Ora, a OCDE decidiu que, de tudo o que a escola ensina, o que deveria ser avaliado com fins de comparação de países, regiões e escolas, seriam as competências funcionais para o mercado de trabalho em três áreas disciplinares: língua materna, matemática e ciências. E, assim, nasceu o Programa Internacional de Avaliação dos Estudantes (PISA), que, estrategicamente, fez mudar os currículos nesse sentido.
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Está claro que criou os documentos necessários para que cada país pudesse assumir esse "superior desígnio", sempre, evidentemente, em colaboração com "parceiros credenciados". O documento "Financial Education in Schools", publicado em 2012, é a base.
Criou também um portal intitulado "International Gateway for Financial Education" que constitui um banco centralizado de dados de educação financeira, recolhidos à escala global que acompanha e dá sustentação à "International Network on Financial Education" (INFE). Esse portal proporciona, a quem interessar, "acesso a uma ampla gama de informações, recursos, pesquisas e notícias sobre questões e programas de educação financeira em todo o mundo."
A ordem natural das coisas era que a educação financeira passasse a ser objecto de avaliação internacional, no âmbito do PISA. E já o foi por duas vezes: em 2012 e em 2015 (ver aqui, aqui e aqui).
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O "Plano Nacional de Educação Financeira", acolhido pela Direcção-Geral da Educação, e a criação de um "Plano de Educação Financeira"
têm sido devidamente concretizado em referenciais de ensino, materiais de apoio, programas de formação de professores, instrumentos de avaliação, actividades "pedagógicas", etc. Os resultados estão à vista: para grande alegria de todos, os nossos alunos têm ganhado concursos internacionais.
Mais: temos, agora, não uma, mas duas entidades, lideradas por bancos, a "trabalhar" em pleno nas escolas. E, o mais importante, com a reforma curricular em curso, a "Literacia financeira" encontra-se assegurada no ensino básico, tornando-se obrigatória em pelo menos dois ciclos de escolaridade (ver aqui).
A nossa vizinha Espanha está à nossa frente em termos de voluntarismo nesta avaliação, mas ficou abaixo da média dos catorze países participantes. Isto significa que os seus adolescentes são pouco educados em termos financeiros, uma das coisas que não sabem explicar é, precisamente, o "ba-a-ba" do Banco Mundial: a diferença entre "necessidades e desejos" (ver aqui). Solicitado a comentar este dado, o filósofo José Antonio Marina disse o que, parecendo óbvio, precisa de ser entendido e consciencializado:
"... puede tratarse de una manera de trasladar la responsabilidad desde el sistema financiero hasta los consumidores. De ahí que los detractores recuerden que el aprendizaje de los mecanismos del mundo financiero debe ser, ante todo, crítico".
1 comentário:
Partamos do princípio que a OCDE tem razão:
O conhecimento formal, que a velha escola transmitia aos alunos, está, atualmente, completamente disponível, 24 horas por dia, e gratuitamente, na internet.
Sendo assim, os currículos pesados, deveriam ser aligeirados, nomeadamente extinguindo as disciplinas "clássicas", como a Matemática, a História, o Português, a Geografia, a Biologia, o Francês, a Filosofia, etc, porque, lá bem no fundo, todos sabemos que para formarmos bons cidadãos democráticos basta que os professores lhes ensinem e eles aprendam Cidadania!
Uma vertente essencial da educação para a cidadania é a Educação Financeira. Por exemplo, num país depauperado como Portugal, os pequenos cidadãos devem começar por aprender que não devem derreter todo o seu dinheiro em gomas e telemóveis porque, é muito provável que, quando se livrarem da longa e entediante escolaridade obrigatória, tenham de comprar um bilhete de avião que os leve para países de baixa ou alta literacia financeira, mas onde haja dinheiro suficiente para pagar salários justos a doutores, não doutores e falsos doutores!
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