“Só uma política inspirada pela preocupação de atrair e de prover os melhores, esses homens e mulheres de qualidade que todos os sistemas de educação sempre celebraram, poderá fazer do ofício de educar a juventude o que ele deveria ser: o 1.º de todos os ofícios” (Pierre Bordieu, 1930-2002).
Em resposta ao comentário da leitora” Nan” (19 de Agosto , 16:25) , a este meu post, em epígrafe, começo por dizer não poder estar mais de acordo e agradecer-lhe as perspectivas trazidas para uma polémica que está longe de terminada. Jubilosa e tristemente de acordo. O júbilo brota do facto de, só por mim me autorizo a falar, estarmos ambos de acordo em muita coisa. A tristeza nasce dos exemplos desastrosos para a qualidade de ensino que enumera. Sou do tempo em que no ensino liceal (antes do aparecimento das alíneas de acesso ao ensino superior) se dava Latim e Português, em separado, nos 4.º, 5.º e 6.º anos, com traduções de textos do "De Bello Galico", em que Júlio César relata as “Guerras Gálicas”. E que úteis me foram esses ensinamentos!
Mas tanto ou mais grave ainda do que a subalternidade do Latim nos dias de hoje parece-me ser o facto citado no livro "Reinventar Portugal" (Editorial Estampa, Ldª. e Autores, 2012, p.202), por Maria do Carmo Vieira, uma sua autora e uma distintíssima professora do ensino secundário, incansável lutadora na denúncia escrita e televisiva de verdadeiros atentados (ou mesmo crimes) que se têm cometido no ensino em Portugal, em anos de autêntico desvario em que a "pedagogia" subalternizou a exigência de formação científica dos professores. Transcreveu esta distinta Colega, a páginas tantas, com muita generosidade, o seguinte naco de prosa: “O próprio ex-ministro do Ensino Superior defendeu a “criação de cursos superiores de especialização tecnológica, através de formações curtas e de acesso fácil’ «para cujo acesso seria abolida a prova de Língua Portuguesa» tida por Mariano Gago como um funil social’” ( Rui Baptista, «A Literatura Portuguesa, um “funil social?”, in De Rerum Natura, 16 de Junho de 2011).
Para se ver até que ponto certos políticos estão preocupados com estas coisas (pelos vistos, para eles de lana caprina), transcrevo um exemplo apresentado num artigo por mim subscrito: “Contrariamente a um parlamentar que em resposta à crítica de Sophia de Mello Breyner sobre a má redacção de um texto legislativo, argumentou que ‘o povo não precisa de gramática’, o conceituado jurista Almeida Santos, conhecido pela elegância da sua escrita literária em vários domínios (de entre eles o legislativo) escreveu que as actuais leis portuguesas chumbavam na antiga 4.ª classe” ( “Pocesso de Bolonha, Universidades e Politécnicos”, “Diário de Coimbra”, 13/04/2006).
Atentemos agora nesta passagem de prosa da supracitada autora do referido comentário: “O «Inglês no 1º ciclo» é uma brincadeira e sabe deus a quem está entregue - enquanto se lançam no desemprego milhares de professores de línguas, com formação superior, estágio pedagógico e experiência de leccionação, em alguns casos superior a dez anos”. Em útil recurso ao meu latim liceal, hoc opus hic labor est, as escolas superiores de educação foram criadas para outorgar o bacharelato aos docentes do 1.º ciclo do ensino básico (antiga instrução primária), mas logo criaram variantes, v.g.. em Português e Francês para darem aulas no 2.º ciclo do básico (e actualmente também, do 3.º ciclo) em paridade com os professores licenciados por universidades, como se acrescentar um simples ano ao 3.º ano do bacharelato para esse efeito fosse a mesma coisa. Não é a mesma coisa, de forma alguma. E aqui pergunto: O músico falhado que martela as teclas do piano, sem qualquer arte, e uma pianista como Maria João Pires fazem trabalho igual?
Aliás, essa diferença foi reconhecida e bem expressa por uma estudante universitária durante uma Assembleia Magna da Associação Académica de Coimbra (3/10/1996): “Nós [universitários] suamos mais e trabalhamos mais do que os do Politécnico. ‘Setenta por cento marxista’, Cristina, originária de Bragança, estudante da Faculdade de Ciências e Tecnologia, subiu anteontem à noite ao palanque da Assembleia Magna da Associação Académica de Coimbra (AAC), dissertou sobre as túnicas de Cristo e, às tantas, a propósito da alteração da Lei de Bases do Sistema Educativo, conseguiu arrancar a primeira chuva de aplausos da sessão” (“Público”, 01/11/1996). Nesse mesmo artigo, é feita, outrossim, a seguinte referência: “Inédita em assembleias magnas, foi a intervenção d um sindicalista Rui Baptista, presidente da Assembleia Geral do Sindicato Nacional dos Professores Licenciados [a que acrescento a minha condição de docente de umas das faculdades da Universidade de Coimbra], solidarizou-se com as causas dos universitários e alertou para o facto de, hoje em dia, ‘toda a gente’ querer ir para o 3.º ciclo e o 1.º ciclo estar a ficar ‘sem professores’. O alerta coincidiu com uma das conclusões do parecer que a AAC vai enviar à Comissão Parlamentar de Educação no sentido de se elaborar um estudo que averigue as necessidades do país em matéria de professores nos próximos 10 a 15 anos”. Caiu esta alerta em saco roto, passados que são 16 anos assistimos a um excesso de professores não apenas previsível mas, agora, efectivo.
Não sou de chorar sobre o leite derramado. Atempadamente, escrevi:”A macromelia aí está, as super-escolas superiores de educação, dezasseis no seu total. E se os actuais licenciados pelas Faculdade de Letras e Ciências excedem em muito a procura do mercado de docentes, o que sucederá daqui a meia dúzia de anos com o espantoso acréscimo de outros desempregados, saídos das escolas superiores de educação, a concorrerem ao ensino básico que, dentro de nove anos, segundo a Lei de Bases, se estenderá até ao nono ano de escolaridade obrigatória? Subjacente: não reunirá a Universidade melhores infra-estruturas humanas e materiais e uma melhor rentabilidade de processos?” (“Diário de Coimbra”, 21/02/87).
A propósito, ou melhor, bem a propósito, dei de caras ontem (dia 19 de Agosto) com um artigo de opinião de uma professora jubilada do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa de que transcrevo o parágrafo inicial: “Num recente artigo, o professor de Biologia E.J. Burris afirmou que o baixo desempenho dos alunos dos EUA em testes internacionais de ciência (TIMSS e PISA) se deve aos professores. Explicando que o sistema educativo dos EUA possui métodos para melhorar a educação em ciências afirma que nenhuma abordagem pode ser sustentada com sucesso sem professores brilhantes, bem preparados e apoiados. E continua, dizendo que as lições a retirar do sucesso dos alunos finlandeses naqueles testes são simples: recrutar de entre os melhores candidatos a professores ( a Finlândia aceita apenas cerca de um em cada dez candidatos) e prepará-los muito bem” (“ Público”, Ana Maria Morais).
Em Portugal, e há que repisá-lo tantas vezes quantas as necessárias, se para um lugar docente se candidatarem um professor com formação universitária e um outro saído do politécnico, por exemplo, para a disciplina de Matemática do 2.º ciclo do básico,e se este tiver um simples valor a mais da nota de diploma politécnico passará à frente daquele de formação universitária. Ou seja, por pós de perlimpimpim, o milagre da evolução do ensino em Portugal está na involução da formação dos professores como quem lança moeda falsa num mercado cambial em colapso.
Terão aspirado, porventura, os responsáveis por este deplorável estado de coisas, serem mais lúcidos do que o filósofo e sociólogo Pierre Bordieu? Há gente com ego para isso e muito mais!
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14 comentários:
Todos nós desejamos no nosso íntimo ser diferentes dos demais, ainda que colegas, irmãos o simplesmente vizinhos. Para melhor, mais poderoso, mais conhecedor, mais educado, mais bem aceite, ainda que a evidência não o demonstre.
Disso é bom exemplo a percepção que hoje temos das diferenças entre o ensino superior universitário e o politécnico, particularmente no caso da formação de professores.
Andamos a brincar ao ensino já lá vão muitos anos, na universidade e no politécnico. Após a instalação do processo de Bolonha, a diferença que havia em termos do número de anos de formação esbateu-se completamente.
O que restou aos profissionais e candidatos a professor? A escola que frequentou e o profissionalismo que possui na contínua formação pessoal e profissional, sem desmandos nem exigências sindicais, aquela que depende exclusivamente do desejo pessoal de melhorar. Que quero acreditar que ainda há profissionais que o têm e exercem ao longo da sua vida.
É evidente que o texto de Rui Baptista está cheio de razão. E honra lhe seja feita pelo combate que, há anos, anda a travar por esta causa. Mas como os medíocres nunca desarmam, o seu combate tem sido improfícuo. Finalmente os factos, acabaram por lhe dar razão. A nossa tradicional incapacidade de previsão, a desonestidade de muitos e o oportunismo de muitos outros, trouxe-nos à atual situação. Era evidente que criar, de uma assentada, tanta escola superior de educação era tão pouco inteligente como desonesto. Desde logo porque só num pais de políticos ignorantes é que se desconhece que não podiam ser boas, pela razão de que não teriam professores de qualidade em quantidade suficiente. E era também evidente que, ao fim de alguns anos, haveria professores a mais, e de má qualidade. Se acrescentarmos os institutos particulares que, vendo o furo, começaram a formar professores por uma pá velha e de todas as formas e feitios, como o beneplácito dos sucessivos Ministérios da Educação,chegou-se à brilhante a situação atual. Como não podia deixar de ser. Agradeçam todos aos sucessivos ministros e, aos que quiseram ser professores do "ensino superior" sem terem que prestar grandes provas para isso e, acima de tudo, ao senhor Mário Nogueira, esse verdadeiro educador da classe docente, e a outros idênticos antecessores, que desde 74 têm trabalhado, com grande eficácia, para degradar a classe.
Meu caro Rui Baptista
São dolorosamente verdadeiras, as suas palavras.
Muito bem haja por não desistir de as lembrar.
Já agora, do artigo da Professora Ana Maria Morais, há outros aspetos terrivelmente dolorosos e prejudiciais que, vendo, ouvindo e lendo, não podemos ignorar, como sejam:
"São poucos os alunos academicamente brilhantes cujo interesse pela profissão de professor consegue ultrapassar a falta de reconhecimento social"
"Os formadores de professores são professores do ensino superior de diversas áreas, incluindo as ciências da educação, que não têm formas institucionais próprias e eficientes de formação no sentido da excelência. Os professores de educação só ocasionalmente são recrutados de entre os melhores professores do ensino secundário. Estabelece-se um ciclo reprodutor no processo entre quem seleciona (os professores do ensino superior) e quem é selecionado, conduzindo à não excelência dos futuros formadores de professores".
"O baixo nível da formação dos professores é um compósito de deficiências de dois tipo: os processos de seleção e a competência dos formadores de professores".
Não admira, pois, que uma mediocridade monstruosa tenha crescido, se tenha multiplicado e tenha enchido a escola inteira.
Chame-se-lhe "eduquês" ou outra coisa qualquer.
Diz ainda a Professora Ana Maria Morais:
"O problema é mais difícil de tratar do que qualquer visão simplista possa ver fazer crer".
Pois é.
Correção de erros: no sexto parágrafo "tipos" e não "tipo"; no penúltimo parágrafo, a palavra "ver" está a mais.
Culpa minha.
Quero, em primeiro lugar, agradecer ao Rui Baptista por poder debater estes assuntos que tanto tocam a todos os professores com a calma e a ponderação necessárias. Quase deixei de comentar em blogues porque, mais tarde ou mais cedo, aparecia um «troll», ou vários, a desviar o debate para a estupidez.
De seguida, queria trazer um outro ponto ao debate: se a formação inicial de professores tem vindo a baixar de qualidade a olhos vistos, e a «formação contínua» seria cómica se não fosse trágica, temos ainda os programas que parecem ter sido concebidos de propósito para que seja impossível a mínima ponte entre disciplinas (os meus bons alunos de 11º ano - mesmo bons - ficaram genuinamente espantados quando lhes chamei a atenção para o facto de que o Aristóteles de quem Padre António Vieira falava era o mesmo que tinham estudo em Filosofia, e este era o mesmo de quem já tinham falado em Geografia, o mesmo de quem falavam em História e por aí adiante) e cujos autores engolem até à linha toda e qualquer experiência universitária, autóctone ou traduzida, e imediatamente resolvem aplicá-la como programa nacional. A TLEBS, o seu filho - «Dicionário Terminológico» - e o Novo Programa de Português para o Ensino Básico são bons exemplos do que digo. Este ano de 2012-13 vou ter que ensinar aos meus alunos do 7º ano que os adjectivos (adjetivos, aliás) têm como características o facto de qualificarem nomes (a que já não posso chamar substantivos)e o de terem variação de grau e, em seguida, numa cambalhota atlética, que há dois tipos de adje(c)tivos: os qualificativos e os numerais (primeiro, segundo, os antigos ordinais), distinguindo-se estes últimos por... não variarem de grau nem qualificarem coisa alguma. É uma pérola entre muitas.
Chumbo quente: velado cerro a matemática quem julga do povo nem precisar a gramática.
Caro anónimo (20 Agosto, 06:34):
Infelizmente, assim é. Muitos diplomados, quer sejam universitários ou politécnicos, cristalizaram nos conhecimentos iniciais académicos, sem procurarem uma valorização pessoal posterior.
Muitas vezes, as próprias acções de formação eram cumpridas como uma “chatice” (seja-me perdoado o plebeísmo) para subir de escalão na carreira docente, agravando-se a situação com casos em que um professor de uma determinada disciplina (por falta de uma acção específica da sua área) frequentava uma acção que nada lhe interessava e nada contribuía para a valorização da disciplina a ministrar. Pior do que isso, eram (sem generalizar) essas acções, mesmo que específicas, ministradas por ensinantes de grau académico inferior aos ensinados.
Enfim…estão longe de estarem esgotados os exemplos o das inúmeras asneiras que se andaram a cometer com dispêndio grave para o erário público ou para os dinheiros que jorravam da Comunidade Eurupeia. Como diria o conde Abranches (em eufemismo supressor da forte expressão “vilanagem”…foi um fartar!
De tudo isto o que restou, em excepcionalidade? A formação pessoal (auto-formação), “sem desmandos nem exigências sindicais no desejo pessoal de melhorar”, como escreveu. Comungo completamente do seu optimismo, que o dia-a-dia de quem com eles conviveu como colega ou alunos, atesta, com letras grandes, que há profissionais que muito honram o seu múnus dando a garantia de que o mundo do ensino nacional, embora doente, não se encontra estado comatoso.
Caro anónimo (20 Agosto, 10:31):
Depois de lhe agradecer o seu comentário, a seu exemplo, começo por reconhecer ter sido o meu um trabalho improfíquo ( mas sempre na esperança de que o ditado se cumprisse: “Água mole em pedra dura, tanto dá até que fura”!) de quem, como eu, pela idade e experiência de vida já tinha obrigação de saber. Apesar de tudo, o único mérito que me reconheço (se é que de mérito se trata) é continuar a chamar, mesmo depois de aposentado, a atenção pública para as graves injustiças que se têm cometido nestes últimos anos em que o mérito dos professores mais classificados tem cedido terreno a um sindicalismo de portas abertas na defesa da mediocridade e de interesses sindicais que lhes são caros. Mas que quer, meu caro comentador, servindo-me de um outro ditado: “Burro velho não aprende línguas”. Talvez por isso, assumo a recusa em comungar do desalento pessoano: “Já não me importo / Até com o que amo ou creio amar. / Sou um navio que chegou a um porto / E cujo movimento é ali estar”.
E porque assim o entendo, insisto, nem que para isso seja, mais do que necessário, forçoso mesmo, relembrar um passado recente, já que para T.S. Elliot “o tempo passado e o tempo presente fazem ambos parte do tempo futuro”. Atente-se, por exemplo, no verdadeiro regabofe, repito regabofe, que tem havido na formação de professores em Portugal. Segundo jornais da época, em 87, ou seja há um quarto de século, ”havia 9000 licenciados em Letras no desemprego”. Ou seja, aquilo a que o jornal espanhol “El País” classificava de “desempregados de luxo”, responsabilizando o governo de “nuestros hermanos” (e este é um princípio importante a reter por este lamentável estado de coisas que implicava uma deficiente gestão dos dinheiros públicos).
Entretanto, dando o sistema educativo da gente lusitana, também, sinais evidentes de claudicação, para demonstrarem serem mais (im)previdentes e terem mais um dedo de testa o que fizeram vários governos para debelarem uma crise de excesso de mão-de-obra na docência dos 2.º e 3.º ciclos do ensino básico? Fizeram o diagnóstico da situação a olho nu (nanja, que nada temos a ver com o que se passa em Espanha e a aprender com as terapias aí utilizada!) e por simples apalpação, assumindo a curandice com ares de sabichões aplicando a terapêutica, sem delongas ou hesitações: permita-se que os diplomados pelas escolas superiores de educação leccionem no 3.º ciclo do básico amputando-se essa exclusividade aos professores de posse de uma licenciatura universitária e já excedentários em função das necessidades deste rectângulo europeu.
Uma terapêutica eficiente e, como tal, de efeitos seguros, não foi igualmente aplicada no desemprego existente noutras áreas profissionais exercidas por diplomados com cursos superiores, abrindo-se, a exemplo do sector da educação, mais universidades e escolas politécnicas oficiais e privadas. Num caso concreto, segundo Vaz Lopes, da Ordem dos Engenheiros, havia, segundo o “Correio das Manhã” (10/05/1996), “mais de 850 cursos superiores autorizados a funcionar, enquanto em paises mais desenvolvidos como a Holanda, o número total de cursos superiores não ultrapassa os 250”. Esta megalomania foi renegada, qual filha enjeitada, pelo próprio Vital Moreira, quando escreveu, em transcrição que fiz num meu artigo de opinião: “A ideia de democratizar o ensino superior pela via da banalização do acesso e pela crescente degradação da sua qualidade não é somente um crime contra a ideia de ensino superior, é também politicamente pouco honesta” (“O hibridismo do ensino politécnico”, Diário de Coimbra, 22/03/2003).
(Continua)
(Continuação)
Opinião bem diferente teve na altura Ana Maria Bettencourt, com o peso institucional de presidente do Conselho Nacional de Educação e, talvez, razões afectivas de antiga presidente do Conselho Directivo de uma escola superior de educação (de Setúbal) que considerou as ESES (e passo a citar textualmente)” como um projecto coerente, em que tudo foi planeado, desde os edifícios aos professores e funcionários (“Público”, 26/!0/96). Coerência esta que não bate com a perdigota quando comparada com a opinião de um “compagnon de route”, da ESE de Castelo Branco, Válter Lemos, quando declara em igual altura e idêntica situação: “É preciso saber em que áreas os docentes fazem mais falta para podermos trabalhar nesse sentido”.
Ou seja, sem dúvida que os problemas do desemprego dos docentes não se podem divorciar da implicação que têm em termos económicos para a saúde de um país, mormente, em período de grave crise económica em que os dinheiros públicos não podem ser desbaratados levando o governo, em última instância, a não manter escolas superiores, autênticas padarias estatais que lançam para o mercado pão mal cozido e de má qualidade que ninguém compra com evidente prejuízo para o produtor que somos todos nós com impostos que pagamos. Em abono deste princípio, Frederich Hayek, galardoado com o “Prémio de Ciências Económicas em Memória de Alfred Nobel (1974), defendeu o seguinte princípio:“Uma vez que compreendemos que não há motivo económico independente de outros motivos estamos em condições de verificar qual o fundo de verdade que há naquela convicção generalizada de que os problemas económicos apenas afectam aspectos menos importantes da vida, e também para compreender o desprezo com que se tratam muitas vezes, as considerações de carácter ‘meramente’ económico”.
Ou seja, as questões do sistema educativo não devem, nem podem. estar de costas voltadas com as questões económicas tão graves como sejam lançar para o desemprego licenciados que tanto custaram ao erário público e a bolsas pessoais sacrificadas que tinham um curso superior como a chave de empregos certos e bem remunerados. A lei da oferta e da procura desvalorizou os “canudos” a ponto de, por vezes, obrigar candidatos a empregos a apresentaram habilitações académicas inferiores às que possuem!
E sempre que abordo estes assuntos, ocorre-me à memória algo que li, sem poder precisar, quando e onde, uma previsão de um autor austríaco que cito de memória: A frente de combate da nova geração terá como combatentes aqueles licenciados que o Estado forma sem ter emprego para lhes dar!
É o teu caso, para aprenderes a escrever.
Que miséria!
Estimado José Batista da Ascenção: Obrigado pelas sua amáveis palavras e pelo ânimo que me tem dado acompanhando-me, com os seus lúcidos comentários, numa luta que devia ser de todos os professores que lutam pela exigência no recrutamento dos docentes e em que um certo sindicalismo tem tomado as rédeas do processo.
Tempos atrás um dos próceres desse sindicalismo, afirmava que todos os professores eram bons, só que havia uns melhores do que os outros. Ou seja, admite-se que haja maus médicos, maus advogados, maus artífices, mas que os professores, todos os professores, atingem a fasquia de uma qualidade boa, no mínimo. Será que eles acreditam, no âmago do seu ser, que o ensino nacional é uma espécie de Alice no País das Maravilhas? Ou será que o fazem para justificarem os seus meteóricos pulos académicos que os catapultou para o topo da carreira docente praticamente sem darem aulas.
Já chega de paninhos quentes. Como escreveu Edmund Burke, “há um limite em que a tolerância deixa de ser uma virtude”! Debrucemo-nos, portanto, sobre um caso concreto. O simples cidadão que vê um seu vizinho (professor) ser um dia portador de um curso médio, no dia seguinte bacharel, meses depois licenciado (antes de Bolonha), poderá encarar a profissão docente com o respeito que lhe merecia o antigo professor de liceu? Competem, esses licenciados pelas esscolas superiores de educação estatais na docência da Matemática e das Ciências da Natureza do 2.º ciclo do básico com professores licenciados por universidades a quem apenas é permitido ministrarem uma destas disciplinas.
Será isto que a Professora Ana Maria Morais quis dizer, e não disse? E cito-a (respeitando as regras do novo acordo ortográfico) : “O baixo nível da formação dos professores é um compósito de deficiências de dois tipo: os processo de seleção e a competência dos formadores dos professores”. Se foi isto, devia tê-lo bem especificado não misturando os professores saídos das universidades (sem pôr as mãos no fogo por todos eles) e os formados pelas escolas superiores (podendo pôr as mãos no fogo no caso de uma ou outra execepção de qualidade), não misturando as duas formações como se fossem farinha do mesmo saco!
Dando-lhe esta redacção, com o devido pedido de desculpas, reformulo o ´derradeiro parágrafo do meu comentário anterior:
Se foi isto que quis dizer, devia tê-lo especificado não misturando os professores saídos das universidades (não pondo as mãos no fogo por todos eles) e os diplomados pelas escolas superiores de educação (podendo pôr as mãos no fogo, no caso de uma ou outra excepção) como se fossem farinha do mesmo saco. Não são!
Prezada Nan:Em resposta a este seu comentário, acabo de publicar um post intitulado "O Ódio de Perdição.
Cordiais e gratos cumprimentos.
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Great blog, continue the good work!
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