A visita que hoje fiz ao blogue Escola Portuguesa, deixou-me perceber a “existência” de uma tal “maria esperança portugal”, candidata virtual e fictícia (não real) da Federação Nacional da Educação às eleições que se aproximam. Recuperei, a partir desta fonte, informação sobre tal candidatura, anunciada em Dezembro passado (ver aqui, aqui, aqui e aqui) e vi o vídeo que a apresentava e do qual transcrevo o seguinte:
"Como novidade e iniciativa arrojada e criativa, resolvemos até às eleições legislativas ter alguém que dê visibilidade às nossas propostas, àquilo que é uma acção em favor da educação. Esse alguém tem um nome, chama-se “maria esperança portugal”. É uma candidata virtual e fictícia que apresenta uma candidatura também ela virtual e fictícia. É alguém criado através dos meios de inteligência artificial.
Imagem recortada daqui
É “maria” porque é um nome tipicamente português; é uma mulher, porque 80% dos trabalhadores do sector da educação são mulheres, é “maria” também porque é um nome terminado em “ia”, portanto, inteligência artificial; e é alguém que pretendemos que nos traga esperança, e, por isso mesmo, tem como apelido “esperança portugal” (...). Acreditamos que ao longo dos próximos dias vai ser muito útil, vai contribuir muito, através das suas propostas e acções para que a educação possa ser trazida para o debate (…).
A “maria esperança portugal”, à semelhança de qualquer candidato tem um site, materiais de campanha, cartazes, [etc.] espalhados pelo país, vai ter pendões e faixas colocados estrategicamente nas escolas porque é esse o seu espaço de intervenção, irá também realizar através dos diversos sindicatos da FNE reuniões com os trabalhadores que esses sindicatos representam (...). Queremos deixar bem claro que a “maria esperança portugal” não é nenhuma brincadeira, é sim um compromisso com a educação"
Aqui, o apresentador da candidatura dá a palavra à “candidata”, que não vai além de um limitado e muito comum conjunto de vacuidades associadas à educação, das quais o apresentador faz eco. Com um meio tecnológico tão avançado, esperar-se-ia ouvir algo diferente, algo nunca ouvido. Ainda assim, o Secretário-Geral da Internacional da Educação, disse, numa gravação em vídeo:
"(...) estou entusiasmado por apoiar “maria esperança portugal” para “aumentar a consciencialização” acerca dos problemas relativos à educação em Portugal, as aspirações e exigências dos educadores, praticamente ausentes da campanha eleitoral. Ressalta a forma criativa como tal é apresentado."
E não passou deste assinalar de problemas. Numa última tentativa para encontrar alguma "inovação" no modo de os apresentar e discutir, abro este link, que é uma "entrevista" à dita "candidata" feita por uma entidade tão virtual e fictícia como ela. Nada de novo: tudo já dito e repetido centenas, milhares de vezes, em praticamente todas as circunstâncias, por praticamente toda a gente. Declarações em catadupa e atadas, umas à outras, com um nó cego, que me deixam sempre numa posição desconcertante: sim... pois... claro... ainda que... Declarações que não estão certas nem erradas, com as quais não é possível concordar nem discordar...
Deixei para o final a minha interpretação, nada favorável, acerca desta "forma criativa" de chamar a atenção para a "importância da educação":
- substituir-se um professor real, um professor-pessoa (como já se diz), por um simulacro de professor é retirar-lhe pertinência no debate em causa;
- esconder-se quem fala sob o disfarce de uma imagem maquinal, é dizer que a imagem veicula aquilo para que foi programada;
- falta valor às palavras da imagem, falta sempre valor às palavras que não são assumidas por quem as quer dizer.
Nem todos os meios são legítimos, mesmo quando as intenções são as melhores - e, no caso, julgo que são. Sinceramente, faço votos para que esta iniciativa não se instale no debate sobre a educação escolar pública, que tão necessário se percebe ser.
Maria Helena Damião
1 comentário:
Prezado Leitor.
Na verdade, o discurso da "maria esperança portugal", que fiz questão de escrever com letras minúsculas, pode muito bem ter sido "criado" pela IA. São declarações recorrentes que (presumo) facilmente a máquina consegue repescar, declarações que, infelizmente, de tanto se repetirem, perderam o sentido.
Cordialmente, MHDamião
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