Minha crónica no Público de hoje:
Que a
Universidade de Coimbra não
está bem é revelado,
por exemplo, pela sua queda do top500 do prestigiado ranking de
Xangai. Segundo o Público de
15/8/2018 essa lista, encabeçada pela Universidade de Harvard, inclui nos
primeiros 500 lugares apenas quatro universidades portuguesas: Lisboa, Porto,
Aveiro e Minho. Coimbra, que estava no top500 desde 2013, ficou de fora.
Se se atentar aos critérios, todos eles objectivos,
que contam para a lista (docentes e investigadores com prémios prestigiados e muito citados, total
de artigos científicos produzidos e publicados na Nature e na Science e contidos em índices internacionais)
percebe-se que há um problema com a investigação. Para o confirmar basta olhar para um outro
indicador: dos 14 investigadores nacionais que estão no top 1% das suas
disciplinas, nenhum está em Coimbra.
Mas há
outros problemas, designadamente a ligação à cidade, que contrasta com o que se passa nas cidades acima
referidas. Coimbra tem vindo, desde há largos anos, a perder relevância e
visibilidade nacionais, tendo as últimas gestões camarárias sido incapazes de, coligadas com a Universidade,
promover as necessárias mudanças. De nada vale à urbe ter um bom hospital universitário, se os acessos são
estrangulados e o estacionamento é caótico. De nada vale ter
um Parque de Inovação se
está vazio. Ao contrário de outras cidades de província, Coimbra não tem
sequer uma gare ferroviária e outra rodoviária dignas, nem um tribunal e uma
penitenciária em condições. A Baixa está uma ruína e a Alta está grafitada. A
cultura, que noutros sítios é levada
a sério, à beira do Mondego é considerada
um espectáculo de magia. O “metro
Mondego” e o “aeroporto
internacional de Coimbra” não passam de miragens, truques criados por políticos
prestidigitadores.
A
Universidade tem agora, que vai ser eleito um novo Reitor, uma oportunidade de
se renovar. Está nas suas mãos escolher o futuro, que terá de passar, como nos
sítios mais desenvolvidos, por uma maior aposta na investigação e na inovação.
Por outro lado, a cidade e o país teriam a lucrar com uma intervenção mais
afoita da Universidade nos modernos desafios da polis. Se em Coimbra há competências na Medicina, nas Ciências e Engenharias, no Direito, nas
Letras e nas Artes, porque não são elas mais aproveitadas pela comunidade?
Não pertenço ao Conselho Geral que vai
eleger o próximo
Reitor e estou certo que esse Conselho fará a necessária ponderação do que mais
interessa à instituição e à sociedade. Analisei, porém, com atenção os programas dos quatro candidatos que se
propuseram, com generosidade e coragem, aceitar um repto que não é fácil.
Quase a terminar a minha vida académica, e porque sinto ser meu dever de consciência, não me isento de emitir opinião.
Concorreram uma astrofísica brasileira, simpática, mas a anos-luz do que aqui
se passa e não passa (o seu lema é bom
— “Coimbra, a Universidade do futuro” — mas ela não sabe como); um farmacêutico, que é em larga medida responsável, como
vice-reitor da investigação nos últimos oito anos, pelo descalabro que o ranking
de Xangai e outros indicadores revelam (o seu moto é olímpico - Citius, Altius, Fortius —apesar de ele não ter
atingido, na ciência, os
mínimos olímpicos); um historiador da religião, muito sábio a respeito do
passado, mas pouco sabedor do futuro de que a Universidade carece (em “Honrar o passado, enfrentar o
presente, projectar o futuro”, fica menos de um terço para o futuro); e um
engenheiro informático,
que é, claramente, o
que oferece mais ideias e soluções quer para a reorganização da investigação e
inovação, quer para o fortalecimento dos contributos societais da alma mater
(“Mudar para ganhar o futuro”
é a sua frase motora).
A
Universidade de Coimbra tem história, mas precisa de futuro. Dou exemplos de como transformar essa
história em futuro:
a marca “Património Mundial da Humanidade” devia servir de alavanca de cultura
em vez de caixa registadora do turismo. O Museu da Ciência, com um espólio valiosíssimo, devia unir a
Universidade e a Câmara. As bibliotecas riquíssimas, a começar na Joanina,
deviam formar, no seu conjunto, uma segunda Biblioteca Nacional, com um
programa de digitalização que espalhasse a língua portuguesa no ciberespaço. Para tudo isso e muito mais, a
escolha que se avizinha é uma magnífica oportunidade.
1 comentário:
É por demais sabido que o Salazar sempre protegeu o Benfica e a Universidade de Coimbra. Com o 25 de Abril de 1974, perdemos as províncias ultramarinas, mas ganhamos um país mais justo e cheio de prosperidades. Com Pinto da Costa, os dragões puderam usar as asas e levantaram voo. No mundo pós-moderno as grandes instituições desportivas e culturais não são viáveis sem grandes infraestruturas económicas que as sustentem pela base! Aos investigadores científicos da prestigiada Universidade do Porto nunca faltou o Vinho do Porto, em Lisboa têm a ginjinha em franca expansão, e os doutores de Coimbra para matarem a sede de saber já só dispõem das águas do bazófias!
O Benfica morreu!
O Sporting faz o caixão,
a Académica anda de luto,
e Porto é Campeão!
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