Resumo da conferência de Fernando Branco na próxima quinta feira, 18 horas, no RÓMULO na Universidade de Coimbra:
A consideração, por vários historiadores, de que o Almirante
Cristóvão Colon teria sido na sua juventude um tecelão genovês chamado
Cristóvão Colombo, baseia-se num conjunto de documentos encontrados em Génova e
num alegado testamento do Almirante de 1498, documento que diversos autores já
mostraram ser falso. Por outro lado, o Almirante deixou diversos textos manuscritos
e referências na sua biografia “Historia del Almirante” que permitem calcular o seu ano de nascimento. Estes
textos apontam para uma data de nascimento entre 1442-46, ou mais precisamente
cerca de 1442-43, o que inviabiliza que ele fosse o tecelão Cristóvão Colombo,
nascido segundo os documentos genoveses em 1451-52.
O nome de
Cristóvão Colon tem características particulares: Por um lado ele nunca o
assinou em nenhum documento, e, por outro lado, tendo o Almirante vivido em
Portugal, tendo feito viagens em armadas portuguesas, tendo casado com uma
nobre portuguesa, tendo lidado com D. João II durante 14 anos, o seu nome não
aparece em nenhum documento português desse período. Todos estes factos
suscitam a forte hipótese de o seu verdadeiro nome não ter sido Cristóvão
Colon.
O principal
indício sobre um outro nome associado a Cristóvão Colon vem de Lucio Marineo Siculo (1460-1533), historiador e professor da Universidade
de Salamanca, contemporáneo do Almirante que na sua crónica intitulada “De rebus Hispaniae
memorabilibus Libri XXV“ indica “…tendo los Principes Católicos, sobjugado a Canaria,…. enviaron a Pedro Colon …a
descubrir otras islas mucho mayores…”. O nome Pedro Colon é também referido pelo historiador e genealogista
português Gaspar Frutuoso (1522-1591), na sua obra “Saudades da Terra”, com
base na pesquisa dos arquivos da Graciosa (onde Pedro Correia, cunhado de C. Colon,
foi capitão donatário).
Ao contrário
da total inexistência do nome Cristóvão Colon em documentos portugueses, já o
nome Pedro Culão (ou Colon) encontra-se em registos em Portugal, como sendo um corsário
bem pago por D. Afonso V antes de 1473. Este corsário português aparece ainda
referido em vários documentos venezianos de queixa ao rei de Portugal de
ataques do corsário. Entre os corsários portugueses de meados do séc. XV, o
único que tem uma vida com muitos pontos coincidentes com C. Colon e com Pedro
Colon, foi o corsário português Pedro Ataíde.
Este nobre,
bastardo, que pertencia a uma das famílias portuguesas da mais alta nobreza, passou
provavelmente a juventude na zona de Viseu onde vivia o seu pai (zona do rio
Pavia; Colon refere que aprendeu a ler em Pavia) e onde existia o Convento
Franciscano de Orgens (Colon seguia preceitos franciscanos). Está documentado
como tendo participado na guerra de Aragão (1466) (Colon participou nesta guerra),
em ataques de corsário (desde 1469) (Colon foi corsário), como tendo
participado na conquista de Arzila (1471) (Colon vai ajudar Arzila de um ataque
mouro na sua 4ª viagem) e como tendo navegado até à Guiné (Colon navegou na
costa da Guiné). Está ainda identificado como fidalgo membro da casa do
Príncipe D. João (1476) e como corsário a comandar um navio francês da frota do
Vice-almirante Culon.
Pedro Ataíde era
familiar de Filipa Moniz (esposa de C. Colon) e teve vários filhos bastardos
(C. Colon diz deixar mulher e filhos
quando vai para Castela). Tinha além disso dois irmãos homens (tal como Colon).
Em 1484-85 a família de Pedro Ataíde participou activamente na conjura contra
D. João II, tendo o seu tio Álvaro Ataíde (com quem C. Colon esteve em Castela)
fugido para Castela em 1485 já que o filho deste, também chamado Pedro Ataíde,
fora morto pelo rei (ano em que Colon também parte para Castela).
Como corsário,
numa fase inicial da sua vida foi conhecido por “Inferno”, nome de guerra que
veio mais tarde a ser herdado por dois seus descendentes, navegadores, e também
de nome Pedro Ataíde. A sua navegação com o Vice-almirante francês Culon, a
partir de meados de 70 pode tê-lo levado a mudar o “nome de guerra” para Pedro
Culão/Colon e mais tarde, associado à sua ida/fuga para Castela, pode ter
mudado de novo o nome para Cristóvão Colon.
Pedro Ataíde,,
segundo Rui de Pina, desaparece na batalha de S. Vicente, em 1476, onde,
curiosamente, o seu barco é o único que se salva. É nesta batalha que segundo o
seu filho refere na biografia, C. Colon se salva a nado, chegando a Portugal.
Sem motivo
aparente, o Almirante C. Colon, que nunca assinou o seu nome, substituiu, a
partir de 1502 (depois de ter vindo preso das Índias), a sua assinatura de “El
Almirante” para a estranha assinatura “X po FERENS”. Nesta assinatura
representando o nome Cristo-Foro, pode também encontrar-se o seguinte
significado
X – símbolo do cruzamento de duas assinaturas ou de incógnita (usado a
partir do séc.XV).
PO – abreviatura de Pedro (ou Pero), como era usada na idade Média
FERENS – palavra cujo anagrama contem
a palavra ENFER ( “Inferno” escrita
em francês).
Este facto estabelece uma ligação com
um célebre corsário português que comandou um dos navios franceses da esquadra
do Vice-almirante Culon na batalha de S. Vicente, e que teve descendentes,
navegadores, que também adoptaram o seu nome, e todos eles ficaram na História de
Portugal conhecidos por Pedro Ataíde, o
“Inferno”.
Fernando Branco
fernando.branco@tecnico.ulisboa.pt
1 comentário:
Boa tarde.
Já se tem a analise de ADN feito a Pedro de Ataide e comparação com o filho de Colon?
Obrigado
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