“A política é a arte de procurar problemas, encontrá-los em todos os lados, diagnosticá-los incorrectamente e aplicar as piores soluções” (Groucho Marx).
Década de 60 do século passado, era projectado nas telas dos cinemas nacionais o filme norte-americano “Francis, o macho que fala”. À época, pertencia à minha tertúlia de mesa de café um indivíduo, com pronunciado prognatismo (vulgo, queixada) que nós tratávamos por Francis por, para além da queixada de burro, gostar de falar difícil, com a jactância da ignorância, sobre tudo e sobre nada.
Relembro esse facto por ouvir hoje perorar, constantemente, na televisão portuguesa, “iluminados” das mais variadas procedências, pagos a peso de ouro, ou por simples e vã vaidade, a debitarem opiniões sobre a actual pandemia como se a crise que vivemos, e que aumenta letalmente, de dia para dia, em número de infectados e mortos pelo coronavírus, se tratasse de uma questão meramente política debatível, "ad nauseam", à mesa de café, quiçá, por Aristóteles ter pontificado que “o homem é um animal político”. Mas não! Trata-se, na sua génese, de uma verdadeira tragédia de atentados criminosos contra a Saúde Pública a exigir a intervenção dos tribunais e de forças policiais de que a televisão, em hora de pesadelo, deu hoje o relato de uma festa de atrasados mentais, ou mesmo assassinos, com muita gente a bailar, a beber, a comer, em ambiente fechado realizada na Cidade Invicta.
Registei o facto relatado
com ligeireza por não ter sido
completado com as medidas tomadas pelas forças da ordem pública contra estes
irresponsáveis: limitaram-se, essas autoridades, porventura, a passarem multas
simbólicas ou a “gentilmente” convidarem os participantes a darem por terminada
a festança?
Como é consabido, em
televisão os minutos contam por horas porque uma imagem vale por mil palavras. Seja como for, insisto na
pergunta: o que sucedeu aos seus promotores? Ficaram os seus responsáveis directos
em prisão para servirem de
exemplo a casos que se possam vir a repetir?
Em tempo de guerra não se limpam armas: há que pô-las ao serviço do bem público,
tomando medidas “a priori” e não “a posteriori”. Acabe-se com personagens que são pagas para aparecerem na televisão como emplastros, a exemplo daquele “tiffosi”
do futebol clube Porto, que tudo faz para aparecer nas fotos das respectivas
comemorações!
Não será mais do que hora nomear uma comissão de
políticos dos vários partidos com lugar na assembleia do povo que se responsabilizem
por uma tomada enérgica e rápida de
medidas efectivas e concertadas, em vez de andarem a discutir, como se fosse
uma questão de “lesa pátria”, se se deve
ou não adiar as eleições num tempo em que as sondagens são favoráveis a Marcelo
Rebelo de Sousa e ao Partido Socialista. Ou seja, interesses pessoais ou partidários
não se devem sobrepor a exigências da grei na hora que passa!
A sobrevivência dos portugueses, através de
uma vacinação em massa, não pode nem deve ser preterida pela discussão de
prioridades da população a vacinar – a propósito, dias atrás li um notícia, cito
de memória, que dava conta que na Polónia já estava vacinada 14.1 da população e em Portugal apenas 1.4 %! Esta forma de procrastinação impõe que
se acabe com ela por não se perspectivar no horizonte um homem da estirpe do
Marquês de Pombal que, aquando do Terramoto de 1755, tomou a peito tratar dos vivos e enterrar os mortos. A
continuar na senda actual a palavra de ordem parece ser enterrem-se os mortos e
quando não houver lugar nos cemitérios palmos de terra suficientes lancem-se em
valas comuns ou incinerem-se os seus cadáveres!
Por Deus, acabe-se com comunicações,
ou simples “briefings”, de políticos a tentar, numa espécie de quadratura do
círculo, como tal debalde, explicar ao povo o inexplicável de não terem
sido tomadas medidas preventivas e atempadas
que deveriam ter sido levadas a efeito durante as Festas do Avante, o Natal e o Ano Novo. E não foram! Mas não se
esqueçam de, pelo menos, tratar dos vivos vacinando-os a tempo e horas!
No meu salutar hábito de citar Eça,
figura ímpar da nossa literatura que escreveu, em “As Farpas”, de parceria com
a Ramalhal figura em combate contra os maus costumes políticos e sociais do
século XIX, que a estupidez humana tinha cabeça de touro, aqui deixo, mais uma citação: “Achais estas páginas
cruéis? Pensais que não nos dói tanto
escrevê-las com a vós dói lê-las? Pensais que é com o espírito
alegre , e a pena ao vento, que levantamos um por um , diante do público os farrapos da vossa decadência?”
Excelentíssimos senhores governantes deste país: Lede e relede Eça para que a ignorância não vos tolde o raciocínio numa hora de grande e grave desesperança nacional que exige uma rija têmpera e honestidade dos que tomarão em mãos ávidas, em eleições que se avizinham, o leme do destino da grande e histórica nau lusitana. Mas, se é que existem, onde pairam eles? Será o Professor Adriano Moreira, afastado da política activa pela sua idade avançada, o único sobrevivente sem continuidade?Temo bem que sim!
1 comentário:
Aqui no Brasil ainda nem começamos a planejar a vacinação. Temos um atraso completo!
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