terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

CRISTOVÃO COLON E O CORSÁRIO PEDRO ATAÍDE



Resumo da conferência de Fernando Branco na próxima quinta feira, 18 horas, no RÓMULO na Universidade de Coimbra:

A consideração, por vários historiadores, de que o Almirante Cristóvão Colon teria sido na sua juventude um tecelão genovês chamado Cristóvão Colombo, baseia-se num conjunto de documentos encontrados em Génova e num alegado testamento do Almirante de 1498, documento que diversos autores já mostraram ser falso. Por outro lado, o Almirante deixou diversos textos manuscritos e referências na sua biografia “Historia del Almirante” que permitem calcular o seu ano de nascimento. Estes textos apontam para uma data de nascimento entre 1442-46, ou mais precisamente cerca de 1442-43, o que inviabiliza que ele fosse o tecelão Cristóvão Colombo, nascido segundo os documentos genoveses em 1451-52.

O nome de Cristóvão Colon tem características particulares: Por um lado ele nunca o assinou em nenhum documento, e, por outro lado, tendo o Almirante vivido em Portugal, tendo feito viagens em armadas portuguesas, tendo casado com uma nobre portuguesa, tendo lidado com D. João II durante 14 anos, o seu nome não aparece em nenhum documento português desse período. Todos estes factos suscitam a forte hipótese de o seu verdadeiro nome não ter sido Cristóvão Colon.

O principal indício sobre um outro nome associado a Cristóvão Colon vem de Lucio Marineo Siculo (1460-1533), historiador e professor da Universidade de Salamanca, contemporáneo do Almirante que na sua crónica intitulada “De rebus Hispaniae memorabilibus Libri XXV“ indica “…tendo los Principes Católicos, sobjugado a Canaria,…. enviaron a Pedro Colon …a descubrir otras islas mucho mayores…”. O nome Pedro Colon é também referido pelo historiador e genealogista português Gaspar Frutuoso (1522-1591), na sua obra “Saudades da Terra”, com base na pesquisa dos arquivos da Graciosa (onde Pedro Correia, cunhado de C. Colon, foi capitão donatário).

Ao contrário da total inexistência do nome Cristóvão Colon em documentos portugueses, já o nome Pedro Culão (ou Colon) encontra-se em registos em Portugal, como sendo um corsário bem pago por D. Afonso V antes de 1473. Este corsário português aparece ainda referido em vários documentos venezianos de queixa ao rei de Portugal de ataques do corsário. Entre os corsários portugueses de meados do séc. XV, o único que tem uma vida com muitos pontos coincidentes com C. Colon e com Pedro Colon, foi o corsário português Pedro Ataíde.

Este nobre, bastardo, que pertencia a uma das famílias portuguesas da mais alta nobreza, passou provavelmente a juventude na zona de Viseu onde vivia o seu pai (zona do rio Pavia; Colon refere que aprendeu a ler em Pavia) e onde existia o Convento Franciscano de Orgens (Colon seguia preceitos franciscanos). Está documentado como tendo participado na guerra de Aragão (1466) (Colon participou nesta guerra), em ataques de corsário (desde 1469) (Colon foi corsário), como tendo participado na conquista de Arzila (1471) (Colon vai ajudar Arzila de um ataque mouro na sua 4ª viagem) e como tendo navegado até à Guiné (Colon navegou na costa da Guiné). Está ainda identificado como fidalgo membro da casa do Príncipe D. João (1476) e como corsário a comandar um navio francês da frota do Vice-almirante Culon.

Pedro Ataíde era familiar de Filipa Moniz (esposa de C. Colon) e teve vários filhos bastardos (C. Colon diz deixar mulher e filhos quando vai para Castela). Tinha além disso dois irmãos homens (tal como Colon). Em 1484-85 a família de Pedro Ataíde participou activamente na conjura contra D. João II, tendo o seu tio Álvaro Ataíde (com quem C. Colon esteve em Castela) fugido para Castela em 1485 já que o filho deste, também chamado Pedro Ataíde, fora morto pelo rei (ano em que Colon também parte para Castela).

Como corsário, numa fase inicial da sua vida foi conhecido por “Inferno”, nome de guerra que veio mais tarde a ser herdado por dois seus descendentes, navegadores, e também de nome Pedro Ataíde. A sua navegação com o Vice-almirante francês Culon, a partir de meados de 70 pode tê-lo levado a mudar o “nome de guerra” para Pedro Culão/Colon e mais tarde, associado à sua ida/fuga para Castela, pode ter mudado de novo o nome para Cristóvão Colon.

Pedro Ataíde,, segundo Rui de Pina, desaparece na batalha de S. Vicente, em 1476, onde, curiosamente, o seu barco é o único que se salva. É nesta batalha que segundo o seu filho refere na biografia, C. Colon se salva a nado, chegando a Portugal.

Sem motivo aparente, o Almirante C. Colon, que nunca assinou o seu nome, substituiu, a partir de 1502 (depois de ter vindo preso das Índias), a sua assinatura de “El Almirante” para a estranha assinatura “X po FERENS”. Nesta assinatura representando o nome Cristo-Foro, pode também encontrar-se o seguinte significado

X – símbolo do cruzamento de duas assinaturas ou de incógnita (usado a partir do séc.XV).
PO – abreviatura de Pedro (ou Pero), como era usada na idade Média
FERENS – palavra cujo anagrama contem a palavra ENFER ( “Inferno” escrita em francês).

Este facto estabelece uma ligação com um célebre corsário português que comandou um dos navios franceses da esquadra do Vice-almirante Culon na batalha de S. Vicente, e que teve descendentes, navegadores, que também adoptaram o seu nome, e todos eles ficaram na História de Portugal conhecidos por Pedro Ataíde, o “Inferno”.


Fernando Branco

IST, Univ. Lisboa, 1049-001 Lisboa
fernando.branco@tecnico.ulisboa.pt

1 comentário:

Unknown disse...

Boa tarde.
Já se tem a analise de ADN feito a Pedro de Ataide e comparação com o filho de Colon?
Obrigado

CARTA A UM JOVEM DECENTE

Face ao que diz ser a «normalização da indecência», a jornalista Mafalda Anjos publicou um livro com o título: Carta a um jovem decente .  N...