As "audiências prévias" (que não o são de facto, a FCT nem sequer conhece o Código de Processo Administrativo) não fizeram desaparecer as enormes irregularidades do processo de um momento para o outro, como que por um passe de mágica: começou na quota escondida de 50% de aprovações, continuou na alteração das regras a meio do jogo e acabou na emenda a posteriori dos dados da produtividade científica. E não é porque passaram três meses desde que saíram os resultados iniciais e porque as irregularidades já são conhecidas há algum tempo que elas deixam de ser irregularidades e de serem irregularidades relevantes. As irregularidades de um processo que ainda está a decorrer e que terá efeitos para os próximos seis anos não prescrevem assim tão rapidamente nem assim tão facilmente. Agora soma-se mais uma irregularidade, pois a FCT nem sequer leu, a avaliar por vários casos que conheço, o contraditório que lhe foi apresentado. Desenganaram-se, portanto, os mais ingénuos que pensavam que a "audiência prévia" era um acto sério que poderia corrigir um processo isento de seriedade. A FCT, aparentemente, nem sequer procurou outros júris para emendar as asneiras cometidas pelos primeiros.
Uma avaliação pouco séria só podia ter resultados pouco sérios:
-> Centros com muita produção, muito
impacto, e muita produção por investigador (portanto cuja investigação
foi sistematicamente avaliada por pares durante vários anos) foram
reprovados.
-> A passagem à segunda
fase não está correlacionada com impacto da investigação ou produção por
investigador, o que denota a injustiça do processo.
-> Foram bastante afectadas áreas onde a
investigação portuguesa tem maior impacto (ver gráfico 5 do documento
Produção científica em Portugal, um documento do Ministério da Educação e Ciência:
-> Algumas decisões parece terem sido políticas e não científicas.
A única diferença relevante é que alguns centros da Universidade de Lisboa (incluindo, curiosamente, o do Reitor da Universidade de Lisboa e o do ministro da Educação e Ciência), foram salvos do patíbulo. Ficam agora a pairar dúvidas sobre a posição do Reitor António Cruz Serra da Universidade de Lisboa. Senhor Reitor: a avaliação que criticou tão duramente passou de repente a ser boa porque o seu centro e alguns outros de Lisboa foram agora salvos in extremis? Aceita "melhoria de nota" dada por pessoas que, na sua opinião, são de má qualidade, por avaliadores que nem sequer teriam um lugar de professor auxiliar na Universidade que dirige? O problema não é, evidentemente, só do Reitor de Lisboa, mas de outros responsáveis de unidades e instituições nacionais: aceitam eles, aceitamos nós todos, o vexame de serem, sermos, julgados por júris sem as necessárias qualificações. num processo inquinado logo à partida em que as regras são violadas a meio e alguns dados alterados no final?
Chegou a hora de avaliar a FCT, com base não só nesta última "peça" como no seu trabalho ao longo do ano. E a verdade é que os mesmos não têm sido capazes e não são capazes de fazer mais do que o mesmo que têm feito, que é liquidar à viva força metade da ciência nacional. Alguém teve a ideia pouco inteligente de cortar metade das unidades de investigação nacional e obteve do ministro a assinatura por baixo dessa inaudita ideia. Salvador Dali disse aos pintores sem talento: "mesmo que vos esforceis por pintar mal, muito mal, notar-se-á que sois medíocres." Nós temos na actual FCT gestores sem qualquer talento para a gestão de ciência. A FCT, com o apoio do ministro Nuno Crato (que ficará para a história como pior ministro da Educação e Ciência do regime democrático), revelou ao longo desta "avaliação" das unidades e já antes na avaliação de bolseiros que é medíocre. Bem pode tentar - e bem tenta, como ocorreu com a "audiência prévia" - mostrar que é pior do que medíocre, que nós generosamente mantemos-lhe a nota de medíocre.
2 comentários:
Já agora, falta referir a mediocridade das avaliações nos concursos "Investigador FCT".
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