“A ambição universal dos homens é colherem aquilo que nunca plantaram” (Adam Smith, 1723-1790).
Quando me foi pedido pelo Público um pequeno artigo de opinião sobre as “Novas Oportunidades”, a inserir numa reportagem a duas páginas a publicar nesse jornal, no dia seguinte, 7/Julho/2010, sabia eu estar a abrir uma verdadeira Caixa de Pandora numa altura em que “perante centenas de pessoas”, duas delas com cargos ministeriais, Valter Lemos, ex-secretário da Educação e actual secretário de Estado do Emprego e Formação Profissional, iria, em declarado dia de júbilo para a nação, fazer a entrega e o panegírico (como quem de uma só cajadada mata dois coelhos) de centenas de diplomas outorgados pelas "Novas Oportunidades".
Mas as novas oportunidades não surgiram apenas agora. Aquando da criação das Escolas Superiores de Educação, para a respectiva docência de professor adjunto, surgiram “novas oportunidades” pela obtenção de um mestrado da Boston University, com a duração de seis meses, quando em Portugal, a obtenção desse grau académico obrigava a um estudo com a duração de dois anos lectivos e defesa de tese. Desta oportunidade beneficiou o próprio Valter Lemos, então, com destino a professor adjunto da Escola Superior de Educação de Castelo Branco.
Ou seja, vivemos num país a duas velocidades. Uns viajam em comboios a vapor, com incomodidades pelo caminho e paragens em vários apeadeiros; outros na comodidade do TGV que os transporta, à velocidade de um raio, rumo à obtenção de diplomas dos vários graus de ensino. O TGV é representado pelos exemplos das "Novas Oportunidades" para maiores de 18 anos e do "Acesso ao Ensino Superior para Maiores de 23 anos", com o respectivo e escandaloso facilitismo. Como é óbvio, quem faz o seu percurso escolar regular viaja em comboios do século XIX. Claro que, com isto, não estou contra as “Novas Oportunidades” ou acesso ao ensino superior, dependente da data de nascimento escarrapachada no B.I, de quem, por motivos vários, se viu obrigado a desistir dos respectivos estudos, mas... desde que esta forma de obtenção de diplomas se não torne num bodo aos pobres para quem não quer estudar com os sacrifícios que isso acarreta. Exigindo, assim, direitos sem cumprir deveres na atitude egoísta de defender os direitos para si e os deveres para os outros!
E porque vem a talhe de foice, recuemos anos atrás para digerirmos a opinião de Vital Moreira sobre o facilitismo que existia no ensino superior, mas nada que se pareça com os dias de hoje. Escreveu ele no Público, décadas atrás: “A ideia de democratizar o ensino superior pela via da banalização do acesso e pela crescente degradação da sua qualidade não é somente um crime contra a própria ideia de ensino, é também politicamente pouco honesta”.
Em presença do actual panorama educativo, que degradou o ensino superior (mesmo universitário) para níveis de acesso e frequência de pouca credibilidade humanística e científica, é louvável que o país, ou mesmo o simples cidadão anónimo em dever de cidadania, recrimine o actual poder político por não ter em linha de conta a boa doutrina preconizada por um reputado académico e figura de destaque no Partido Socialista. Até porque, para Sophia de Mello Breyner, ”calar-se equivale a deixar crer que se não julga e que nada se deseja; e, em certos casos, isso equivale, com efeito, a não desejar coisa alguma”.
Num país com maus alunos de matemática mas com a tendência de quem nos governa em reduzir tudo à expressão mais simples, assistiu-se com Bolonha à tradução de “bachelor” para licenciado. Desta forma engenhosa, Portugal passará a poder ostentar grande número de licenciados que em termos estatísticos nos equipare a países europeus mais avançados.
Escrevi no ano de 2001: “Durante um certo período da monarquia portuguesa, a atribuição de títulos de nobreza a granel fez com que Almeida Garret, antes de ter sido feito visconde (1851), reprovasse essa benesse de forma jocosa: “Foge cão que te fazem barão! / Para onde se me fazem visconde?’ Com idêntica ou até maior razão, hoje, na vigência da III República, desajustado me não parece parafrasear: ‘Foge gato que te dão o bacharelato! / Para que lado se me fazem licenciado?”(Diário de Coimbra, 26/07/2001).
Até posso conceder que a análise por mim feita no meu post anterior, “Novas Oportunidades ou Novos Oportunismos?”, possa ter causado um certo desconforto nos formadores e diplomados pelas "Novas Oportunidades". Sem razão, por eu próprio ter aí escrito “não querer generalizar a todos estes cursos efeitos perversos”. Todavia, nada melhor do que analisar a opinião de formadores destes cursos, numa notícia assinada por André Jegundo, intitulada “Exigência pode variar”, e saída, outrossim, no Público (07/07/2010), em que se lê que "eles rejeitarem a imagem de facilitismo, que foi associada ao programa", mas que, simultâneamente, admitem que "o grau de exigência varia de centro para centro" estando, muitas vezes, relacionado com “a necessidade de as escolas obterem financiamento” . Idêntica análise é feita pela directora do curso profissional de técnico de secretariado da Escola Secundária de Arganil , Fátima Teixeira, quando considera, também, “que a menor qualidade está muitas vezes relacionada com a necessidade de financiamento das escolas porque se os alunos desistirem ou abandonarem o curso o financiamento para as escolas é cortado”. Ou seja, o vil metal condiciona a respectiva qualidade, situação tanto mais gravosa em plena vigência do “Programa de Estabilidade e Crescimento” (PEC). Mas será só ele, o vil metal?
Por outro lado, segundo, ainda, a referida notícia, todos os formadores reconhecem a má imagem destes cursos passada para a opinião pública: “Existe a ideia errada de que as pessoas vêm aqui escrever uma historiazinha de vida e que isso dá equivalência ao 9..º ou ao 12-º ano”. Não é bem assim, afirma Fernanda Coimbra, coordenadora do "Centro de Novas Oportunidades" da Escola Secundária Dr. Manuel Laranjeira, em Espinho. Concedo que não seja bem assim, embora me permita duvidar, por testemunho público de um formador de um destes cursos, como, por exemplo, o autor da carta (por mim já citada no meu post anterior “Novas Oportunidades ou Novos Oportunismos?”) dirigida ao Presidente da República, Prof. Aníbal Cavaco Silva, em denuncia ao que por lá se passava: “Estes frequentadores da escola aparecem nas aulas sem trazer uma esferográfica ou uma folha de papel. Trazem o boné, o telemóvel,os “headphones” e uma vontade incrível de não aprender e não deixar aprender” (Expresso, 08/12/2007).
Opinião bem optimista tem Fátima Mateus, formadora no "Centro Novas Oportunidades" da Escola Secundária Avelar Brotero, em Coimbra, quando diz que "a imagem de facilitismo que foi associada ao programa é, sobretudo injusta, para as pessoas que foram certificadas ‘com todo o mérito’”. Poderá haver, porventura, "mérito absoluto" (!) , mas o que dizer do mérito relativo quando numa mesma escola secundária se exige aos alunos regulares do secundário um ensino sério, persistente, valioso com a duração de três longos e trabalhosos anos e, simultaneamente, aí se passam diplomas de "Novas Oportunidades" que levaram Maria do Carmo Vieira a formular a seguinte pergunta:“Quem acredita na qualidade do ensino das Novas Oportunidades quando em três meses se conclui o 9.º ano e em seis meses o ensino secundário, 10.º, 11.º e 12.º anos?” ( Notícias Magazine, 14/Setembro/2008).
A autora desta incómoda inquirição é uma distinta professora de Português com longa vivência do ensino secundário e luta sem quartel contra “o estado de deterioração em que se encontram a escola e o ensino”, como refere no prefácio do seu livro “O Ensino do Português” que inaugurou, com inegável lustre, os “Ensaios Fundação Francisco Manuel dos Santos”, ensaios tendo a finalidade de “conhecer Portugal, pensar o país e contribuir para a identificação e resolução dos problemas nacionais, assim como promover o debate público”. Um muito necessário e animado debate público sobre "As Novas Oportunidades" porque, para Séneca, “viver significa lutar”. Lutar contra o facilitismo, o oportunismo, o laxismo que tomou conta do sistema educativo português.
24 comentários:
A filosofia que está por trás das novas oportunidades e dos cursos de adultos é de louvar e está adaptada, por um lado, para aprendizagem de adultos já com vícios e mentalidades formadas (e um adulto não é uma esponja ou tábua rasa, como uma criança, pelo que a abordagem de aprendizagem é diferente...e se calhar, exige muito mais esforço logistico); por outro lado, dirige-se a pessoas que têm valor e conhecimentos mas q as circunstâncias da vida obrigaram a abandonar os estudos. Contudo, como em todas as vertentes de ensino de hoje, o facilitismo veio para ficar e as estatísticas exigidas pela UE são mais importantes do que o verdadeiro ensino e aprendizagem. Não interessa que trabalhem ou aprendam ou fiquem verdadeiramente formados, como pessoas e como alunos, interessa sim é que se passem todos e pronto!!...Infelizmente, já vi muito daquilo a que chama eduquês e ainda ontem tive de "gramar" um discurso eduquês que me irritou profundamente...é deixá-los falar...não estão na sala para saber o que realmente se passa na prática...
Refiro, contudo, que não é o que se passa em muitos centros, com boas equipas, empenhados em realmente incutir uma verdadeira formação nas pessoas. O grande problema é a mensagem de facilidade que está a ser passada para a maioria, que chegam aos cursos a achar que vai ser tudo uma festa e ficam muito admirados e muito indignados quando constatam que se querem uma carteira profissional, e um grau de escolaridade, vão ter de trabalhar muito. Ficaria espantado (ou talvez não) com a quantidade de adultos mal agradecidos, mal formados, mal educados e totalmente imaturos que me têm vindo parar às mãos e a para quem me é pedida compreensão e paciência. Logicamente que somos todos seres humanos, cada um com as suas experiências e estilos de vida e que a compreensão e a paciência existem...até um certo ponto. Não contem comigo para facilitismos...
Infelizmente o sistema e a pressão são de tal ordem, a burocracia de diferentes centros em que somos obrigados a trabalhar para poder retirar umas migalhas que nos permitam comer e pagar as contas, que a logística é uma dor de cabeça para todos e a pressão começa a ser demais. O resultado é uns abandonarem a profissão ou procurarem melhores condições noutros lados e, os que ficam, são obrigados a alinhar com o eduques se querem sobreviver.
E agora? como desatar um nó que teima em ficar cada vez mais apertado e rouba margem de manobra aos que realmente procuram a qualidade?
Atrevo-me a achar que o objectivo é mesmo esse, que não haja qualidade, mas sim quantidade. Uma quantidade de massas ignorantes, pois na ignorância serão mais fáceis de controlar...?
Caro(a) Vani:
Agradeço o seu comentário.
Foi um contributo valioso para a compreensão das dificuldades pela qual passam alguns dos seus formadores mais esforçados em contribuição para que a imagem das "Novas Oportunidades" melhore na medida do (im)possível.Assim seja!
Cara Vani,
É necessário que denuncie o eduquês! Escreva uma carta a quem de direito. Denuncie este lobby. Faça ver que é o nosso futuro que está em causa. Escreva para o Presidente da República, para o Primeiro Ministro (apesar de todos sabermos que é o primeiro defensor do reforço do status quo e de ser o primeiro a enxovalhar quem quer um ensino com qualidade, rigor e disciplina), para a Ministra da Educação (apesar de já quase todos sabermos ser uma das representantes do lobby no ministério), para todas as bancadas parlamentares (apesar de já sabermos que a esquerda defende este sistema) e para a Comissão Europeia e Parlamento Europeu.
Eu já faço isto todos os anos. Pode ser que um dia nos libertemos deste lobby e com isso possamos, no futuro, ter uma população mais culta e inteligente e com isso uma economia mais produtiva e competitiva e assim atingirmos o nível de desenvolvimento que invejamos (no bom sentido) de países como a Alemanha.
Enquanto os nossas crianças e jovens não perceberem que só progridem na vida com trabalho, esforço e disciplina não conseguiremos deixar a estagnação económica em que vivemos desde 1999.
Há duas explicações para o facilitismo:
1) uma conspiração do eduquês
2) interesse político em ter estatísticas de sucesso.
Se olharmos para o que se passou no governo anterior poderemos escolher a explicação mais adequada.
Segundo a explicação 1) a ministra Maria de Lurdes Rodrigues era ou não do eduquês? Se sim, como explicar a guerra da avaliação dos professores? Se não, como explicar o facilitismo para os alunos?
Se olharmos para a explicação 2) tudo faz sentido: facilitismo para os alunos porque dá sucesso nas estatísticas, avaliação para os professores porque poupa dinheiro.
Aliás neste post e comentários multiplicam-se os exemplos de situações em que o que está em causa é o sucesso das estatísticas e não entra sequer nenhuma concepção ideológica.
Há um grande interesse político em obter estatísticas de sucesso é verdade. Como o chamado eduquês ajuda a conseguir esse objectivo obtém apoio e até promoção. Não há conspiração. O rigor não ajuda as estatísticas.
Caro Carlos Albuquerque,
Respondo ao seu comentário, porque sinto que continua a ser necessário esclarecer todos os leitores deste espaço web.
Não há duas explicações. Há uma! A responsabilidade é dos políticos porque permitiram que o lobby das "ciências" da educação tivessem atingido a dimensão que atingiram. Os defensores do eduquês e os políticos irresponsáveis casaram, porque o eduquês defende uma escola facilitista, laxista e preguiçosa e os tais políticos perceberam imediatamente que isto era óptimo para apresentarem estatística muito giras e agradáveis à vista dos menos letrados e até a alguns letrados.
Como é evidente, para os políticos irresponsáveis o floreado do eduquês é música para os seus ouvidos.
O Secretário de Estado da "Educação" da altura chamava-se Valter Lemos. Este senhor tirou um curso de Verão em Boston onde aprendeu o eduquês, chegou a Portugal e tal curso foi equiparado a um mestrado e com isso chegou a Professor Adjunto numa Escola Superior de Eduquês. Por acaso o senhor já se deu ao trabalho de ler a legislação produzida por ele?
Quanto à antiga Ministra da Educação, por acaso o senhor já se deu ao trabalho de ler e/ou ouvir a senhora? E o tal sistema de "avaliação" de professores é o quê? Quando tiver um pouco de paciência, leia o Estatuto da "Carreira" "Docente" (que é igual para educadores de infância, professores do 1º ciclo, do 2º e para os professores do 3º ciclo e secundário, parece incrível mas é assim - já agora, fique a saber que os salários são iguais...) e o tal sistema de avaliação "docente". Facilmente conclui que se trata de eduquês puro e duro e que todo o docente do 1º ciclo, do 2º ciclo, do 3º ciclo e do secundário e educador de infância que não cumpra com as premissas do eduquês, não poderá aspirar as grandes classificações.
Outro exemplo do eduquês em forma de Lei. O Ministério da "Educação" inventou um sistema de certificação de competências TIC (mais um jargão habitual desta "ciência" oculta) que atribui o nível máximo de competências não a licenciados, mestres ou doutorados em informática, ou electrotecnia e computadores, mas sim a doutorados em Ciências da Educação!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Portanto, para o Ministério da Educação um doutorado em informática possui apenas competências básicas em Tecnologias da Informação e da Comunicação, mas um doutorado em Ciências da Educação tem automaticamente um certificado de nível 3 que representa o nível máximo!
Desta forma, quando uma escola tiver algum problema na sua rede informática, ou num servidor, ou quando um professor necessitar de formação para introduzir as TIC num qualquer exercício, em vez de contactar alguém com formação para o efeito passará a contactar um doutorado em ciências da educação!
Com este raciocínio, pode-se concluir que quando alguém adoecer em vez de contactar um médico deve consultar um doutorado em ciências da educação...
Só não vê o que está à frente dos seus olhos quem não quer ver!
Se chamarmos eduquês a quem defende o facilitismo, então estamos de acordo. Agora chamar eduquês a todas as pessoas das ciências da educação e depois dizer que todas as pessoas das ciências da educação defendem o facilitismo, é simplesmente ignorância.
Não tenho dúvidas que há lobbies nas ciências da educação, como os há entre os advogados e entre os médicos. Mas não é por isso que dizemos que todos os médicos são incompetentes ou que todos os advogados são desonestos.
O que tenho procurado denunciar aqui é o absurdo de uma cruzada anti-eduquês que ataca violenta e cegamente qualquer pessoa que não aceite esta nova "religião".
Existe um eduquês? O que existe é exactamente aquilo que Marçal Grilo definiu: jargão técnico demasiadamente fechado em certos trabalhos de ciências da educação. Isto é exclusivo desta área? Não. Em matemática pode dizer-se a mesma coisa, com o mesmo nível de rigor, de forma clara ou num jargão praticamente ilegível.
Há algo mais do que isto? Há efectivamente pessoas nas ciências da educação que fazem propostas nada realistas e por vezes contra-producentes. Mas por vezes estas mesmas pessoas também têm propostas interessantes e sensatas.
Que fazer? O que devemos fazer sempre: avaliar as propostas em vez de perguntar quem fez a proposta para saber qual o rótulo que lhe aplicámos.
A ideia de uma mega-conspiração, de contornos indefiníveis, pode ser reconfortante para quem não percebe muito do assunto e serve certamente para apelar às emoções em vez de apelar à razão. Mas combater o que há de pior nas ciências da educação copiando-lhe os métodos ou copiando o pior da religião é algo que não contribui para melhorar nada.
Caro "Fartinho da Silva":
Completamente de acordo, excepto quando refere:
"Desta forma, quando uma escola tiver algum problema na sua rede informática, ou num servidor, ou quando um professor necessitar de formação para introduzir as TIC num qualquer exercício, em vez de contactar alguém com formação para o efeito passará a contactar um doutorado em ciências da educação!".
Nestes casos, o licenciado é chamado para resolver as "chatices" porque ele é o "técnico".
João Moreira
Esclareço, contudo, que não estou dentro das Novas Oportunidades propriamente ditas, isto é, dentro do chamado processo de reconhecimento, validação e certificação de competências (RVCC), o qual é associado ao termo Novas Oportunidades. Estou na outra vertente, a de Educação e Formação, tanto de adultos como de jovens, e tenho colaborado em diversos cursos com vista à obtenção de uma carteira profissional, quer ministrando módulos técnicos (compatíveis com a minha formação académica, lógico), quer ministrando a chamada formação de base (no meu caso, cultura geral científico-tecnológica). Mas mesmo aí nos debatemos com o facilistismo que alguns nos impõem e com a incredulidade com alguns encaram o facto de terem de se esforçar, trabalhar e batalhar muito, caso queiram adquirir um grau ou a carteira profissional. O chico espertismo é uma constante, a ignorância é outra, a teimosia e os vícios idem...por vezes, é muito difícil continuar...
Tenta-se combater o eduquês em campo, ou seja, diz-se que sim senhor mas, na prática, batalha-se o máximo possível para contrariar essas noções e garantir alguma qualidade.
Mas não é fácil. Somos mal pagos, não temos um poiso certo (somos liberais -recibos, portanto- e externos) e logística de conciliar sessões, correcções, apoio, disciplina, ensino, burocracia, reuniões...é uma tortura e só o idealismo e o gosto pelo ensino e por ajudar pessoas (e, no meu caso, pela divulgação do meio científico, tão temido por alguns), bem como as boas equipas formativas, nos fazem continuar...se não podes vencê-los, junta-te a eles e tenta lutar de dentro para fora...eheheh.
Ps - "A" Vani ;-)
Tristeza!
A nossa educação e cultura estão a passar os dias mais negros de sempre.
Desafio os comentadores a irem visitar a exposição que se encontra na casa da Cultura, na Galeria Pinho Dinis, Coimbra. A exposição é sobre Alberto Sampaio um homem que tirou o curso de Direito na Universidade de Coimbra, em 1863. Homem que trocou a cidade pelo campo mas sabia falar fluentemente o alemão, o grego e o latim. Será que neste curriculum se contemplavam as novas oportunidades?
Boa noite!
Muito razoável o que diz Carlos Albuquerque na sua intervenção das 23:28. Alguns dos que criticam o eduquês, em geral com carradas de razão, por vezes abdicam de uma abordadgem séria e passam a chamar nomes. A título de exemplo, veja-se a intervenção maluca de G. Valente, em que fez um paralelo entre o eduquês e o nazismo!! Loucuras destas prejudicam a crítica do eduquês. Chegou-se a pensar que Valente seria um defensor do eduquês disfarçado de inimigo. Com amigos destes...
Para quem, porventura, não tenha lido a reportagem do “Público” (07/07/2010), a duas páginas, sobre o balanço que o Governo fez da Iniciativa Novas Oportunidades, reproduzo a parte final do artigo de opinião que, simultaneamente, foi publicado com o meu, titulado “Deu-se uma ruptura com o mito de que os portugueses não gostam da escola”.Até aqui plenamente de acordo:muitos portugueses há que não gostam de uma escola de exigência, de esforço de trabalho!
Foi seu autor, Luís Capucha, Presidente da Agência Nacional para Qualificação, I.P., de que reproduzo, pela extensão do texto, a parte final:
“Por fim, destaco a frequência com que a iniciativa e os seus promotores se expõem ao escrutínio público, à avaliação independente, ao acompanhamento transparente.
Neste domínio, estamos no pelotão da frente da Europa. E é este domínio que nos pode impulsionar como país. Portugal tem futuro sem a Inicitiva [repare-se no pormenor do I maiúsculo] Novas Oportunidades. Mas não será o futuro que queremos” (fim de citação).
O leitor saberá tirar desta prosa laudatória – “laus in ore próprio vilescit” (louvor na própria boca perde todo o valor) – as ilações devidas. Portanto,apenas,dois breves comentários:
O primeiro para “saudar” uma “Iniciativa” que nos pode impulsionar como país (aplausos vibrantes!). O segundo, por haver quem vele por nós e nos diga o que queremos ou não. Falo em meu nome pessoal, eu não quero que o aumento exponencial do número de diplomados (os licenciados virão por acréscimo) deste país sirva para tornar actual as palavras de Manuel Laranjeira, de há quase um século: “Numa sociedade, onde o pensamento representa um capital negativo, um fardo embaraçoso para jornadear pelo caminho da vida, num povo, onde essa minoria intelectual, que constitui o capital de orgulho de cada nação se vê condenada a cruzar os braços com inércia desdenhosa, ou a deixá-los cair desoladamente sob pena de ser esterilmente derrotado” (“O Norte”, 1908).
Mas se quisermos ser mais pão-pão-queijo-queijo e mais actuais, trago à colação a opinião de um destacado socialista, o falecido Francisco de Sousa Tavares: “Estamos a formar não um país de analfabetos, com até aqui, mas um país de burros diplomados”.
Em termos estatísticos impressionam estes números, adiantados por Luís Capucha (“ibid.”): “Em quatro anos inscreveram-se 1.200.000 [um milhão e duzentos mil, subtraídos os idosos, as criancinhas, a população escolar regular, etc.], das quais mais de 400.000 já obtiveram um diploma. Mais de 400.000? 400.001, 400.999?
Estão assim “quase” cumpridos os desígnio da Maria de Lurdes Rodrigues para aumentar a escolaridade de todos os portugueses para o 12.º ano. Esses dias próximos virão, se os portugueses continuarem “condenados a cruzar os braços com inércia desdenhosa, ou a deixá-los cair desoladamente sob pena de serem esterilmente derrotados”.
Em passadas de verdadeiro Gulliver, num país de números liliputeanos de doutorados devidamente habilitados academicamente, um dia destes, teremos 1.200.000 de portugueses a prestarem provas de doutoramento em novas e “exigentes” Universidades Independentes: parafraseando o ditado, cesteiro que faz um cesto…faz milhões se lhe derem verga e tempo!.
Razão teve Eça, em referência à Ramalhal figura, ele próprio bacharel em Letras de saúde debilitada (cito de memória): “Tem duas grandes virtudes, tem saúde e não é bacharel”. Com as restrições em termos de IRS para as despesas com a saúde, os portugueses sujeitar-se-ão ao dito de não terem saúde, mas terem a virtude de serem todos diplomados com o 12º ano… caso não sigam a asneira de enveredarem pela via normal do exigente ensino secundário.
O conhecimento que tenho sobre o funcionamento das Novas Oportunidades aponta precisamente para o facilitismo. Esta é a regra, não a excepção. E esse facilitismo,essa forma de apanhar o TGV para uma viagem que só tem proveito se feita no comboio do Século XIX, já está a ser aproveitada por muitos alunos do ensino normal. Como? Simples. Um aluno que frequente o ensino secundário necessita de 3 anos e vários exames para terminar com uma média final de x valores. Um aluno que receba a certificação de 12º ano pelas novas oportunidades consegue-o ao fim de alguns meses de pouco trabalho, e sem passar por exames obrigatórios. No final,não tem uma média final. No entanto, pode concorrer ao ensino superior, bastando para isso fazer um exame que funcione como prova específica. E a nota desse exame será a nota equivalente à "média". Ora, muitos alunos com 18 anos de idade estão a anular a matrícula do 12º ano e a inscrever-se nas novas oportunidades. Dessa forma, só têm de estudar para um exame, que lhes poderá garantir uma média superior à dos outros alunos que seguem o percurso normal. E, no entanto, estaremos de acordo que um aluno que termine o ensino secundário normal com uma média de 14 sabe muito mais do que um aluno novas oportunidades que tire um 15 no exame de Língua Portuguesa ou de Geografia.
Meu Caro Paulo Agostinho:
Os alunos de 18 anos, como escreve no seu lúcido e valioso comentário, que anulam a matrícula do 12º ano para se inscreverem nas Novas Oportunidades são oportunistas, mas burros não são!
Bem pelo contrário, "visto estarmos", como escreveu João Lobo Antunes, distinto académico e ilustre neurocirurgião, "num país de carreiristas no qual todos buscam uma calha que lhes permite deslizarem sem atrito”.
Ser honesto num país que permite atropelos legais à ética (para utilizar um eufemismo) é sinal de parvoíce que se pode pagar caro com a ultrapassagem de espertalhões que entram na Universidade ou no ensino politécnico deixando os que se candidatam pela via normal especados à porta pela diferença de um simples valor em termos absolutos desvirtuado em termos relativos.
Aliás, é o que se passa com o ingresso na docência do 2.º ciclo do básico: um diplomado por uma escola superior de educação, por exemplo, com 12 valores de nota de curso passa à frente de um outro saído da universidade com 11 valores, sem tomar em linha de conta a diferença abissal de exigência entre os respectivos cursos. Acresce que o primeiro pode dar, simultaneamente, matemática e ciências da natureza, e o segundo, com uma licenciatura universitária de Matemática, só pode ministrar esta disciplina...
Diz-me um amigo que é uma pura perda de tempo estar a levantar estes problemas que entram por um ouvido dos seus patrocinadores ministeriais e saem pelo outro. Bem sei que eles têm a faca e o queijo na mão, facto que não invalida que todos nós usemos o nosso dever de cidadania para denunciar casos como estes: água mole em pedra dura…
Podemos, com isso, não endireitar o mundo, mas dormiremos com a consciência tranquila em não pactuarmos com situações destas que me escuso de adjectivar. Como escreveu Jorge de Sena, em desalento de alma: “Cada vez mais penso que Portugal não precisa de ser salvo, porque estará sempre perdido como merece. Nós todos é que precisamos que nos salvem dele”.
Mas ainda iremos a tempo, com os diplomas das Novas Oportunidades, o Acesso ao Ensino Superior para maiores de 23 anos e “universidades” de vão de escada?
Iremos a tempo se a voz dos que não têm voz se levantar em uníssono para dizer, de uma vez por todas: BASTA!
É o futuro dos nossos filhos e dos nossos netos que se encontra em jogo. Quantas vezes um licenciado universitário fica no desemprego ao ser preterido por verdadeiros analfabetos de posse da verdadeira instituição nacional a que se dá o nome de cunha?
Prezada Vani:
Pelos vistos, o caso apresentado por si parece-me ter muitas semelhanças com as Novas Oportunidades e com o regime de verdadeira escravatura a que sujeitam os docentes que refere por experiência própria: mal pagos e a recibos verdes, sem garantia de emprego fixo, etc.
Gostaria que me esclarecesse acerca da acção sindical, ou o simples assobiar para o lado, na defesa da melhoria das vossas condições de trabalho.
Quanto ao resto, a sua atitude corajosa em denunciar estas situações tem o grande mérito de não pactuar com elas. Será pouco, mas o caminho no alcance da justiça tem que ser percorrido, infelizmente, com “sangue, suor e lágrimas”.
Prezada Ana:
As palavras iniciais do seu comentário (1.º e 2-º parágrafos) espelham o caos actual do nosso ensino.
Compreendo, e subscrevo, a ironia que subjaz à sua pergunta final: “Será que neste curriculum se contemplavam as novas oportunidades?”
As novas oportunidades não eram contempladas, por exemplo, no caso de antigos professores do ensino primário, com o curso médio das ex-Escolas do Magistério Primário (antigo 5.º ano dos liceus e dois anos de curso), que se obrigavam a fazer o 6-º e 7-º anos do liceu para se poderem candidatar à entrada na Universidade para aí obterem uma licenciatura, fosse ela destinada ao Ensino ou ao Direito, em regime de voluntariado com o esforço acrescido de estudarem e trabalharem ao mesmo tempo.
De há uns decénios, foram criadas escolas privadas ditas “superiores” que vendem licenciaturas (antes de Bolonha) em poucos meses a esses antigos diplomados pelas Escolasdo Magistério Primário. Isto é, velhos oportunismos gerados no ventre licencioso do facilitismo, de um vergonhoso facilitismo. Ou até de barrigas de aluguer!
Este meu post foi muito valorizado pelos comentários até agora feitos, vivificados com exemplos, muitos deles, sofridos na própria carne. Consequentemente, serão bem-vindas novas achegas que não deixem morrer um assunto que corre o risco de fazer desabar os frágeis caboucos em que assenta o edifício educativo nacional.
Que essas achegas evitem a derrocada final, escorando as paredes de seriedade que dele ainda restam, como o ensino secundário e umas tantas universidades que não estão de portas abertas para satisfazer o ego de semi-analfabetos.
Comentário recebido de Guilherme Valente:
Texto lapidar, meu Caro Rui Baptista, e tão bem escrito, a que se juntaram conhecedores e esclarecedores comentários.
Mas, antes de entrar no assunto, permita-se-me que, de acordo com o meu ponto de vista, acentue o seguinte:
1. Não é na necessidade do Governo de ter boas estatísticas para apresentar que está a origem dos maus resultados escolares. Isso é a nova justificação que o eduquês apresenta invertendo tudo. Sem, obviamente, conseguir enganar ninguém.
O que se passa é o inverso disso. O eduquês manda no ME, o eduquês é o ME. A responsabilidade dos resultados deploráveis deve-se ao eduquês, à sua ideologia e à sua pedagogia. Por isso o eduquês tentou acabar com todos os exames, impedir a divulgação dos resultados, evitar que os alunos portugueses entrassem nos estudos comparativos internacionais (lembram-se?). Como não pôde, transformaram as avaliações no que se sabe (recordo o 5+2, cúmulo despudorado a que tiveram de chegar para que também não se visse o falhanço do seu plano de recuperação da Matemática, 5+2 defendido por uma das representantes da praga na área ). E, claro, como se compreende, a aldrabice dos exames passou a ser uma necessidade também para os governos, uma vez que o eduquês fez a escola que fez e não tem deixado fazer outra porque tem controlado sempre o ME, escolhendo ou neutralizando, com as cumplicidades e os interesses que se sabe, os ministros.
2. Quanto à questão das Novas Oportunidades:
A ideia da formação ao longo da vida e de soluções de recuperação da multidão de crianças pobres e desfavorecidas que a escola inútil do eduquês expulsou e expulsa do sistema educativo, é uma boa e imperativa ideia. Ideia boa e imperativa que, mais uma vez, não pode ser realizada como se desejaria com o eduquês a mandar no ME. Embora haja, felizmente, certamente, como testemunhou um dos comentadores, centros com professores admiráveis que não se rendem e nisso seriamente se empenham, mostrando o que se poderia realizar e o que a escola, libertada do obscurantismo do eduquês, poderia ser.
3. A escola que o eduquês impõe, tendo de nivelar cada vez mais por baixo, não produz uma sociedade mais igual, Muito pelo contrário, como a nossa realidade mostra.. Como um dia disse hipocritamente a actual presidente do CNE, «todos os meninos podem ser doutores», mesmo que para o impor, noto eu, o eduquês, tenha de diminuir todos, conduzindo, inevitavelmente, ao abandono escolar, à desqualificação, à marginalidade ou à miséria a percentagem de crianças e jovens que se sabe. Diminuindo todos, a escola inútil do eduquês rouba às crianças dos meios mais desfavorecidos a possibilidade de ascenderem cultural e socialmente, como incontroversamente se vê. Tornando o País cada vez mais pobre e desigual. Como se vê.
4. Há certamente gente bem intencionada (enganada) no «eduquês», nas «ciências» da educação que generalizadamente temos. Mas não houve e há sempre gente boa em tudo o que era é mais detestável?
Guilherme Valente
Caro DR. Guilherme Valente:
Obrigado pelas suas amáveis palavras.
Quanto ao "eduquês", embora eu saiba a dificuldade em definir certos conceitos, atrevo-me a dar a minha opinião sobre um assunto que tem feito correr muita tinta, embora sabendo de antemão que as opiniões valem o que valem.
Julgo que o princípio que subjaz a esta palavra de certo modo esotérica (*) está num ensino que privilegia uma pedagogia (por vezes, aprendida a martelo ou desactualizada) relativamente ao conhecimento científico de quem ensina. Ora das coisas mais perigosas reside no perigo de ensinar muito bem uma asneira que perdurará pela vida fora do aluno.
Mas não nos antecipemos. Esperemos que os dicionários nos dêem o significado do neologismo “eduquês” que assentou arraiais no léxico do dia-a-dia!
*Esotérico:”O termo, e o seu correlativo esotérico, foram primeiramente aplicados nos antigos mistérios gregos aos que eram iniciados (esotéricos)” – Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, Tomo X, p.172.
Os formadores estão sozinhos, não têm um sindicato. Têm somente a sorte, quando a têm, de entrar em equipas formativas excelentes que os protegem e se protegem. Mas nem sempre é assim, pois é-nos exigida disponibilidade total e absoluta em troca de meia dúzia de tostões (por exemplo, uma turma com uma carga horária de duas horas por semana...isso dá para quê? para comprar um grão de milho, talvez!), gerando-se muitas vezes situações de autêntica exploração. Não temos subsídio de alimentação, nem de transporte (mesmo que trabalhemos a 90 kms de casa, sai tudo do nosso bolso), nem de férias, nem de desemprego, não nos pagam horas extraordinárias nem trabalho extra (como, por exemplo, sermos obrigados a conceber, vigiar e corrigir exames, em troca de uma ninharia...) pagamos impostos, ssocial e estamos sempre a tentar esquivar-nos à pesada mão da exploração. Salvo quando encontramos bons profissionais, humanos, que sabem bem "o que a casa gasta" e nos tratam como seres humanos que somos. Quando assim é, todos lucra, e especial os alunos, pois contam com profissionais motivados...mas quando não é assim...
Mas nem tudo são espinhos. No meu caso, tenho conseguido impor-me e tenho a sorte de integrar boas equipas.
Mas continuo a achar q muitos não conhecem a realidade da formação profissional e que, por exemplo, às esteticistas que equipararão o 9o ano, são exigidos conhecimentos de anatomia, bioquímica e química geral quase equiparados a um 12º ano...e que as mesmas que façam um curso de esteticismo/cosmetologia para equipar ao 12º ano, deparam-se com uma torrente de trabalhos e um nível de exigência universitário (já ministrei bioquímica a algumas delas...)...
Prezada Vani:
Pelo que li do último § do seu comentário (que não resisto em reproduzir aqui , para lhe dar o devido e merecido destaque), Portugal transformou-se no palco de uma verdadeira ópera bufa na medida em que para uns se exigem inexplicavelmente os conhecimentos de que dá conta e que transcrevo “ipsis verbis”, para não lhe alterar o sentido e, muito menos, a intenção:
“Mas continuo a achar q muitos não conhecem a realidade da formação profissional e que, por exemplo, às esteticistas que equipararão o 9o ano, são exigidos conhecimentos de anatomia, bioquímica e química geral quase equiparados a um 12º ano...e que as mesmas que façam um curso de esteticismo/cosmetologia para equipar ao 12º ano, deparam-se com uma torrente de trabalhos e um nível de exigência universitário (já ministrei bioquímica a algumas delas...)”.
Em contrapartida, obtiveram-se licenciaturas (antes de Bolonha) em engenharia em “universidades” privadas que, por decoro, me escuso de adjectivar. Aliás, nem essa adjectivação me deve ser pedida: basta ler os jornais da época!
Mas não há quem ponha cobro a tal desacato? Qualquer dia corre-se o risco de termos alunos do 1.º ciclo do básico (antiga instrução primária) a darem integrais na disciplina de matemática e universitários a aprenderem a s contas de adição, subtracção, multiplicação e divisão! E alunos do 1.º ciclo do básico a estudarem os Lusíadas e alunos universitários a lerem histórias da Carochinha e do João Ratão.
Ou seja, cada escola, e cada nível de ensino passará (ou passou) a ministrar os conhecimentos que lhes der na real gana relegando os respectivos ministérios da tutela a terem (ou continuarem a ter) uma função apenas simbólica.
(CONTINUA)
(CONTINUAÇÃO)
Mas vamos ao cerne da questão. Os formadores deste tipo de ensino são o exemplo de uma escravatura existente neste Portugal do século XXI, depois de abolida pelo Marquês de Pombal, em 1761. Mas vejamos o que a Vani nos tem para dizer neste particular, pela transcrição parcial ainda do seu comentário:
(…)”é-nos exigida disponibilidade total e absoluta em troca de meia dúzia de tostões (por exemplo, uma turma com uma carga horária de duas horas por semana...isso dá para quê? para comprar um grão de milho, talvez!), gerando-se muitas vezes situações de autêntica exploração. Não temos subsídio de alimentação, nem de transporte (mesmo que trabalhemos a 90 kms de casa, sai tudo do nosso bolso), nem de férias, nem de desemprego, não nos pagam horas extraordinárias nem trabalho extra (como, por exemplo, sermos obrigados a conceber, vigiar e corrigir exames, em troca de uma ninharia)".
Já que o ministérios da Educação e doTrabalho (?) têm permitido, ou mesmo até fomentado, situações destas não seria altura de poderes institucionais mais categorizados estudarem o problema, ajuizarem a sua gravidade, pondo-lhe cobro numa sociedade em que, seja-me perdoado o plebeísmo, quem não chora não mama?
Uma sociedade em que alguns sindicatos docentes exorbitam nas suas atribuições chamando a si funções que lhes não competem? Como por exemplo, a defesa de para trabalho igual salário, como se ensinar coisas elementares exigisse a mesma dificuldade que ensinar coisas bem mais complexas para assim justificarem uma carreira docente única que mete no mesmo saco todos os professores usufruindo salários diferentes apenas em função dos anos de serviço e não em função também da exigência dos cursos que tiraram.
Em face deste seu testemunho, como eu compreendo e comungo do conselho que lhe dirigiu Fartinho da Silva no seu comentário (9 Julho: 15:30). Transcrevo-o em parte: ” É necessário que denuncie o eduquês! Escreva uma carta a quem de direito. Denuncie este lobby. Faça ver que é o nosso futuro que está em causa. Escreva para o Presidente da República, para o Primeiro Ministro (apesar de todos sabermos que é o primeiro defensor do reforço do status quo e de ser o primeiro a enxovalhar quem quer um ensino com qualidade, rigor e disciplina), para a Ministra da Educação (apesar de já quase todos sabermos ser uma das representantes do lobby no ministério), para todas as bancadas parlamentares (apesar de já sabermos que a esquerda defende este sistema) e para a Comissão Europeia e Parlamento Europeu”.
“Alea jacta est”. Há que atravessar o Rubicão para a margem do decoro, da justiça, da própria dignidade humana!
Errata: Na 4.ª linha do 4.º § do meu comentário (12 Julho; 17:45) onde está "para trabalho igual salário", acrecentar, como é óbvio "igual".Assim, "para trabalho igual salário igual".
No caso dos cursos de formação profissional, os currículos e conteúdos de cada curso são referenciados no chamado referencial de formação e são elaborados pelo IEFP, penso eu, pelo que são iguais em iguais cursos, por todos os centros de formação profissional. No entanto, imagine-se as dificuldades em ministrar conteúdos destes a pessoas que ainda estão a tirar o 9º ano...por vezes é aflitivo. Mas o que é certo é que muitas conseguem atingir os objectivos propostos, e no bom sentido, no sentido de que aprendem. Pelo menos é essa a experiência que tenho tido e é lógico q tento adequar o grau de exigência, à minha revelia.
É difícil, é. Muito. Mas, como eu disse, quando temos boas equipas, isto é, equipas humanas, conseguimos que as coisas funcionem da melhor maneira para todos. Mas que muitos de nós não aguentam e se desmotivam, é outra realidade...trabalhadores independentes, estes priveligiados, não é?
E obrigada por tão amavelmente me "escutarem" e aconselharem.
(Peço desculpa pelo bonequinho zangado, ehehe, mas é uma época de muita tensão e há que estravazar se alguma forma)
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