Há 50
anos, em 1965, os norte-americanos Arno Penzias e Robert Wilson descobriram a
chamada radiação cósmica de fundo, uma radiação de micro-ondas, a luz mais
antiga que conhecemos do cosmos, “luz fóssil” de quando o Universo tinha cerca
de 380 000 anos. A efeméride desta descoberta é, entre outras, uma das que
assinala o Ano Internacional da Luz que este ano se celebra.
E para assinalar e perceber melhor aquela
descoberta, a editora Gradiva publicou, em Julho último, o livro de banda
desenhada intitulado “Cosmicomix: a descoberta do Big Bang”. Nesta obra de banda desenhada os textos são da autoria do
astrofísico Amedeo Balbi e os desenhos de Rossano Piccioni, ambos italianos.
Publicada originalmente em 2013, a edição portuguesa tem tradução de Florbela
Marques, revisão científica do Professor Carlos Fiolhais e teve o apoio da
Sociedade Portuguesa de Física.
É uma
edição que se saúda não só por ser muito oportuna neste Ano Internacional da
Luz, que assinala na contracapa, mas por ser um bom exemplo de como a banda
desenhada pode ser muito eficaz na divulgação científica.
Ao
longo de 150 páginas o leitor revive a aventura das descobertas científicas ao
longo da primeira metade do século XX que mudaram a compreensão da evolução do universo em que existimos. E as personagens são os
cientistas que estiveram envolvidos nessa compreensão, através das suas teorias
e observações experimentais. Meio século de interacção científica que leva a
uma primeira confirmação da teoria do Big Bang, a mais bem
sucedida que ainda temos actualmente para descrever a evolução do Universo desde
há 13,8 mil milhões de anos.
O livro, que
apresenta uma linguagem muito acessível sem perder o rigor científico,
familiariza o leitor, por exemplo, com o físico Albert Einstein, o matemático Alexander Friedman, o astrónomo Edwin
Hubble ou o físico George Gamow, assim com as teorias que produziram. Todas as personagens que surgem nesta banda desenhada são
figuras de destaque da história da ciência que estiveram de alguma maneira
envolvidas no esforço científico para compreender a origem e evolução do
Universo. Os autores recorreram a documentação diversa para reconstituírem as
cenas retratadas. E são reconstituídos vários momentos marcantes em que
os cientistas se encontram, discutem as suas teorias e apresentam os resultados
experimentais que as suportam ou que exigem novas teorias.
A evolução da
narrativa neste livro permite, de uma forma agradável, que o leitor apreenda a
história da evolução do conhecimento sobre o Universo ocorrida no século XX,
até à descoberta da radiação cósmica de fundo pelos radioastrónomos Arno Penzias
e Robert Wilson (galardoados em 1978, por isso, com o Prémio Nobel da Física).
E permite que compreendamos bem a importância desta descoberta para confirmar a
teoria do Big Bang primeiramente sugerida pelo padre e físico belga Georges Lemaître em 1927. Aliás, o livro reconstitui uma
conversa entre Lemaître e Einstein em Bruxelas, em 1927, no qual o primeiro
expõe a sua teoria do “átomo primordial” ao "pai" da teoria da relatividade.
É de sublinhar,
nesta banda desenhada, o cuidado em explicar como a ciência se faz e evolui, e
a importância da observação e resultados experimentais que confirmam, ou não,
uma dada teoria.
O livro apresenta,
no seu final, biografias breves de todos os cientistas envolvidos, que são úteis
para despertar a curiosidade em saber mais sobre eles. Também são descritos,
nas últimas páginas, alguns exemplos de como a banda desenhada foi feita. E, no
epílogo constante nas últimas páginas o autor, Amedeo Balbi, descreve
resumidamente os avanços e descobertas ocorridas desde a descoberta da radiação
cósmica de fundo até aos dias de hoje, mostrando que ainda há muito para
conhecer: “as perguntas não acabaram e continuamos à procura das respostas”.
É, em suma, um
livro de que apresenta de uma forma muito acessível conceitos e teorias sobre a
evolução do Universo e que se recomenda a todos.
António Piedade
1 comentário:
Gostei muito do livro e vou fazer um post sobre ele e sobre o que aprendi sobre o Universo no 1º ano do liceu.
Pena que tenha um erro de tradução chato na página 37:
Na versão original em italiano na página 143 diz:
"Ora, immagina che la stanza riceva un'improvvisa spinta dal basso"
que até o google tradutor traduziu correctamente para:
"Agora, imagine que o quarto recebe um impulso repentino do fundo" (ou de baixo)
mas que infelizmente foi traduzido para:
"Agora, imagine que o quarto de repente recebe um impulso para baixo"
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