terça-feira, 4 de setembro de 2007

Jornalismo científico


Há pouco mais de duas semanas no blog Pharyngula, PZ Myers escrevia que os bloggers de ciência deveriam tomar conta do jornalismo científico. Em questão estava o título com que a National Geographic apresentava uma descoberta relatada na Nature e que dava a entender que esta descoberta despedaçava a teoria da evolução humana.

Outros media usaram igualmente títulos desconexos da realidade para apresentar a mesma descoberta, como é exemplificado pela canadiana CBS, que intitulou a história «World's oldest gorilla fossil challenges evolutionary beliefs». Ambos os títulos não têm rigorosamente nada a ver quer com as notícias que os acompanham quer com a descoberta reportada. Aparentemente os criacionistas apenas leêm títulos sem se darem à maçada de ler os artigos originais ou mesmo o corpo da notícia e quasi de imediato aproveitaram a «prenda» para repetirem qual mantra títulos de mau jornalismo.

Entretanto a National Geographic alterou o título de «New Fossil Ape May Shatter Human Evolution Theory» para o menos bombástico ( e fantasioso ) «New Fossil Ape May Shake Human Family Tree».

O artigo da Nature (acesso reservado a assinantes mas os nossos leitores podem ler a notícia e análise que o acompanha) sugere apenas que talvez seja necessário recuar cerca de dois milhões de anos o ancestral comum a homens e gorilas. Como é referido na notícia, «O último ancestral comum de humanos e gorilas pode ter vivido pelo menos 2 milhões de anos antes do que se pensa. Dentes fossilizados do gorila mais antigo descoberto, que datam de há 10 milhões de anos, foram encontrados em África».

Contrariamente ao que subentendem os títulos de alguns meios de comunicação social, a notícia da Nature refere que não há consenso sobre se esta descoberta, nove dentes encontrados em Afar a cerca de 170 km da capital da Etiópia e atribuídos à nova espécie Chororapithecus abyssinicus, nos obriga a repensar a cronologia da evolução humana. O paleoantropólogo Jay Kelley, que estuda dentes de primatas na Universidade de Illinois em Chicago, não está convencido que os dentes pertençam a um gorila e considera serem necessários mais fósseis, mais análise e mais debate para determinar se este exemplar nos deve fazer recuar no tempo a divergência humana em relação a outros homínideos.

Vários bloggers de ciência partilham a reserva de Kelley e oferecem uma discussão realista e crítica da descoberta. PZ Myers termina o post dizendo:

«The lesson is clear: when you see some wild and crazy claim of scientific revolutions and the demolition of long-held theories, go immediately to the science blogs for some clear-eyed sanity and informed evaluation from experts».

Embora partilhe a opinião de Myers em relação a notícias sensacionistas que reclamam revoluções científicas inexistentes e hiperbólicas demolições de teorias científicas, que considero serem não só contraproducentes para uma melhor compreensão de ciência como francamente perigosas já que encorajam lixo pseudo científico, não posso deixar de apontar que existe muito bom jornalismo de ciência.

O suplemento de ciência do New York Times é um bom exemplo de excelência na forma de comunicar ciência ao público em geral, exemplo que precisa ser alargado para que cada vez mais velas de Sagan sejam acesas e acordemos desta «nova era de obscurantismo».

O artigo «Ancient Protein Tells a Story of Changing Functions» da edição de 21 de Agosto do NYT ilustra porque o considero um modelo a seguir em jornalismo científico. Kenneth Chang resume e descodifica em linguagem acessível a todos, sem sacrificar rigor científico no processo, o artigo da Science «Crystal Structure of an Ancient Protein: Evolution by Conformational Epistasis», que olha para os mecanismos estruturais pelos quais proteínas evoluíram novas funções.

A última linha do resumo do artigo é esclarecedora do que encontraram: «Mutações 'permissivas- substituições sem consequências imediatas que estabilizam elementos específicos da proteína e permitem-lhe tolerar subsequentes alterações de função - tiveram um papel importante na determinação da trajectória evolutiva da GR [receptor glucocorticóide, a proteína estudada]».

Este artigo de Thornton complementa trabalho apresentado na Science de 7 de Abril pelos mesmos cientistas e igualmente comentado por Chang. Na altura Chang escreveu:

Reconstruindo genes de animais há muito extintos, cientistas demonstraram pela primeira vez o processo gradual pelo qual a evolução criou uma nova peça de maquinaria molecular reutilizando e modificando partes existentes. Os cientistas dizem que a sua descoberta, publicada na última sexta-feira no periódico Science, fornece um contra-argumento aos cépticos da evolução, os quais questionam que uma progressão de pequenas mudanças possa produzir os intrincados mecanismos encontrados nas células vivas.
(...)
O trabalho de Thornton incidiu em dois receptores de hormonas. Um é um componente de sistemas de resposta aa stress. O outro, embora parecido na forma, participa em processos biológicos diferentes, incluindo função renal em animais.
(...)
Depois de olhar para os genes que as produzem [as hormonas] e comparar semelhanças e diferenças entre os genes, os cientistas concluíram que todos descendiam de um único gene ancestral comum há 450 milhões de anos - antes de os animais emergirem dos oceanos para terra, antes da evolução de ossos.

O grupo, então, recriou o receptor ancestral em laboratório, e descobriu que ele se podia ligar à hormona reguladora renal, a aldosterona, e à hormona do stress, o cortisol.

Assim, o receptor para a aldosterona existia antes da aldosterona aparecer. A aldosterona encontra-se apenas em animais terrestres, que apareceram milhões de anos depois.

Ele [o receptor] tinha uma função diferente e foi aproveitado para participar de um novo sistema complexo quando a hormona apareceu, disse Thornton.


Vale a pena ler ambos os artigos de Chang na íntegra, e claro, para os que tiverem acesso à Science, os artigos originais. Deixo a introdução do artigo mais recente:

Cientistas da Universidade de Oregão e da Universidade da Carolina do Norte usaram tecnologias modernas para conduzir uma arqueologia de genes e ajudar a responder à questão antiga acerca de como as proteínas se alteram ao longo do tempo e desenvolvem novos papéis.

'Nós vimos agora os mecanismos pelos quais uma nova função sofre evolução a nível atómico, como a evolução esculpe a estrutura da proteína para produzir uma nova função', disse Joseph W. Thornton, o professor de biologia em Oregão que conduziu a investigação.


O artigo termina frisando as conclusões principais, que passaram ao lado das notícias em vários outros orgãos de comunicação social, que reportaram igualmente a descoberta:

Mas as descobertas do Dr. Thornton e colegas mostram que alguns aspectos da evolução ocorrem apenas por acaso. As duas mutações que reforçaram a proteína não ajudaram directamente o organismo. Por isso, a selecção natural não as favoreceu particularmente. Foi apenas por acaso que estas mutações ocorreram e persistiram para estabelecer as fundações para outras mutações.

Outras mutações aparentemente inócuas podiam ter levado a evolução por outro caminho. «Estes corpos espantosamente adaptados que nós temos representam um rolar dos dados», disse o Dr. Thornton. «E nós poderíamos ser completamente diferentes»
.

55 comentários:

Joana disse...

Adorei, adorei os artigos do Chang no New York Times. Absolutamente louvável a forma como ele traduziu os artigos em linguagem que toda a gente entende. É pena que não haja montes de jornalistas como ele!

O trabalho do Thornton é de uma elegância fabulosa e desmsitifica de forma muito simples algumas ideias erradas que o público em geral tem sobre a evolução.

Para alguém tão jovem para além de trabalho fantástico em biologia Thornton escreveu um livro muito eleogiado:

"Pandora's Poison: Chlorine, Health and a New Environmental Strategy" (MIT Press: 2000) analyzed global chemical contamination and its impact on human and wildlife health. The scientific journal Nature called it a "landmark book" and The Washington Post said it was "one of the most impressive environmental books in recent years."

Fernando Dias disse...

A propósito de jornalismo científico, chamo à atenção para o último livro da colecção ciência aberta da Gradiva, “Grandes questões científicas” em que são tratados 20 temas por cientistas diferentes, cada um deles apresentado por um jornalista e coordenado por Harriet Swain. É pouco profundo do ponto de vista científico, mas correcto e acessível ao público em geral leigo em ciência mas que se interesse por ciência, e aos jovens estudantes. Desde o início do universo, passando pela consciência e evolução da linguagem até ao sentido da vida. Acho que vale a pena.

Ciência Ao Natural disse...

Sempre prezei o bom jornalismo científico. Mesmo antes da capacidade de descodificar e resumir, na minha opinião, há que preservar o rigor.
Sei que é (por experiência própria) o mais difícil - manter os textos de divulgação científica - rigorosos mas interessantes.
Ainda assim fico contente por este post ter sido escrito.
Deixo a seguinte questão (provocadora):
Deve o jornalismo/divulgação científica ser feita por jornalistas especializados em ciência ou por cientistas especializados em comunicação?

Luís Azevedo Rodrigues

Palmira F. da Silva disse...

Caro Luís:

Concordo na íntegra consigo. Por isso escrevi: «Kenneth Chang resume e descodifica em linguagem acessível a todos, sem sacrificar rigor científico no processo».

É muito complicado fazer a tradução de ciência para o léxico do quotidiano de forma a que a leitura dessa tradução seja apelativa e permita de facto perceber o que está subjacente sem sacríficio de rigor científico.

Em relação à sua provocação é de facto difícil de responder. O bom jornalismo não acontece por acaso, é necessária uma formação sólida, formação essa que demora algum tempo a adquirir.

O ideal seria existirem muitos jornalistas científicos competentes, para mim é indiferente se são cientistas especializados em jornalismo ou vice-versa. Desde que sejam competentes...

Anónimo disse...

Quanto à história do gorila, se retirarmos as premissas evolucionistas e nos cingirmos à evidência realmente observável podemos ver: dentes de gorila iguais aos dos gorilas actuais, de idade desconhecida, encontrados em sedimentos depositados por água na Etiópia.

Onde está a evolução? Não se vê nenhuma. A mesma encontra-se apenas na cabeça dos evolucionistas que imediatamente interpretam a evidência de acordo com o seu modelo pré-concebido.

Particularmente interessante, nesta mesma linha, é a descoberta no Egipto, noticiada pela BBC, de uma pegada humana datada de 3 milhões de anos de acordo com os métodos radiométricos preferidos pelos evolucionistas.

O problema é que a pegada é anterior à Lucy, que alguns ainda referem como ancestral do ser humano. Ou seja, mais uma vez o carro surge à frente dos bois, como tantas vezes acontece na teoria da evolução.

Esta descoberta foi considerada pepor Zahi Hawass, do Supremo Conselho de Antiguidades do Egipto, a mais importante descoberta alguma vez feita no Egipto.

É natural e compreensível que os evolucionistas não estejam assim tão convencidos, já que isto obrigaria a um reajustamento significativo do seu puzzle. Aguardemos.

“Depois de olhar para os genes que as produzem [as hormonas] e comparar semelhanças e diferenças entre os genes, os cientistas concluíram que todos descendiam de um único gene ancestral comum há 450 milhões de anos - antes de os animais emergirem dos oceanos para terra, antes da evolução de ossos.”

Os criacionistas concluiriam que os genes foram o resultado de um Criador comum, e não de um ancestral comum, já ninguém sabe como se formou esse hipotético gene ancestral, e essa hipotética emergência dos animais dos oceanos para a terra é uma história muito mal contada, quer do ponto de vista biológico, quer do ponto de vista paleontológico.

A mesma evidência, premissas diferentes, conclusões diferentes.

Joana disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Joana disse...

blá, blá, blá, blá e mais blá, blá, blá do nosso comentador anónimo que todos conhecemos e detestamos: Jónatas Machado!

Acho tão giro que o Jónatas que acha que a Terra tem 6000 anos não se engasgue a falar de 3 milhões de anos, um número que devia pôr à roda a cabeçinha não pensadora dele.

Não misture religião, que ninguém nega sabe muito, com aquilo que não percebe raspas: ciência.

Fique com o conforto psicológico de disparates absolutos e deixe a ciência em paz! Será que dá para entender que ciência e religião são totalmente incompatíveis? Irra, que o homem é chato para além de ignorante!

Anónimo disse...

Considerando que sou total e absolutamente a-religiosa, e que o meu olhar para estas discussões que aqui se vão fazendo sobre tão candente debate é sobretudo desapaixonado, não me parece que o comentário do anónimo anterior não tenha a sua lógica (parece-me ter lógica, razão já não sei).
Mas o que me parece também é que a teoria da evolução não pode ser encarada tão fanaticamente como se de uma Bíblia se tratasse. Ou seja, se é uma teoria científica, pode (e deve) ser racionalmente discutida (o que não tem nada a ver com criacionismo). E deve ser permitido, também nesta matéria, haver cépticos (ainda agora começámos a "pescar" alguma coisa sobre as origens da vida, o mais natural é surgirem dados novos, ou não?). Não é porque os criacionistas acham que Deus criou o mundo que a teoria de Darwin está certa. Tem que estar cientificamente certa por si (e nesta medida o ruído religioso é um fait-divers) Acho eu.
Marvl

José Oliveira disse...

Olá "Anónimo":

Como é que chega à conclusão que os dentes de gorila foram lá depositados por água? Não pode simplesmente ter acontecido que o gorila tenha morrido naquele lugar e os seus dentes se tenham fossilizado? Mais uma vez, não leva em conta outras hipóteses, ou simplesmente se recusa a vê-las...

"(...) se retirarmos as premissas evolucionistas? (...)" Como é que alguém faz ciência seriamente sem ter premissas? Nunca percebi essa...

"Particularmente interessante, nesta mesma linha, é a descoberta no Egipto, noticiada pela BBC, de uma pegada humana datada de 3 milhões de anos de acordo com os métodos radiométricos preferidos pelos evolucionistas."

Com esta afirmação só mostra que se recusa a entender como funciona a ciência:

1) Nunca a ciência se baseou em dogmas, por mais que o ande por aí a apregoar. Logo, os dados podem ser revistos e actualizados comforme vão surgindo dados novos. O que não se pode querer é misturar fé com ciência.

2) Não há métodos favoritos. Isso é simplesmente uma forma de querer induzir alguém em erro. Há métodos testados que pretendem ser uma explicação. Esses métodos são apresentados aos pares, para que os erros possam ser corrigidos e só depois é usasdo para datar alguma coisa.

"Os criacionistas concluiriam que os genes foram o resultado de um Criador comum (...)"

Como é que chegaram a essa conclusão? Que estudos foram feitos? Que métodos foram usados? Onde foram publicados os resultados? Nada disso é dito. Depois venha dizer que "ah, pois; é perseguição!"

Cumprimentos,

José Manuel Oliveira.

Joana disse...

Cara Marvl:

O Jónatas é professor de Direito e como tal mestre de retórica, com muitas palavras bonitas, afirmações retóricas... mas completamente sem sentido.

Uma das afirmações sem sentido é a das premissas. Por definição, a ciência procura explicações naturais para fenómenos naturais. Submetendo essas explicações ao crivo de todos os dados experimentais e testando essa explicando desenhando novas experiências que as corroborem ou refutem.

Deuses e restantes sobrenaturalidades não explicam nada nem podem ser testados. São completamente inúteis em ciência.

Ninguém é fanático em relação a explicações científicas. Se leu bem o post há muitos cientistas cépticos das conclusões dos autores do artigo do gorila.

Mas uma coisa são explicações dos factos e outra são os factos em si. E aí somos mesmo fanáticos e rejeitamos explicações que não façam sentido face aos factos disponíveis.

A evolução é um facto. A explicação deste facto, os «comos» da evolução é alvo de aceso debate na comunidade científica. Há um corpo muito grande de dados e as explicações têm de estar de acordo com esses dados.

Pense nos factos como peças de puzzle e que tentamos olhar para as peças que temos e tentamos reconstruir a figura que representam. Há medida que há mais peças a imagem vai ficando mais nitida e tentativas anteriores vão sendo abandonadas.

Os criacionistas funcionam ao contrário: têm uma imagem, ignoram a maioria das peças e tentam encaixar as poucas que sobram nessa imagem.

Joana disse...

Fanáticos como o Jónatas Machado e outros ainda piores justificam que numa sondagem recente em Inglaterra quase metade das pessoas entrevistadas tenham dito que a religião é prejudicial.

Apenas 17% dos inquiridos disseram que a influência da religião é benéfica. Com o fundamentalismo cristão, muçulmano e hindu em alta em Inglaterra assim como as pressões criacionistas que levaram à formação do British Centre for Science Education para defesa da ciência do ataque de lunáticos não admira muito.

A sondagem foi conduzida pela YouGov a pedido de John Humphrys que a integrou no seu novo livro "In God we doubt"

Joana disse...

Esqueci-me deste:

How Genesis crept back into the classroom

Hundreds of state schools may be teaching the Biblical story of creation in science lessons, a leading academic said last night.

Anónimo disse...

Caros José Oliveira e Joana

Não faço ideia quem é quem nestes anónimos e é coisa que não me interessa o mínimo. Vou lendo os argumentos, só. E também há muita ganga nas vossas respostas, se me permitem. Como leiga na matéria, pergunto:
1) "dentes de gorila iguais aos dos gorilas actuais, de idade desconhecida, encontrados em sedimentos depositados por água na Etiópia" - fossilizados ou a nadar, os dentes eram iguais aos actuais ou não? Esse é o cerne do argumento do anónimo, e que ficou sem resposta. Se são iguais, realmente...
2)"a descoberta no Egipto, noticiada pela BBC, de uma pegada humana datada de 3 milhões de anos" - foi ou não descoberta a dita pegada?
3) Se se chega à conclusão que há um gene ascestral comum, os que acreditam em Deus podem, logicamente, ver nisso um apoio à sua fé. É lógico, vem mesmo a calhar. Os que não acreditam, como eu, não. Mas não me parece caso para desatar aos berros. Neste caso a ciência está a dar-lhes uma ajudinha, e só se fossem parvos é que não aproveitavam a boleia.
O criacionismo (que chamei de fait-divers) pode ser sociológica e politicamente interessante. Mas do ponto de vista científico parece-me absolutamente irrelevante.

José Oliveira disse...

Cara Marvl:

Em questões de Biologia terá de falar com a Joana, que penso que é a área de trabalho dela. Que a Joana me corrija se estou enganado.

A 1ª pergunta é: "dentes de gorila iguais aos dos gorilas actuais, de idade desconhecida, encontrados em sedimentos depositados por água na Etiópia".

O problema aqui não está se os dentes estão a boiar, a nadar ou a voar! A questão é que confrontados com o facto de que existem os tais dentes, se parte do princípio que o que o causou foi um dilúvio bíblico. Se não acredita que este argumento é realmente usado veja por favor o artigo do Jónatas Machado na Crítica, na área de Filosofia da Religião: "Criacionismo Bíblico". Ora em filosofia chama-se a isto uma falácia de causa única. Embora não seja formado na área vou tentar explicar o melhor que possa. O raciocínio utilizado é qualquer coisa deste género:

Todos temos uma mãe.
Logo, há alguém que é mãe de todas as pessoas.

O problema é que não se consideram respostas alternativas. Imediatamente se afirma que o que aconteceu é o que nós defendemos. Se procurar na Crítica há lá um guia de falácias, onde estas questões estão muito explícitas. É aqui: http://criticanarede.com/falacias.htm.

No segundo argumento também não está em causa a existência da pegada. Se existe e se obriga a rever os dados, melhor ainda! Mais perto ficamos da verdade. O que o anónimo insinua é que a Ciência está toda errada e só o criacionismo nos fornece uma resposta adequada.

A questão do ancestral, é um argumento muito comum, que apanha os mais despreveniddos. Faz crer que o ancestral é um só indivíduo e não uma população inteira com as mesmas características.

Espero que possa ter contribuído modestamente para que compreenda melhor o que está em jogo.

Cumprimentos,

José Manuel Oliveira.

Anónimo disse...

Não há nenhuma evidência científica da existência de um ancestral comum de humanos e gorilas. Tal ideia só existe na imaginação dos evolucionistas.

Segundo a recente notícia publicada na revista Nature do descobrimento de dois novos fósseis – um crânio e um maxilar - procedentes do lago Turkana no noroeste do Kenya, o "Homo habilis" e o "erectus" coexistiram na mesma época.

Isto implica que o Homo erectus não pôde ter surgido a partir do Homo habilis, como durante muitos anos foi aceite no campo evolucionista, e outra mítica árvore da evolução humana vem abaixo.

Apesar de tudo, aos estudantes continua a ser-lhes ensinado hoje em quase todas as aulas do mundo esta consistente ideia "científica" em crer que primeiro foram os australopitecos, depois o H. habilis, depois o H. erectus e finalmente nós, o prolífero H. sapiens. Pois bem, os especialistas em fósseis humanos (paleoantropólogos) já sabiam que isto não era assim. O recente descobrimento já se vinha a intuir no seio da comunidade científica desde há muitos anos.

Em resumo, embora o Homo habilis continue a figurar nos livros de texto e nas publicações de divulgação, o certo é que poderia muito bem tratar-se de uma espécie imaginária que nunca existiu.
Perante este facto a pretendida árvore da evolução do ser humano ter-se-á que converter, na realidade, em dois arbustos diferentes sem conexão entre sí: o dos australopitecinos (com símios comparáveis aos actuais gorilas, chimpanzés e orangotangos) e o dos verdadeiros seres humanos (com numerosas raças fósseis).

Joana disse...

Mau! mas os criacionistas são o máximo de incoerência :)))

Primeiro ululam que não há fósseis transicionais depois ululam que os fósseis transicionais do "habilis" e do "erectus" provam que a ... a evolução é falsa?

Entendam-se: se não há fósseis transicionais porque é que se preocupam com mais alguns peças do puzzle que os cientistas descobriram?

Fóssies transicionais não fazem parte da vossa imagem de um mumdo tal qual o vosso deus imaginário criou :)))

Joana disse...

Há um montão de coisas nos livros de texto que estão erradas face aos conhecimentos actuais. Até algumas coisas que eu aprendi na faculdade hoje foram abandonadas. Na altura eram a melhor expplicação possível mas o conhecimento e as explicações evoluem. Os manuais levam mais tempo a actualizar-se.

Joana disse...

Agora pegadas no Egipto:

mais uma vez uma total contradição. Um fulano que ulula que a Terra tem 6 000 anos muito preocupado porque foram descobertas pegadas de um hominídeo no Egipto com três milhões ( e há algumas dúvidas na datação).

As indentações das pegadas descobertas são completamente consistentes com as de Laetoli e estas são consistentes com o fóssil do Selam.

O Selam, um fóssil A. afarensis tem quase 3,5 milhões de anos.

Não percebo o que faz esta pegada nos delírios criacionistas do Jónatas. Será que a preocupação é a pegada ter sido encontrada no Egipto e não na Etiópia?

Os criacionistas ululam que a Lucy, o Afarensis mais conhecido, é um "macaco" como os actuais. E ignoram completamente o Selam, um fóssil transicional fantástico porque é muito mais completo e mostra sem dúvidas que estão completamente errados.

Joana disse...

Sobre os dentes de gorila iguais aos actuais, a Marv acha que a apreciação dos criacionistas que dizem que os fósseis afarensis são iguais aos macacos actuais merece algum crédito?

Que crédito têm fulanos que treslêm notícias científicas que não dizem nada do que eles afirmam?

A notícia original da pegada egipcia dizia que podia ter dois milhões de anos e que TALVEZ, com base na idade da rocha, pudesse ser mais antiga, tão antiga como a Lucy que tem 3 milhões de anos.

Joana disse...

Mas sobre dentes deixo-a com um especilaista e não com um alucinado fanático.

Tem um post fantástico sobre dentes e a informação que nos dão no Afarensis, um blog de ciência e outro sobre os dentes da discórdia:

What Teeth Can Tell Us About Human Evolution, A response to Uncommon Descent: Part One

Well, That Was Anti-Climactic: Gorilla Ancestor Redux

Fernando Dias disse...

Enquanto o anónimo está a querer discutir se a bosta no sapatinho do Zequinha é de um cavalo branco ou preto, como prenda que o menino Jesus lhe deu pelo natal, o que a Joana diz é que não há menino Jesus nenhum. E neste caso eu dou razão à Joana.

“Os criacionistas concluiriam que os genes foram o resultado de um criador comum, e não de um ancestral comum…”

Aqui, o conceito de criador não se enquadra numa estrutura de pensamento lógica ou empírica, mas num pensamento baseado em crenças-opiniões. É ideológico, não científico. Por isso o autor dos comentários sob anonimato, confunde os dois domínios e gera complexidade ininteligível. A partir desta base não é possível uma discussão inteligível seja qual for o assunto.

Um empreendedor do conhecimento científico inter-relaciona duma forma dinâmica o inteligível com o empírico, um crente-opinativo não. Por isso, em ciência, um criador a cogitar o mundo e a fazer tropelias nele é um tipo de pornografia intelectual que não faz qualquer sentido.

Actualmente, os aspectos cognitivo-emocionais da inteligência crente-opinativa já não constituem grande mistério. O processo evolutivo da mente em certas pessoas pode encalhar em qualquer apeadeiro, não só por influência dos seus genes, mas também por contingências educativas ou profissionais. Estes encalhamentos influenciam e modelam a capacidade interpretativa do mundo através de fracturas nos processos integradores do conhecimento. Ora são os medos, ora são expectativas frustradas.

Por isso Dawkins, 30 anos depois do gene egoísta, volta à carga com a pergunta provocadora: “ainda tem medo de ser um robô complicado?”, e Daniel Dennett, 12 anos depois da Ideia perigosa de Darwin, pergunta se ainda tem medo do ácido corrosivo de Darwin e dos algoritmos da inteligência artificial.

Mas não bastavam estes melgas desestabilizadores de crenças e suposições de verdades, como surge agora Mark Hauser, psicólogo evolutivo que coordena um laboratório de neurociência cognitiva em Harvard, a desenvolver em ambiente computacional seres maquínicos para pesquisar os limites universais de comportamentos morais, provocando um estranhamento e um arrepio ainda maior aos crentes-opinativos com estes artefactos inteligentes.

Fernando Martins disse...

"Não há nenhuma evidência científica da existência de um ancestral comum de humanos e gorilas. Tal ideia só existe na imaginação dos evolucionistas."

Há uma evidência claríssima - a quantidade de ADN comum, que indica a distância temporal de separação das duas espécies.


"Segundo a recente notícia publicada na revista Nature do descobrimento de dois novos fósseis – um crânio e um maxilar - procedentes do lago Turkana no noroeste do Kenya, o "Homo habilis" e o "erectus" coexistiram na mesma época."

E por que raio uma espécie não pode dar origem a outra e depois conviverem durante algum tempo - é proibido? Em muitos grupos isso aconteceu (veja-se o caso dos equídeos, que os criacionistas, pelas suas fixações, deviam conhecer bem, em que tal aconteceu). Na Bíblia de certeza que isso não está escrito... Depois a ciência admite que o conhecimento é dinâmico e se modifica com novas descobertas - só um burro qualquer pega num livro histórico e diz que ali está a verdade e depois torce os factos para nele se encaixarem...


"Isto implica que o Homo erectus não pôde ter surgido a partir do Homo habilis, como durante muitos anos foi aceite no campo evolucionista, e outra mítica árvore da evolução humana vem abaixo."

Para um especialista em direito e em Bíblia sabe muito de... tudo menos evolução - há muitos casos de espécies que deram origem a outras e ambas coexistiram - veja-se a iguana marinha e as iguanas terrestres actuais...


"Apesar de tudo, aos estudantes continua a ser-lhes ensinado hoje em quase todas as aulas do mundo esta consistente ideia "científica" em crer que primeiro foram os australopitecos, depois o H. habilis, depois o H. erectus e finalmente nós, o prolífero H. sapiens. Pois bem, os especialistas em fósseis humanos (paleoantropólogos) já sabiam que isto não era assim. O recente descobrimento já se vinha a intuir no seio da comunidade científica desde há muitos anos."

É apenas uma hipótese, que como qualquer hipótese, pode ser abandonada ou modificada por novas provas científicas. Os cientistas não são burros e procuram a verdade, sempre que esta os leva a novos caminhos seguem-nos sem problema. O mesmo não se pode dizer de um parvo qualquer que pega num livro velhote e diz "Aqui está a verdade - a Ciência, a História e a Evolução que se lixem". E por que raio a verdade - terra de 6.000 anos - tem de estar na Bíblia e não está nas dezenas de outros livros sagrados de outras religiões - será que Deus, para os Budistas, Xintoistas, Zoroastrianistas ou Hinduistas, foi madraço e mentiu-lhes? E foi de tal maneira aldrabão que criou uma Terra com indícios de grande antiguidade (veja-se as falhas, deriva dos continentes, grutas, espeleotemas, anéis anuais das árvores, camadas anuais de sedimentos glaciares, camadas anuais de gelo polar, entre dezenas de casos) só para nos confundir...? Ou será que a confusão não foi de Deus (ou da Natureza ou Cosmos, para não crentes) e o problema está na pobre cabecinha de certos parvos que pegam num velho livro, interessante e histórico, e o lêem literalmente?

Joana disse...

O Fernando Martins tem razão e eu escrevi demasiado à pressa o meu comentário das 19:45.

Em vez de:

Os criacionistas funcionam ao contrário: têm uma imagem, ignoram a maioria das peças e tentam encaixar as poucas que sobram nessa imagem.

deve ser:

Os criacionistas funcionam ao contrário: têm uma imagem, ignoram a maioria das peças e tentam distorcer as poucas que sobram nessa imagem.

Uma coisa que sempre me fez confusão é a facilidade com que esta gente mente com quantos dentes tem para impingir as suas tretas. Isso e a facilidade com que se vestem de cavalos de tróia fazendo-se passar por evolucionistas (ou por ateus). Como se enganassem alguém...

Anónimo disse...

http://www.europe4christ.net/index.php?id=148

Joana disse...

Pois, o anónimo tem razão, Esqueci-me da cristianovitimização. Isto se não se inventarem uns mártires não vai lá. Este site é do mais ridiculo que já vi.

Tadinhos dos cristãos que são uns perseguidos por não os deixarem impor a todos os disparates criacionistas. De facto, é só olhar à volta e ver como sofrem os cristãos da Europa.

Não só não os deixam fazer fogueiras de hereges, homossexuais, cientistas e assim como nem sequer os deixam discriminar :))

Tadinhos dos cristãos que não podem expressar a componente fundamental da sua religião: a perseguição dos que não pensam como eles.

Mas é giro como pegou a invenção do George Weigel, que a apresentou no livro «Política sem Deus. Europa e América, o cubo e a catedral» (Edições Cristandade).

O próprio título do livro mostra porque é que o Vaticano tanto se esforça para que seja reconhecida a cristianofobia europeia. Então não é cristianofobia recusar a "lei" divina e a supremacia do Vaticano e insistir em leis humanas e democracia.

Eu por acaso até li o livro do Weigel e parti-me a rir com a imaginação do biógrafo de JPII que confunde cristianofobia como laicidade.

Então aquela parte que o pessoal não vota nos democrata-cristãos na Europa por causa cristianofobia e não por razões políticas arrumou-me :)))

Joana disse...

O último parágrafo ficou pouco claro. O livro que inventou o termo cristianofobia praticamente trata só de política e na recusa dos líderes europeus em reconhecerem que acima deles estava JPII e seguirem as suas ordens em relação ao divórcio, contraceptivos e assim. Um sinal claro de cristianofobia :)))

Outro sinal claro de cristianofobia para o iluminado senhor é a queda dos partidos democrata-cristãos que segundo ele se deve exclusivamente à cristianofobia :)))

Isto para não falar noutro sinal de cristianofobia, o ênfase no iluminismo e na razão. Ainda outro sinal de cristianofobia é dizer que se devem ao iluminismo as raízes da democracia. Está certo que até ao século XX os papas diziam que a democracia era incompatível com o catolicismo mas não esquecer esse pequeno pormenor e não aceitar que a democracia se deve ao catolicismo é um claro sinal de cristianofobia.

O livro é estupidamente hilariante mas dá uma ideia clara do que se passa nas cabecinhas dos fundamentalistas. E o que por lá passa é arrepiante...

Anónimo disse...

Eu acho que devo ter perdido um qualquer elo nesta discussão, se me permitem a piada. Eu referia-me ao que o anónimo (jurista ou não jurista) disse, efectivamente, e não aos argumentos de um qualquer Jónatas que, no caso, não me parece ter entrado no debate e cujos argumentos me parecem, pela exposição em 2ª mão, desinteressantes. E também não me referia ao que o anónimo "tinha em mente" porque esse é um argumento "de intenção", no mínimo, muito pouco científico.
Acho mais interessante a ideia de que sabemos ainda muito pouco, pouco demais para certezas absolutas nestas matérias evolutivas (como por vezes nos querem convencer). Em matéria de evolução, temos hipóteses, os factos vão aparecendo (e certamente continuar a aparecer).
Gostei, pois, de saber que provavelmente havia homens no Egipto há 3 milhões de anos e gorilas iguaizinhos aos actuais (os que ainda escapam) há também um ror de séculos. Coisas que não saberia se não as tivesse o dito anónimo chamado à discussão.
Voltando ao tema central da Palmira, eu diria que o jornalismo científico é útil e importante, mas por vezes, na tendência para simplificar o que é complexo, e para expôr os "magníficos avanços da ciência", apresenta uma imagem de "pacificação e harmonia" que o campo científico está longe de viver. E científicos são os debates ou mesmo as lutas entre escolas, não são as ideias feitas. Portanto, um dia destes será que o Rerum Natura não se importaria de deixar um pouco os criacionistas entretidos nas suas orações, centrar-se no campo científico e explicar-nos o que realmente se passa nesta área?

Anónimo disse...

Fica-me a ideia que deus vai ficando cada vez mais descomplexo...:)

Ironias à parte, não nos ficaria nada mal, a termos que ter um senhor, idealizá-lo mais à nossa medida, deixando a complexidade como fruto do tempo, do acaso e demais factores que vamos conseguindo compreender.

Há treinadores de futebol que parecem obstinados por ganhar os jogos com o erro do adversário.
Pobres os humanos que ainda hoje pensam que o jogo do conhecimento pode ser ganho com tácticas de futebol.

Artur Figueiredo

Anónimo disse...

Venho seguindo o blog há algum tempo, e noto nele a insistência em referir o Donkey Dawkins. Os ateus referem-no mais vezes do que os cristãos a Bíblia. Não se arranja por aí outro Moisés sem ser este?

Anónimo disse...

Sou um leigo na matéria mas não é óbvio que a resistência que insectos e outros organismos ganham aos pesticidas é a evolução Darwiniana a decorrer em frente aos nossos olhos?

Afinal em poucos anos estes pequenos seres têm milhares de gerações... é como vêr um filme sentadinho no sofá!
Nem é preciso lêr um livro sequer para o perceber.

O que os senhores criacionistas têm a dizer sobre isto?

E os Biólogos? É que posso estar errado mas parece-me tão... óbvio!

Anónimo disse...

O ateísmo exprime-se em concreto numa falta de respeito do ser humano pelo seu semelhante, é o caminho para a tirania.

Anónimo disse...

Hugo, não sou biólogo, mas penso que tem razão. A resistência adquirida a dados compostos, bem como a capacidade de serem processados novos substractos abundantes, é uma forma de evolução adaptativa.

Só que a resposta dos evolucionistas é: "ah, e tal, mas eles que vivem tantas gerações e não se transformam em outros animais". E penso que ninguém tem uma resposta definitiva para isto.

Só que isto demonstra a estratégia típica evolucionista, e a razão pela qual mesmo quando apresentam objecções lógicas continuam no seu Mundinho esquizofrénico. Quando há uma falta específica no conhecimento actual, eles surgem a dizer que isso mina a teoria geral, e como tal a sua teoria passa a estar, sem mais explicações, correcta. O que estes senhores não explicam é, mesmo que conseguissem provar que a teoria da evolução está errada (boa sorte...), porque é que o criacionismo tem de ser a alternativa. Ainda por cima o criacionismo, que não passa uma "teoria" anti-científica alicerçada na superstição e num livro de histórias censuradas e alteradas por centenas de mãos ao longo da História. Não é apenas "uam interpretação diferente dos mesmos factos", como sorrateiramente a querem pintar.

O ponto essencial é este: perante uma dúvida legítima (porque é que não vemos seres menos complexos a "evoluírem" para seres mais complexos neste momento), há várias hipóteses de resposta, sendo que nenhuma está definitivamente provada. Apenas para citar algumas, podemos (1) aceitar que tal não acontece porque não existe tempo suficiente, apesar das múltiplas gerações em pouco tempo, ou então (2) verificar que complexidade nem sempre significa boa adaptação ao meio, existindo estratégias evolutivas que vão exactamente no sentido oposto, da simplificação, que (3) neste instante o espaço para seres mais simples evoluírem para outros mais complexos está tapado pela diversidade já existente, ou por alternativa que (4) não evoluem porque não existe evolução, e logo houve um criador que começou tudo.

Serei só eu que vejo uma tremenda loucura nesta 4ª hipótese? Se a primeira parte tem de ser levada a sério (a incorrecção da evolução), o salto gigantesco de dizerem que existe um criador é simplesmente absurdo. Se sou preconceituoso, "donkey", ou outra coisa qualquer, paciência. Mas sendo honesto comigo mesmo, e não querendo fazer-me passar por burro, nem a ninguém, tenho de considerar que esta 3ª via é uma não via.

RT

Anónimo disse...

Fantástico... Estamos para aqui nós a tentar levar esta gente a sério, e depois vem uma destas...

"O ateísmo exprime-se em concreto numa falta de respeito do ser humano pelo seu semelhante, é o caminho para a tirania."

Inacreditável. Da minha parte, termino as participações em posts com pessoas deste calibre. E sinceramente sugiro que todos façam o mesmo.

Anónimo, leve a taça para casa. Espero nunca viver num Mundo em que pessoas como você sejam a classe dominante.

RT

Joana disse...

Caro(a) RT:

Também é o meu desejo fervoroso, que esta gente nunca seja dominante. O pior é que mesmo não sendo dominante ( e eu estou certa que são uma minoria rídicula) têm um poder político desmesurado.

Tudo porque os religiosos normais, pessoas decentes como nós, desculpam coisas destas como excessos compreensíveis da "fé".

Alguns confundem democracia com ditadura da maioria. Nunca me hei-de esquecer do Bernardo no DA dizer que os ateus deviam ser expulsos de Portugal porque Portugal tinha maioria católica e os ateus não eram bem-vindos. Ou do Filipe Alves aqui no DRN a dizer o mesmo em relação ao Direito português: como temos maioria católica devia ser um direito "divino" tipo Sharia mas na versão católica.

Outros concordam que só a cristianofobia justifica que países de maioria católica não sejam teocracias versões católicas da Arábia Saudita.

Os laicos e os ateus não querem privar os católicos da hóstia, da água benta, do incenso, das indulgências, das orações, da confissão dos pecados e que tais, apenas não querem que esses pecados sejam impostos pela força como crimes ou proibidos. Nem querem que a lei discrimine "pecadores" nem que o Estado sustente ou dissemine qualquer religião.

O problema é que isto, a laicidade do Estado, para muitos é cristianofobia!

Joana disse...

Uma gira saiu hoje na ecclesia.

A ICAR portuguesa acha que os objectores de consciência estão a ser discriminados por serem excluídos do processo abortivo, «no sentido de serem postos à margem e impossibilitados de intervir com o seu conselho em todos os casos que possam conduzir (ou não) à prática de um aborto».

Acho o máximo dizerem que podem ser prejudicados em concursos e assim. Também acho incrível que um objector de consciência não possa ser o director de um serviço onde se façam abortos e assim proibir a realização de abortos no seu serviço. É uma discriminação é o que é!

Só acho esquisito não dizerem que é discriminação uma TJ não ser directora do serviço de sangue ou qualquer outro a ver com transfusões de sangue.

Também acho esquisito que se tenham levantado coros de indignação quando os motoristas de táxis muçulmanos em algumas cidades americanas, foram objectores de consciência e se recusaram a transportar cegos e os seus cães guias ou gente que transporte bebidas alcoólicas. Foram todos despedidos sem apelo nem agravo.

Parece que só alguns é que podem ser objectores de consciência...

A vizinha Espanha é um exemplo. Despediu os notários que seguiram o apelo do Vaticano à objecção de consciência em relação ao casamento homossexual.

A Icar espanhola na altura parecia o anónimo. O cardeal Ricardo Maria Carles disse que seguir a nova lei em vez da consciência "conduzirá a Auschwitz".

A Fundação Triângulo, que considerou a comparação com o holocausto nazi "repugnante" pediu mesmo à Igreja para "cessar de semear o ódio contra as vítimas da discriminação e as vítimas do holocausto, entre as quais havia muitos homossexuais". Outra associação fala em "ingerência inadmissível de um Estado estrangeiro na política espanhola", referindo-se ao Vaticano.

José Oliveira disse...

Desculpe lá Anónimo (das 10:09), mas não entendi como é que se deriva a tirania da Teoria da Evolução...

A menos que pense que as pessoas são tão más ou tão estúpidas que se não tiverem alguém a ver - tipo pai a vigiar uma criança para prevenir disparates -, nunca vão fazer o que é correcto!

Pessoalmente acho a ideia ofensiva. É tentarem-me convencer que se não tiver a esperança de uma recompensa ou o medo de um castigo, não sou capaz de decidir o que é correcto.

Cumprimentos,

José Manuel Oliveira.

Ciência Ao Natural disse...

Caros,

Apesar da terem sido ditos muitos disparates que envolvem a minha área não comento - por isto .

Gostava de novo de "puxar", se me deixarem, para qual o perfil ideal (se é que existe) do divulgador/comunicador de Ciência.
Deve o jornalismo/divulgação científica ser feita por jornalistas especializados em ciência ou por cientistas especializados em comunicação?

Cumprimentos

Luís Azevedo Rodrigues

Fernando Gouveia disse...

Esta questão da abordagem superficial (e, não raro, errada) das questões por parte da imprensa trouxe-me à lembrança o comentário de Jon Stewart (The Daily Show) à promessa de a CNN nos dar «mais histórias por hora»:

«As pessoas não querem poucas histórias minuciosamente investigadas, elas querem muitas histórias abordadas por alto.»

(O vídeo completo pode ser visto aqui; é preciso esperar que a publicidade passe...)

Joana disse...

Por mim acho que jornalismo de ciência devia ser feito por gente com formação científica.

Não acredito que se possa fazer bom jornalismo de ciência sem se perceber o que se está a escrever.

Anónimo disse...

Em Portugal há bons jornalistas de ciência. O António Granado é um exemplo.

A divulgação científica deve ser feita por cientistas e o jornalismo científico pode ser feito por cientistas e por jornalistas.

As universidades portuguesas podiam fazer o que fazem outras universidades e ter um serviço de press release que facilitasse a vida aos jornalistas.

Anónimo disse...

E por falar em notícias, lembrem-me de não voar na Nepal Airlines:

Goats sacrificed to fix Nepal jet

Nepal's state-run airline has confirmed that it sacrificed two goats to appease a Hindu god, following technical problems with one of its aircraft.

Nepal Airlines said the animals were slaughtered in front of the plane - a Boeing 757 - at Kathmandu airport.

Anónimo disse...

Por cientistas especializados em comunicação.
Tem de se perceber a fundo do que se está a falar.

Ciência Ao Natural disse...

Ao contrário do que se passa na com a produção científica, em que ocorre a especialização e consequente redução do campo de conhecimento, na divulgação científica deve-se regressar ao Homem renascentista, que domina vários saberes embora não seja especialista em nenhum...?
Mas desta forma podemos cair num paradoxo que é divulgar o hiper-específico de forma genérica...

Luís Azevedo Rodrigues

Anónimo disse...

Luís Rodrigues:

Divulgar o hiper-específico sem ser de forma genérica não serve para nada. Divulgado de forma hiper-específica só os da área entendem e é isso que são as conferências.

Divulgação de ciência para o público tem de ser feita de forma que o público entenda. Caso contrário é inútil.

Nã digo que os divulgadores de ciência sejam homens da renascença mas devem saber comunicar o que fazem de forma que todos entendam.

O Carl Sagan era muito bom nisso...

Anónimo disse...

Em áreas hiper-especificas a comunicação de ciência tem de ser feita por gente da área. Um jornalista não o conseguia fazer.

Um bom jornalista de ciência pode pegar num press release de uma universidade, escrito por cientistas e escrever uma notícia de ciência rigorosa e que o público entenda.

Anónimo disse...

Exemplos de Universidades com gabinetes de imprensa:

MIT

Harvard

Berkeley

Princeton

CalTech

Oxford

e há muitas mais!

Anónimo disse...

«Ambos os títulos não têm rigorosamente algo a ver quer com as notícias que os acompanham quer com a descoberta reportada.»


Gostava de sugerir que, da próxima vez, o Carlos Fiolhais escrevesse «não têm rigorosamente nada», em lugar desta coisa estranhíssima que é um «não têm rigorosamente algo». Fica muito mais bonito e compreensível.

Noto que a ideia de que se deveriam evitar as «duplas negativas» é, em português, um disparate gigantesco, conforme se pode confirmar em qualquer gramática infantil, na gramática (essencialmente normativa) do Cunha e do Cintra e na gramática (descritiva) da Caminho.

Agradeço muito o cuidado e peço imensa desculpa pela leveza do comentário.

JSA disse...

«Deve o jornalismo/divulgação científica ser feita por jornalistas especializados em ciência ou por cientistas especializados em comunicação?»

Pessoalmente inclino-me para a primeira hipótese no caso do jornalismo e para a segunda no caso da divulgação. Arazão é o facto de, no primeiro caso, ser necessário transmitir os conceitos a toda a gente, mesmo sob o risco de ter de explicar coisas aparentemente óbvias. Devido a uma menor familiariedade dos jornalistas com a ciência, estes têm de fazer um esforço maior para compreender os conceitos e poderão também transmiti-los melhor ao grande público (desde que compreendam realmente a ciênciaenvolvida).

No caso da divulgação, será mais importante o rigor e a paixão, sendo mais aceitável sacrificar um pouco da facilidade de compreensão, pelo que cientista será mais importante. Claro que isso não implica que o cientista não tenha de ser um excelente comunicador, obviamente.

Casos opostos também podem suceder com grande proveito para os leitores: o Filipe Moura, físico, escreveu muito bons artigos (minha opinião) no Público durante uns tempos. O livro do Bill Bryson, jornalista, A Brief History of Nearly Everything é um excelente livro de divulgação científica, mesmo que não tenha o estilo habitual desses livros.

Ricardo S. Reis dos Santos disse...

Chego tarde. Mas gostava de dizer algumas coisas. Primeiro, sobre o post. Depois, sobre os comentários ao post. Vamos lá.

Exactamente. Ainda há uns dias, quando me veio parar às mãos um artigo científico com o título "Homosexual Women Have Less Grey Matter in Perirhinal Cortex than Heterosexual Women", tremi só de pensar que alguém mal intencionado dissesse logo à boca cheia: "vejam lá que, afinal, as lésbicas, coitadinhas, são mesmo deficientes pois têm menos cérebro do que as mulheres normais". Pelo que eu sei isto não aconteceu mas podia, de facto, ter acontecido. Julgo que o uso da ciência, aliás, a subversão da informação científica por forma a ser usada com fins sociais perniciosos deve ser imediatamente denunciada.

Quanto aos comentários ao post, vão-me desculpar mas eu não posso deixar passar esta. «O ateísmo exprime-se em concreto numa falta de respeito do ser humano pelo seu semelhante, é o caminho para a tirania». Eu leio isto e fico com os cabelos em pé. Oiça lá, é preciso lembrar-lhe a história do cristianismo? E a quantidade de gente que foi queimada, chacinada, discriminada, excluída, perseguida, só porque não comungavam dessa verdade única que é o Deus cristão, único, criador e todo-poderoso, ominpotente, omnipresente e omnisciente? E depois essa coisa do ateísmo tem, de facto, muita graça. É que isso é uma invenção dos próprios cristãos. Porque num mundo politeísta não havia ateus. Quem não tinha fé num deus, tinha noutro. Agora, no mundo cristão só há espaço para uma só religião, um só deus, uma só verdade. Quem segue o rebanho, é cristão (os bons), os outros são os ateus (os maus). Afinal, quem é o tirano aqui?! Onde está o respeito pelo ser humano?! Vale a pena citar François Jacob: «historicamente, todos os massacres foram cometidos por virtude, em nome da verdadeira religião, do nacionalismo legítimo, da política idónea, da ideologia justa; em suma, em nome do combate contra a verdade do outro»

Depois, os comentários de "anónimo" são, do ponto de vista da biologia, patéticas (às quais a Joana teve a paciência de responder muito bem) mas ilustram bem ao que andam os criacionistas bíblicos como tão bem denunciou José Oliveira. Através de um discurso falacioso, surgem com uma nova síntese da grande verdade absoluta na tentativa de suprir a descristianização que vai rolando. Na verdade, estão a actualizar-se, a evoluir. Basta para isso repararem nas notas de rodapé que as edições mais recentes da bíblia
trazem, principalmente aquelas que constam do primeiro livro do Pentateuco, o Génesis. É, de facto, muito interessante.

Mas há pormenores que devem ser esclarecidos. Ó senhor "anónimo", responda lá à Joana porque é que não se engasga ao falar de 3 milhões de anos?! Responda, responda que estamos todos muito curiosos.

Bem sei que esta discussão entre evolucionismo e criacionismo bíblico está na berra. De tal modo que, muito recentemente, ocorreu na Faculdade de Ciências de Lisboa um colóquio precisamente sobre esse tema. Aliás, um evento que me deixou perplexo e ainda hoje não consigo perceber como é que uma faculdade de ciências promove um colóquio deste tipo quando tantos outros debates dentro do evolucionismo estão ainda por fazer. Talvez tenha sido um efeito da silly season. É que, na verdade, há um longo caminho por percorrer no que diz respeito à evolução. Não só do ponto de vista da biologia mas também do ponto de vista da antropologia e da filosofia. É preciso ter noção que as ideias de Darwin tiveram um impacto muito grande em todos os domínios do pensamento. Tomei noção disto quando começei a estudar filosofia. Hoje, tento perceber em que medida as ideias de Darwin influenciaram o pensamento filosófico de Nietzche. E este é apenas um pequeno exemplo. Por isso, acho uma total imbecilidade trazer para uma faculdade de ciências gente para pregar as suas ideias absolutamente anti-científicas! É que, às páginas tantas, ainda vamos ter o museu do criacionismo sob tutela da FCUL. "Deus" nos livre...

Antes de terminar, devo dizer que essa ideia de que "religiosos" e "cientistas" sempre estiveram em guerra é falaciosa. Recomendo vivamente a leitura do livro "Assim na terra como no céu - ciência, religião e estruturação do pensamento ocidental" de Clara Pinto Correia e José Pedro Sousa Dias (Relógio d'Água). Porque convém sempre saber com que linhas cosemos.

Palmira F. da Silva disse...

Caro Velho:

Não foi o Carlos que escreveu o post mas eu agradeço a sua observação e altero já.

Voltando à questão reformulada pelo Luís Azevedo Rodrigues, concordo na íntegra com outros comentadores, nomeadamente o JSA, de que a divulgação de ciência deve ser feita por cientistas.

E também gostei muito do livro do Bill Bryson, A Brief History of Nearly Everything.

Gostei da forma poética como descreveu a ligação química, uma «dança intrincada e misteriosamente coordenada» dos átomos

Anónimo disse...

Quem tiver algum tempo para relaxar no sofá pode dar uma vista de olhos nestes videos.
Se tiver muito pouco tempo vale a pena, pelo menos, ver o primeiro.


Comicos:
1
2
3
4
5
6
7
8
9 (157 minutos(!!!) a mostrar "provas" a favor criacionismo!!! Mas vale a pena ver os primeiros 6 minutos até aos dinossáurios na arca de Noé depois começa a ficar cada vez mais chato.)

Mais sério:
10
11

Joana disse...

Este é fabuloso (via Pharyngula.

Os comentários do post são hilariantes. Também acho que se devia ensinar que a causa dos terramotos, tsunamis e que tais é Poseidon, que não podemos esquecer Vulcan na vulcanologia, etc.

Então a resposta da Igreja Ortodoxa grega é o máximo:

"The president of the Association of Greek Clergymen, Father Efstathios Kollas, has described the followers of the Olympic gods as a handful of miserable resuscitators of a degenerate dead religion who wish to return to the monstrous dark delusions of the past."
So near and yet so far.

Também gosto desta,:

Creationists seeking to argue against evolution often liken the evolution of complex organisms by natural selection to the building of a DC-10 by a hurricane blowing through a junkyard. Their conclusion? Since such an event is staggeringly unlikely, a special sentient hurricane must have built the plane deliberately.

Anónimo disse...

Joana
O que a Igreja Ortodoxa Grega esquece é que seguiu os passos da religião Olímpica que representava os seus deuses esculpidos em mármore. Exactamente como a religião cristã, não passa sem as imagens e os ícones que a sustenta ideologicamente, à falta de Deus que não permite que o vejam.

Joana disse...

Há! Mas os gregos eram pagãos :)) Foi o demo que os inspirou a copiar a verdadeira fé, como inspirou os mitraicos com a missa, os egipcios e todas as "falsas" religiões.

Outra gira via Pharyngula:

Há um ano no Texas, um conhecido divulgador de ciência para crianças, conhecido como "The Science Guy," que ganhou um Emmy com um programa de divulgação de ciência, ofendeu um monte de gente quando criticou as pessoas que acreditam literalmente na Bíblia em questões de ciência citando:Genesis 1:16, which reads: “Deus fez duas grandes luzes: a maior para presidir ao dia, e a menor para presidir à noite; e fez também as estrelas.”

Bill Nye disse que o Sol era apenas mais uma estrela e que a Lua não é uma luz, é um reflector de luz.

Várias pessoas abandonaram a sala neste ponto e uma mulher gritou "Nós acreditamos em Deus".

Não sei se já há um movimento para banir das escolas tudo o que contrarie o primeiro capítulo do Génesis.

Anónimo disse...

Joana
Logo,
- se os gregos eram pagãos por representarem os seus deuses em imagens
- se os ortodoxos e cristãos também representam as suas figuras carismáticas,
então
os cristãos e os ortodoxos também são pagãos.

"A escola pública está em apuros"

Por Isaltina Martins e Maria Helena Damião   Cristiana Gaspar Professora de História no sistema de ensino público e doutoranda em educação e...