quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Dois poemas:Tolentino Mendonça e Nuno Júdice

José Tolentino Mendonça
Poema do livro “Estação Central”: 

Adília Lopes

Chamo-me Adília Lopes
sou a casa-insecto
a mulher-osga
uma colher transformada em faca
para minúsculos riscos
sou uma constante cosmológica
de acelerar galáxias
um telegrama sinfónico
na ausência de tudo
sou a verdade que prefere não sair
Do bairro

Nuno Júdice
Poema do livro “O fruto Da Gramática”:

A emergência do caos

Seguindo os princípios científicos, a teoria
da catástrofe integra o caos, como realidade,
no mundo da ordem e do previsível. Se
encho uma taça com vinho
espumante, e olho para o que se passa
dentro do líquido, as súbitas erupções de
bolhas em pontos em que o líquido parecia
inalterável, são uma amostra do que pode
suceder, a cada instante, no cosmos. Aquele
astro que brilha à nossa vista, esfumar-se-á
de súbito caso um buraco negro o sorva; e
aquele cume de ilha, algures no Pacífico, com
a verdura exuberante de uma vegetação
que se assemelha ao desenho de um hábil
explorador, pode explodir numa erupção vulcânica
que nada faria prever. Deste modo, diz-nos a Teoria,
o caos está aqui, na ponta dos dedos, e talvez
algo possa acontecer quando, ao chegar
ao fim do poema, ponho um ponto final,
isto é, um ponto que me parecia final antes
que um erro do teclado, no computador, apague
tudo o que escrevi, e me confirme a exactidão
da catástrofe já não como teoria, mas como
pura realidade.

1 comentário:

Ó velha negra disse...

Adoro gozare mé-mé-ss!

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