Novo texto de Galopim de Carvalho (na figura Beaumont):
Enquanto aluno, na universidade aprendi que as rochas magmáticas ou ígneas se podem arrumar sistematicamente em ácidas, intermédias ou neutras e básicas, mas ninguém me explicou o porquê destas adjectivações. Julgo, porém, ter encontrado, na História da Química, a explicação para o qualificativo “ácidas”. Se assim não for, que me corrija quem souber.
É curioso assinalar que, se uma rocha magmática dita ácida,
caso por exemplo do granito, for esmagada e mergulhada em água destilada, o pH
dessa água fica ligeiramente superior a 7 e, portanto, alcalino ou básico. Isto
devido à presença de iões K+ e/ou Na+ que se libertam dos feldspatos alcalinos
(ortoclase, microclina ou albite)
No que se
refere aos qualificativos “intermédias” ou “neutras” e “básicas”, seria
interessante que um petrólogo, um geoquímico ou um químico pudesse facultar-nos
a respectiva explicação.
Eis, pois, os elementos que reuni:
A descoberta do oxigénio e o seu reconhecimento como o elemento mais abundante
da crosta terrestre, anunciados em 1774, pelo clérigo inglês Joseph Priestley
(1733-1804), associada à evolução da química analítica, na sequência dos
trabalhos do francês Antoine Lavoisier (1743-1794) e dos suecos Carl Wilhelm
Scheele (1741-1786) e Torbern Bergman (1749-1817) e outros notáveis químicos da época,
conduziram a que a composição química das rochas (com destaque para as
magmáticas ou ígneas) passasse a ser expressa em óxidos. Tais análises
forneciam as percentagens ponderais de ”terra siliciosa” (sílica, SiO2),
“terra argilosa” (alumina, Al2O3), “ocres” (óxidos de
ferro ferroso e férrico (FeO e Fe2O3), “cal” (CaO),
“soda” ou “alcali fixo mineral” (Na2O), “potassa” ou “alcali fixo
vegetal” (K2O), “magnésia” (MgO), “titânia” (TiO2), óxido
de manganês (MnO), “anidrido fosfórico” (P2O5), água (H2O),
“ar ácido” ou “ácido aéreo” (CO2). Este modo de caracterizar a
composição química das rochas, a par da microscopia, foi decisivo no avanço da
petrologia e, consequentemente, da geologia. Desde logo se constatou que o teor
em sílica era um bom parâmetro na organização sistemática das rochas ígneas.
Com base nesta valiosa contribuição da química, o francês Jean-Baptiste Élie de Beaumont
(1798-1874), professor de Geologia na École des Mines de Paris, cuja obra teve
larga difusão e aceitação entre ingleses e alemães, foi sensível à variação do
teor de sílica nas rochas magmáticas, critério que utilizou na classificação
que então propôs:
“rochas ácidas” com mais de 65% de
sílica;
“rochas neutras” ou “intermédias”, com
65 a 52% de sílica; e
“rochas básicas”, com 52 a 49% de
sílica.
A qualificação de uma rocha como ácida resultou da convicção, ao tempo,
de que a sílica (SiO2) era um “óxido acídico”, à semelhança do
dióxido de carbono (CO2) que, juntamente com a água, formaria uma
série de ácidos, uma ideia que vinha do século XVIII, na sequência do trabalho
de Torbern Bergman e de outros químicos do seu tempo, em que se falava de
“ácido quartzoso” imaginado com base na sílica.
O excesso de sílica evidenciado no
granito pela presença de quartzo significava, para estes autores, excesso do
“princípio acídico”, não obstante a incorrecção desta ideia. A expressão rocha ácida, manteve-se até os dias de hoje.
Galopim de Carvalho:
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