A luz que celebramos neste Ano Internacional da Luz é o principal intermediário entre nós e o mundo. Sem visão pouco saberíamos do mundo à nossa volta. Contudo, a luz que os nossos olhos captam – a chamada luz visível – não passa de uma parcela minúscula do vasto espectro de luz que está por todo o espaço – na luz invisível incluem-se as ondas de rádio, as microondas, a luz infravermelha, a luz ultravioleta, os raios X e os raios gama.
Por que vemos a uma parte da luz
e não outra? A resposta encontra-se na nossa ligação íntima ao Sol. A vida, tal
como a conhecemos, depende do Sol. Ao longo do lento processo de evolução
biológica, os órgãos de visão dos organismos nossos ancestrais adaptaram-se
para captar de forma eficiente a luz que o Sol emite com maior intensidade, que
é precisamente a luz que tem as sete cores do arco-íris (de facto, não são
sete, mas infinitas, pois existem todos os cambiantes de cor entre o vermelho e
o violeta). Outras estrelas diferentes do Sol emitem com mais intensidade na
região do infravermelho, o que significaria que seres vivos complexos que
tivessem evoluído na sua vizinhança poderiam ter, em vez de aparelhos de visão
semelhantes aos nossos olhos, câmaras de infravermelho. Seriam capazes de ver
no escuro como fazem os comandos que atacam na escuridão da noite com óculos de
infravermelhos. Sabemos qual é a diferença entre luz visível e infravermelha,
desde que em 1865, há 150 anos, o escocês James Clerk Maxwell descobriu que
todas as formas de luz eram ondas electromagnéticas. A diferença entre os
vários tipos de luz reside apenas no comprimento de onda, a distância entre
duas cristas sucessivas da onda. Toda a luz é uma onda capaz de percorrer o
vazio, mas os comprimentos das ondas infravermelhas são maiores do que os da
luz visível.
Os nossos olhos são, portanto,
câmaras muito boas para vermos perto do Sol (que, visto de fora da atmosfera, é
branco, a mistura de todas as cores do arco íris). Nas nossas retinas, que são sensores fotográficos,
recolhemos luz, que é enviada pelo nervo óptico ao cérebro, que está muito
próximo. A nossa vista é um posto avançado do cérebro, uma espécie de sentinela
que funciona em estreita conexão com a central de comando.
Quando em 1609 o italiano Galileu
Galilei olhou para o céu pela primeira vez com o telescópio, viu coisas que à
vista desarmada ninguém jamais tinha visto: montanhas na Lua, manchas no Sol,
os satélites de Júpiter. Dada a associação íntima entre visão e mente, não
admira que a uma expansão da vista tenha correspondido uma expansão do
entendimento. De repente, demos por nós num mundo não só muito maior, mas
também bem mais interessante do que aquele que percebíamos antes. Desde então,
com o auxílio de outros instrumentos, como microscópios, radiotelescópios e
detectores de raios X, temos ganho uma percepção cada vez maior do Universo. E
essa percepção alargada conduziu a um poder acrescido. Este ano de 2015
chama-se Ano da Luz e das Aplicações Baseadas na Luz por uma razão muito
simples: desde sempre saber tem sido poder. E hoje, quando o nosso saber é
muito maior do que nos tempos de Galileu e de Maxwell, o nosso poder, traduzido
em tecnologias, é incomensuravelmente mais vasto. Vemos mais e, por isso,
vivemos melhor.
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