segunda-feira, 10 de setembro de 2007

ALGUNS DOS MELHORES CIENTISTAS PORTUGUESES SÃO BRASILEIROS

Este artigo, no ano em que se comemoram os 200 anos da mudança da corte portuguesa para o Brasil, é dedicado aos nossos leitores desse país, que são cada vez em maior número.

Quando se fala de países da Lusofonia, isto é, do grande espaço da língua portuguesa (e o Acordo Ortográfico está aí de novo!), é forçoso referir o maior deles todos - o Brasil. A partir de Setembro de 1822, o Brasil seguiu o seu próprio caminho ("Dizei ao povo que fico" disse D. Pedro I do Brasil, quando tomou a sua decisão histórica). Poucos devem ter sido os países que começaram dessa forma, com o reino-pai a dar pacificamente a independência ao reino-filho. Assim, os livros de história brasileira têm logo no início uma parte de história que é também portuguesa.

Antes da independência do Brasil, o território brasileiro integrava um vasto império com a capital em Lisboa (a capital foi durante alguns anos no Rio de Janeiro). A única universidade do império era a de Coimbra. Os espanhóis, em contraste, souberam promover escolas superiores em terras de além-mar. Havia, portanto que vir do ultramar à "alma mater", na cidade do Mondego, quando se pretendia obter um curso superior. Pela universidade de Coimbra passaram então alguns brasileiros, que ganharam justa fama na ciência. Portugal não se pode orgulhar de ter tido muitos cientistas notáveis à escala mundial. Mas, alguns dos maiores cientistas portugueses são brasileiros, isto é, nasceram em terra brasileira antes da independência, tendo estudado e trabalhado na metrópole. Alguns deles voltaram mais tarde à sua terra. Passemos em revista alguns - há mais! - dos protagonistas mais famosos da ciência luso-brasileira dos séculos XVIII e XIX: um pioneiro das viagens em balão, um explorador-naturalista e um mineralogista-metalurgista. Todos eles conseguiram ir mais longe: mais acima. mais além, mais fundo.

Bartolomeu de Gusmão

Quem entrar na zona de partidas do aeroporto de Lisboa, eventualmente para ir de Lisboa até ao Rio de Janeiro ou São Paulo, encontrará um grande painel de azulejos dedicado ao Padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão (1685-1724), o "Padre Voador" (ver imagem) e criador da "Passarola". Ora, esse padre nasceu em Santos, no estado de São Paulo, no Brasil. Ficou famosa a sua experiência realizada no paço real de D. João V sobre a elevação no ar de um aeróstato. Será pura lenda que tenha construído e viado na "Passarola". Mas o certo é que passou pela Universidade de Coimbra. E que morreu relativamente novo, no exílio (fugindo à Inquisição), tendo sido sepultado na cidade espanhola de Toledo.

Rómulo de Carvalho reclama para Gusmão a invenção dos balões e tem provavelmente razão:

"Sem forçarmos a nota de patriotisamo podemos afirmar que Bartolomeu de Gusmão foi o inventor dos aeróstatos. Não há dúvida nenhuma sobre a efectivação das suas experiências em Lisboa, durante as quais fez subir, no ar, alguns balões feitos de arames, papel grosso e madeira fina. Também não há dúvida de que se serviu do fogo para os faszer subir. Seriam, portanto, balões de ar quente."

Só muitos anos depois se voou em balão, mas a ideia e o protótipo remontam a Gusmão.

Alexandre Ferreira

Há anos esteve exposta na Universuidade de Coimbra (e também foi mostrada no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa) uma notável exposição de máscaras da Amazónia, que pertencem ao Museu de Antropologia de Coimbra (hoje integrado no Museu da Ciência da Universidade). Essas máscaras, belíssimas, foram recolhidas numa "viagem filosófica" feita na vasta floresta amazónica entre 1783 e 1792 pelo naturalista Alexandre Rodrigues Ferrreira (1756-1813). Ora Alexandre Ferreira era brasileiro, nascido em São Salvador da Baía. Estudou em Portugal, na Universidade de Coimnbra, onde foi fortemente influenciado pelo naturalista italiano Domingos Vandelli, que tinha sido contratado para lente de Filosofia Natural pelo marquês de Pombal, no quadro da chamada Reforma Pombalina (iniciada em 1772 com a criação das Faculdades de Filosofia e de Matemática). Depois ocupou um lugar no Jardim Botânico da Ajuda, de onde partiu em expedição à sua terra-natal. A viagem na Amazónia, longa e atribulada, foi um dos empreendimentos mais notáveis que os portugueses protagonizaram no Brasil. Os desenhos dos "riscadores" José Joaquim Freire e Joaquim José Codima são verdadeiramente notáveis. Vandelli tinha solicitado ao rei que, na expedição, que inicialmente se previa que integrasse apenas matemátios para efectuar "demarcações" (chamar-lhes-íamos hoje engenheiros-geógrafos) "se fizesse completa pela associação de alguns Filósofos Naturalistas e de um Desenhador, os quais tendo nessas ciências feito um curso teórico e prático, sem se distraírem com outras aplicações, pudessem fazer com que Portugal não invejasse aos estrangeiros uma glória, para a qual se apresenta uma tão bela ocasião."

O resultado - relatos, desenhos e objectos - da viagem de descoberta faz hoje parte da ciência luso-brasileira e faz as invejas dos estrangeiros...

José Bonifácio de Andrada e Silva

Quem subir pela escadaria principal do Colégio de Jesus, um edifício reformulado pelo Marquês de Pombal, na Universidade de Coimbra (no largo que hoje tem o nome de Marquês e onde se pode visitar o Museu de Ciência), encontrará no primeiro andar a entrada para o Departamento de Ciências da Terra da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra. Nele pode visitar o Museu de Mineralogia e Geologia (hoje também parte do Museu de Ciência), onde sobressai uma notável colecção de minerais que tem o nome de José Bonifácio de Andrada e Silva (1763-1838). Ora José Bonifácio era, tal como Gusmão, natural de Santos, no Brasil. Estudou em França, viajou pela Europa (descobriu o mineral do lítio) e chegou a lente de Metalurgia e Hidráulica da Universidade de Coimbra. Hoje, no Laboratório Chimico que constitui a sede do Museu de Ciência, encontra-se um forno metalúrgico que deve ter sido usado por ele. Na parte final da sua vida regressou à sua terra, onde foi contemporâneo dos primeiros tempos da independência do Brasil (tomou até parte activa no processo). O sábio, numa sessão da Academia de Ciências de Lisboa, interrogava-se "se porventura podem os usos caseiros e a lição dos livros excitar com a mesma força os nossos sentidos e engravidarmo-nos a mente, como faz a intuição de mil objectos novos", respondendo ele próprio, com convicção, que "não, por certo, senhores. A alma do viajante observador dilata-se, extasia-se a cada passo que dá pelo universo. Outras leis, outros costumes, outros céus, outras línguas, outra indústrias e produções excitam de contínuo a sua atenção e fecundam-lhe o espírito com mil ideias, novas e atrevidas".

Ora aqui temos uma afirmação que ilustra bem o método científico: A observação fecunda o espírito!

28 comentários:

Alvaro Augusto W. de Almeida disse...

Só uma pequena correção:o "Dia do Fico" é 9 de janeiro de 1822. A proclamação da independência deu-se pouco depois, em 7 de setembro do mesmo ano.

Certamente que não foi difícil Portugal nos concecer a liberdade por vias pacíficas. Difícil mesmo foi convencer alguns brasileiros de que a independência era necessária!

Quanto aos cientistas luso-brasileiros, independente de que lado do Atlântico nasceram, todos eram descendentes daqueles bravos que se lançaram ao mar sem saber se iriam voltar algum dia.

[ ]s

Alvaro Augusto
Curitiba, PR, Brasil

Anónimo disse...

Não me falem do Acordo Ortográfico, sff.
Ainda ontem vi na televisão o nome de uma senhora brasileira com três consoantes dobradas, duas delas no mesmo apelido...
Os brasileiros deviam interrogar-se acerca do que fizeram à língua que herdaram. Se o objectivo era a separação total, conseguiram. Pela minha parte, não compro nenhum livro, nem sequer começo a ler um texto escrito em brasileiro.
Jorge Oliveira

Alvaro Augusto W. de Almeida disse...

Caro Jorge,

Concordo com suas observações quanto aos estragos que nós brasileiros fizemos à língua portuguesa. Se serve de consolo, estou fazendo o possível para não contribuir com o estrago, a começar pelo meu nome, cujo único pecado (cometido pelo escrivão) é a falta do acento requerido pela proparoxítona.

[]s

Alvaro Augusto de Almeida
Curitiba, PR, Brasil

Fernando Martins disse...

"Nele pode visitar o Museu de Mineralogia e Geologia (hoje também parte do Museu de Ciência)"

O Museu Mineralógico e Geológico (ainda) não faz parte do Museu da Ciência, tanto quanto sei (aliás como o Museu Zoológico, que também faz parte do Museu de História Natural da Universidade de Coimbra). E, tanto quanto sei, o Director do Museu Mineralógico e Geológico mostrou o seu desagrado na anexação deste Museu por outro que só marginalmente lhe interessa a História Natural.

Corrija-me se estou errado...

Anónimo disse...

Caro Carlos Fiolhais
seria interessante dar a indicação das fontes usadas (e/ou links se os houver), para quem tiver curiosidade poder saber mais sobre tão ilustres (e muitas vezes desconhecidos) personagens.
Em concreto em relação ao Alexandre Ferreira, o relato dessa expedição foi publicado na altura? Onde o podemos encontrar nos dias de hoje?

Nota aparte: em relação aos comentários e como referido por vós no post da passada quinta-feira, convinha que fossem de facto mais veementes na edição dos mesmos. Por vezes há comentários que nada têm a ver com o post em causa, e que acabam por fatigar e aborrecer quem vos lê com interesse e as mais das vezes abster-se de participar.

Cumprimentos

Anónimo disse...

Acabo de conhecer esse blog e já posso dizer que gostei. Sou brasileiro e o debate sobre a língua portuguesa aqui na terrinha vem me surpreendendo, principalmente por motivar uma discussão maior sobre a relação entre Brasil e Portugal, o que sempre nos faz voltar no tempo. Para colocar um pouco de pimenta aqui, minha opinião difere radicalmente de alguns comentários que defendem o engessamento da língua portuguesa. Não podemos pensar, atualmente, que um idioma não seja alvo de mudanças. Afinal, a língua não está fechada em uma bolha impermeável. Ao contrário, ela é transformada por aqueles que a utilizam. Estão aí as influências de outros idiomas para provar isso. Quem come alface sabe que o nome dessa hortaliça vem do árabe? E o saboroso omelete que vem do francês? Só para não falar das influências do inglês. A língua é dinâmica, assim como tudo mais no mundo.

Anónimo disse...

Prezados,
Apenas como colaboração esclareço que a expressão "dizei ao povo que fico" foi pronunciada por D.Pedro I em 09/01/1822, data esta que ficou conhecida na história como "Dia do Fico". Obviamente estava em andamento um processo de independência cujo ápice deu-se em 07/09/1822, data em que encontrado pelos mensageiros vindos do Rio de Janeiro às margens do riacho Ipiranga na província de São Paulo, D. Pedro I declarou a independência do Brasil das cortes portuguesas com a expressão registrada pela história como "Independência ou Morte".
Quanto a José Bonifácio, sua participação nesse processo foi bem mais forte que a citada no post e, por isso mesmo, ficou registrado na história como " O Patriarca da Independência", pois que exercia muita influência junto a D.Pedro I. Os mensageiros que chegaram ao imperador em São Paulo traziam ordens de Portugal acompanhadas de cartas de aconselhamento de José Bonifácio.
Saudações,
Júlio

Anónimo disse...

Não línguas padronizadas. Um japonês que voltava de um Congresso dizia-me que a maior impressão que tinha colhido era a da língua inglesa falada tão diferentemente por um inglês, um australiano, um americano, um canadiano,... o que o perturbou um pouco.

A este propósito não resisto a fazer minhas as palavras do sociólogo brasileiro Gilberto Freyre:

"A ama negra fez muitas vezes com as palavras o mesmo que com a comida: machocou-as, tirou-lhes as espinhas, os ossos, as durezas, só deixando para a boca do menino branco as sílabas moles". (Casa Grande & Senzala).

O que me relembra um caso passado no Governo de Transição em Lourenço Marques, no ano de 1975, quando uma frelimista falando aos funcionários de uma instituição, para anunciar o "homem novo", se referiu ao idioma moçambicano que iriam adoptar, uma ouvinte quis ser esclarecida porque na véspera um frelimista se referira ao idioma português. A oradora ficou parada o que me obrigou a esclarecer que se tratava do mesmo assunto, porque embora no mundo lusófono a língua portuguesa fosse a adoptada, a verdade é que nem todos a falavam da mesma maneira, exactamente como em Portugal o sotaque do Porto é diferentes do do Alentejo, ou do da Beira. Assim o Brasil, Angola, Guiné, S. Tomé e Príncipe, Portugal, Moçambique...

Não vale a pena terçar armas, nem pretender que uma língua seja pura.
Como esclarecia um catedrático de Coimbra, "o povo é que faz a língua", seja ele da uiné, de Moçambique, ou de Timor.

Anónimo disse...

Relativamente à paternidade dos balões aerostátios, já A. Filippe Simões o tinha atestado no VII e último artigo inserto na revista INSTITUTO (Jornal Scientífico e Literario, Imprensa da Universidade, Coimbra, 1860)que termina com estas palavras: "...; por isso, e não porque nos cegue o espírito da nacionalidade ou arraste a nescia pretenção de roubar estranhas glorias, attribuimos a um portuguez a invenção das machinas aerostaticas."
A quem quiser consultar este fabuloso e criterioso trabalho de A. Filippe Simões que começa no vol. 9, de Junho de 1860, e seguintes, da referida revista INSTITUTO, na p. 70, sob o título
SCIENCIAS PHYSICO-MATHEMATICAS.
DESCOBRIMENTOS SCIENTIFICOS
NACIONAES.
AEROSTAÇÃO
pode lê-lo na BN de Lisboa, com a referência J2547B.

Segundo a revista TOLETUM, Boletín de la Real Academia de Bellas Artes y Ciencias Históricas de Toledo (año LXXXII, Segunda época, n.º 42, Toledo, 2000), a páginas 70, Gusmão morreu em 17 de Novembro de 1724, no Hospital de la Misericordia Parroquia de San Román desta ciudad de Toledo.

Anónimo disse...

"...reino-pai a dar pacificamente a independência ao reino-filho..."

É incrível perceber como os portugueses são completamente ignorantes quanto a História do Brasil.

Primeiro que Portugal nunca foi "pai" pro Brasil, no mínimo um padrasto e daqueles bem ruins e sádico ao extremo.

Segundo a independência do Brasil não foi pacifica coisissima nenhuma. Houveram guerras nas provincias de Cisplatina, Bahia, Piauí, Maranhão e Grão-Pará.

Vá aprender um pouco de história antes de sair por ai publicando bobagens em blogs da internet:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_da_independ%C3%AAncia_do_Brasil

Anónimo disse...

Calma brazuca...

Carlos Fiolhais disse...

Caro Miguel Esteves

A minha fonte principal sobre Alexandre Ferreira é o catálogo da referida exposição:

AREIA, M. L. Rodrigues; MIRANDA, M. A.; HARTMANN, T. Memória da Amazónia. Alexandre Rodrigues Ferreira e a Viagem Philosophica pelas Capitanias do Grão-Pará, Rio Negro, Mato Grosso e Cuyabá. 1783-1792. Coimbra: Museu e Laboratório Antropológico da Universidade, 1991.

Também li uma bela tese sobre um desenhador da exposição:

ARIA, Miguel Figueira de. A Imagem Útil. Lisboa: Universidade Autônoma Editora, 2001.

Mas pode encontrar mais referências, incluindos edições recentes no Brasil dos relatos de
Ferreira, no seguinte sítio da Bilioteca Nacional do Brasil:

http://catalogos.bn.br/alexandre/Index.html

Cordialmente
Carlos Fiolhais

Anónimo disse...

Caro Andreas
Tem razão mas o mal não é só de um lado, e talvez por isso vivamos de costas voltadas.

Na resenha crítica que Evaldo de Mello faz ao livro de Charles Ralph Boxer (A Idade de Ouro do Brasil), ele refere:

"Que os historiadores portugueses se tivessem desinteressado da história brasileira pós-independência seria compreensível, como também é compreensível o desinteresse, para não falar em ignorância, do historiador brasileiro da história portuguesa do século 19."

E mais adiante acrescenta: "A Boxer cabe boa parte do crédito pelo reconhe cimento de que as histórias portuguesa e brasileira tornam-se separadamente ininteligíveis..."

Indica-nos como fonte para o estudo da história do Brasil a Wikipédia que não merece credibilidade por ser redigida por voluntários independentemente de serem ou não historiadores, além de sujeito a constantes emendas e alterações.

Carlos Fiolhais disse...

Caro Fernando Martins
A Universidade de Coimbra está a efectuar um trabalho de aglutinação dos seus museus sob a égide do Museu da Ciência. A exposição "Segredos da Luiz e da Matéria" no edifício do Chimico prefigura o que será o grande Museu no edifício do Colégio de Jesus, onde hoje residem as colecções de história natural e de mineralogia e geologia. Ela inclui já objectos dessas notáveis colecções.
Quanto à falta de sensibilidade para a História Natural do Museu da Ciência posso desmenti-la. O Director do Museu da Ciência, Paulo Gama Mota, que também "bloga" aqui, é biólogo e os textos que aqui tem publicado, nos intervalos do seu labor no Museu, nas aulas e na investigação biológica, confirmam plenamente que ele tem essa sensibilidade.
Cordialmente
Carlos Fiolhais

Fernando Martins disse...

Caro Doutor Fiolhais:

Obrigado pela atenção da resposta e pela cordialidade da mesma. Falei apenas do caso do Museu de Mineralogia e Geologia, por conversa que tive com alguém a ele ligado e pelo que pode ler no site da FCTUC, onde ainda estão, autonomamente, os Museus da Faculdade.

Espero que o Museu da Ciência da Universidade de Coimbra seja um grande e fantástico Museu de Ciência, com gente da Física, da Química, da Astronomia, das Engenharias, da Zoologia, da Botânica, da Antropologia e da Mineralogia e Geologia nele envolvidos e a nele trabalhar. Porque os espólios destes museus vão precisar de especialistas na área para nela trabalhar/classificar colecções e mostrar ao público.

Tenho é algumas dúvidas que tanta coisa e tanta ciência num só local venha dar bons frutos, mas isto é só uma dúvida pessoal.

Já agora o Museu Nacional da Ciência e da Técnica, que existe/existia/existiu em Coimbra, também vai estar englobado neste Museu, bem como o seu acervo?

Anónimo disse...

Parabéns pelo BLOG. Serei frequentador assíduo!

Túlio Vargas
Itajubá (Minas Gerais - Brasil)

Neto de Albino Teixeira Torres, de Amarante.

Anónimo disse...

Língua falada diferentemente é uma coisa. Língua escrita à vontade de cada um é outra coisa completamente diferente. E é isso que está em causa : a ortografia do português foi radicalmente alterada pelos brasileiros. De forma gratuita e unilateral.

Diz um leitor que a língua é dinâmica. Pois é. Tanto mais dinâmica quanto mais analfabetos forem os seus utilizadores. Mas alterar a ortografia de uma língua para fazer o jeito aos analfabetos será aceitável?

Aliás, note-se esta passagem de um zangado comentador do Brasil : “Houveram guerras nas provincias de (...)”. O verbo haver está, obviamente, mal conjugado. O correcto seria : “Houve guerras nas províncias de (...)”. O verbo haver não tem plural quando utilizado no sentido de “existir”. Apenas quando utilizado no sentido de “ter”. Trata-se, no entanto, de um erro frequente, infelizmente cometido até por muita gente com responsabilidades públicas (efeitos dos cursos da “farinha amparo”). Vamos alterar a regra, só porque muita gente comete este erro?

Jorge Oliveira

Graça disse...

Para Andreas Oggimni Castelli (um nome tipicamente português, como se vê...).

Cito as palavras de uma amiga brasileira, a quem costumo enviar mensagens deste blog (que ela deu a conhecer e recomendou aos leitores do seu blog "Diálogos Lusófonos"):

"(...) é preciso lembrar que o Brasil é o que é, não se fragmentou, nem teve o histórico das outras terras colonizadas por Portugal porque a fuga [leia-se: da família real portuguesa] foi um sucesso, garantindo até a independência, que foi gerida por Portugal."

Afinal, em que ficamos?

Graça
 

Anónimo disse...

Caro Jorge Oliveira
É verdade que a ortografia é diferente, mas repare que a própria Academia, quando acorda de vez em quando, se permite alterar o já estatuído, incluindo novas palavras, oriundas das antigas colónias porque nelas usuais na fala corrente, e contempladas mais exaustivamente no Dicionário de Houass.

Por outro lado reparo que nisso o português do brasileiro é muito mais rico e mais prático para aportuguesar palavras sem tradução, o que poderá verificar muito mais no Houaiss ou do que no da Academia.

Sem ofensa, talvez possamos chegar à conclusão de que ambos temos razão, desde que acreditemos nas nssas próprias ideias.

Alvaro Augusto W. de Almeida disse...

Imagino que o Dr. Carlos Fiolhais, ao dizer que o processo de libertação do Brasil foi pacífico, quis apenas dizer que não houve guerras tão sangrentas quanto em outros lugares. Ademais, os portugueses e brasileiros daquela época eram outros. Não há porque estender a guerra até os dias de hoje.

[ ]s

Alvaro Augusto
Curitiba, PR, Brasil
http://www.alvaroaugusto.com.br

Anónimo disse...

Caro João Boaventura

Não está em causa termos razão ou não, pelo facto de acreditarmos nas nossas próprias ideias. Quando muito está em causa abordarmos esta questão (todas as questões, aliás) com seriedade, isto é, preparados para aceitar a argumentação das outras partes e sobretudo preparados para fazer algumas cedências a fim de resolver os problemas existentes a contento de todos. Porque, quando todos cedem um pouco, é como se ninguém tivesse cedido.

Como ponto de partida, eu não penso que uma língua deva ser estática e imutável. Lá que não convem fazer muitas alterações e com muita frequência, isso julgo ser opinião partilhada por toda a gente.

Que a língua portuguesa ficasse sujeita a alterações pelo facto de ser partilhada com outros povos, na maioria analfabetos, era inevitável. Mas já não vivemos no tempo em que a fala da língua se sobrepunha à escrita. Com a valorização da escrita, são necessárias regras ortográficas relativamente estáveis no tempo. E se muitos milhões partilham a mesma língua, não é curial que uma parte decida as alterações ortográficas a seu bel prazer. Nem que essa parte constitua a maioria. É exigível que se observe algum respeito pelos direitos de autor.

Por isso, que as academias se entendam relativamente a alterações ortográficas reconhecidas como necessárias. Mas o Acordo Ortográfico que foi parido há uns anos era uma aberração. Aliás, se alguém não se lembra e ainda apoia tal acordo, recordo, sibilinamente, que foi altamente patrocinado por um ministro chamado Santana Lopes.

Jorge Oliveira

Anónimo disse...

Caro Carlos Fiolhais

Obrigado pela pronta sua resposta, e pelas referências.

Cumprimentos

Anónimo disse...

Caro Jorge Oliveira
Inteiramente de acordo.
Relativamente ao desacordo ortográfico da parte brasileira ele resulta de dois factos:

1.º Há uma ortografia brasileira assente, consagrada, e instalada na comunidade, baseada na forma como foram e são pronunciadas as palavras;
2.º Instalou-se a metáfora do complexo de Édipo, onde o amor e a hostilidade a Portugal convivem contraditoriamente, donde alguma relutância a seguir as regras do "pai";
3.º A conservação da Independência do Brasil, à qual acresce a psicologia da sua grandeza, ainda medida em extensão territorial, face à pequenez territorial de Portugal, o que lhe dá um peso sociológico de maior poderio e autoridade;
4.º Portugal tem 8 (e vai a caminho de 9) séculos de existência; o Brasil, comemora este ano o bicentenário, o que significa pouco tempo ainda para esquecer totalmente as suas raízes.

Postas as coisas neste pé, não me parece que a parceria do acordo ortográfico tão depressa se realize. E é muito provável que a relutância ao unanimismo permaneça por alguns bons séculos.

Concluo que o acordo

Anónimo disse...

Para mim, português que vivi 7 anos no Brasil, que amo o Brasil, devo dizer que este blog tem sido uma boa descoberta de muita utilidade. Em particular estes textos e comentários sobre Brasil/Portugal deliciaram-me. No fundo todos acrescentaram algo de útil à leitura global do tema, mesmo o brasileiro enresinado de nome italiano com várias consoantes dobradas.
Nos meus 7 anos e Brasil li mutas vezes a indignação de muito brasileiro pelo mau uso da sua lingua escrita e falada- naquele geitinho de que qualquer coisa serve desde que se entenda.
Nas voltas da história ao longo dos séculos os povos nem sempre fizeram as acções mais belas e puras, foram de facto muitas vezes padrastos. O Brasil também não é excepção e na sua curta história, também terá os seus pecadilhos.
Ninguém é perfeito!

Antonio disse...

Isto tudo cheira-me a complexos!
É estranho falar-se de acordos ortográficos, e só estar tudo preocupado com o Brasil. As ex-colónias africanas, também falam português e também escrevem à sua maneira. Porque é que só se fala dos brasileiros?
A mim cheira-me a subserviência e colonialismo. Não devemos assim tanto aos brazileiros, nem os paises africanos são assim tão inferiores, que se tente alinhar com um e se ignorem os outros.
Nós também não somos assim tão pacíficos quanto isso. A questão do brasil foi uma questão de sorte na conjugação dos factores. Afinal de contas em Africa foi o que se viu. E depois, temos um país pequeno rodeado de tubarões, que nunca nos vergaram, e não é por sermos bonzinhos.
Tenhamos respeito pelo brasil e por todos os países africanos que colonizámos, e entendamos de uma vez por todas que falamos linguas semelhantes, mas, não iguais.

Anónimo disse...

Para acabar, com o impasse de línguas e de quem fala o que, sou a favor de nós brasileiros, mudarmos a nossa língua para língua Brasileira.
Acredito que só ganharemos com isso, assim acaba a briga de quem escreve errado ou certo, para além do Brasil não precisar de Portugal para mais nada.

Anónimo disse...

Portugal não se pode orgulhar porque?
esses cientistas portugueses mas brasileiros, para serem dos melhores, como esta referido no texto, vieram para a metrópole.. e para aprender com quem? Deram um rumo à vida, mas com que bases?
Portugal pode orgulhar-se, até porque alguns vieram para cá antes da independência...

Bem haja

Sidney Falcão disse...

Gostei deste blog, e o acho muito interessante. Só lamento que o Carlos Fiolhais tenha se equivocado em algumas coisas nesta sua postagem.

Moro na cidade de Salvador, capital da Bahia. A independência brasileira não se consolidou inteiramente em 07/09/1822 e muito menos foi "dada", ela foi conquistada com muita luta. D.Pedro I proclamou a independência, mas boa parte das forças militares de Portugal concentraram-se no Norte e Nordeste do Brasil, regiões que eram rentáveis à coroa portuguesa.

Na minha cidade, Salvador, e nas cidades próximas a ela, houve muitos conflitos entre 1822 e 1823, onde os baianos enfrentaram os portugueses heroicamente. O próprio D.Pedro I chegou a enviar alguns militares para o confronto. Depois de várias batalhas sangrentas, os baianos conseguiram expulsar os portugueses, liderados pelo General Madeira de Melo, em 02/07/1823. A data é festejada anualmente pelos baianos, com desfile cívico pelas ruas do centro histórico de Salvador, e isso desde 1824. Aliás, para os baianos, o "2 de Julho" tem mais importância do que o "7 de Setembro", data de Independência do Brasil

Além da Bahia, houve conflitos em outras localidades do Norte-Nordeste do Brasil,na mesma época e pelo mesmo motivo, como a Batalha do Genipapo, no estado do Piauí.

Portanto, a consolidação do Brasil só aconteceu de fato, depois que o Norte-Nordeste do Brasil, afinal, não existe independência de um país pela metade.

Sobre o Anônimo, que postou "(...)e para aprender com quem? Deram um rumo à vida, mas com que bases?"

Ora, meu caro, esses brasileiros foram procurar essas "bases" em Portugal, porque simplemente a coroa portuguesa não permitia nenhuma estrutura educacional acadêmica no Brasil, era proibido e não interessava aos portugueses. Isso só mudou apartir de 1808, com a mudança da corte de D.João VI para cá, fugindo das forças napoleônicas. Até então nem mesmo um simples livro era impresso no Brasil, era proibido pela coroa portuguesa. Tudo vinha de Portugal.

Com a chegada da corte de D.João VI,em 1808 foi criado um banco, uma Biblioteca Real, o Museu Real e a Imprensa Régia. Ou seja, 308 anos depois que o Brasil foi "descoberto". Caso não houvesse a invasão napoleônica em Portugal, certamente continuaríamos sendo uma colônia, e ainda mergulhada na ignorância e no atraso.

"A escola pública está em apuros"

Por Isaltina Martins e Maria Helena Damião   Cristiana Gaspar, Professora de História no sistema de ensino público e doutoranda em educação,...