” e "o túmulo em vida da alma".

Acresce que, para Jean-Pierre Changeux, consagrado neurofisiologista dos nossos dias, Aristóteles, com lugar no pódio dos maiores filósofos da humanidade, ao debruçar-se sobre o funcionamento da máquina humana, “baralhou os espíritos durante séculos” por considerar o cérebro um sistema de arrefecimento do sangue e o coração a sede dos sentimentos, uma tese tão ao gosto da poesia dos trovadores medievais.

Por este facto, segundo Georges Gusdorf, “a biologia aristotélica só foi verdadeiramente ultrapassada após um intervalo de 2000 anos". Ora, como é consabido, o coração é apenas, grosso modo, um músculo, anatomicamente estriado e fisiologicamente liso, que não ama e não odeia, que não rejubila e não sofre, que não age e não sonha! Mas ainda hoje, nos alvores de um novo milénio, na tradição popular é difícil aceitar esta realidade que obriga, até, o próprio conhecedor do sistema límbico a levar a mão ao peito, no sítio em que o coração, trespassado por uma seta, galopa em louco tropel para exprimir à sua amada o fogo da paixão que lhe corrói as entranhas e enrubesce a face!

António Gedeão, o poeta dos sentimentos, e Rómulo de Carvalho, o homem de ciência, ambos uma e a mesma pessoa, com rara felicidade não se traem: conciliam a beleza da poesia com a frieza da ciência. Por norma e liberdade poética, o coração da poesia vive arredado das leis da física. Mas não no “Poema do Coração”.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

UNESCO Science Report 2010

Confesso-vos que ainda não li com a atenção devida, mas fica aqui o UNESCO Science Report 2010. Saltando muito rapidamente para as conclusões sobre a ciência europeia, temos as seguintes reflexões:

- Europe must have a sufficient number of researchers who must be well-trained and mobile;
research infrastructure is vital to facilitate research in all areas of S&T;
- excellent institutions of higher learning and research are needed;
- knowledge sharing across research bodies – including the private sector – is a key prerequisite for success;
- co-ordinated research programmes must form a glue for dispersed national efforts;
- last but not least, Europe must be open to the world in its STI efforts.

E sobre o processo de Bolonha e a comparação sempre perigosa EUA-Europa:

The Humboldt model advocates a unity of teaching and research at the institutional, personnel and student levels. Under the Humboldt model, academic training is hardly conceivable without some involvement in research, with the consequence that acquiring a university degree can take many years. Of course, the expansion of university systems to provide tertiary education to growing numbers of students, combined with the need for greater efficiency and cost-effectiveness, has inevitably led to changes. The rhetoric emerging from many discussions on universities, however, still reflects an attachment to the Humboldt model, despite the fact that it may not be sustainable.
A comparison with the US higher education system makes this abundantly clear. A good starting point is the now well-known ranking of universities worldwide by Shanghai Jiatong University. There is no need to discuss here in detail the merits or demerits of this ranking, or for that matter of any ranking. What matters is that the criteria used for the Shanghai Jiatong ranking are based on research capacity. When it comes to research, all ranking systems would demonstrate that Europe spreads its resources relatively thinly compared to the USA.

E, para finalizar:

Europe thus needs to foster greater diversity among its universities and other institutions of higher learning. Many of the reforms European countries have witnessed over the past decade have diversification as their goal, sometimes explicitly, more often implicitly. Diversification has several components, including the concentration of research funding. European countries are still very reluctant to embrace this. Just as the EU’s Framework Programmes have relied in many ways on creating networks and other forms of collaboration to create supposedly a critical mass, so too do most national programmes and policies.

Deixo à vossa consideração...

Do Intervencionismo ao Sidonismo.

Informação chegada ao De Rerum Natura:

No próximo dia 29 de Novembro (2.ª feira), pelas 18h00, será apresentada a obra Do Intervencionismo ao Sidonismo. Os dois segmentos da política de guerra na 1.ª República: 1916-1918, da autoria de Luís Alves de Fraga, e que se insere na colecção República, editada pela Imprensa da Universidade de Coimbra.

A apresentação, que estará a cargo do Doutor Amadeu Carvalho Homem, terá lugar na Livraria Almedina Estádio, em Coimbra.

A queda de Roma e o alvorecer da Europa

Informação chegada ao De Rerum Natura:

Nos próximos dias 2 e 3 de Dezembro, realizar-se-á, na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, o Colóquio A queda de Roma e o alvorecer da Europa.
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Mais informações aqui.

Caro Leitor...



Crónica escrita a partir do "Poema Para Galileu”, de António Gedeão (in Linhas de Força, 1967), e elaborada para o Exploratório Infante D. Henrique, Centro de Ciência Viva de Coimbra, no âmbito da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, a decorrer entre 22 e 28 de Novembro de 2010.

Limpe os olhos da luz do dia e, ao entardecer, projecte o olhar para o horizonte, contemple a abóbada celeste. Nesta semana, o leitor pode observar a face visível da Lua totalmente iluminada pela luz solar. Mesmo à vista desarmada de lentes de ampliar, conseguirá notar certas sombras, nuances de crateras no mar prateado do único satélite natural da Terra.

Também pode facilmente identificar o planeta Júpiter, a “estrela da tarde” em serviço por estes dias e que se destaca brilhante ao lado da Lua terrestre. Se observar com atenção, verá que esse astro se move no horizonte no sentido retrógrado, isto é, no sentido contrário ao dos ponteiros do relógio. Se o seu relógio for digital, não se preocupe: verifique se a estrela da tarde descreve um arco no firmamento da direita para a esquerda. Comprova?

Há pouco mais de 400 anos, em Março de 1610, Galileu Galilei fez as primeiras observações científicas dos astros utilizando um telescópio, instrumento que ele melhorou. A sua luneta permitia-lhe aumentar o tamanho aparente de um objecto até cerca de 30 vezes. Por isso, terá sido o primeiro ser humano a contemplar, com admiração, as crateras lunares com um pormenor que deixou desenhado nas suas ilustrações, que serviram de registos científicos das suas observações.

Também na aurora do século XVII, e ao observar o planeta Júpiter, Galileu descobriu, para seu grande espanto, que outros corpos celestes orbitavam ao redor desse planeta gigante: Júpiter também tem luas, luas só suas! Esse momento, que o leitor pode imaginar e reviver hoje ao contemplar a “estrela da tarde”, é um marco da história da ciência e logo da humanidade.

O facto de alguns corpos celestes rodarem à volta de outros corpos celestes que não a Terra fez ruir concepções anteriores, baseadas na primeira aparência das coisas. Com a simples atitude de registar o que observava, Galileu reuniu dados para corroborar um modelo mais aproximado do comportamento do Universo então observável: o modelo heliocêntrico proposto antes por Copérnico.

As observações sistemáticas dos corpos celestes, efectuadas por sucessivas gerações de cientistas, adicionaram novos dados às observações precedentes, o que permitiu elaborar teorias sobre o universo distante, mas também válidas à nossa humilde escala humana. Por exemplo, a mesma interacção gravítica que faz com que os astros se movam uns à volta dos outros, que uma qualquer maçã, golden ou bravo de esmolfe (tanto faz), seja atraída e atraia a Terra. O leitor, quer experimentar, se faz favor?

Ponha de lado os preconceitos e, por sua vez, experimente deixar cair da mesma altura e ao mesmo tempo duas moedas diferentes: uma de um cêntimo e outra de um euro. Está assim a repetir uma outra experiência, a da queda dos graves, que Galileu Galilei terá feito no cimo da torre de Pisa embora usando outros objectos. Se o leitor quiser estar mais alto, suba, com cuidado, para cima de uma cadeira e repita a experiência. Os dois objectos voltam a chegar ao chão ao mesmo tempo? Pois é. Mesmo que repita vezes sem conta até se cansar, verá que o resultado é sempre o mesmo. E se não fosse?

Saberá porventura o leitor que esta experiência também foi realizada na Lua, que agora observa em fase cheia, por astronautas da missão Apollo 15, em 1971: o comandante David Scott deixou cair, da mesma altura e ao mesmo tempo, uma pena de ave e um martelo. E não é que também caíram ao mesmo tempo no chão lunar! Como teria gostado Galileu de ter observado, através da sua luneta, a réplica da sua experiência na Lua…

O facto é que a mesma experiência, feita por pessoas e em locais e épocas diferentes, tem dado sistematicamente o mesmo resultado. O conhecimento que resulta desta atitude experimental é, assim, reprodutível nas mesmas condições e esta é precisamente uma das características do conhecimento que resulta da aplicação do método científico.

Deixe cair o cansaço rotineiro e descanse o olhar no céu estrelado. Deixe o tempo estender-se no espaço, até ao infinito, e deslumbre-se com a aparente serenidade da astronómica noite semeada de miríades de constelações de estrelas. Seja humano. Sonhe. Ponha questões e experimente.

António Piedade

Dez Paixões em forma de Romance - Os Maias

Informação recebida pelo De Rerum Natura:

No dia 2 de Dezembro (5.ª feira), pelas 18h00, realiza-se a segunda tertúlia sobre os livros eleitos como as Dez Paixões em forma de Romance. Esta sessão, que se realiza no Hotel da Quinta das Lágrimas, em Coimbra, terá como tema a obra Os Maias, de Eça de Queiroz, e contará com a presença dos Doutores Carlos Reis e António Miguel Arnaut.

No final da tertúlia terá lugar um jantar de carácter facultativo. São partes distintas do mesmo evento, sendo possível a participação na tertúlia sobre a obra sem inscrição no jantar (que poderá ser efectuada pelo e-mail: clp@ci.uc.pt).

José Rodrigues Miguéis

José Rodrigues Miguéis está hoje esquecido, ou quase, mas injustamente, porque ele é um escritor de primeira água, um dos grandes nomes do século XX, e é triste não se verem os seus livros à venda enquanto se transaciona contrafação literária por aí, a monte, em inúmeras Feiras do Relógio.

Artur Portela (filho) em plena campanha do Novo Romance, na década de 60, acusou-o de ser irrecuperavelmente queiroziano, o que não tem hoje nenhum sentido. Ao tempo era preciso romper com a estrutura do romance clássico, à moda dos realistas, mas isso já tinha sido feito por outros (Joyce, Musil, Kafka, Virgínia Woolf, Faulkner, para não falar em Robbe-Grillet e companhia, que ele andava então a promover). Era necessário fazê-lo cá, e Artur Portela meteu-se nessa campanha como numa roga de vindima. Era preciso romper, entre nós, com estrutura, sintaxe, temática, pontuação, ortografia, enfim, com tudo, de tal modo que se falou na «morte do romance». É certo que agora vemos o resultado do funeral desse género literário, tal como o século XIX o produziu ao mais alto nível.

Mas isso, se é muito para a evolução que as coisas tomaram (e não só no romance, mas em todas as áreas da criação), a cinquenta anos de distância deve ser relativizado. Estamos na fase de perceber o cíclico destas coisas, e uma vez tudo “desconstruído”, começou já a recuperação de certas exigências narrativas, assimilando embora as novas possibilidades.

Esperemos que a hora de Rodrigues Miguéis volte, porque hoje é já um clássico. Não alinhava pelos neo-realistas ortodoxos, e isso custou-lhe dissabores, mas também não rompeu com a estridência de um Vergílio Ferreira, por exemplo. Como se sabe, esse entre-cá-e-lá nem sempre é vantajoso. Mas ele não o fez por cálculo, mas por razões artísticas. E não tem sentido a crítica de Portela porque, por um lado, a qualidade navega por cima de todas as águas, e onde ela existe não há lugar para epígonos, e, por outro lado, ele é muito diferente de Eça de Queiroz.

Rodrigues Miguéis, homem formado na primeira metade do século XX, influenciado por Camilo, por Raúl Brandão, às vezes “próximo” de alguns mestres russos, e tendo passado quase toda a vida longe da Lisboa, onde nasceu e foi criado, quase se pode dizer que, com os imensos recursos literários que tinha, não sentiu necessidade de enveredar por uma linha de rotura. A situação de emigrante, de longamente ausente, ao reforçar a sua veia evocativa e afectiva da Lisboa da sua infância, obrigou-o, de algum modo, a servir-se de uma estrutura clássica. Mas mais aparente que real, porque as suas novidades estilísticas são muitas, tendo sido formalmente bastante moderno.

João José Cochofel (Críticas e crónicas, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1982, pp. 238-241, crónicas escritas muito antes desta data, embora não possa precisá-la ao certo) falando de “Escola do Paraíso”, considera a obra «um livro novo, na perspectiva da novelística portuguesa actual» e refere a inovadora e «subtilíssima indeterminação» entre o autor e a personagem principal, e na «descontinuidade microscópica de pequenas manchas que, por acumulação, vão criando a ilusão de um fluir contínuo». Mas o melhor dele é, como diz ainda Cochofel, a sua «linguagem tão ágil e essencial que a narrativa não parece precisar das palavras para se apresentar ao leitor», ou ter o próprio Miguéis «o sentimento de que o leitor se deixará arrebatar sem saber como, sem ver as frases, as palavras».

Relativamente a Eça, Miguéis é menos formal, mais dúctil, mais psicológico, mais angustiado, menos irónico, e sobretudo nada cáustico. Mas tem uma cor, uma agilidade, um amor às pessoas e às coisas, uma aderência narrativa às histórias e às situações que o distanciam de Eça e o tornam muito mais moderno. É pois um autor a recuperar e a divulgar.

João Boavida

POEMAS DE EUGÉNIO LISBOA SOBRE GIGANTES DA FÍSICA

O engenheiro, professor e ensaísta Eugénio Lisboa, que nos dá a honra de colaborar neste blogue, é também poeta. Ele é o autor de um curioso livro de poesia sobre notáveis cientistas: "O Ilimitável Oceano" (Quasi, 2001). Escolhi três poemas sobre três "gigantes" a cujos ombros Newton subiu e um quarto sobre esse outro "gigante" que foi o próprio Newton.

COPÉRNICO

O céu que viste era o céu
de Ptolomeu. Mas diferente
foi a forma de o olhar.
No modo de julgar, teu,
a Terra, astro movente,
demitiu-se de pensar
que era o centro do mundo:
assim ver, que abalo fundo!

GALILEU

As leis do movimento perscrutaste
com paciência e cândido olhar.
Com o mesmo olhar o vasto céu sondaste
humilde mas altivo no ousar.

KEPLER

O mundo próximo, à volta, apodrece.
Fome, mortal conflito e pestilência
turvam o dia mal amanhece.
Segura-se à pureza da ciência:
o curso aparente das estrelas,
seguindo matemática divina,
deriva, das rigorosas tabelas
do vasto cosmo, a curva sibilina.

NEWTON

Da qualidade oculta de tudo,
não cuido, nem sei. Não é de ofício
sério sabê-lo: o tudo é mudo
e forçar-lhe a fala é sério vício.
Dos fenómenos, deduzo leis
de movimento e destas derivo
qualidades e acções: vereis
que o saber, assim, avança, altivo.

Eugénio Lisboa

O corpo e a mente

 Por A. Galopim de Carvalho   Eu não quero acreditar que sou velho, mas o espelho, todas as manhãs, diz-me que sim. Quando dou uma aula, ai...