domingo, 3 de março de 2013

OBVIAMENTE, DEMITO-O!

Novo texto da leitora Antónia Vasconcelos.
Para quem se não lembre, ou não saiba, a expressão que dá título a este post ficou célebre na nossa História há uns cinquenta, cinquenta e poucos anos. Foi uma expressão corajosa e o jornalista que fez a pergunta e recebeu esta resposta sabia a bomba relógio que estava a colocar nas mãos do entrevistado. Este era nem mais nem menos que o General Humberto Delgado.
Durante a campanha para a Presidência da República, concorrendo junto com Américo Tomás e Arlindo Vicente, um jornalista perguntou ao General, no caso de ser eleito, o que faria ao então primeiro-ministro, Oliveira Salazar. “Obviamente demito-o”, respondeu ele sem hesitar.

Esta postura e certamente outras que então teve valeram-lhe passar a ser conhecido como “O General Sem Medo”. Foi cobardemente assassinado algum tempo depois. Salazar não perdoava a quem se lhe opunha. Vivíamos uma Ditadura. E em Ditadura, só há uma voz, não se admitem discordâncias nem oposições. Era claustrofóbico, no mínimo.

“O desemprego jovem tira-me o sono.”
“No dia em que tivermos medo estamos arrumados.”
Miguel Relvas, ministro.

Isto quer dizer que o ministro Relvas tem medo.
Medo de quê?
De ouvir cantar “Grândola”, que nem sequer conhece bem?
De perguntas incómodas sobre a licenciatura obtida numa espécie de jogo aos dados?
De não dormir por causa do desemprego jovem?

É curioso que refira o desemprego jovem e não os jovens desempregados.
Pode parecer a mesma coisa, mas não é.
O desemprego é uma entidade abstracta, mede-se em números.
Os jovens desempregados são pessoas, têm identidade, não são números.
São pessoas que sentem, que aprendem a viver, que têm competências e talentos para fazerem parte do futuro do país e intervirem no seu futuro.
E o governo do país, do país que tanto necessita de pessoas competentes, diz-lhes que não precisa deles, que emigrem...
Em vez de estudarem para se licenciarem por que não se meteram num partido para terem hipóteses de chegar ao poder?
Deviam ter andado a colar cartazes e a fazer uns favores a este e àquele dos grandes.
E depois faziam o que fez o Relvas!
Canudo garantido, influências, conhecimento dos pontos fracos de quem convém para na devida altura cobrar, estão a ver?
Muito mais eficaz!
Mas é preciso ter estômago.
E o Relvas vê-se que come de tudo sem problemas.
Parece que tem problemas com o sono, mas não parece andar mal dormido.
Ou então já anda a tomar uns lexotans.

Voltando aos medos do ministro Relvas:
Falta-lhe a experiência de situações críticas,
de quem teve de lutar por um lugar ao sol sem a sombra do partido ou outra qualquer a protegê-lo.
Falta-lhe a coragem de se submeter a exames depois de horas e horas de estudo e directas para mais umas voltas nas matérias.
Falta-lhe não ter passado pela tropa nem por uma guerra.
Sair à rua, devia ser de casa para o partido e do partido para casa.
Soube-se encostar para depois receber o pago.
Só assim se compreende que ainda não tenha sido demitido, já que não tem iniciativa nem inteligência para o fazer.
Mas há algo de que se pode orgulhar: de não ter medo do ridículo.
Será que sabe o que isso é?
E também não sabe ou não percebe que já perdeu tudo o que tinha a perder.
Só sabe que, se cair, não cai sozinho.

Mas ter medo de mostrar medo de uma “Grândola”, não é próprio de gente crescida,
quanto mais de um governante que ainda por cima é ministro!
Ministro de um governo que não quer manifestações de oposição nas ruas…
Ministro de um governo que quer governar num país claustrofóbico…
Ministro de um governo que ficaria bem no retrato duma Ditadura…

Coimbra, 1 de Março de 2013
Antónia Vasconcelos 

17 comentários:

Anónimo disse...

Rui Gonçalves


Hajam mulheres!

...com aquilo que a muitos dos nossos homens "governantes", e não só, lhes falta...

Saúdo, com o maior respeito, Antónia Vasconcelos, pela sua excelente e pertinente intervenção.

José Batista disse...

E o pior é que o tempo de esvurmar o governo demitindo Relvas já passou há muito.

Agora não temos (propriamente) governo, temos uma "coisa" que é uma ferida e uma nódoa.

Fugir(-lhe) como? E para onde?

Cadê, a alternativa?

Unknown disse...

WTF?

Anónimo disse...

Rui Gonçalves


Vasco Gama

Por favor, pode-nos escalerecer qual o conteúdo do seu comentário, com uma simples: WTF?

Agradeço.

Cisfranco disse...

Não há hipótese de esvurmar tal nódoa, pedra angular do Governo. Só esperar mesmo pelo fim do tempo.

Anónimo disse...

WTF=?

Antónia Boavida

Unknown disse...

WTF é uma imprecação (sem qualquer conteúdo explícito), mas manifesta inquietação e alguma perplexidade.

Anónimo disse...

Rui Gonçalves


Àh, pois, fiquei "completamente esclarecido".

Mas já agora, qual é o significado da "SIGLA" (?) WTF?

Peço, desde já, desculpa da minha ignorância.

Obrigado.

Antónia Vasconcelos disse...

Há políticos para além dos partidos.
Os partidos já deram o que tinham a dar.
O PM devia reformular o seu governo, limpar as nódoas e ir buscar gente boa e competente que tem noção do dever. Gente que não está refém do calendário eleitoral. Gente que pode e quererá ajudar a resolver os problemas do país.
E o PR já devia estar acordado. Hibernar é coisa de animal e de computador.
Sinceramente, é tempo de o PM dar a volta à sua política, amanhã será demasiado tarde.

Unknown disse...

em português "WTF?" poderia ser traduzido por "como?"
já sigla, em si, é uma abreviatura do inglês (what the fuck?)

Agostinho disse...

A figura que fez a cantar "Grândola Vila Morena" foi patética.
Não há quem lhe pegue na mão e o leve para as Berlengas, local previlegiado para o seu tipo de espécie?
Ganhava o país e ele ainda poderia ganhar a salvação (eterna).

AJ

Anónimo disse...

É um texto indignado com o Miguel Relvas. E, portanto, cheio de razão.Já todos percebemos, há muito, o corrosão que o Relvas e os seus assuntos, as suas trapalhadas e jogadas, a sua falta de estrutura mental estão a causar no Governo. É a grande razão do desgaste deste Governo. De passagem - sendo de facto a razão central do texto - os partidos e a sua crise: dando carreiras, promovendo os mais ativos e "espertos", os mais "yes man", e criando assim esta "claustrofobia" política que toda a gente sente e que os partidos e as suas direções não querem ver, nem alterar, numa estratégia suicida. Era preciso outra mentalidade e outra atitude que, pelas razões acima, lhes é impossível. É um texto sentido, na linha do que muitos (muitíssimos) portugueses estão a sentir. Acaba com uma mistura entre o Relvas e o Governo com o que já não concordo. Há gente séria no Governo que está a fazer bom trabalho. E desconfio, por outro lado, que qualquer outro partido fosse capaz de fazer muito melhor. Provavelmente, a ter em conta o que se ouve e se vê, as coisas ficariam ainda bem piores.

Antónia Vasconcelos disse...

A minha indignação não é apenas com M.R., é com tudo aquilo que ele representa e que são amostras do estado a que o nosso país chegou:
o descrédito das instituições, que deviam estar acima de qualquer suspeita; as leis em linguagem ambígua para permitirem fugas ou obrigarem a pareceres pagos a peso de ouro; a impunidade que alastra sem controlo como a erva daninha; a falta de transparência nos ócios e negócios do estado; as dinastias que vão florescendo à sombra dos grandes e dos pequenos poderes; os concursos públicos que se fazem por medida para servir determinado candidato; enfim, todas essas sem vergonhas com que constantemente nos brindam os senhores do poder; é claro que isto não é de agora, mas já não há tapete que cubra tanto lixo acumulado.
Quanto aos partidos, estamos de acordo, caro Anónimo: o teatro que representam, que mais parece uma tragicomédia mal ensaiada, não tem graça e não é de graça. Como somos nós a pagá-lo, devíamos exigir que se preparassem melhor, indo à escola da vida que é a grande mestra. E que também fossem lendo alguma coisa sobre como funciona uma verdadeira democracia.
E por aqui me fico, que o desabafo já vai longo.

Unknown disse...

Chegados a este ponto, numa democracia representativa, não há muitas alternativas, mas há algumas que todos os cidadãos indignados com este estado de coisas podem escolher de acordo com a sua consciência, e eu enumero algumas:

1- deixar tudo como está;

2- uma participação política mais activa por parte das pessoas boas e integras deste país, procurando remover a influência dos políticos incompetentes e corruptos;

3- organizarem-se no sentido de levar a cabo um golpe de estado e efectuar uma limpeza da classe política, instaurando um outro regime (à escolha do freguês)

Anónimo disse...

Antónia de Vasconcelos,
O Relvas é um distinto seguidor dessa estirpe de licenciados cujo mais famoso elemento ascendeu a primeiro ministro de Portugal, com os resultados que se sabe...
Já agora: também escreveu um texto semelhante sobre o inginhêro?
Saudações,
JM

AV disse...

Parece-me que mais uma vez a virtude está no meio, alternativa 2, que pode ser viável começando por uma remodelação ministerial, removendo os tais incompetentes e corruptos e abrindo a porta a gente com perfil de integridade e transparência, capacidade de dialogar com os parceiros sociais de forma a que o poder não perca a face, como já aconteceu demasiadas vezes.
O problema é que se exige sacrifícios a uns e logo se criam excepções para outros.
Há gente que quer continuar a ter regalias como se não houvesse crise. E os governantes não dão o exemplo, exibindo carros caríssimos, férias fantásticas etc.etc.etc.
E depois a justiça está como se sabe, escandalopor samente inoperante, enfim, não se augura nada de bom esse lado.
E os responsáveis acham que não é nada com eles, a começar pelo actual PR quando foi PM, um Guterres que não foi capaz de chegar ao fim, um cherne que fugiu para Bruxelas antes que a castanha lhe rebentasse nas mãos, um pseudo-engenheiro, que tratou sobretudo da sua vidinha, um director ou presidente do Banco de Portugal que não fez o que lhe competia e foi premiado indo para o BCE, e assim por diante.
Com estes e outros exemplos, uma infinidade de políticas de resultados duvidosos, esbanjamento de meios em estudos e dossiers que ficaram nessas gavetas sem fundo onde se perdem os fundos do estado...
E depois ainda temos essa pérola do Atlântico,esse jardim que é outro posso sem fundo...
Que nojo!

AV disse...

Por lapso, distracção ou por uma relação com o chamado "posso, quero e mando", tão ao gosto do tal jardim, onde se lê "posso", deve ler-se "poço", o referido poço sem fundo que é essa pérola do Atlântico. Até a natureza está a castigá-la, talvez para mostrar investimentos feitos sem a consultar...

"A escola pública está em apuros"

Por Isaltina Martins e Maria Helena Damião   Cristiana Gaspar, Professora de História no sistema de ensino público e doutoranda em educação,...