Figura 1 - Curiosity, Opportunity e Sojourner lado-a-lado (Fonte: JPL-NASA).
Este robô é o mais complexo e pesado robô alguma vez enviado para o espaço. Como podem ver pela figura acima (Figura 1), o Curiosity é muito maior que o Sojourner – Mars Pathfinder (enviado para Marte em 1996, e que comparado com o Curiosity parece um brinquedo) e também muito maior (mais do que 5 vezes maior) que o Opportunity/Spirit (enviado para Marte em 2003). Na verdade, o Curiosity é do tamanho de um pequeno carro utilitário, pesando cerca de 900 kg (incluindo cerca de 80 kg de instrumentos científicos) para 3 metros de comprimento, dispondo de 6 rodas, um braço robotizado, dois computadores para controlo e navegação (sendo por isso um sistema redundante), várias câmaras e um conjunto muito completo e diversificado de equipamento científico, o que faz dele um sofisticado laboratório móvel robotizado. Este robô está preparado para se deslocar à velocidade máxima de 90 metros por hora, estando previsto que a velocidade média em operação seja de 30 metros por hora, e percorra cerca de 20 km durante os dois anos em que estará ao serviço da nossa curiosidade.
Com ele a NASA pretende responder a dois objetivos:
- Procurar e encontrar locais onde possa ter existido vida;
- Procurar evidências da existência de vida, tentando perceber em que formas existiu e porque razão desapareceu.
Figura 2 - Fase final de colocação do Curiosity na superfície de Marte (Fonte: JPL-NASA).
Uma vez no planeta, começa a missão científica do Curiosity. Este verdadeiro laboratório possui uma quantidade muito grande de equipamento científico:
- Três tipos de câmaras diferentes (fabricadas pela Malin Space Science Systems), todas elas redundantes. O sistema MastCam é constituído por 2 câmaras true color de alta resolução e elevada capacidade de memória (imagens com resolução de 1600x1200 pixéis e vídeos de 1280x720 pixéis e 10 fps e compressão por hardware); o sistema MAHLI (Mars Hand Lens Imager) composto por uma câmara montada no braço robotizado do Curiosity com a capacidade de tirar fotos com 1600x1200 pixéis (14.5 micrómetros por pixel) dotada de vários tipos de iluminação e com capacidade de armazenar imagens em vários formatos com e sem compressão; e o sistema MARDI (Mars Descent Imager) usado durante a fase de descida para documentar todo o processo. De elevada resolução (equivalente à MAHLI) irá tirar imagens quando a distância ao solo estiver entre 3.7km e 5 metros, a uma cadência de 5 imagens por segundo;
- Um instrumento remoto denominado ChemCam composto por um laser, denominado LIBS (Laser-induced Breakdown Spectroscopy), e um sistema denominado remote micro-imager (RMI). Com o laser o Curiosity pode vaporizar um objecto a 7 metros de distância, sendo o espectro da luz emitida analisada pelo RMI. O RMI pode também, utilizando as mesmas ópticas tirar imagens dos objetos a analisar, bem como do resultado da vaporização, tendo a capacidade de resoluções de 1mm a 10m de distância. Este é um fabuloso instrumento para selecionar objetos de interesse que mereçam uma análise mais rigorosa. Não se esqueçam que o Curiosity é um explorador à procura de sinais de vida;
- Um espectrómetro de raio-x por partículas alfa (APXS), que também já equipava as duas versões anteriores de robôs que foram colocados em Marte. Com este dispositivo o Curiosity pode analisar a composição química de amostras em estudo, fazendo incidir feixes de partículas alfa e analisando o espectro de raio-x resultante, o que permite identificar a exata composição química da amostra;
- Um dispositivo denominado CheMin que tem como objectivo detectar minerais e respectiva abundância em Marte. Na verdade, este é mais um espectrómetro de raio-x e de fluorescência que trabalhará em conjugação com o braço robotizado e com as ferramentas colocadas na ponta do braço, nomeadamente a broca e os dispositivos de recolha de amostras. Depois de obtidas, o pó resultante é colocado no espectrómetro para que faça a sua análise. O Curiosity é um verdadeiro químico e mineralogista;
- Um outro instrumento denominado SAM (Sample Analysis at Mars)e que tem como objectivo analisar a composição orgânica e gasosa da atmosfera marciana, mas também de amostras recolhidas pelo braço robotizado;
- Um outro instrumento muito interessante é o RAD (Radiation Assessment Detector). Tem como objectivo analisar a radiação dentro da nave durante toda a viagem e durante a fase de colocação na superfície. É a primeira vez que isto se faz e tem como objectivo preparar uma viagem com tripulantes;
- O DAN (Dynamic Albedo of Neutrons), um emissor e detector de neutrões, foi desenvolvido para detetar hidrogénio, gelo ou água na superfície de marte ou logo abaixo da superfície;
- E não podia faltar uma completa estação meteorológica (REMS – Rover Environmental Monitoring Station) com a capacidade de medir na perfeição a temperatura do ar e do solo, humidade, pressão, direção dos ventos e nível de radiação ultravioleta;
- Dois sistemas de câmaras de navegação (NavCams) e detecção de problemas (HazCams);
- Um sistema muito complexo de instrumentação denominado MEDLI (Mars Entry, Descendant and Landing Instrumentation) que tem como objectivo medir todas as variáveis necessárias à manipulação e controlo da nave espacial. A NASA não se esqueceu que perdeu algumas naves porque falhou o processo de medida durante a descida para o planeta, por exemplo.
Depois de chegar, o Curiosity demorará uma horas a ficar operacional. Tem de levantar a sua cabeça, um mastro que é essencial para o funcionamento das várias câmaras e dos instrumentos a bordo. Depois, olhará à volta, procurará objetos e locais que pareçam interessantes (o seu sistema de navegação é muito completo e autónomo), perceberá à distância (com o seu laser e instrumentos) se o local merece uma atenção cuidada, fará análise química rigorosa dos locais mais interessantes, medirá tudo, tirará fotos e fará vídeos. E nós, aqui na terra, receberemos diariamente os resultados do seu trabalho científico que não é mais do que a consequência de uma das nossas característica mais notáveis: a CURIOSIDADE de saber mais.
Nota final: Às 6:31, hora de Lisboa, foi confirmado o touchdown do Curiosity. E passados uns minutos foram recebidas as primeiras imagens das câmaras de baixa-resolução. As câmaras de alta-resolução, com capacidade de tirar fotos a cores só estarão disponíveis dentro de alguma horas, depois de o Curiosity estar totalmente operacional.
Figura 3 - Primeira imagem do Curiosity, a preto-e-branco e baixa resolução, vendo-se claramente a sombra do robô na superfície de Marte (Fonte: JPL-NASA).
J. Norberto Pires, Tavira, 5 de Agosto de 2012
(originalmente publicado em http://www.re-visto.com/curiosity)
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