quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

FRANCIS, O MACHO QUE FALA



          “A política é a arte de procurar problemas, encontrá-los em todos  os lados, diagnosticá-los incorrectamente e aplicar as piores soluções”                                                                                                                    (Groucho Marx).

INTRODUÇÃO: Pedindo desculpa aos leitores, mas por os ter mais apropriados alterei o nome e a imagem deste meu post, inicialmente, chamado "Os homúnculos da política portuguesa".

Década de 60 do século passado, era projectado nas telas dos cinemas nacionais o filme norte-americano “Francis, o macho que fala”. À época, pertencia à minha tertúlia de mesa de café um indivíduo, com pronunciado prognatismo (vulgo, queixada) que nós tratávamos por Francis por, para além  da queixada de burro, gostar  de falar difícil, com  a jactância da ignorância, sobre tudo e sobre nada.

Relembro esse facto por ouvir hoje  perorar, constantemente, na televisão portuguesa,  “iluminados” das mais variadas procedências, pagos a peso de ouro, ou por simples e vã vaidade, a debitarem opiniões sobre a actual pandemia como se a crise que vivemos,  e que aumenta letalmente, de dia para dia,  em  número de infectados e mortos pelo coronavírus, se tratasse de uma questão meramente política debatível, "ad nauseam",  à mesa de café, quiçá, por Aristóteles ter pontificado que “o homem é um animal político”. Mas não! Trata-se, na sua génese,  de uma verdadeira tragédia de atentados criminosos contra a Saúde Pública a exigir a intervenção dos tribunais e de forças policiais de que a televisão, em  hora de pesadelo, deu hoje o relato de uma festa de atrasados mentais, ou mesmo assassinos, com muita gente a bailar, a beber, a comer, em ambiente fechado realizada na Cidade Invicta.

Registei o facto relatado com  ligeireza por não ter sido completado com as medidas tomadas pelas forças da ordem pública contra estes irresponsáveis: limitaram-se, essas autoridades, porventura, a passarem multas simbólicas ou a “gentilmente” convidarem os participantes a darem por terminada a festança?

Como é consabido, em televisão os minutos contam por horas porque uma imagem  vale  por mil palavras. Seja como for, insisto na pergunta: o que sucedeu aos seus promotores? Ficaram os seus responsáveis directos em  prisão para servirem de exemplo a casos que se possam vir a repetir?

Em  tempo de guerra não se limpam  armas: há que pô-las ao serviço do bem público, tomando medidas “a priori” e não “a posteriori”. Acabe-se com personagens que são pagas  para aparecerem na televisão  como emplastros, a exemplo daquele “tiffosi” do futebol clube Porto,  que tudo faz  para aparecer nas fotos das respectivas comemorações!

Não será mais do que hora  nomear uma comissão de políticos dos vários partidos com lugar na assembleia do povo que se responsabilizem por uma tomada enérgica e rápida  de medidas efectivas e concertadas, em vez de andarem a discutir, como se fosse uma questão de “lesa pátria”,  se se deve ou não adiar as eleições num tempo em que as sondagens são favoráveis a Marcelo Rebelo de Sousa e ao Partido Socialista. Ou seja, interesses pessoais ou partidários não se devem sobrepor a exigências da grei na hora que passa!

A sobrevivência dos portugueses, através de uma vacinação em massa, não pode nem deve ser preterida pela discussão de prioridades da população a vacinar – a propósito, dias atrás li um notícia, cito de memória, que dava conta que na Polónia já estava vacinada 14.1  da população e em Portugal apenas  1.4 %! Esta forma de procrastinação impõe que se acabe com ela por não se perspectivar no horizonte um homem da estirpe do Marquês de Pombal que, aquando do Terramoto de 1755, tomou a peito  tratar dos vivos e enterrar os mortos. A continuar na senda actual a palavra de ordem parece ser enterrem-se os mortos e quando não houver lugar nos cemitérios palmos de terra suficientes lancem-se em valas comuns ou incinerem-se os seus cadáveres!

Por Deus, acabe-se com comunicações, ou simples “briefings”, de políticos a tentar, numa espécie de quadratura do círculo, como tal debalde,  explicar ao povo o inexplicável de não terem sido tomadas  medidas preventivas e atempadas que deveriam ter sido levadas a efeito durante as Festas do Avante,  o Natal e o Ano Novo. E não foram! Mas não se esqueçam de, pelo menos, tratar dos vivos vacinando-os a tempo e horas!

No meu salutar hábito de citar Eça, figura ímpar da nossa literatura que escreveu, em “As Farpas”, de parceria com a Ramalhal figura em combate contra os maus costumes políticos e sociais do século XIX, que a estupidez humana tinha cabeça de touro, aqui deixo,  mais uma citação: “Achais estas páginas cruéis? Pensais que não nos  dói tanto escrevê-las com  a vós  dói lê-las? Pensais que é com o espírito alegre , e a pena ao vento, que levantamos um por um , diante do público  os farrapos da vossa decadência?”

Excelentíssimos senhores governantes deste país: Lede e relede Eça para que a ignorância não vos tolde o raciocínio numa hora de grande e grave desesperança nacional que exige uma rija têmpera e honestidade dos que tomarão em mãos ávidas, em eleições que se avizinham, o leme do destino da grande e histórica nau lusitana. Mas, se é que existem, onde pairam eles? Será o Professor Adriano Moreira,  afastado da política activa pela sua idade avançada, o único sobrevivente sem continuidade?Temo bem que sim!


1 comentário:

Francisco. disse...

Aqui no Brasil ainda nem começamos a planejar a vacinação. Temos um atraso completo!

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