segunda-feira, 11 de março de 2024

A EDUCAÇÃO, BEM COMUM, DIREITO INDIVIDUAL OU SERVIÇO PÚBLICO?

As orientações/recomendações da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), principal agente na determinação de políticas educativas globais e nacionais, têm sido acolhidas por uma diversidade de países.
 
A principal orientação/recomendação desta organização transnacional, para o sector da educação, é que os alunos alcancem o "bem-estar". Um "bem-estar" académico, profissional e pessoal, que sendo, em primeira instância, individual, se replicado em cada um, assegurará o bem-estar social. No modelo de aprendizagem que veicula (ver imagem ao lado), a representação da ideia é clara.
 
Mas, esta noção está distante do que se entende por "bem comum", finalidade legítima da educação escolar numa linha de pensamento humanista.
 
A reflexão do filósofo Michael Sandel (ver aqui e aqui) sobre o assunto tem sido acompanhada por várias outras. Uma, das mais recentes que conheço e que destaco pela profundidade que denota, é a que se reúne num livro com o título La educación, ¿bien común, derecho individual o servicio público? 
 
Coordenam-na dois jovens professores de Educação/Pedagogia da Universidade Autónoma de Madrid, com trabalho na formação de professores. Os seus nomes são: Bianca Thoilliez Ruano e Jesús Manso Ayus. Os autores, de diversa formação, encontram-se e dialogam nessa área.

O livro é assim apresentado: 

Abordam-se os fundamentos teóricos do debate contemporâneo sobre a educação como "bem público" e "bem comum". Para tanto analisam-se estes dois conceitos e a sua relação com a condição da educação como “direito” e “serviço” num contexto de privatização e mercantilismo crescentes. Reivindica-se a educação como um "bem público e comum", afirmando-se as escolas como as instituições que mais capacidades têm para assegurar direitos e oportunidades para todos.

Deixo, ainda, nota do índice que, por certo, despertará o interesse de alguns leitores:

Presentación. Bianca Thoilliez Ruano, Jesús Manso Ayuso.
1. Lo común como fundamento de una noción de bien compartida: implicaciones educativas. Miriam Prieto Egido, Alberto Sánchez Rojo.
2. Enfoque pedagógico de lo político vs. enfoque político de lo pedagógico Fernando Gil Cantero
3. Bien común y radicalidad educativa. El disenso y la pluralidad educativa como formas de articular la educación pública. David Reyero.
4. El entramado ético-político del proyecto de la educación pública desde las aportaciones de Taylor. Tania Alonso Sainz
5. La educación ensimismada. Por qué una pedagogía orientada a la felicidad y la diversidad privatiza los bienes escolares. Bianca Thoilliez Ruano.
6. La escuela libre no directiva: ni pública ni comunitaria. Ana Irene Pérez Rueda
7. La educación escolar como razón de mercado. Mapeando las racionalidades de gobierno de la escuela pública. Mariano Narodowski, Maria Delfina Campetella.
8. La Nueva Gestión de lo Público en las políticas educativas españolas: desafíos en las definiciones de lo público y lo privado. Marta Moreno Hidalgo, Jesús Manso Ayuso
Epílogo: La escuela, un bien público y común, Esther Díaz Romanillos

 Maria Helena Damião

2 comentários:

António Pires disse...

Começo por propor uma correção ao texto em análise: onde se lê "Coordenam-a", devia ler-se "Coordenam-na".
A Educação proposta pela OCDE assenta no mito do bom selvagem, com raízes nos Descobrimentos portugueses e espanhóis, estudado
e aprofundado, no século XVIII, pelo filósofo Rousseau.
Eu, por experiência própria vivida nas escolas secundárias e EB 1,2,3 +JI, não concordo com o princípio educativo que estabelece que os homens são, por natureza, bons. Mesmo quando o conceito de "Bom" é substituído pelo conceito de "Pobrezinho", como está implícito nas orientações da OCDE para a Educação.
No caso de Portugal, as metas da OCDE para o ensino encontram a sua concretização mais fiel no chamado ensino profissional, considerado um modelo pelas autoridades governamentais que preconizam a sua extensão, no mais curto intervalo de tempo, a todo o sistema educativo. Ora, por todas as escolas onde já lecionei cursos profissionais, nunca encontrei, na sala dos professores, uma voz dissonante da opinião geral de que o ensino profissional é uma fraude que tem por fim diplomar alunos pobrezinhos, quer aprendam pouco ou nada.
Assim, não vamos lá!

Helena Damião disse...

Estimado Professor António Pires
Muito obrigada pela indicação do erro.
Penso que a proposta pela OCDE dá a entender que assenta no mito do bom selvagem, ainda que a intenção subjacente seja de produção de "capital humano", "recursos humanos"... indiferenciado/s:
Cordialmente,
MHDamião

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