"Acabar com a corrupção é o objectivo supremo de quem ainda não chegou ao poder”
(Millôr Fernandes, humorista e jornalista brasileiro, 1923-2012).
Vivemos num Portugal pobre que arma em rico por numeroso e descarado numero de deputados, mais que permite a decência em época de grave crise económica, que, como diria Eça, na Assembleia da República se “sentam de cócoras"!
Tribunos aos magotes, quais meninos obedientes e bem comportados, que não discutem, as ordens do "boss" da respectiva bancada, vestidos de fato e gravata ou em mangas de camisa, sem a toga branca da inocência roçagante em lajes de honestidade, que sobrecarregam o erário publico.
Permanecem eles mudos e quedos, distraídos ou dizendo ou discutindo banalidades sobre o passado, presente e futuro de um país que se chama Portugal e em que os seus elegíveis e democráticos representantes nem sempre habitam em almas bem formadas ao serviço da Grei.
Bem pelo contrário, queixando-se que ganham pouco para o sacrifício de estarem sentados muitas horas em cadeirões de cabedal que lhes causam calos no rabiosque. E tanto sacrifício humano, meu Deus!, para viverem no reino de falta de ideias pensadas pela própria cabeça por ser menos cansativo, como diria Mestre Aquilino, “trazer às costas a mochila do regimento”.
Com ironia, reagia eu aos argumentos dos alunos ignorantes, sob o chapéu de abas largas do “eu pensei”, dizendo-lhes: “O senhor não tem nada que pensar, para pensar cá estou que para isso é que sou pago!"
No caso de políticos habituados a partilhar o pensamento do “boss” da bancada, é uma solução cara pelo dinheiro que eles consomem ao erário publico em vencimentos e extras principescos pagos "à latere"!
Tudo, ou quase tudo, que eles peroram não passa de histórias da carochinha para tentar adormecer os portuguese que sofrem de insónia por terem “o soberaníssimo bom senso” (Antero) em se preocuparem com o destino de seus filhos e netos, gerações de um futuro inglório defraudado por políticos que enriquecem à tripa fora passando de remediados a ricos num abrir e fechar de olhos à custa de um povo sacrificado até ao tutano da decência em que se pretende tornar ignorante a voz sábia do povo por não ter feito carreira na jurisprudência nacional a evocação de um magistrado judicial: “Quem cabritos tem e cabras não tem, de algum lado lhe vêm”!
Vivemos tempos, por outro lado, de alienação desportiva em que as vitórias de fanáticos de um clubismo exacerbado fazem esquecer as agruras da vida dando aso a princípios com este: “Pode-se mudar de mulher, de partido, de clube nunca jamais em tempo algum! E em que um dos seus destacados intérpretes, Jorge Jesus, antes da partida para Terras de Santa cruz para treinar uma sua equipa de futebol se sentiu digno de uma epopeia marítima por “mares nunca dantes navegados” declarando no portaló da sua incontida vaidade: “O meu grande objectivo é deixar marca portuguesa como Vasco da Gama, Pedro Álvares Cabral e por aí fora (CMTV, 17/07/2018).
Estaria Jesus, porventura, a referir-se a um Portugal de antanho em que hoje navegam oportunistas em charcos de podridão e se atolam em lamaçais de desonra? Não será boa altura de ser criado um dia anticorrupção para descanso dos bolsos dos portugueses? Aliás,”nihil novi sub sole”! Em gabanço tão ao gosto popular, a que nem gente lustrada consegue fugir, contavam, em idos de 50 do século passado, os alunos de um professor catedrático que ele teria dito numa das suas aulas sobre um determinado congresso em que tinha participado: “Sábios eramos só três: um sabia muito de Química, outro de Física e um terceiro muito de ambas estas matérias mas que a minha modéstia me inibe de dizer o nome"!
E assim caminha este pobre país e a sua pobre gente que se vê obrigada a curvar a cerviz à democracia do quero, posso e mando em que nas páginas dos jornais e écrans televisivos se vai habituando a ver os corruptos e corruptores serem tratados com a mezinha inócua de quem bebe um copo de água em jejum para melhorar o tracto intestinal, mas sem qualquer efeito por a porcaria continuar a acumular-se nas vilosidades intestinais deixando no ar o odor fétido da corrupção.
Aliás, para além da corrupção há cedências partidárias deveras estranhas como, por exemplo, a cedência do Partido Socialista à realização da Convenção Anual do Partido Comunista Português nos dois próximos últimos dias deste mês, tendo como moeda de troca o “agreement” dos comunistas para que vá avante o Orçamento de Estado/2021!
A realização deste evento terá lugar em Loures, zona de contágio pelo corona vírus, assinalada no recente mapa a cores de altíssimo risco de propagação, podendo encontrar aí hospedeiro nos seus participantes oriundos de várias localidades com o perigo contagioso de lés a lés do país do letal vírus.
Antigamente, nos cinemas corria em rodapé no final dos filmes que “qualquer semelhança com a realidade é pura ficção”. Hoje, na vida real, infelizmente, muitos casos de corrupção nem sempre são pura ficção. São dolorosa realidade da vida nacional!
3 comentários:
A meritocracia, a aristocracia e a própria democracia são formas de entronizar nos imensos e superiores poderes do Estado, e de os colocar nas suas mãos, aqueles, indivíduos ou grupos, ou partidos, já posicionados no mais alto nível de privilégios, prerrogativas, vantagens.
Na realidade, são formas de plutocracia e de cleptocracia, com os evidentes perigos que isso representa para a sociedade em geral, sobretudo para aqueles que têm de se sujeitar às condições económicas, políticas, de acesso à justiça e à saúde e ao poder.
O poder do Estado, sendo o "activo" mais valioso que há, nem por isso está a salvo e não vemos mérito, ou confiança que o mereça, nem superioridade moral, intelectual, humana, de alguém, que justifique a colocação do poder nas suas mãos.
Sobretudo porque a guarda e gestão desse bem público não tem sido vista e entendida como tal pelos titulares dos órgãos de poder. O poder tem sido uma oportunidade, legitimada e insindicável, de fazer desse património incomensurável do Estado, a maior fonte de rendimentos, para quem o gere, sob todas as formas, incluindo a corrupção.
Se há uma forma menos perversa de tomada do poder é a que ocorre por efeito da democracia pluripartidária, se esta não estiver instrumentalizada por algum partido que abusa das fragilidades e das contradições do sistema, nomeadamente eleitoral e se o dogma da bondade da democracia não dispensar a vigilância das pessoas induzindo-as a confiar que o poder está em boas mãos. Esta confiança inerente e esta falta de alternativas à democracia garantem a qualquer formação política um monopólio da oferta política com os grandes defeitos e inconvenientes associados.
Os eleitos não apenas se arrogam uma legitimidade, muito para além do formal, como ainda agem em consciência de que não há alternativa, de que não "democráticos", mas sim "aristocráticos"(os melhores) e há o preço a pagar pela governação, ou seja, a “entrega” do poder nas suas mãos, são eles que o estabelecem.
Isto tudo é muito triste, na perspectiva dos contribuintes que acreditam na racionalidade do sistema e nos méritos do apregoado Estado de direito democrático.
Que estes méritos pouco mais sejam do que ornatos e razões puras de uma ideia para enganar aqueles, crédulos e fiéis, impotentes, que são sobre quem esses méritos se fazem sentir e justificar, sem escrúpulos, por abuso da subserviência e do temor deles, é ainda mais inaceitável e revoltante.
Permita-me que sintetize o seu comentário com o derradeiro parágrafo: "Que estes méritos pouco mais sejam do que ornatos e razões puras de uma ideia para enganar aqueles, crédulos e fiéis, impotentes, que são sobre quem esses méritos se fazem sentir e justificar, sem escrúpulos, por abuso da subserviência e do temor deles, é ainda mais inaceitável e revoltante". Estamos numa sociedade de enganos propositados!
Então, aproveito a deixa para acrescentar que há obrigações, imposições, sacrifícios, opções, preços, nem todos opcionais e menos ainda facultativos. Que, se há escolhas, são muito limitadas e, quase sempre, manipuladas e viciadas, fazendo-nos acreditar que somos nós que escolhemos, quando outros já escolheram por nós o que podemos escolher. Mas há quem troque rendimentos por liberdade, quem compre tempo com dinheiro, quem pague para ler e pensar e escrever e outros luxos que ninguém inveja.
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