"A propósito do suicídio daquele professor da escola de Fitares, a questão da acta é importante, porque a acta que ficou, independentemente das razões que o levaram àquela decisão desesperada (...) tinha deixado para acta as suas opiniões sobre o que acontecia naquela turma, e a acta que foi assinada não tinha nada disso (...). Entretanto, os professores, os mesmos que assinaram a tal acta em que isso não constou, já acham que deve constar lá as queixas que ele fez sobre aquela turma. Mas, simultaneamente, a dita acta terá desaparecido.
O que é que constava da acta que foi aprovada? Visitas de estudo (…) ou seja, uma realidade mais ou menos radiosa, que não trás problemas a ninguém, que dá ideia que está tudo a correr bem, que estamos todos a cumprir os objectivos (…).
É esta opção por uma fantasia, é sobre este manto diáfano da fantasia que se escondem as mais terríveis das verdades. (…)
A ideia de que não existe autoridade é falsa, pois quando alguém que deve exercer autoridade não a exerce porque já não quer, porque não pode, porque já não está para isso, porque está cansado, porque é ridicularizado, porque é vexado, impõe-se a lei do mais forte.
É preciso perceber que em qualquer escola, pública, privada, laica, religiosa, militar podem acontecer casos de suicídio, casos de agressão, casos de indisciplina. É como nas nossas casas, pode acontecer tudo. O que é diferente, o que mostra a nossa lucidez é a forma como se lida com o problema.
Quando escondemos o problema, quando deliberadamente escondemos o problema, e quando se cria uma própria linguagem… O Ministério da Educação há anos que tem uma linguagem, que é o celebre eduquês (são os comportamento disruptivos, as disfuncionalidades...), as coisas deixam de ter os nomes reais. Aquilo que é sintomático da indisciplina é mau comportamento, não é o bom comportamento (…). E depois, quando uma pessoa pretende chamar a atenção para certas coisas, é rotulagem excludente (…) Esta terminologia faz toda a diferença, é o mesmo que dizer que não há mentira, que há inverdades. A inverdade não existe: existe a verdade e existe a mentira."
quarta-feira, 31 de março de 2010
O medo de exercer autoridade
No último programa de televisão, Prós e Contras, Helena Matos pôs a seguinte pergunta: Alguém que resolva, de facto, exercer autoridade na escola, o que é que arranja? E, respondeu, pondo a tónica num fenónemo estranho, que talvez se possa designar por "realidade paralela", e cuja existência se vai detectando através de vários indícios: a imagem que a escola se esforça por dar para o exterior (e para o interior?), a desistência (por múltiplas razões) de quem tem responsabilidade de educar, os eufemismos da linguagem que se usa...
"Fórmula de Deus" em nº 1 na Bulgária
Informação recebida da Gradiva:
José Rodrigues dos Santos atingiu o primeiro lugar do Top da principal cadeia de livrarias da Bulgária, a Helikon, com o romance A Fórmula de Deus. É a primeira vez que o autor da Gradiva se torna n.º 1 de vendas fora de Portugal – um acontecimento raro no caso de autores portugueses.
O Top da Helikon pode ser consultado em: http://www.helikon.bg/
O romance A Fórmula de Deus foi publicado na Bulgária com o título Borjiata Formula pela principal editora do país, a Hermes, de Plovdiv.
Trata-se da segunda aventura de Tomás Noronha, a personagem de quatro dos romances de José Rodrigues dos Santos e aborda, com base numa profunda investigação do autor, a prova científica da existência de Deus. O livro está já traduzido em sete línguas, devendo ser ainda este ano editado nos Estados Unidos, Rússia e Hungria.
A obra A Fórmula de Deus foi originalmente publicada pela Gradiva, tendo sido o livro mais vendido em Portugal em 2006.
José Rodrigues dos Santos atingiu o primeiro lugar do Top da principal cadeia de livrarias da Bulgária, a Helikon, com o romance A Fórmula de Deus. É a primeira vez que o autor da Gradiva se torna n.º 1 de vendas fora de Portugal – um acontecimento raro no caso de autores portugueses.
O Top da Helikon pode ser consultado em: http://www.helikon.bg/
O romance A Fórmula de Deus foi publicado na Bulgária com o título Borjiata Formula pela principal editora do país, a Hermes, de Plovdiv.
Trata-se da segunda aventura de Tomás Noronha, a personagem de quatro dos romances de José Rodrigues dos Santos e aborda, com base numa profunda investigação do autor, a prova científica da existência de Deus. O livro está já traduzido em sete línguas, devendo ser ainda este ano editado nos Estados Unidos, Rússia e Hungria.
A obra A Fórmula de Deus foi originalmente publicada pela Gradiva, tendo sido o livro mais vendido em Portugal em 2006.
FUGA DE CÉREBROS
O economista Álvaro dos Santos Pereira, professor no Canadá, escreve sobre o problema da fuga de cérebros de Portugal: aqui. Excerto:
"A recent study by Docquier and Marfouk (2006) has estimated that Portugal is one of the 30 countries in the world most affected by the brain drain of its university-educated workers (more precisely, of all the countries with more than 4 million people). Hence, since the 1990s, Portugal has “exported” about one fifth of its university graduate workers, a rate that puts us at par (in relative terms) with countries such as Afghanistan, Togo, Malawi, and the Dominican Republic."
OPPENHEIMER E A LIDERANÇA DO PROJECTO MANHATTAN
Do livro recentemente saído na Editorial Bizâncio "Einstein e Oppenheimer - o significado do génio" de Silvan Schweber, transcrevemos um excerto sobre a liderança do projecto Manhattan, em Los Alamos, que conduziu à construção das primeiras bombas atómicas:
"As recordações de muitos dos físicos que participaram no tempo de guerra no projecto de Los Alamos transmitem a sensação de que, em retrospectiva, encaravam essa experiência como se se tivesse tratado de uma utopia. Tinham acreditado que se encontravam numa corrida frenética para salvar as democracias ocidentais da possibilidade de a Alemanha nazi obter primeiro uma tal arma, visto que os trabalhos lá tinham começado dois anos antes. Sabiam estar envolvidos num empreendimento que, se bem-sucedido, mudaria o curso das relações humanas. E, após o teste Trinity, a primeira explosão nuclear da Historia, esperavam que as bombas atómicas assegurassem uma paz duradoura. A explosão teve lugar a 16 de Junho de 1945 em Alamogordo, na Jornada del Muerto, uma faixa de 140 quilómetros de deserto na região central do Novo México. Oppenheimer foi o autor do nome do teste, Trinity. Mais tarde, recordou-se vagamente de ter em mente, na altura, o poema de John Donne que começava por “Batter my heart, three-person’d God”. Mas alguns sugerem que terá escolhido o nome tendo presente a trindade divina hindu de Brahma (o Criador), Vixnu (o Preservador) e Xiva (o Destruidor).
Los Alamos foi algo de único pela enorme concentração de indivíduos de primeira categoria que demonstraram o que se podia conseguir trabalhando em conjunto com objectivos muito bem definidos. Tratou-se, na verdade, de uma colaboração sem paralelo na sua intensidade, uma tarefa de cooperação levada a cabo por pessoas fora de série que se lhe entregaram totalmente e com a maior determinação, consagrando-lhe as suas ideias, experiência e energia de forma consumada, livre e altruísta. A intensidade com que se entregaram resultou num esforço total muito superior a soma das partes. E todos partilharam o crédito pelos resultados obtidos.
Embora nem todos partilhassem o estado de espírito de exaltação que permeara Los Alamos, e que Bethe e Rabi descreveram nos seus elogios a Oppenheimer, tornou-se claro apos o teste Trinity que, sem a direcção magistral de Oppenheimer, Los Alamos poderia não ter produzido bombas atómicas a tempo de serem utilizadas no Japão. Daqui decorre pois que o crédito que recebeu foi bem justificado, mas também que carregou sobre os seus ombros uma responsabilidade maior pelas consequências da criação destas armas — e, consequentemente, porventura também um fardo de culpa maior. Embora geograficamente isolado — e talvez devido a esse isolamento—, Los Alamos criou aquela situação rara nas vidas dos indivíduos e das comunidades em que há um sentimento de ligação a algo de muito superior a si próprios. Durante os poucos anos que aí passaram, muitas dessas pessoas — e em particular muitos dos físicos — sentiram-se totalmente preenchidos. Na verdade, uma atmosfera de realização total permeou todo o empreendimento, transformando-o numa espécie de acto mágico e consagrando-o nas mentes dos que ai estiveram.
Oppenheimer — em grande medida responsável pela criação desta sensação de realização e pela sua manutenção ate a conclusão do projecto— personificou a integração dos aspectos multifacetados do empreendimento: o teórico e o experimental, o mundano e o idealista, o individual, a comunidade e a nação. Thorpe, na sua magistral biografia sociológica de Oppenheimer, deixou bem clara a dinâmica na construção da complexa organização de Los Alamos e a modelação simultânea do papel e autoridade de Oppenheimer como seu director carismático. Tratou-se de um processo recursivo. A ordem organizacional, a atribuição de autoridade, o papel e identidade carismáticos de Oppenheimer foram propriedade emergentes das interacções sociais e profissionais de cientistas, técnicos, militares e todas as outras pessoas reunidas para executar a missão militar de construir a bomba atómica, e da interacção de Oppenheimer com todos eles. Thorpe realça os papeis complementares de Oppenheimer e Groves em Los Alamos e a natureza do relacionamento e interacções que mantiveram. Groves era, de facto, a pessoa a frente do projecto; toda a autoridade emanava dele. Mas, não obstante o seu próprio estilo militar de gestão, autoritário e intimidativo, e as severas restrições impostas à circulação da informação, Groves deu apoio ao estilo de liderança de Oppenheimer, com a sua ausência de coerção, a sua preferência pelo consenso, as suas tentativas de defender as normas académicas e a abertura, bem como o seu propósito de criar a maior colegialidade possível entre todos os cientistas, engenheiros e técnicos, de harmonia com a estrutura hierárquica e orientada para a missão do laboratório.
Groves fê-lo por ter percebido que a lealdade do pessoal civil relativamente a Oppenheimer os estimulava a trabalhar na bomba e a respeitar a sua (de Groves) própria autoridade. Oppenheimer emergiu como o líder, aceite e admirado por todos, do projecto da bomba atómica devido a sua capacidade para dominar e manter sob foco permanente todos os aspectos do empreendimento. Isto granjeou-lhe admiração e respeito dos chefes de divisão e de grupo sob a sua alçada, e também a admiração e respeito de Groves. Esta mestria permitiu-lhe gerar discussões frutuosas e imprimir coesão ao processo de tomada de decisões. Oppenheimer possuía uma capacidade sem paralelo de encontrar o máximo denominador comum entre pontos de vista opostos, de formas que pareciam resolver os conflitos. Foi o “conhecimento sintético de Oppenheimer, juntamente com a percepção das suas qualidades morais, [que] lhe permitiram reconciliar partes desavindas, e o tornaram o porta-voz “natural” de um consenso subjacente, embora ainda não concretizado” (Thorpe, 2006). É, portanto, um erro atribuir o êxito de Los Alamos exclusivamente a Oppenheimer. Do mesmo modo que responder “maestro” à questão “O que determina um grande agrupamento musical?” implica um erro de atribuição do líder, o mesmo se aplica a Los Alamos.
(...) O êxito de Los Alamos deveu-se ao facto de se ter podido reunir as seguintes condições:
1. Nas suas diversas divisões, pontuavam indivíduos com um impressionante domínio das competências tecnicas necessarias. O laboratório era constituído por sete divisões, cada uma das quais com tarefas bem definidas. Cada uma destas era responsável pela produção de resultados verificáveis, em relação aos quais os seus membros assumiam responsabilidade colectiva.
2. Todo o empreendimento estava animado de um propósito mobilizador.
3. As várias divisões operavam num contexto organizacional bem definido. Além disso, a sua estrutura, e a dos grupos que as integravam, era estimulante: o processo de execução das tarefas optimizava a capacidade dos membros individuais para trabalharem juntos de forma interdependente. Mais do que isso, a experiência de grupo contribuía para o crescimento e bem-estar pessoal dos seus membros.
4. Existia um contexto organizacional que proporcionava um grande apoio a todos os membros: recursos fundamentalmente ilimitados eram canalizados para o projecto. Além disso, a possibilidade de requisitar os materiais e recursos humanos necessários a cada momento — pelo facto de o general Leslie R. Groves estar a frente da operação — possibilitava a manutenção do calendário e um ajuste no tempo muito exigente para o projecto."
"As recordações de muitos dos físicos que participaram no tempo de guerra no projecto de Los Alamos transmitem a sensação de que, em retrospectiva, encaravam essa experiência como se se tivesse tratado de uma utopia. Tinham acreditado que se encontravam numa corrida frenética para salvar as democracias ocidentais da possibilidade de a Alemanha nazi obter primeiro uma tal arma, visto que os trabalhos lá tinham começado dois anos antes. Sabiam estar envolvidos num empreendimento que, se bem-sucedido, mudaria o curso das relações humanas. E, após o teste Trinity, a primeira explosão nuclear da Historia, esperavam que as bombas atómicas assegurassem uma paz duradoura. A explosão teve lugar a 16 de Junho de 1945 em Alamogordo, na Jornada del Muerto, uma faixa de 140 quilómetros de deserto na região central do Novo México. Oppenheimer foi o autor do nome do teste, Trinity. Mais tarde, recordou-se vagamente de ter em mente, na altura, o poema de John Donne que começava por “Batter my heart, three-person’d God”. Mas alguns sugerem que terá escolhido o nome tendo presente a trindade divina hindu de Brahma (o Criador), Vixnu (o Preservador) e Xiva (o Destruidor).
Los Alamos foi algo de único pela enorme concentração de indivíduos de primeira categoria que demonstraram o que se podia conseguir trabalhando em conjunto com objectivos muito bem definidos. Tratou-se, na verdade, de uma colaboração sem paralelo na sua intensidade, uma tarefa de cooperação levada a cabo por pessoas fora de série que se lhe entregaram totalmente e com a maior determinação, consagrando-lhe as suas ideias, experiência e energia de forma consumada, livre e altruísta. A intensidade com que se entregaram resultou num esforço total muito superior a soma das partes. E todos partilharam o crédito pelos resultados obtidos.
Embora nem todos partilhassem o estado de espírito de exaltação que permeara Los Alamos, e que Bethe e Rabi descreveram nos seus elogios a Oppenheimer, tornou-se claro apos o teste Trinity que, sem a direcção magistral de Oppenheimer, Los Alamos poderia não ter produzido bombas atómicas a tempo de serem utilizadas no Japão. Daqui decorre pois que o crédito que recebeu foi bem justificado, mas também que carregou sobre os seus ombros uma responsabilidade maior pelas consequências da criação destas armas — e, consequentemente, porventura também um fardo de culpa maior. Embora geograficamente isolado — e talvez devido a esse isolamento—, Los Alamos criou aquela situação rara nas vidas dos indivíduos e das comunidades em que há um sentimento de ligação a algo de muito superior a si próprios. Durante os poucos anos que aí passaram, muitas dessas pessoas — e em particular muitos dos físicos — sentiram-se totalmente preenchidos. Na verdade, uma atmosfera de realização total permeou todo o empreendimento, transformando-o numa espécie de acto mágico e consagrando-o nas mentes dos que ai estiveram.
Oppenheimer — em grande medida responsável pela criação desta sensação de realização e pela sua manutenção ate a conclusão do projecto— personificou a integração dos aspectos multifacetados do empreendimento: o teórico e o experimental, o mundano e o idealista, o individual, a comunidade e a nação. Thorpe, na sua magistral biografia sociológica de Oppenheimer, deixou bem clara a dinâmica na construção da complexa organização de Los Alamos e a modelação simultânea do papel e autoridade de Oppenheimer como seu director carismático. Tratou-se de um processo recursivo. A ordem organizacional, a atribuição de autoridade, o papel e identidade carismáticos de Oppenheimer foram propriedade emergentes das interacções sociais e profissionais de cientistas, técnicos, militares e todas as outras pessoas reunidas para executar a missão militar de construir a bomba atómica, e da interacção de Oppenheimer com todos eles. Thorpe realça os papeis complementares de Oppenheimer e Groves em Los Alamos e a natureza do relacionamento e interacções que mantiveram. Groves era, de facto, a pessoa a frente do projecto; toda a autoridade emanava dele. Mas, não obstante o seu próprio estilo militar de gestão, autoritário e intimidativo, e as severas restrições impostas à circulação da informação, Groves deu apoio ao estilo de liderança de Oppenheimer, com a sua ausência de coerção, a sua preferência pelo consenso, as suas tentativas de defender as normas académicas e a abertura, bem como o seu propósito de criar a maior colegialidade possível entre todos os cientistas, engenheiros e técnicos, de harmonia com a estrutura hierárquica e orientada para a missão do laboratório.
Groves fê-lo por ter percebido que a lealdade do pessoal civil relativamente a Oppenheimer os estimulava a trabalhar na bomba e a respeitar a sua (de Groves) própria autoridade. Oppenheimer emergiu como o líder, aceite e admirado por todos, do projecto da bomba atómica devido a sua capacidade para dominar e manter sob foco permanente todos os aspectos do empreendimento. Isto granjeou-lhe admiração e respeito dos chefes de divisão e de grupo sob a sua alçada, e também a admiração e respeito de Groves. Esta mestria permitiu-lhe gerar discussões frutuosas e imprimir coesão ao processo de tomada de decisões. Oppenheimer possuía uma capacidade sem paralelo de encontrar o máximo denominador comum entre pontos de vista opostos, de formas que pareciam resolver os conflitos. Foi o “conhecimento sintético de Oppenheimer, juntamente com a percepção das suas qualidades morais, [que] lhe permitiram reconciliar partes desavindas, e o tornaram o porta-voz “natural” de um consenso subjacente, embora ainda não concretizado” (Thorpe, 2006). É, portanto, um erro atribuir o êxito de Los Alamos exclusivamente a Oppenheimer. Do mesmo modo que responder “maestro” à questão “O que determina um grande agrupamento musical?” implica um erro de atribuição do líder, o mesmo se aplica a Los Alamos.
(...) O êxito de Los Alamos deveu-se ao facto de se ter podido reunir as seguintes condições:
1. Nas suas diversas divisões, pontuavam indivíduos com um impressionante domínio das competências tecnicas necessarias. O laboratório era constituído por sete divisões, cada uma das quais com tarefas bem definidas. Cada uma destas era responsável pela produção de resultados verificáveis, em relação aos quais os seus membros assumiam responsabilidade colectiva.
2. Todo o empreendimento estava animado de um propósito mobilizador.
3. As várias divisões operavam num contexto organizacional bem definido. Além disso, a sua estrutura, e a dos grupos que as integravam, era estimulante: o processo de execução das tarefas optimizava a capacidade dos membros individuais para trabalharem juntos de forma interdependente. Mais do que isso, a experiência de grupo contribuía para o crescimento e bem-estar pessoal dos seus membros.
4. Existia um contexto organizacional que proporcionava um grande apoio a todos os membros: recursos fundamentalmente ilimitados eram canalizados para o projecto. Além disso, a possibilidade de requisitar os materiais e recursos humanos necessários a cada momento — pelo facto de o general Leslie R. Groves estar a frente da operação — possibilitava a manutenção do calendário e um ajuste no tempo muito exigente para o projecto."
“O MELHOR DA EXISTÊNCIA HUMANA”
Meu texto publicado há pouco por convite no "Público on line":
É graças à World Wide Web, desenvolvida há pouco mais de 20 anos precisamente no CERN, que acompanhei, com grande interesse, as primeiras colisões de protões a sete biliões de electrões-volt no CERN, na Suíça. Ao contrário do que alguns falsos profetas anunciavam ontem não foi o fim do mundo. Na Web esse facto foi recebido com grande consolo pelo Bruno da Amadora (Público on-line, 30.03.2010 23:07): “Olha: não era hoje que seríamos todos sugados para um buraco negro? É que não me dava muito jeito, na quinta joga o Benfica e eu já tenho bilhete.”
Mas, além de não ter impedido o jogo do Benfica, que mais se espera da maior experiência do mundo? A fantástica energia obtida, um recorde mundial, poderá conduzir à descoberta de uma partícula nova, a partícula de Higgs, que a teoria prevê. Mas estamos a explorar as fronteiras do conhecimento e ninguém sabe bem o que se vai encontrar. A surpresa maior seria se não houvesse surpresa! Muito provavelmente, ao recriar as condições do Universo pouco após o Big Bang, poderá ser feita luz sobre grandes mistérios da ciência de hoje, como o da matéria escura e o da energia escura. Estamos às escuras sobre partes importantes do cosmos e o ser humano sempre ansiou por “mais luz” (a última frase do sábio alemão Goethe, antes de morrer).
Pode bem ser que uma das surpresas seja a do aparecimento de aplicações inesperadas que alterem a nossa vida, que tão alterada já foi pela existência dos Googles, dos Facebooks e dos Youtubes (os golos do Benfica, a haver, aparecerão no Youtube). Os novos detectores poderão ser úteis nos nossos hospitais para ver o interior dos nossos corpos. E o poder prodigioso de cálculo que é necessário para tratar a vaga de informação que inunda os detectores, e analisada também nos computadores portugueses, desafiará decerto o engenho humano, para benefício de todos.
Mas, por muito notável que seja o ganho material, o ganho imaterial será sempre o mais notável. Saberemos mais, haverá mais luz. Constantino Alves, de Leiria (Público on-line, 31.03.2010 10:35) resumiu bem: “Grande passo da ciência: Acompanho com paixão as grandes descobertas da ciência moderna que realizam o melhor da existência humana.”
CLASSICA DIGITALIA: novidades editoriais
Informação recebida da biblioteca Classica Digitalia.
Publicação de mais dois livros em versões impressas e on-line nas Séries Vária e Ensaios.
- Carlos A. Martins de Jesus & Luísa de Nazaré Ferreira (orgs.), FESTEA - Tema Clássico. Dez anos de um festival de teatro (1999-2008) (Coimbra, Classica Digitalia/CECH, 2010) 147 p. PVP: 20 euros
- Delfim F. Leão, José Ribeiro Ferreira & Maria do Céu Fialho, Cidadania e Paideia na Grécia antiga (Coimbra, Classica Digitalia/CECH, 2010) 208 p. PVP: 11 euros
A Classica Digitalia informa ainda que foi adicionada à biblioteca digital uma função que permite adquirir os volumes impressos directamente através da Imprensa da Universidade de Coimbra (ver campo “Como comprar um livro impresso/How to buy a printed volume”). Em breve, esperamos iniciar igualmente a distribuição no Brasil e nos Estados Unidos da América.
Publicação de mais dois livros em versões impressas e on-line nas Séries Vária e Ensaios.
- Carlos A. Martins de Jesus & Luísa de Nazaré Ferreira (orgs.), FESTEA - Tema Clássico. Dez anos de um festival de teatro (1999-2008) (Coimbra, Classica Digitalia/CECH, 2010) 147 p. PVP: 20 euros
- Delfim F. Leão, José Ribeiro Ferreira & Maria do Céu Fialho, Cidadania e Paideia na Grécia antiga (Coimbra, Classica Digitalia/CECH, 2010) 208 p. PVP: 11 euros
A Classica Digitalia informa ainda que foi adicionada à biblioteca digital uma função que permite adquirir os volumes impressos directamente através da Imprensa da Universidade de Coimbra (ver campo “Como comprar um livro impresso/How to buy a printed volume”). Em breve, esperamos iniciar igualmente a distribuição no Brasil e nos Estados Unidos da América.
PARE, ESCUTE E OLHE
Trailer Cinema "Pare, Escute, Olhe" from Pare, Escute, Olhe on Vimeo.
PARE, ESCUTE E OLHE.O Premiado Documentário de Jorge Pelicano
NOS CINEMAS A 08 DE ABRIL
LUSOMUNDO AMOREIRAS | LISBOA
CINEMA CITY ALVALADE | LISBOA
LUSOMUNDO PARQUE NASCENTE | PORTO
TRÁS-OS-MONTES, ESQUECIDO E DESPOVOADO, VÍTIMA DE PROMESSAS POLÍTICAS IMCUMPRIDAS DOS QUE JURARAM DEFENDER A TERRA.
O ANÚNCIO DO PLANO NACIONAL DE BARRAGENS LANÇADO PELO GOVERNO DE JOSÉ SÓCRATES VOLTA A AMEAÇAR A REGIÃO TRANSMONTANA.
EM NOME DO PROGRESSO, A CENTENÁRIA LINHA FERROVIÁRIA E PATRIMÓNIO DO VALE DO TUA ESTÃO EM RISCO DE SUBMERGIR COM A CONSTRUÇÃO DA BARRAGEM DE FOZ-TUA.
AS NECESSIDADES DAS POPULAÇÕES NÃO TÊM PESO, O POVO NÃO TEM VOZ.
AS ASSIMETRIAS ENTRE O LITORAL E INTERIOR DE PORTUGAL NUNCA ESTIVERAM TÃO ACENTUDAS.
“PARE, ESCUTE, OLHE” É UM DOCUMENTÁRIO DE REFLEXÃO. MILITANTE NA DEFESA DO PATRIMÓNIO DO VALE DO TUA.
UM RETRATO ACTUAL DE UM PORTUGAL DOS DISCUTÍVEIS INVESTIMENTOS PÚBLICOS, MERGULHADO NUMA GRAVE CRISE ECONÓMICA.
“PARE, ESCUTE, OLHE” É UM ALERTA, UMA DENÚNCIA, UMA VISÃO A LONGO PRAZO DE PORTUGAL.
terça-feira, 30 de março de 2010
Resumir e morrer a seguir
Texto de João Boavida, antes publicado no Diário As Beiras, na sequência de um outro sobre o mesmo tema.
Já sabíamos da sua existência em livrinhos, em cadernos que andam por aí há anos. As grandes obras, que os alunos do secundário são obrigados a ler, há muito que são resumidos e transformados em esquemas e perguntas para que aprendam umas respostas e tenham boas notas nos exames. Mas agora fia mais fino. Há resumos das obras que se podem meter nos telemóveis, de modo que já nem é preciso lê-los, basta levar os telemóveis para o exame. Os alunos andam satisfeitos, muitos pais, que, como se sabe, só querem o bem dos filhos, não vão contra e os editores da novidade descobriram nova fonte de rendimento. A tecnologia é uma maravilha!
Mas, claro, é mais uma ratoeira que se aplica à juventude. Porque os grandes livros não se resumem, lêem-se. E os melhores, várias vezes ao longo da vida. Só depois se resumem. Só na leitura está o seu valor educativo, a sua fonte de conhecimentos e prazer, a seu factor de humanização e maturidade.
O resumo sem leitura é um embuste e uma armadilha. É mais uma maneira de desenvolver e alimentar o faz de conta e a parlapatice dos que falam de tudo sem saber de nada, multiplicando os superficiais satisfeitos, incapazes para qualquer coisa de útil.
Mas a razão para ler as grandes obras, dos nossos autores e da literatura universal é ainda mais forte e funda. A literatura é um magnífico factor de maturidade, de prazer e de usufruição de beleza. E a beleza é redentora de misérias e estimulante de humanidade.
O acesso à beleza abre à nossa grandeza potencial, porque a beleza sublima e transcende; sublima o que há de pior em nós, o que não conseguimos resolver e nos angustia e degrada, e, por este meio, nos liberta, faz crescer e amadurecer. Os livros são simultaneamente refúgio e libertação, companheiros nas horas solitárias, multiplicadores infinitos de paisagens, ambientes, lugares e épocas. São os nossos educadores sentimentais.
Dão-nos a conhecer pessoas, afectos, aventuras, grandezas e misérias, situações infinitas e mundos sucessivos que nos ensinam, entusiasmam, alegram e entristecem, nos projectam, pela imaginação, para onde nunca estivemos nem estaremos, nos levam e conhecer pessoas em que nos revemos, com quem falamos, de que ficamos amigos, que nos entusiasmam ou comovem, mesmo quando mortas há séculos. Situações onde nos reconhecemos, nos reencontramos, compartilhando com outros sofrimentos e alegrias, como se fôssemos irmãos. Com os livros a nossa família cresce até ao infinito, mas sem conflitos, nem zangas por heranças mal repartidas.
Já sabíamos da sua existência em livrinhos, em cadernos que andam por aí há anos. As grandes obras, que os alunos do secundário são obrigados a ler, há muito que são resumidos e transformados em esquemas e perguntas para que aprendam umas respostas e tenham boas notas nos exames. Mas agora fia mais fino. Há resumos das obras que se podem meter nos telemóveis, de modo que já nem é preciso lê-los, basta levar os telemóveis para o exame. Os alunos andam satisfeitos, muitos pais, que, como se sabe, só querem o bem dos filhos, não vão contra e os editores da novidade descobriram nova fonte de rendimento. A tecnologia é uma maravilha!
Mas, claro, é mais uma ratoeira que se aplica à juventude. Porque os grandes livros não se resumem, lêem-se. E os melhores, várias vezes ao longo da vida. Só depois se resumem. Só na leitura está o seu valor educativo, a sua fonte de conhecimentos e prazer, a seu factor de humanização e maturidade.
O resumo sem leitura é um embuste e uma armadilha. É mais uma maneira de desenvolver e alimentar o faz de conta e a parlapatice dos que falam de tudo sem saber de nada, multiplicando os superficiais satisfeitos, incapazes para qualquer coisa de útil.
Mas a razão para ler as grandes obras, dos nossos autores e da literatura universal é ainda mais forte e funda. A literatura é um magnífico factor de maturidade, de prazer e de usufruição de beleza. E a beleza é redentora de misérias e estimulante de humanidade.
O acesso à beleza abre à nossa grandeza potencial, porque a beleza sublima e transcende; sublima o que há de pior em nós, o que não conseguimos resolver e nos angustia e degrada, e, por este meio, nos liberta, faz crescer e amadurecer. Os livros são simultaneamente refúgio e libertação, companheiros nas horas solitárias, multiplicadores infinitos de paisagens, ambientes, lugares e épocas. São os nossos educadores sentimentais.
Dão-nos a conhecer pessoas, afectos, aventuras, grandezas e misérias, situações infinitas e mundos sucessivos que nos ensinam, entusiasmam, alegram e entristecem, nos projectam, pela imaginação, para onde nunca estivemos nem estaremos, nos levam e conhecer pessoas em que nos revemos, com quem falamos, de que ficamos amigos, que nos entusiasmam ou comovem, mesmo quando mortas há séculos. Situações onde nos reconhecemos, nos reencontramos, compartilhando com outros sofrimentos e alegrias, como se fôssemos irmãos. Com os livros a nossa família cresce até ao infinito, mas sem conflitos, nem zangas por heranças mal repartidas.
João Boavida
Imagem: Meninas a ler, de Pablo Picasso
As belezas celestes
Acabei de dar uma entrevista à Rádio Renascença a propósito da experiência que está a decorrer no CERN e que de certo modo, ainda que muito limitado, recria condições do Big Bang. É no mínimo estranho que uma rádio de inspiração religiosa não tenha melhores perguntas para fazer do que "para que serve?", "mas é para quê?", "em termos [sic] práticos?", "qual é a utilidade?", "mas em concreto...", "o que é que vão descobrir e quando?"... Bem sei que a rádio não é a Igreja, mas uma preocupação tão grande pela materialidade fez-me recear que a Igreja portuguesa possa partilhar esse tipo de preocupações mundanas, numa perigosa (para ela) perda de espiritualidade.
Apeteceu-me dizer que o Large Hadron Collider no CERN servia para descobrir as "belezas celestes". E ler aos microfones o início do livro "Os Cometas", da autoria do Padre Amadeu de Vasconcelos, um grande divulgador científico do início do século passado, publicado há exactamente cem anos na Livraria Chardron de Lello e Irmão do Porto, o que só não fiz porque o tempo de antena era limitado.
Mas vai aqui o texto, com grafia actual ("belezas" em vez de "bellezas"):
"Conta o grande Arago que um dia o piedoso e imortal Euler, encontrando-se com um seu amigo, ministro de uma igreja de Berlim, deste ouvira lastimosos queixumes pela indiferença com que os seus ouvintes acolhiam as suas palavras de pregoeiro do Evangelho. Todo se lastimava o ministro porque não conseguira comover o seu auditório com a descrição das maravilhas da criação. "Acreditareis o que afirmo? - dizia o ministro; representei esta criação no que ela tem de mais maravilhoso: citei os antigos filósofos e a própria Bíblia; metade do auditório não me escutou; a outra metade adormeceu ou abandonou o templo.
A este ministro desconsolado deu Euler o conselho de substituir as descrições dos filósofos e da Bíblia pela descrição do mundo dos astrónomos, do mundo tal qual o revelaram os descobrimentos científicos.
Foi-se o ministro, resolvido a seguir o conselho do grande matemático. Tempos depois, Euler foi visitar o seu amigo que, novamente desanimado, lhe bradou: "Ah! sr. Euler, sou muito infeliz! Esqueceram o respeito devido ao recinto sagrado e aplaudiram-me!"
Na sua simplicidade, a anedota mostra toda a grande beleza da imagem do mundo como a ciência no-la revelou. Essa beleza é tão grande que se impõe mesmo aos homens desprovidos de qualquer cultura científica".
A Constante Duzial ou de como andamos a ensinar física e química ao contrário
Leandro Ribeiro, professor de Ciências Físico-Químicas no Porto, enviou-nos, a nosso pedido, para publicação este interessante texto que tem circulado entre vários professores da disciplina. Apesar de ter algum conteúdo técnico (constante de Avogadro e reacções químicas), ilustra para proveito de mais gente o estado do nosso ensino das ciências: gostamos de complicar o que é simples!
Prólogo
Expliquei o seguinte à turma:
Uma expressão sobejamente conhecida e estudada já no 1º ciclo de escolaridade, é a do cálculo duzial. Para conhecermos o número total de elementos num determinado número de conjuntos duziais, recorremos à constante duzial através da equação: N_e = n Q_d, onde N_e é o número de elementos, n o número de conjuntos duziais e Q_d a constante duzial, cujo valor é exactamente 12. Assim, em 5,25 conjuntos duziais, facilmente se determina que existem 63 elementos no total.
Já para determinarmos a massa total de um dado número de conjuntos duziais, recorremos à massa duzial (M_d). A massa duzial trata-se da massa de exactamente um conjunto duzial e depende da natureza dos elementos que estamos a considerar. No entanto, conhecendo a massa duzial de, por exemplo, ovos de galinha, é fácil relacioná-la com a massa total através da expressão: n= m M_d.
A dada altura, um aluno, de semblante pesado, confessou:
–Não me lembro de alguma vez ter aprendido essas expressões.
Ponto 1
Perguntássemos a um conjunto de alunos do 12.º ano de escolaridade se saberiam dizer como calcular a massa total de 8 dúzias de laranjas*, e provavelmente nenhum teria dificuldade em perceber que necessitaria de saber a massa de uma dúzia, a qual rapidamente multiplicaria por 8, chegando assim à resposta. Pedíssemos a seguir que determinassem quantas dúzias seriam necessárias para obter 230 kg de laranjas, e veríamos que, salvo algumas certas excepções, não teriam muito maiores dificuldades em dar resposta à questão. Perguntássemos, por fim, o que mudariam na resolução do problema caso estivéssemos a falar de ovos, e certamente responderiam, com o sorriso matreiro de quem se sabe perante um problema absurdo de tão fácil, que só mudaria a massa de cada dúzia.
Mudemos dúzias para moles, massa de uma dúzia para massa molar, 12 para 6,022 x 10^23, laranjas e ovos para dióxido de carbono e água; temos agora o caos. Baralham operações matemáticas, encontram dificuldades quando se muda a espécie química, procuram resolver o problema através de fórmulas e mais fórmulas, transformam-se em perfeitos trapalhões.
Ponto 2
A experiência seguinte foi realizada sem grupo de controlo, não tem qualquer significância estatística, não foi calculado um t de student nem recorri ao SPSS para analisar os dados: mas mesmo assim atrevo-me a partilhá-la convosco.
O primeiro conjunto de alunos encontrava-se no 9.º ano. Pouco mais sabiam que acertar equações de reacções químicas e eram perfeitamente ignorantes do significado do termo mole – ou seja, perfeitos para a desejada experiência. Conversei um pouco com eles sobre os estados físicos da matéria e sobre a relação entre o volume ocupado por uma determinada substância e as dimensões de cada elemento (átomo, molécula ou ião) da mesma. Chegados ao estado gasoso, facilmente concluíram que o volume ocupado por uma determinada quantidade de elementos depende muito pouco das dimensões de cada elemento, visto as distâncias que os separam serem muito superiores a esse valor. Assim, se tivermos a mesma quantidade de moléculas de duas quaisquer substâncias no estado gasoso, nas mesmas condições de pressão e temperatura, é muito provável que ocupem o mesmo volume. Posto isto, apresentei a equação que traduz a síntese do amoníaco através da reacção de azoto e hidrogénio gasosos: N_2 (g) + 3 H_2 (g) → 2 NH_3 (g).
Perguntei-lhes se me saberiam dizer qual seria o volume de amoníaco produzido a partir de 15 L de azoto gasoso, na presença de hidrogénio em excesso e numa situação em que a reacção seja completa e com um rendimento de 100%, em condições de pressão e temperatura constantes. Sem sequer rabiscar uma linha nos cadernos, e seria capaz de jurar que quase em uníssono, responderam-me 30 L.
Repeti a exposição numa turma do 12.º, ou seja, alunos que já tinham passado pela provação da quantidade de substância, da constante de Avogadro, da massa molar e do volume molar. Repeti o problema da síntese de amoníaco. Imediatamente uma voz ergueu-se com a questão:
–São condições PTN?
Respondi “podem ser”, só pela piada. Praticamente todos os alunos, incluindo os alunos com boa nota à disciplina, atacaram o problema calculando a quantidade de azoto, recorrendo “àquela equação, n = V/V_m – Pá, qual é o volume molar? Vinte e dois vírgula quatro litros por mole”, determinando a quantidade de amoníaco formado e, finalmente, convertendo este último valor num volume, recorrendo novamente à expressão do volume molar.
Um aluno desta última turma, depois de se aperceber do que tinha feito, comentou:
–Sabemos coisas a mais.
Epílogo
Estou aqui a olhar para os destaques num manual do 11.º ano:
n= m / M
n= V / V_ m
N= n / N_A
N_A = 6,022 x10^23 mol⁻¹
Somos tão bons, mas mesmo tão bons a ensinar isto, que conseguimos aniquilar quase completamente a capacidade dos nossos alunos de perceberem que não andamos a fazer mais do que a brincar às dúzias. Daqui resulta o medo da disciplina (é confusa, é complicada, tem muitas equações, é difícil, não percebo, não percebo, não percebo...); daqui resulta a dificuldade em compreender os fenómenos; daqui resulta que estudem decorando equações e mais equações e situações onde as mesmas se aplicam. Ninguém ensina a dúzia com a constante duzial, mas nós por cá andamos a fazê-lo, temos andado às avessas, ensinamos ao contrário, obscurecemos, obrigamos a lobrigar quando o que se pretende da ciência é que seja tão clara e distinta quanto a realidade o permita.
Mas não me interpretem mal: claro que é importante discutir com os alunos por que tem a constante de Avogadro o valor que tem e não outro; claro que é importante salientar a importância da sistematização de conceitos em ciência; claro que é importante trabalhar matematicamente relações de proporcionalidade. Tudo isto é importante: mas, nesta área, é igualmente importante que estas discussões surjam quando os alunos já estão confortáveis com os fenómenos, quando os alunos já compreendem as convenções – ou, melhor ainda, quando os alunos já sentem as convenções como necessárias, quase como se fossem suas. Ensinar ao contrário só vai dar asneira, e depois lá vamos nós dizer que os nossos alunos não estudam – o que não deixa de ser verdade, mas estes sintomas, vão-me desculpar, são maior indício do tipo de ensino que do tipo de estudo.
Vamos lá repensar seriamente a constante duzial.
* Assumam, se não vos for muito penoso, que se trata de laranjas perfeitamente calibradas, isto é, laranjas tais cujas diferenças de massa de unidade para unidade não resultam em variações significativas na massa de uma dúzia.
Leandro Ribeiro
leandroribeiro@gmail.com
A TORRE EINSTEIN: DESCUBRA AS DIFERENÇAS
Hoje há Big Bang
Informação recebida do LIP - Laboratório de Instrumentação e Partículas:
Está agendada para hoje, 3ª feira, uma empolgante jornada no CERN com as primeiras colisões protão-protão à energia de 7 TeV. Se quiserem acompanhar o webcast do CERN em directo, com comentários de colegas nossos, têm a ligação da Ciência Viva disponível em http://www.cvtv.pt/
Caso prefiram, o canal oficial do CERN para acompanhar o evento será, entre as 7h30 às 17h00 (hora de Portugal), http://webcast.cern.ch/lhcfirstphysics
TRATADOS DE MEDICINA
Informação recebida da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra:
Mostra "Tratados de Anatomia" | 24 de Março – 18 de Abril | Prisões Académicas (piso inferior da Biblioteca Joanina) |
Horário : 9:00h - 20:00h
Estará patente no espaço das Prisões Académicas da Universidade de Coimbra, entre 24 de Março e 18 de Abril uma mostra bibliográfica de Tratados de Anatomia dos séculos XVII e XVIII.
LISTA DE OBRAS EXPOSTAS (por ordem alfabética)
A "Fábrica" (1543) de Andreas Vesalius (figura de cima) não está exposta pois está para reparação ao abrigo do programa "SOS Livro Antigo" e com o inestimável apoio da Sociedade Portuguesa de Neurociências.
CASSERI, Giulio, ca. 1552-1616
Iulij Casserii … De vocis auditusq[ue] organis historia anatomica singulari fide methodo ac industria concinnata tractatibus duobus explicata ac variis iconobus aere excusis illustrata. [Ferrarie : excudebat Victorius Baldinus, 1600-1601]. 2-20-14-233
CASSERI, Giulio, ca. 1552-1616
Iulii Casserii … Tabulae anatomicae LXXIIX, omnes novae nec ante hac visae. Daniel Bucretius … XX que deerant supplevit et omnium explicationis addidit. Venetiis : [apud Evangelistam Deuchinum], 1627. 2-20-14-231
FLUDD, Robert, 1574-1631
Anatomiae amphitheatrum effigie triplici, more et conditione varia designatum. Francofurti : sumptibus Iohannis Theodori de Bry, 1623. 2-3-22-22
WILLIS, Thomas, 1621-1675
Cerebri anatome cui accessit Nervorum descriptio et usus. Londini : typis Tho. Roycroft : impensis Jo. Martyn & Ja. Allestry, 1664. 4 A-14-25-14
WILLIS, Thomas, 1621-1675
Thomae Willis … Opera omnia, nitidius quàm unquam hactenus edita, plurimum emendata, indicibus rerum copiosissimis, ac distinctione characterum exornata. Studio & opera Gerardi Blasii ... Amstelaedami : apud Henricum Wetstenium, 1682. 1-5-13-483
GAUTIER DAGOTY, Jacques-Fabien, 1711-1785
Exposition anatomique dês organes des sens, jointe a la névrologie entiere du corps humain et conjecture sur l’élecricité animale, avec des planches imprimées en couleurs naturelles, suivant le nouvel art. A Paris : chez Demonville, 1675. 2-20-14-235
SAINT-HILAIRE, De
L'Anatomie du corps humain avec ses maladies ... Troisiéme edition revûe & augmentée. A Paris : chez Barthelemy Girin, 1698. 1-(c)-10-16/17
VERHEYEN, Philippe, 1648-1710
Philippi Verheyen … Anatomiae corporis humani .... Coloniae : apud Balthazarem Ab Egmond & Socios, 1712. 4 A-28-22-1/2
VERHEYEN, Philippe, 1648-1710
Corporis humani anatomiae liber primus in quo tam veterum, quàm recentiorum anatomicorum inventa : Methodo novâ et intellectu facillimâ describuntur, ac tabulis aeneis repraesentantur … Editio tertia ab authore recognita, novis observationibus & inventis pluribusque figuris aucta. Bruxellis : apud Fratres T'Serstevens, 1726. 1-(b)-9-18/19
MANGET, Jean Jacques, 1652-1742
Joh. Jacobi Mangeti … Theatrum anatomicum, quô, non tantùm integra totius corporis humani in suas partes … Adjectae sunt ad calcem operis celeberr. Barth. Eustachii Tabulae anatomicae, ab illustrissimô Joh. Maria Lancisio … Genevae : sumptibus Cramer & Perachon, 1717. 2-20-14-229/230
PIETRO, da Cortona, 1596-1669
Tabulae anatomicae a celeberrimo picture Petro Berretino Cortonensi delineatae, & egregiè aeri incisae nunc primum prodeunt, et a Cajetano Petrioli … notis illustatae. Romae : ex typographia Antonii de Rubeis : impensis Fausti Amidei, 1741. 2-20-14-232
EINSTEIN E A ARQUITECTURA 2
Talvez o mais famoso edifício ligado a Einstein seja a Torre Einstein (em alemão Einsteinturm) em Potsdam, Berlin, um edifício concebido por volta de 1917 e construído entre 1920 e 1921 pelo arquitecto judeu Erich Mendelsohn (1887 – 1953), defensor da arquitectura expressionista. A torre foi concebida para utilização científica, ou, mais precisamente, para provar as teorias da relatividade de Einstein. Ainda hoje faz parte de um Observatório Astronómico, podendo ser visitada. O arquitecto fugiu da Alemanha em 1933 primeiro para Inglaterra e depois, durante a guerra, para os Estados Unidos. Einstein quando visitou a torre esteve muito tempo calado e depois quando lhe perguntaram a opinião disse uma única palavra: "Orgânico".
EINSTEIN E A ARQUITECTURA 1
Einstein possuiu uma casa de Verão em Caputh, perto de Potsdam (Berlin), na qual passou temporadas entre 1929 e 1932. É uma bonita casa de madeira que hoje pode ser visitada e que foi construída em 1929 pelo arquitecto judeu Konrad Wachsmann (1901-1980), que, depois de estudar de 1920 a 1924 em Berlim e em Dresden, foi aprendiz com o arquitecto Hans Poelzig em Berlim e Potsdam (Poelsig foi um dos expoentes do expressionismo na architectura alemã). Voluntariou-se para fazer a casa de campo do sábio, tornando-se amigo de Einstein. Em 1941 emigrou para os Estados Unidos, ajudado pelo amigo, tendo sido colaborador de Walter Gropius. Muito mais tarde e, ao contrário de Einstein, voltou à Alemanha, onde ajudou à reconstrução da casa.
segunda-feira, 29 de março de 2010
Últimas do design
Os nossos leitores não páram de nos surpreender, por exemplo enviando-nos interessantes imagens que encontram na Net e que querem partilhar connsoco e com outros leitores. Como estas de design contemporâneo.
GEORGE ORWELL: Uma Biografia Política
Informação recebida da editora Antígona.
GEORGE ORWELL: Uma Biografia Política, de John Newsinger
Nesta obra, traduzida para português por Fernando Gonçalves, John Newsinger, professor de História na Bath Spa University, em Inglaterra, traça a evolução do pensamento político de Orwell, desde os tempos de polícia colonial na Birmânia, quando despertou para a violenta e cruel realidade do Império Britânico, passando pelos seus dias de penúria em Paris e em Londres, até à sua morte.
Marcado pelas experiências na Guerra Civil de Espanha, em que viu a utopia feita revolução traída pelos comunistas ao serviço de Estaline, Orwell viria a tornar-se socialista revolucionário, opondo-se ferozmente ao estalinismo. Esta posição, que manteve até ao fim, valeu-lhe o exílio por parte da esquerda e da direita que, ironicamente, se aproveitaram, e ainda aproveitam, da sua obra literária.
Episódios controversos, como a famigerada «denúncia» de nomes associados à ideologia comunista, ou a sua aversão às atitudes pacifistas de Ghandi, são aqui vistos a uma nova luz e analisados no seu contexto. Num retrato distanciado e bem documentado, Newsinger desvenda-nos um Orwell menos conhecido do leitor comum, mas fundamental para a compreensão das suas concepções políticas – o Orwell combatente, jornalista e ensaísta – e das realidades que viveu.
GEORGE ORWELL: Uma Biografia Política, de John Newsinger
Nesta obra, traduzida para português por Fernando Gonçalves, John Newsinger, professor de História na Bath Spa University, em Inglaterra, traça a evolução do pensamento político de Orwell, desde os tempos de polícia colonial na Birmânia, quando despertou para a violenta e cruel realidade do Império Britânico, passando pelos seus dias de penúria em Paris e em Londres, até à sua morte.
Marcado pelas experiências na Guerra Civil de Espanha, em que viu a utopia feita revolução traída pelos comunistas ao serviço de Estaline, Orwell viria a tornar-se socialista revolucionário, opondo-se ferozmente ao estalinismo. Esta posição, que manteve até ao fim, valeu-lhe o exílio por parte da esquerda e da direita que, ironicamente, se aproveitaram, e ainda aproveitam, da sua obra literária.
Episódios controversos, como a famigerada «denúncia» de nomes associados à ideologia comunista, ou a sua aversão às atitudes pacifistas de Ghandi, são aqui vistos a uma nova luz e analisados no seu contexto. Num retrato distanciado e bem documentado, Newsinger desvenda-nos um Orwell menos conhecido do leitor comum, mas fundamental para a compreensão das suas concepções políticas – o Orwell combatente, jornalista e ensaísta – e das realidades que viveu.
domingo, 28 de março de 2010
JOANA VASCONCELOS NO CCB
Galileu Inovador
Informação recebioda da Porto Editora:
Saiu já na colecção "Colecção História e Filosofia da Ciência" o livro:
- "Galileu Inovador", de Michael Sharrtt
Sinopse
Nesta biografia, simultaneamente cativante e rigorosa, Michael Sharratt analisa o talento, a imaginação, a teimosia, a clareza, a combatividade e a subtileza de Galileu Galilei. Acompanhar a carreira do mestre, à medida que ele explora oportunidades inesperadas de destronar as formas estabelecidas de entender a Natureza, é perceber uma etapa crucial da revolução científica. Galileu abriu novos caminhos para o recém-inventado telescópio, descodificou a linguagem matemática da Natureza e foi um brilhante divulgador da Ciência. Mesmo a sua relutante incursão pela Teologia foi, finalmente, reconhecida, generosa e oficialmente, através da reabilitação pela Igreja da mais famosa vítima da Inquisição, integralmente analisada no último capítulo.
Este livro torna os contributos duradouros de Galileu acessíveis aos não-cientistas e os seus erros também não são ignorados. Não se trata aqui da história de um mito, mas da biografia de um inovador - um dos maiores que alguma vez conhecemos.
Colecção História e Filosofia da Ciência
A colecção História e Filosofia da Ciência põe à disposição do leitor português obras de história e filosofia da ciência da autoria de reputados especialistas internacionais; obras que aliam à modernidade do tratamento uma reconhecida consagração pela comunidade de estudiosos.
A coordenação global desta colecção é da responsabilidade de Ana Simões (Centro de História das Ciências da Universidade de Lisboa) e de Henrique Leitão (Centro de História das Ciências da Universidade de Lisboa).
António Ribeiro dos Santos e as Bibliotecas
Texto recebido da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra sobre o pensamento do bibliotecário António Ribeiro dos Santos (1745-1818), que se encontra contemplado na exposição "A Causa Pública da Biblioteca" que está patente na Sala de S. Pedro daquela Biblioteca até 31 de Março:
“Uma livraria é sempre, pelo menos, o espelho das curiosidades de espírito de quem a organiza e dispõe” (Joaquim de Carvalho, Estudos sobre a cultura portuguesa do século XVI, vol. 2, 1948, p.124)
Em 9 de Outubro de 1777, António Ribeiro dos Santos foi nomeado por Carta Régia Rainha D. Maria I bibliotecário da Biblioteca da Universidade de Coimbra, onde era professor desde o seu doutoramento, em 1771:
No que se refere especificamente à forma como Ribeiro dos Santos pensava a organização da Biblioteca e aos fins que esta devia prosseguir, são de especial relevância três pontos:
1) O reforço da biblioteca como serviço público, aberto a todos os interessados, e patente na qualidade do atendimento prestado aos seus leitores, objecto de particular atenção na Minuta, bem como no estabelecimento de um horário de funcionamento muito alargado, com o cuidado de especificar a necessidade de a Biblioteca estar aberta todos os dias, excepto Dias Santos de Guarda, Sábados de tarde e os dois meses de férias – Agosto e Setembro. De referir também, neste ponto, a sua disposição de actualização permanente da Biblioteca, através da aquisição de obras actuais, portuguesas ou estrangeiras, com especial menção às publicações periódicas, com a existência de um orçamento próprio, gerido directamente pelo Bibliotecário Maior, bem como a necessidade de que a Biblioteca recebesse um exemplar de cada um dos Livros que se imprimirem nestes Reinos – um anúncio antecipado do que viria a ser o Depósito Legal.
2) A importância dada ao saber específico da biblioteconomia revela-se tanto no cuidado e na extensão com que se refere à elaboração de catálogos e sua impressão como na necessidade de organização e classificação de livros e demais objectos, quer ainda na forma como redige as regras a que deve obedecer o concurso para Bibliotecário Maior, onde diz claramente que ”concorrendo algum dos dois Bibliotecários Menores, em que se achem em igual grau as sobreditas qualidades, será preferido a todos os outros concorrentes de qualquer ordem, e graduação, que sejam, posto que não tenha Recebido Grau algum Académico”.
3) Também em reforço deste ponto vem a regra que impede quer o Bibliotecário Maior, quer os Bibliotecários Menores, de servirem Colégio, ou corporação secular ou regular. Ou seja, tinham de se dedicar por inteiro à Biblioteca, de forma a conhecê-la e a desenvolver esse saber específico que se veio a chamar biblioteconomia.
Outro aspecto do pensamento de Ribeiro dos Santos, reforçando o papel e a boa qualidade do serviço público da Biblioteca, prende-se com a sua visão pedagógica e revela-se na forma como pretende integrar nela não apenas os livros, mas todo um conjunto de peças que permitam, a quem as observa e em conjugação com o saber contido nos livros, uma melhor aprendizagem e entendimento do que estuda e investiga. Este ponto vem claramente enquadrado pelo espírito da Reforma Pombalina da Universidade, procurando integrar e dar significado e sentido a um novo conjunto de saberes e de formas de ensinar e aprender.
Do manuscrito de Ribeiro dos Santos Minuta para o Regimento da Livraria da Universidade de Coimbra, elaborado entre 1770 e 1796, quando foi Bibliotecário-Mór (ou Maior) desta Biblioteca, destaca-se a frase:
“que todas as pessoas, que entrarem nela Sejam Recebidos e servidos com muita prontidão com muito decoro, e com todo o agasalho, e cortesia.”
“Uma livraria é sempre, pelo menos, o espelho das curiosidades de espírito de quem a organiza e dispõe” (Joaquim de Carvalho, Estudos sobre a cultura portuguesa do século XVI, vol. 2, 1948, p.124)
Em 9 de Outubro de 1777, António Ribeiro dos Santos foi nomeado por Carta Régia Rainha D. Maria I bibliotecário da Biblioteca da Universidade de Coimbra, onde era professor desde o seu doutoramento, em 1771:
“Reverendo Bispo de Zenopole, do Meu Conselho, Reformador Reitor da Universidade de Coimbra: EU a RAINHA vos invio muita saudar. Sendo-me prezente a necessidade, que para fomentar, e facilitar os progressos dos Estudos da mesma Universidade, ha de que se faça patente a Biblioteca della; e que nella haja hum Bibliotecario, que a dirija, e a cujo Cargo esteja a boa Conservação, e Custodia della: E sendo outrosim informada em conta vossa da capacidade e prestimo que para o dito Emprego ha no Doutor Antonio Ribeiro dos Santos Collegial do Real Collegio das Ordens Militares: Sou Servida que mandeis pôr patente a referida Biblioteca, para se conseguir com o uzo della o fim a que he destinada: E Hey por bem Nomear para Bibliotecário o sobredito Doutor Antonio Ribeiro dos Santos com o Ordenado de Duzentos mil reis cada anno, que lhe serão pagos aos quarteis pela Folha Literaria com vencimento do primeiro do corrente mez de Outubro, emquanto Eu assim houver por bem, e não mandar o contrario. O que Me pareceu participar vos para que assim o façais executar com os Despachos necessarios: Fazendo registar esta nos Livros da Universidade, e da Junta da Fazenda, a que tocar. Escripta no Palacio de Queluz em nove de Outubro de mil setecentos setenta e sete.Tinha Ribeiro dos Santos então 32 anos, o Rei D. José falecera em Fevereiro desse mesmo ano. Iniciando-se a Viradeira a 13 de Março, com a substituição do Marquês de Pombal e a procura de novos caminhos para o desenvolvimento do país. Na Universidade de Coimbra, contudo, mantinha-se como reitor D. Francisco de Lemos, nomeado em 1772 pelo Marquês.
RAINHA”
No que se refere especificamente à forma como Ribeiro dos Santos pensava a organização da Biblioteca e aos fins que esta devia prosseguir, são de especial relevância três pontos:
1) O reforço da biblioteca como serviço público, aberto a todos os interessados, e patente na qualidade do atendimento prestado aos seus leitores, objecto de particular atenção na Minuta, bem como no estabelecimento de um horário de funcionamento muito alargado, com o cuidado de especificar a necessidade de a Biblioteca estar aberta todos os dias, excepto Dias Santos de Guarda, Sábados de tarde e os dois meses de férias – Agosto e Setembro. De referir também, neste ponto, a sua disposição de actualização permanente da Biblioteca, através da aquisição de obras actuais, portuguesas ou estrangeiras, com especial menção às publicações periódicas, com a existência de um orçamento próprio, gerido directamente pelo Bibliotecário Maior, bem como a necessidade de que a Biblioteca recebesse um exemplar de cada um dos Livros que se imprimirem nestes Reinos – um anúncio antecipado do que viria a ser o Depósito Legal.
2) A importância dada ao saber específico da biblioteconomia revela-se tanto no cuidado e na extensão com que se refere à elaboração de catálogos e sua impressão como na necessidade de organização e classificação de livros e demais objectos, quer ainda na forma como redige as regras a que deve obedecer o concurso para Bibliotecário Maior, onde diz claramente que ”concorrendo algum dos dois Bibliotecários Menores, em que se achem em igual grau as sobreditas qualidades, será preferido a todos os outros concorrentes de qualquer ordem, e graduação, que sejam, posto que não tenha Recebido Grau algum Académico”.
3) Também em reforço deste ponto vem a regra que impede quer o Bibliotecário Maior, quer os Bibliotecários Menores, de servirem Colégio, ou corporação secular ou regular. Ou seja, tinham de se dedicar por inteiro à Biblioteca, de forma a conhecê-la e a desenvolver esse saber específico que se veio a chamar biblioteconomia.
Outro aspecto do pensamento de Ribeiro dos Santos, reforçando o papel e a boa qualidade do serviço público da Biblioteca, prende-se com a sua visão pedagógica e revela-se na forma como pretende integrar nela não apenas os livros, mas todo um conjunto de peças que permitam, a quem as observa e em conjugação com o saber contido nos livros, uma melhor aprendizagem e entendimento do que estuda e investiga. Este ponto vem claramente enquadrado pelo espírito da Reforma Pombalina da Universidade, procurando integrar e dar significado e sentido a um novo conjunto de saberes e de formas de ensinar e aprender.
Do manuscrito de Ribeiro dos Santos Minuta para o Regimento da Livraria da Universidade de Coimbra, elaborado entre 1770 e 1796, quando foi Bibliotecário-Mór (ou Maior) desta Biblioteca, destaca-se a frase:
“que todas as pessoas, que entrarem nela Sejam Recebidos e servidos com muita prontidão com muito decoro, e com todo o agasalho, e cortesia.”
sábado, 27 de março de 2010
O Terceiro Homem
A revista Nature publica esta semana um artigo de quatro páginas que vem revolucionar completamente a nossa história recente. É uma história dos nossos dias como espécie, não dos nossos dias de pessoas com uma vida evolutivamente muito curta, o que é válido para qualquer espécie.
A equipa de Svante Paabo, do Max Planck Institut de Leipzig, publicou os resultados da análise do DNA mitocondrial de um Homo sapiens que viveu no sul da Sibéria há cerca de 30-50 mil anos. O DNA foi extraído da falangeta do quinto dedo da mão. Graças à sua preservação no gelo, foi possível extrair uma quantidade suficiente de DNA em muito bom estado, o que é extremamente raro.
A análise desse DNA mitocondrial, por comparação com o nosso, o de Neandertais, que entretanto se conseguiu obter, e o de chimpanzés, produziu resultados absolutamente inesperados.
O que há de absolutamente especial no homem de Denisova? Não é facto – real - de não pertencer à nossa sub-espécie, isto é, não é um Homo sapiens sapiens, ou seja um homem moderno actual. É que este homem de Denisova também não é um Neandertal. Trata-se de um terceiro Homem!
A distância genética (medida em número médio de nucleótidos diferentes, isto é, de letras trocadas no DNA) entre nós e os Neandertais é de 202 posições nucleotídicas. A distância entre nós e o Homem de Denisova é de 385 posições. Por comparação, a nossa distância em relação aos chimpanzés é de 1462 posições. Isto que dizer que o Homem de Denisova é mais diferente de nós que o Homem de Neanderthal. Supondo que o tempo de divergência entre nós e os chimpanzés é de seis milhões de anos, isso significa que os nosso antepassados e os do Homem de Denisova se terão separado há cerca de um milhão de anos (muito antes da separação humanos-Neandertais: 500 mil anos).
Até hoje, pensava-se que nos últimos 500 mil anos teriam existido apenas duas sub-espécies da espécie Homo sapiens: Nós e o H. sapiens neandethalensis. Este último, que ocupou grande parte da Europa, durante os últimos 300 mil anos, extinguiu-se há 28 mil anos, com as últimas populações conhecidas encontradas na Península Ibérica. Foram avançadas várias hipóteses para a extinção dos Neandertais que parece ser acompanhada da progressão dos humanos modernos; umas mais benignas que outras para a nossa linhagem. Mas não fazia parte do quadro conceptual que pudessem existir outras formas, mais formas de humanos, com divergências relativamente antigas e cujas populações persistiram até tão recentemente.
Há alguns anos levantou-se a polémica possibilidade de o designado ‘hobbit’, descoberto na Ilha das Flores, no mar de Timor, ser uma espécie ou sub-espécie diferente da nossa, que desapareceu há pouco mais de dez mil anos. Em alternativa, poderia tratar-se de um caso de nanismo e de mais uma série de patologias reunidas num único indivíduo. Não está ainda resolvido qual das duas hipóteses é a correcta. O mistério do Homem das Flores ainda se encontra em aberto.
A descoberta deste Homem de Denisova, de que não há mais do que aquele fragmento de esqueleto, vem colocar o nosso passado evolutivo num quadro muito diferente. Se este siberiano é um terceiro homem, porque não aceitar que o homem das Flores é um quarto. E, se assim é, torna-se muito mais plausível admitir mais sub-espécies noutras regiões isoladas. A nossa espécie parece, assim, ter um carácter muito especioso, isto é, com tendência para frequente separação entre populações e rápida evolução em sentidos diversos.
Tudo isto é muito surpreendente. A falangeta do Homem de Denisova aponta para um passado bem diferente do que imaginávamos. Esperemos para saber o que nos dirá a análise do DNA nuclear. Este é um verdadeiro filme de suspense, como o ‘terceiro homem’ de Carol Reed.
Os apagadores de palavras
Novo texto de João Boavida, antes publicado no diário As Beiras.
Os jovens, e não só, hoje, inventam palavras para reduzir o dicionário. Que já não sabem o que seja mas de que têm alguma memória pelo que ouvem a avós e outros caretas de igual antiguidade. Esforçam-se bastante a inventá-las para não terem que se esforçar a aprender as já inventadas, numa criatividade autófaga, que vai comendo as raízes à própria criação. E assim vivem cada vez mais de subentendidos, contribuindo para que as nossas capacidades intelectuais sejam cada vez menos.
Curioso fenómeno de contra-cultura, que a cultura deixou criar e que, estando em processo de aceitação geral, fará do pensar - tarefa já penosa para tantos - um penar para todos e uma pena enorme para Portugal inteiro.
Mas como há autores que insistem no trabalho inverso de criar palavras novas, será interessante ver quem vencerá. Um dia haverá - talvez ainda - estudos sobre os resultados desta guerra entre os que precisam sempre de mais palavras e os que precisam cada vez mais de menos.
Porque há autores com o hábito das palavras nascidas ou renascidas. Mia Couto é um deles, inventa-as a toda a hora, e com um olhar inocente que irritaria os que todos os dias as apagam do falar. Se o lessem, claro. Aquilino Ribeiro e o brasileiro Guimarães Rosa também tinham essa mania. Iam ao mais recôndito do dicionário e traziam de lá, para a luz do dia, palavras inesperadas, belas e antigas. Outras vezes inventavam-nas. Irritando mesmo os que, ainda hoje, usam o dicionário «com mão diurna e nocturna», como dizia o nosso Herculano. Porque não se lêem duas páginas deles sem dar de caras com termos que carecem de consulta. E pior ainda: que nem sempre do dicionário constam. São regionalismos, ou inovações para traduzir uma ideia, expressar uma imagem que as palavras conhecidas não dão, ou não conseguem traduzir naquele matiz, ou para aquele pensamento. Porque, por vezes, uma ideia, uma força de sentimento ou uma intuição precisam de inventar palavras. Os Quatro sonetos a Afrodite Anadiómena, de Jorge de Sena, (Pandemos, Anósia, Urânia e Amátia) são um bom exemplo de palavras que não são nada e são tudo: sem significado conhecido ressoam com a força invisível de um magma das profundezas. Assim se enriquece a língua, e o pensamento que puxa por ela e por ela é puxado. Assim se torna mais inteligente um povo. Voltemos pois aos textos mais ricos e mais fortes, os que nos elevam e engrandecem, caros professores de Português. Os jovens, refilando embora, um dia agradecerão. De outro modo, nem isso ou assim nem de forma nenhuma.
Os jovens, e não só, hoje, inventam palavras para reduzir o dicionário. Que já não sabem o que seja mas de que têm alguma memória pelo que ouvem a avós e outros caretas de igual antiguidade. Esforçam-se bastante a inventá-las para não terem que se esforçar a aprender as já inventadas, numa criatividade autófaga, que vai comendo as raízes à própria criação. E assim vivem cada vez mais de subentendidos, contribuindo para que as nossas capacidades intelectuais sejam cada vez menos.
Curioso fenómeno de contra-cultura, que a cultura deixou criar e que, estando em processo de aceitação geral, fará do pensar - tarefa já penosa para tantos - um penar para todos e uma pena enorme para Portugal inteiro.
Mas como há autores que insistem no trabalho inverso de criar palavras novas, será interessante ver quem vencerá. Um dia haverá - talvez ainda - estudos sobre os resultados desta guerra entre os que precisam sempre de mais palavras e os que precisam cada vez mais de menos.
Porque há autores com o hábito das palavras nascidas ou renascidas. Mia Couto é um deles, inventa-as a toda a hora, e com um olhar inocente que irritaria os que todos os dias as apagam do falar. Se o lessem, claro. Aquilino Ribeiro e o brasileiro Guimarães Rosa também tinham essa mania. Iam ao mais recôndito do dicionário e traziam de lá, para a luz do dia, palavras inesperadas, belas e antigas. Outras vezes inventavam-nas. Irritando mesmo os que, ainda hoje, usam o dicionário «com mão diurna e nocturna», como dizia o nosso Herculano. Porque não se lêem duas páginas deles sem dar de caras com termos que carecem de consulta. E pior ainda: que nem sempre do dicionário constam. São regionalismos, ou inovações para traduzir uma ideia, expressar uma imagem que as palavras conhecidas não dão, ou não conseguem traduzir naquele matiz, ou para aquele pensamento. Porque, por vezes, uma ideia, uma força de sentimento ou uma intuição precisam de inventar palavras. Os Quatro sonetos a Afrodite Anadiómena, de Jorge de Sena, (Pandemos, Anósia, Urânia e Amátia) são um bom exemplo de palavras que não são nada e são tudo: sem significado conhecido ressoam com a força invisível de um magma das profundezas. Assim se enriquece a língua, e o pensamento que puxa por ela e por ela é puxado. Assim se torna mais inteligente um povo. Voltemos pois aos textos mais ricos e mais fortes, os que nos elevam e engrandecem, caros professores de Português. Os jovens, refilando embora, um dia agradecerão. De outro modo, nem isso ou assim nem de forma nenhuma.
GALILEU NO DIA MUNDIAL DO TEATRO
Hoje, Dia Mundial do Teatro, deixamos um excerto da "Vida de Galileu" de Bertold Brecht, representada pelo Teatro Wilma de Filadélfia, EUA, na parte em que Galileu mostra a sagredo as descobertas que fez com o telescópio e que foram anunciadas há precisamente 400 anos.
No final do excerto:
Galileu - Claro. E agora estamos a ver. Não pare de olhar, Sagredo. O que você vê é que não há nenhuma diferença entre céu e terra. Hoje, 10 de Janeiro de 1610, a humanidade regista no seu diário: aboliu-se o céu.
Ciência é Cultura
Informação recebida da editora Politema:
S e s s ã o d e L a n ç a m e n t o de Livro
14 de Abril de 2010 18 h
Palacete dos Viscondes de Balsemão -- Auditório
Praça Carlos Alberto, 71 -- Porto
Resumo de apresentação
O objecto deste livro é um tracinho: o acento que transforma ‘Ciência e Cultura’ em ‘Ciência é Cultura’. Ciência e Tecnologia são Cultura. Todos o sabemos; mas todos demasiado o esquecemos. Ouso relembrá-lo porque sinto um pulsar social e pessoal queme reclama urgência. Como português, europeu, cidadão do mundo, professor, investigador. Por motivos teóricos e práticos, explicativos e interventivos, políticos e de cidadania, humanistas e de desenvolvimento. Sinto a premência de aprofundar o que une e distingue Ciências Físicas, da Vida e do Ambiente, Artes, Ciências Humanas e Sociais, Matemática, Tecnologias e outros empreendimentos humanos que empreendem a Cultura.
Não é muita a minha luz, e por isso a foco. Ilumino a necessidade e a utilidade de aceitar, entender, ensinar, praticar, promover, que a C&T é uma vertente da Cultura humana, de uma Cultura una, uma. Que a focagem seja imperfeita q.b. para não escurecer que, se Cultura há só uma no sentido por onde nestas Notas vou, Culturas há mais que mil nos sentidos por onde todos por aí vamos.
Não sou enciclopédico, não trato tudo, de problemas muitos toco poucos, de questões sem fim retoco umas a termo incerto, de inumeráveis abordagens enumero uma mão delas. Na primeira pessoa estão presentes as minhas lentes, visões, saberes, limites, perplexidades, opções; em páginas feitas de fibras e fios e tecidos culturais onde se entretecem Ciência, Tecnologia, História, Epistemologia, Psicologia, Ensino, Aprendizagem, Artes, Retórica, Argumentação, Criatividade, Ideologia, Política, Ética e o que mais o Leitor construir apesar do que escrevo.
António Alberto Silva
António Alberto Silva nasceu no Porto em 1950. É Engenheiro Electrotécnico, Mestre em Física e Doutor em Didáctica. É Professor na Escola Superior de Educação do I. P. Porto, na área de Ciências Físicas, da Vida e do Ambiente.
Hugo Monteiro, autor do POSFÁCIO, nasceu no Porto em 1975. É Licenciado e Doutor em Filosofia. É Equiparado a Professor na Escola Superior de Educação do IP do Porto.
Palestrante Convidado
Pedro Bacelar de Vasconcelos, Professor na Escola de Direito da Universidade do Minho e prestigiada figura profissional e pública.
sexta-feira, 26 de março de 2010
O PRÉMIO TEMPLETON
O habitual destaque para a coluna de Bob Park "What's New", desta vez sobre o polémico Prémio Templeton que distingue quem aproxima ciência e religião (na foto Francisco Ayala, o último premiado Templeton):
"SIR JOHN TEMPLETON: THE MAN WHO TRIED TO BUY SCIENCE.
"SIR JOHN TEMPLETON: THE MAN WHO TRIED TO BUY SCIENCE.
He was Born into a middle-class family in the Bible-belt town of Winchester, TN. His parents, devout Presbyterians, emphasized the virtues of thrift and piety. Templeton learned both lessons so well that in 1968, he renounced his US citizenship and moved to the Bahamas, becoming a British citizen to avoid the US income tax. Having become one of the richest men in the world, he was knighted by the Queen. While Templeton may have genuinely believed the Christian myth, he also respected science. Why shouldn't he? After all, the scientific revolution led to the fantastic growth in the world economy that made him a billionaire. Believing that science and theology are two windows onto the same landscape, he set out to persuade scientists to delve into religion. He went directly to the American Association for the Advancement of Science with an offer of $1 million to create the AAAS Dialogue between Science and Religion. Not everyone was happy about the AAAS selling part of its soul to Templeton. Two years ago Templeton died, but the monster he created carries on without him.
A BIGGER PRIZE: HOW MUCH WOULD IT TAKE TO BUY THE NAS?
Francisco Ayala, an evolutionary geneticist and molecular biologist at the University of California, Berkeley was awarded the 2010 Templeton Prize in a ceremony yesterday at the National Academy of Sciences (NAS) in Washington DC. A genuinely good person, Ayala authored "On Being a Scientist," a NAS pamphlet on scientific ethics that should be part of the education of every scientist. Ayala is a staunch opponent of Intelligent Design. The first recipient of the Templeton Prize was Mother Theresa in 1973; in 1982 it was Billy Graham, and in 1993 Charles Colson of Watergate fame, but his award was delayed until he got out of prison. Most of the others who won the prize are not household names. In 1999, however, Templeton had an epiphany. Every recipient since has been a scientist or philosopher, including one Nobel laureate, Charles Townes. News accounts put the cash value of the Templeton prize at $1 million, but it’s now closer to $1.5 million, making it the largest cash prize for intellectual accomplishment in the world. The endowment for the prize stipulates that the cash value shall always be larger than the Nobel Prize. It’s awarded annually for "spiritual progress." How did the NAS get into this? Having once sought to buy the American Association for the Advancement of Science, the Templeton foundation must have set its sights on a bigger prize."
Robert Park
HISTÓRIAS DA LUZ E DAS CORES
Esta semana colaborei no lançamento na Universidade do Porto do terceiro e último volume deste impressionante trabalho de "scholarship" de Luís Miguel Bernardo que é "Histórias da Luz e das Cores". O autor está de parabéns, tal como a editora da sua Universidade e afinal nós todos por podermos dispor destes três volumes que contam a história da luz desde a Antiguidade até aos nossos dias, combinando bem a lenda, superstição e magia com a história, a ciência e a tecnologia. Voltarei a falar deste livro, que conta a evolução da óptica ao longo do século XX e que sai no ano em que comemoramos os 50 anos do primeiro laser. Voltarei a falar deste livro.
UMA PEQUENA GRANDE EDITORA
A Editorial Prometeu de Emídio César de Queiroz Lopes, sediada no Estoril, para além de uma muito interessante e útil maleta pedagógica para iniciar as crianças na aritmética, editou e vende apenas três livros. Mas que livros! São três obras maiores da história da ciência, que, graças ao esforço do tradutor-editor, ficaram à nossa disposição em língua portuguesa:
- René Descartes, Geometria, 2001
- Isaac Newton, Método das Fluxões, 2004
- Christian Huyghens, Tratado da Luz, 2007
O tradutor-editor anuncia ainda traduções de Antoine Laurent Lavoisier e de Augustin Fresnel. Mas quem é ele?
Do sítio da editora transcrevo a nota biográfica:
"Emídio César de Queiroz Lopes nasceu no Porto e estudou em Coimbra onde se licenciou em Ciências Físico-Químicas em 1955. Trabalhou em laboratórios das indústrias petrolífera, metalúrgica e siderúrgica e desenvolveu actividade na indústria dos óleos essenciais. Leccionou as disciplinas de Física, Química e Matemática no ensino particular e oficial, foi nomeado como orientador pedagógico e presidiu a formação de professores na disciplina de Matemática. Após a reforma, dedicou-se à tradução de livros científicos da sua área profissional e ao ensino da aritmética, em regime de voluntariado, para as primeiras idades."
É uma pessoa que não só dedicou a sua vida ao ensino das ciências como, com a sua empresa unipessoal, continua a dedicar. Bem haja!
História da Engenharia em Portugal
Informação recebida da Engebook:
História da Engenharia em Portugal - 2ª edição
ISBN: 9789728953430
Autor: Franklin Guerra Pereira
Editora: PUBLINDUSTRIA
Preço: €15,00
Número de Páginas: 252
Data de Edição: 2010
Resumo:
“A Engenharia em Portugal foi desde o Renascimento um apêndice da Engenharia europeia, progredindo à custa dela, com raríssimas ideias inovadoras, sempre com capacidade para assimilar o saber alheio mas sem nunca alcançar o pelotão da frente num sequer desses inumeráveis domínios em que a sua actividade se desdobra.”
“Este livro não é por isso a história exaustiva da nossa Engenharia, mas apenas um contributo para ela, um subsídio, um esboço, uma perspectiva das suas épocas e momentos mais significativos. Além disso, fica rigorosamente circunscrita ao Portugal continental. A actividade da Engenharia nas antigas colónias e nas ilhas atlânticas extravasa as ambições do livro.”
HUMOR: Extensão da plataforma continental baixa o valor da dívida pública portuguesa por metro quadrado
Portugal vai apresentar em breve nas Nações Unidas uma proposta para a extensão da plataforma continental, ou seja para aumentar ainda mais a percentagem do país que está completamente afundada. O IP sabe que o timing não é inocente: Teixeira dos Santos espera apresentar a dívida pública diluída não só pela actual Zona Económica Exclusiva, mas por toda a plataforma continental, o que resulta num valor irrisório por metro quadrado. A dívida portuguesa fica assim espalhada por 2150 milhões de quilómetros quadrados: "vamos explicar à UE que Portugal pode ter uma dívida superior à da Espanha, França, Alemanha, Reino Unido e duas Itálias juntas, já que o nosso país tem uma área maior que o conjunto destes países", explicou Teixeira dos Santos. Já para efeitos de cálculo do PIB por metro quadrado, será apenas considerado um raio de 1500 metros à volta das portagens da A5 em Oeiras.
David Marçal, no Inimigo Público (IP)
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