domingo, 8 de janeiro de 2023

«A SEGUNDA VINDA» DE W. B. YEATS

 

No final da recensão  que há algum tempo fiz ao livro «Civilização» de Kenneth Clark falei de um poema do irlandês W. B. Yeats (1865-1939) agrado de Clark (e que ele cita, embora parcialmente, no livro: é um poema muito famoso (“The Second Coming”), de 1919, e muito pessimista (viria aí uma época de trevas). Yeats escreveu-o quando a sua esposa estava a recuperar da gripe de 1918-1919 que quase a matou e no rescaldo da Primeira Grande Guerra.

O nosso estimado leitor Herculano Esteves, mandou-me esta sua tradução, com sua licença. compartilho com os leitores deste blogue:. Não é fácil traduzir poesia, pelo que fica, para comparação, o original em inglês. A tradução é tanto mais oportuna quanto está a sair uma biografia de Yeats da autoria de Cristina Carvalho.

A SEGUNDA VINDA

          Às voltas e às voltas na orla da espiral

          O falcão já não ouve o falcoeiro;

          Tudo se esboroa; nada se segura por dentro;

          A anarquia pura solta-se sobre a terra,

Solta-se uma maré ensanguentada, e por todo o lado

Afoga-se a cerimónia da inocência;

Os melhores estão sem crença,

Os piores carregados de intensão apaixonada.

 

Sem dúvida, uma revelação está próxima;

Sem dúvida, a Segunda Vinda está próxima.

A Segunda Vinda! Mal a pus por palavras

Uma imagem imensa saída do Spiritus Mundi

Perturba essa minha visão: algures nas areias do deserto

Uma forma, corpo de leão e cabeça humana,

Fitar esbranquiçado e impiedoso como o sol                           

Mexe as lentas coxas e sobre ela toda,

          A rodopiar, sombras de desertados pássaros fora de si.

          A escuridão cai outra vez; mas eu sei agora

          A pedra de um sono de vinte séculos

Rearranja-se em pesadelo embalada num berço.

          Que besta crua, chegou por fim a hora dela,

          Se arrasta para nascer em Belém?


THE SECOND COMING

Turning and turning in the widening gyre  

The falcon cannot hear the falconer;

Things fall apart; the centre cannot hold;

Mere anarchy is loosed upon the world,

The blood-dimmed tide is loosed, and everywhere  

The ceremony of innocence is drowned;

The best lack all conviction, while the worst  

Are full of passionate intensity.

 

Surely some revelation is at hand;

Surely the Second Coming is at hand.  

The Second Coming! Hardly are those words out  

When a vast image out of Spiritus Mundi

Troubles my sight: somewhere in sands of the desert  

A shape with lion body and the head of a man,  

A gaze blank and pitiless as the sun,  

Is moving its slow thighs, while all about it  

Reel shadows of the indignant desert birds.  

The darkness drops again; but now I know  

That twenty centuries of stony sleep

Were vexed to nightmare by a rocking cradle,  

And what rough beast, its hour come round at last,  

Slouches towards Bethlehem to be born?

Sem comentários:

O corpo e a mente

 Por A. Galopim de Carvalho   Eu não quero acreditar que sou velho, mas o espelho, todas as manhãs, diz-me que sim. Quando dou uma aula, ai...