A Nova Ciência
Neutrões, fotões, protões…subitamente
com a mudança do comprimento de onda (no rádio-telescópio):
os discos crescentes do sol e da lua. Subitamente
inclina-se sobre as galáxias fugidias,
o prisma das cores. Numa visão fantasmagórica
contempla os seus próprios pensamentos, a imagem
do seu próprio rosto
quase esquecido!
Pensa que está pensando…Pensa
na matéria em que se tecem a realidade e os sonhos –
Olha: o fumo eleva-se sobre a cidade. Os homens
levantam-se das suas mesas de almoço e de trabalho…
O cansaço e as misérias do dia dissolvem-se no ar,
ar pobre –
Como uma violenta rajada de vento
que agita os pensamentos e fórmulas da época
(as simples e as complexas) ouve
a voz quase negada quase esquecida –
Em palavras que (sobretudo) parecem grãos de areia,
e quanta de luz, ele intui os caminhos luminosos
Da visão interior, a humana esperança. E vislumbra,
quando a sua imagem se quebra no espelho,
a silhueta que se vai apagando
de si mesmo, o-que-traz-auxílio, o Amigo…
A arquitectura de uma nova época não nos protegerá
da escuridão dos desertos cósmicos…
Ouçam: pássaros exilados
gritam sobre a cidade. Soam as sirenes
no outro lado do rio. Na metade obscura da terra
os homens dirigem-se apressados para o turno da noite,
sintonizam os seus rádios-telescópios, ajustam o comprimento
de onda,
buscam a nova fórmula da estrutura eléctrica e magnética do
neutrão.
Enquanto contempla os seus amigos, pensa:
nas partículas elementares da luz, no sol da noite.
Tradução: Casimiro de Brito
Livro: Vinte e um poetas suecos
Editora: Vega
Ano:1987
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