Texto meu sobre efemérides de 2021 que acaba de sair na revista "As Artes entre as Letras" do Porto (não houve espaço para outras efemérides, como os 100 anos do Nobel de Einstein, os 200 ano da morte de Napoleão, e os 700 anos da morte de Dante)
Se 2020 foi o ano Beethoven para assinalar os 250 anos
do seu nascimento, 2021 é – vai ser – o ano do russo Fiodór Dostoiévsky, o
autor de Crime e Castigo, O Jogador e Os Irmãos Karamazov, um
gigante da literatura mundial. O escritor nasceu em 11 de Novembro de 1821 e
morreu quase 60 anos depois. Entre nós a Presença vai reeditar uma dezena das
suas obras, que vale a pena ler ou reler. Destaco a edição em dois volumes, na
Presença, dos Irmãos Karamazov com tradução do russo de Nina Guerra e
Filipe Guerra, tradutores premiados pela Associação Portuguesa de Escritores e pelo
Pen Clube Português. Mas há edições de outras editoras como a Relógio d‘Água.
As comemorações literárias não se ficam, porém, por
aqui. Passam os 400 anos do nascimento do francês Jean de la Fontaine
(1621-1695), o autor das famosa Fábulas, escritas entre 1169 e 1694, e
os 150 anos do nascimento de Marcel Proust (1871-1922), o autor de Em Busca
do Tempo Perdido, escrito entre 1908 e 1922 e publicado em sete volumes
entre 1913 e 1927.
Entre nós assinala-se o centenário de Carlos de
Oliveira (1921-1981), nascido em Belém do Pará, no Brasil, de emigrantes
portugueses, mas associado à Gândara, no concelho de Cantanhede. É o autor dos
livros Uma Casa na Duna, Uma Abelha na Chuva e Finisterra,
entre outros, além de um trabalho poético num só volume. E passa também o
centenário de Rui Grácio (1921- 1991), nascido em Lourenço Marques (hoje
Maputo), que foi pedagogo e estudioso de Ciências da Educação – a minha selecta
de Filosofia do liceu foi organizada por ele.
Para Coimbra, 2021 é um ano marcante, embora a cidade
permaneça culturalmente apática. Passam-se so 800 anos da Fundação do Mosteiro
de Celas, uma casa da Ordem de Cister, que foi fundada pela beata D. Sancha, filha
de D. Sancho I, em Vimaranes, no que eram então arredores de Coimbra, mas que hoje
pertence à cidade. Recomendo uma visita ao claustro que é do início do século
XIV e que tem belos capitéis com cenas da vida de Cristo. Sugiro sobre esse mosteiro
o belo livro Santos, Heróis e Monstros. O Claustro da Abadia de Santa Maria
de Celas, de Carla Varela Fernandes, Edições Colibri (2020).
Por outro lado, passam 750 anos do nascimento da Rainha Santa Isabel ou Rainha Santa (1271-1336),
a aragonesa que casou com D. Dinis e que foi canonizada em 1625, sendo hoje padroeira
da cidade de Coimbra. Foi sepultada no mosteiro de Santa-Clara-a-Velha, que
esteve muitos anos inundado pelo Mondego e que foi exemplarmente reconstruído
(vale a pena a visita!), mas, devido à subida do nível das águas fluviais, foi transladada
para o Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, no alto de uma colina próxima, onde está
hoje (a Igreja pode ser visitada, mas o gigantesco edifício do mosteiro não, ou
melhor só pode em circunstâncias especiais, como têm sido as da Bienal de Arte
Contemporânea de Coimbra).
Em 2021 passam, a 19 de Dezembro, os 500 anos da coroação
de D. João III (1502 -1557), o filho mais velho de D. Manuel I, que se tornou um
dos reis mais poderosos do mundo. Passam também os 500 anos da chegada, em 16
de Março, de Fernão de Magalhães (1480-1521) às Filipinas. O navegador
português que empreendeu a primeira viagem de circum-navegação não a completou:
morreu em Mactan, na ilha de Cebu, no arquipélago filipino, num confronto com
os locais, no mês seguinte ao da chegada.
No ano seguinte aquele em se comemoraram os 200 anos
da Revolução Liberal, há duas datas relevantes para a história da liberdade em
Portugal: assinalam-se os 200 anos da extinção da Inquisição em Portugal.
Instituído em Portugal por D, João III em 1536, esse tribunal só foi extinto em
31 de Março de 1821. Assinalam-se também os 200 anos da Liberdade de Imprensa
em Portugal: com efeito, foi a 4 de Julho de 1821 que foi promulgada a primeira
lei de liberdade de imprensa. Essa lei logo no seu primeiro artigo assegurava a
qualquer pessoa a possibilidade de imprimir, publicar, comprar e vender em
Portugal e nos Estados Portugueses quaisquer livros ou escritos sem censura
prévia. Dez dias depois era criado o Tribunal Especial da Proteção da Liberdade
de Imprensa.
Em 2021, comemoram-se os 150 anos do nascimento de
Alfredo da Silva (1871-1042), o grande industrial que fundou a Companhia União
Fabril - CUF, entre outras grandes empresas que deixaram marca no panorama
económico e social português. É ainda o ano do centenário da revista Seara
Nova, fundada em Lisboa em 1921 por iniciativa de Raul Proença, onde
pontificaram intelectuais como Jaime Cortesão, António Sérgio, Raul Brandão e
Aquilino Ribeiro. A revista, que foi um baluarte da luta contra o Estado Novo,
ainda hoje existe. Acresce que passa o centenário do jornal vespertino Diário
de Lisboa, cujo primeiro número saiu em 7 de Abril de 1921 (sendo primeiro
director Joaquim Manso) e o último em 20 de Novembro de 1990. A integridade das
edições esta disponível nas páginas web da Fundação Mário Soares. Lembro-me de
ter mandado um artigo para o Diário de Lisboa Juvenil, mas não sei se
saiu…
Do ponto de vista científico, 2021 é o ano do centenário
do físico russo e activista político Andrei Sakharov (1921-1989), que foi
prémio Nobel da Paz e que tem o nome num prémio da União Europeia. Entre nós é
o centenário da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, a mais antiga
faculdade de Farmácia do país em funcionamento contínuo.
Uma vida humana pode abranger um século. Edgar Morin,
o sociólogo francês que tive o gosto de conhecer pessoalmente e que é autor de
numerosos livros traduzidos entre nós, nasceu em Paris em 8 de Julho de 1821.
Daqui a cerca de seis meses vai soprar cem velas…
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