Meu artigo de divulgação sobre a luz no último "As Artes entre as Letras":
A luz
viaja a uma extraordinária velocidade à velocidade maior a que se pode viajar:
no vazio, viaja a cerca de 300.000 quilómetros por segundo (km/s), ou, para sermos completamente exactos, a 299.792.458 metros
por segundo. Este valor não vai, em princípio, mudar, por novas medições que se
façam e venham a fazer, pois o metro foi redefinido em 1983 para que a
velocidade da luz dê este valor exacto.
Pode-se
perguntar: mas a luz anda a 300.000 km/s em relação a quê? E a resposta é: em
relação a qualquer observador, qualquer que seja a velocidade a que este se
desloque. Este fenómeno vai contra o nosso senso comum, pois o mais natural
seria pensar que a luz emitida num flash tivesse velocidade diferente para quem
está imóvel relativamente à fonte ou para quem se desloca relativamente à fonte
num comboio, qualquer que seja a velocidade do comboio. O ponto de partido da
teoria da relatividade restrita formulada pelo físico Albert Einstein em 1905
foi precisamente que a velocidade da luz é a mesma para todos os observadores.
E todas as conclusões dessa teoria têm-se revelado de acordo com a experiência.
Por exemplo, uma consequência é que nenhum corpo pode ser mais rápido do que a
luz e, de facto, nunca se conseguiu qualquer transmissão de informação mais
rápida do que a luz. As partículas materiais, com massa maior do que zero,
ficam com massa maior à medida que a sua velocidade aumenta, aproximando-se da
velocidade da luz. E esse aumento tremendo da sua inércia faz com que a
velocidade da luz seja uma barreira inalcançável. Com efeito, só partículas de
massa nula, como os fotões ou “grãos de luz”, podem andar à velocidade da luz.
O valor finito da velocidade da luz tem
consequências óbvias: por exemplo, a luz do luar (luz do Sol reflectida na Lua)
demora cerca de um segundo a chegar à Terra e a luz do Sol demora cerca de
oito minutos. Quer isto dizer que, se o
Sol por qualquer acto mágico se apagasse de repente (o que não vai acontecer,
fique o leitor descansado, porque não há magias dessas; o Sol vai começar a
apagar-se e muito lentamente só daqui a cinco mil milhões de anos), só
saberíamos do apagão oito minutos depois. Seria um apagão fatal pois toda a
vida depende da actividade solar…
O árabe (iraquiano que trabalhou no Egipto) Ibn Al
Haytham, autor há mil anos do primeiro livro de Óptica, já tinha a noção de que
a luz não se propagava instantaneamente. Há cerca de 400 anos, o italiano
Galileu Galilei, um dos grandes nomes da Revolução Científica, teve a ideia de
quantificar o valor da velocidade da luz no ar. Imaginou uma experiência com
duas lanternas no cimo de dois montes, devendo um ligar a sua lanterna logo que
visse a outra ser ligada. A experiência foi feita mais tarde, mas revelou-se
infrutífera. De facto o elevado valor da velocidade da luz, a pequena distância
entre os dois montes e, principalmente, o grande tempo de reacção dos
protagonistas da experiência impossibilitam a extracção de qualquer conclusão quantitativa.
Mas Galileu observou com a sua luneta as luas mais próximas de Júpiter e foi,
na geração seguinte, um astrónomo dinamarquês Olaf Romer a usar as observações
das ocultações dessas luas por Júpiter para extrair um valor para a velocidade
da luz. A sua conclusão baseou-se na comparação de observações desses eclipses das luas quando a Terra, ao
longo do seu percurso anual de translação em volta do Sol, estava mais afastada
e menos afastada de Júpiter. Fazia uma
diferença no tempo dos eventos pois, quando a Terra estava mais longe, a luz
tinha de viajar ao longo de uma maior distância para chegar aos olhos do
astrónomo. No seu livro “Óptica” de há cerca de 300 anos o físico inglês Isaac
Newton usou a velocidade da luz medida por Romer, Outras observações de
carácter astronómico se seguiram já no século XVIII, como as que foram feitas
pelo inglês James Bradley, estas fazendo a observação das estrelas, muito mais
longínquas da Terra do que as luas de Júpiter.
Só a meio do século XIX surgiriam, pela mão de dois
franceses, Hypollite Fizeau e Foucault (o
mesmo do pêndulo de Foucault, que primeiro trabalharam juntos e depois se
separaram, as primeiras medidas da velocidade da luz feitas em laboratório. Fizeau usou uma roda dentada por onde passava
a luz até chegar a um espelho, situado a
cinco quilómetros de distância, e Foucault usou um espelho giratório. De
início, as medidas não eram tão boas
como aquelas feitas a partir da luz dos astros, mas logo se aperfeiçoaram as
técnicas para se obterem valores mais precisos.
Há 150 anos, o escocês James Clerk Maxwell escreveu
quatro equações matemáticas que descreviam todos os fenómenos da electricidade
e do magnetismo. Como esses fenómenos estão relacionados, falamos de
electromagnetismo. Manipulando essas
equações reduziu-as a duas, uma para o chamado campo eléctrico e outra para o
campo magnético (o campo exprime a acção de uma força á distância). A conclusão
foi que essas equações descreviam a propagação de duas ondas, uma do campo
eléctrico e outra do campo magnético, estando as duas associadas: quando surge
uma, surge também a outra. Qual era a velocidade dessa onda? E que onda era
essa? Já se sabia nessa altura que a luz era uma onda, embora não se soubesse
muito bem o que estava a vibrar. Maxwell, comparando o valor da velocidade
comum da propagação dos campos eléctrico e magnético (que tinha sido medido em
fenómenos electromagnéticos) com a velocidade da luz medida por Fizeau notou
imediatamente a extrema proximidade. E não pôde escapar à conclusão de que a
luz era nada mais nada menos do que a propagação dos campos eléctrico e
magnético. Foi, portanto, só há 150 anos que ficámos a saber o que era a luz:
uma onda electromagnética. E ficou aberto o caminho para se produzirem, como
fez o alemão Heinrich Hertz anos volvidos, uma luz com comprimentos de onda
maiores do que aquela que os nossos
olhos consegue captar. Chamamos-lhe ondas de rádio e hoje estão por todo o
lado.
Melhores medidas da velocidade da luz foram
realizadas no início do século XX, como por exemplo as que foram realizadas
pelos físicos norte-americanos Michelson e Morley com um instrumento chamado
interferómetro. Basicamente esse aparelho permite a interferência de duas ondas
de luz que seguem percursos distintos. Uma famosa experiência deles está na
base da teoria da relatividade restrita de Einstein. Talvez a genial intuição
de Einstein tivesse sido mais motivada por considerações teóricas, mas o certo
é que a experiência de Michelson-Morley que mostra que a velocidade da luz é a
mesma quer na direcção do movimento da translação da Terra quer numa direcção
perpendicular a essa.
Novos métodos haveriam de ser propostos para medir a
velocidade da luz até se alcançar um valor mais preciso no ano de 1983, como a
velocidade resulta de uma razão entre o espaço e o tempo, foi decidido, por
convenção internacional, fixar o metro como a distância percorrida pela
luz em 1/ 299.792.458 do segundo. A
menos que se mude essa convenção, não faz mais sentido medir a velocidade da
luz.
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