"O país foi confrontado com uma política de empobrecimento científico, com a redução do número de unidades de investigação e desenvolvimento, bem como com a redução de apoios aos estudos e formação avançada, reduzindo a pó o futuro científico de uma geração. Esta política científica terá consequências por muitos anos, dado que arrasou com equipas inteiras, queimando áreas que demoraram a construir, regressando o país a um tempo em que o estudo de determinadas matérias apenas pode ser prosseguido noutros países. Quem o fará suportando financeiramente os encargos não regressará também a esta realidade que afasta de si os seus melhores.
(...)
Orgulhosamente sós dirão alguns, quando muitos consideravam que esses eram tempos passados.
Hoje em dia desengane-se quem acredita
que ainda é possível fazer investigação séria
neste quadro. É o resultado de um trabalho
de heróis, que ainda nos mantêm nos
rankings. A vocação e a dedicação à causa
fazem com que se tente ultrapassar todos os
problemas. Já soubemos o que era trabalhar
com condições dignas, entrar em parcerias
internacionais de igual para igual. Hoje,
o quadro é tão negro que se multiplicam
os embaraços e constrangimentos com os
nossos colegas estrangeiros. Como explicar
que a reunião internacional de projecto
não pode acontecer nessa data porque a
universidade está fechada para poupar luz
e água? Que é impossível ser no pico do
inverno porque também deixou de haver
verba para pagar o aquecimento? Que
não podemos apresentar os resultados
da investigação nesse congresso, porque
não há verbas para viagens e os cortes
também encolheram a capacidade de
suportarmos esses custos partindo da
economia doméstica? Que não é possível
pagar a patente porque a universidade está
perdida num meandro administrativo, em
que qualquer gasto, mesmo que fosse no
mais banal material de escritório, é um
problema?
O pior que acontece a um país
empobrecido é que empobrece também nas
suas ideias."
1 comentário:
Porque não será por que?
Enviar um comentário