sexta-feira, 8 de junho de 2012

Uma nova História da Matemática em Portugal?

Recensão do Ensaio "Matemática em Portugal – Uma Questão de Educação" de Jorge Buescu, publicada primeiramente na imprensa regional.

Jorge Buescu, um dos principais divulgadores de ciência da actualidade, principalmente na área da matemática, acaba de publicar o seu último livro: Matemática em Portugal, uma questão de Educação. O título, publicado em Maio, é o n.º 27 da colecção “ensaios” da Fundação Francisco Manuel dos Santos.
Neste ensaio, Jorge Buescu, Professor Associado do Departamento de Matemática da FCUL, apresenta-nos um contributo muito interessante, eventualmente polémico, segura e doravante incontornável sobre a história da matemática em Portugal. 

Contrapondo-se às teses convencionais e seculares com questões pertinentes e factos repetidamente ignorados, Buescu realumia “as trevas”, os períodos inflorescentes, os intervalos de mediocridade, da história das ciências portuguesas e do seu ensino. Desfaz algumas ideias estabelecidas, alguns mitos, algumas incongruências da narrativa histórica convencional que se depositaram no nosso saber colectivo durante séculos, sem serem questionadas. São agora revisitadas arguta e analiticamente por Jorge Buescu que apresenta uma visão alternativa sustentada em velhas e novas fontes históricas.

Ao estar “ainda por escrever uma História da Matemática em Portugal para o século XXI”, como escreve Buescu, este ensaio, que explica o porquê da ausência de portugueses na galeria dos “gigantes” da História da Matemática Mundial, constitui um contributo para essa nova história em falta, para além de nos oferecer uma visão estimulante, e bem escrita, da própria história das ciências e da sua educação em Portugal.

O ensaio com 98 páginas, estrutura-se em 7 capítulos a saber: 1 - Matemática em Portugal: a narrativa convencional e o verdadeiro drama; 2 - o que é e para que serve a Matemática?; 3 - Os Descobrimentos: matemática em Portugal?; 4 – A imaginária “decadência” do século XVII; 5 – Catástrofe pombalina na Edudação; 6 – A aventura e o drama da Geração de 40; 7 – Portugal e o futuro.

O ensaio acaba com uma oportuna bibliografia “para saber mais”.

António Piedade

18 comentários:

Aurélia Santos disse...

P. Com a actual estrutura educativa é possível reverter o atraso em Portugal?

R.O atraso é histórico e impregna todo o sistema de ensino. Portugal é um recém-chegado ao universo educativo e em muitos aspectos comportou-se com novo-riquismo. Em Portugal, em 1881, a taxa de analfabetismo era 80%, na Alemanha, Inglaterra, Noruega e Dinamarca variava entre 0% e 1%. Se tivermos coragem de assumir o atraso e o combatermos de forma eficaz, não há razão para não recuperarmos.

P. Em quanto tempo a irrelevância científica de Portugal no contexto internacional pode ser ultrapassada?

R. Nas últimas duas décadas foram realizados progressos extraordinários. Houve grande investimento na profissionalização e na internacionalização da Ciência, mas tudo é muito recente e frágil. Vencer grandes prémios internacionais, ver a Matemática portuguesa sistematicamente representada nos corpos editoriais das melhores publicações e júris… é um salto qualitativo que, se seguirmos as melhores práticas de ensino e investigação, talvez possa ser dado pela próxima geração.

Jorge Buescu, «3 perguntas a… Muito mais do que uma questão de números», Revista Única – Jornal Expresso, 2 de Junho de 2012, p. 10.

O que nós aprendemos ao ler quem investiga, quem conhece profundamente os assuntos, quem se rege por padrões de decência ética e não por narrativas pré-determinadas que procuram fundamentar-se «a posteriori» apenas na parte da realidade que as confirma.
E eu a pensar que o nosso atraso tinha apenas 30, 40 anos.
Às vezes estamos convencidos, tentam convencer-nos, de certas coisas.
Vá-se lá saber porquê!

Joaquim Manuel Ildefonso Dias disse...

Professor António Piedade;

Na verdade há um matemático português que figura (ou pelo menos o País deveria "exigir" que lá estivesse) na galeria dos gigantes mundiais da matemática. Digo que a Obra cientifica do Professor José Sebastião e Silva é merecedora de estar na galeria dos “gigantes” da História da Matemática Mundial.

E só não está provavelmente por culpa nossa! (de Portugal) pois se nós damos valor aquilo que é nosso como podemos esperar que os outros o valorizem!

Porque não há um reconhecimento nacional ao Professor e Cientista que foi José Sebastião e Silva? A Obra do Professor José Sebastião e Silva é património nacional, porque não cuidamos dela devidamente?

Cito o o Professor da Universidade de Madrid, Doutor Pedro Abellanas numa alusão a Sebastião e Silva:

“Aquele que é considerado o maior matemático nascido na Península Ibérica em todos os tempos precisa de ser consagrado, não só em todo o mundo científico, mas principalmente em Portugal”


Cordialmente,

P.S. Desconheço qual o caminho extra (à margem do trabalho cientifico) que é necessário percorrer para chegar à galeria dos mundialmente reconhecidos em matemática, talvez em Portugal ninguém o saiba, mas o mais grave é que parece que ninguém se interessa por saber. Talvez um primeiro passo fosse seguir a orientação do Doutor Pedro Abellanas. Vou ler o livro.

Jorge Buescu disse...

Caro Joaquim Ildefonso Dias: o Prof. Sebastião e Silva foi de facto uma figura a vários títulos ímpar. Como refiro no livro, foi o único sobrevivente em Portugal da ilustre Geração de 40 e o próprio Aniceto Monteiro se lhe referia como "o maior matemático português da sua geração". Estarei pessoalmente empenhado em que seja condignamente celebrado o centenário do seu nascimento, a 12 de Dezembro de 2014. No entanto, é toda uma outra divisão para que estamos a olhar quando nos referimos a Newton ou Leibniz, Euler ou Lagrange, Gauss ou Riemann, Hilbert ou Poincaré, e temos de ter essa noção. Cordialmente, Jorge Buescu.

Aurélia Santos disse...

Caro Prof. Jorge Buescu:
Ontem passei por um Pingo Doce (não gosto do merceeiro, mas, como não confundo o «Manuel Germano com o Género Humano», como diz com graça o escritor Mário de Carvalho, reconheço a obra meritória da FFMS) e comprei o seu livro.
«Devorei-o» de uma assentada.
Para além da escrita prazenteira, foi o «sumo» que me saciou.
Voltarei a ele para uma segunda leitura mais pausada, para as devidas anotações.
Adoro os livros que, sustentada e inteligentemente, a partir da cuidada análise das fontes, põem em causa certas narrativas oficiais (do tipo Escola de Sagres - dos próceres do Estado Novo) ou mais ou menos oficiosas (do tipo a culpa do nosso atraso foi do atavismo do Estado Novo – dos gerontes do Reviralho).
Afinal, são duas narrativas falsas e falaciosas sobre a realidade, tal qual é falsa a narrativa que provocatoriamente pus em causa no meu primeiro comentário, e que se encontra amiúde defendida por muita gente, autora e comentadora, neste blogue.
Afinal, não mudámos assim tanto desde tempos bem longínquos, os motivos que nos levaram à sucessão deste tipo de narrativas é, afinal, o mesmo que nos impediu de termos tido uma ciência Matemática de ponta e Matemáticos de nível mundial, motivos que o senhor põe magistralmente a nu no seu ensaio.
Muito obrigado por este serviço que prestou à Verdade e ao Conhecimento
Cordialmente

Joaquim Manuel Ildefonso Dias disse...

Professor Jorge Buesco;

Agradeço-lhe muito a honra com que me distingue ao responder ao meu comentário.

No que me é acessível, (das leituras que fiz da Biografia e também nota Biografia dos textos didáticos, FCG) julgo poder concluir que o Professor Sebastião e Silva foi de facto um grande matemático português ao nivél dos melhores do mundo.

Professor Jorge Buesco, como pode ter essa opinião, se Sebastião e Silva esteve ao nivél de um Gottfried Köthe (notavél matemático alemão) e de Alexander Grothendick (reconhecido como um dos maiores matemáticos do sec. XX) como se pode ler na biografia do Professor Sebastião e Silva, e do testemunho do primeiro em conferência na Academia das Ciências de Lisboa, que foi publicada na Biblioteca de Altos Estudos.

Transcrevo parcialmente;

“Num passo dessa conferencia (pag. 6) afirmou Köthe, em rápido balanço da importância da tese de Sebastião e Silva para a evolução da teoria dos funcionais analíticos: “O Professor Sebastião e Silva representa em Lisboa a Análise Funcional moderna, à qual abriu um novo campo de investigações com os seus notáveis trabalhos”.

E mais adiante (pag. 14):

“Existia desde 1930 uma teoria bastante desenvolvida dos funcionais analíticos de L. Fantappiè e da sua escola. Afastados das noções de Banach, os fundamentos desta teoria não eram de forma alguma simples.

E assim, embora há muito se sentisse a necessidade de englobá-la numa teoria mais geral, é só em 1946 que J. Sebastião e Silva consegue dar à teoria de L. Fantappiè uma nova base, a qual, introduzido o espaço F (C) das funções localmente analíticas sobre um compacto C, permite demonstrar que, na sua maior parte, ela cabe no quadro da teoria dos espaços localmente convexos (...) A este trabalho de J. Sebastião e Silva liga-se toda uma série de trabalhos cujo objetivo é o estudo dos espaços F (C) e de outros espaços mais gerais de funções analíticas que tomam valores num espaço localmente convexo qualquer.”

O Professor Sebastião e Silva escreveu estas palavras num depoimento sobre Bento de Jesus Caraça “para apreciar um homem na sua justa grandeza, há que saber situá-lo no referencial conveniente, há que saber situá-lo no referencial conveniente, há que procurar medi-lo em relação à época e ao meio em que viveu.”

Pensando assim, considero que nem Hilbert ou Poincaré estiveram em nível superior a Köthe, a Grothendick ou estes ao nosso Sebastião e Silva.

É com grande satisfação que tomo conhecimento do seu empenho na celebração do centenário do nascimento do Professor Sebastião e Silva.

Creia-me Professor Jorge Buesco um admirador que o saúda cordialmente,

Joaquim Manuel Ildefonso Dias disse...

Professor Jorge Buesco;

Estive a pesquisar na Wikipédia sobre Alexander Grothendieck e a indicação é que ele ainda vive.

Seria de interesse nacional recolher junto dele um testemunho sobre o Professor Sebastião e Silva.

Talvez o Professor Jorge Buesco consiga fazer uma entrevista a Alexander Grothendieck, e recolher esse testemunho muito importante para o nosso País?

Até porque como diz na bibliografia Alexander Grothendieck conhece o trabalho de Sebastião e Silva, pois que transcrevo da biografia “Quando chegou a vez de elaborar a recensão crítica da monumental tese de doutoramento de Alexander Grothendieck “Produits tensoriels topologiques et espaces nucléares” (1955) - um dos mais importantes trabalhos matemáticos do século, - foi a Sebastião e Silva que a revista americana [Mathematical Reviews] confiou essa tarefa, rodeada de excecionais melindres pelo raro quilate da obra a criticar, e pelas dificuldades da respetiva leitura. O matemático português concentrou-se nessa tarefa em dedicação exclusiva de todo um Verão, redigindo por fim o extenso parecer que ocupa páginas inteiras da Mathematical Reviews - facto extremamente raro, como bem se sabe.”

Saudações cordiais,

Joaquim Manuel Ildefonso Dias disse...

Professor Jorge Buesco;

Há contudo (na biografia de Sebastião e Silva) uma referencia de A. Grothendieck a Sebastião e Silva que transcrevo:

“Logo a seguir, em 1954, o grande matemático francês A. Grothendieck publicou, no volume 192 do mesmo “Jornal de Celle”, nova memória com novos desenvolvimentos de ideias contidas na tese de Sebastião e Silva; o facto é particularmente significativo, porque Grothendieck é reconhecido como um dos maiores matemáticos do século XX.

A memória de Grothendieck intitula-se “Sur certains espaces holomorphes I” e o autor afirma na introdução: “Cet article est destiné à apporter quelques genéralisations et compléments à l'article de G. Köthe sur le même sujet. It a été conçu néamoins de façon indépendent, à la suite lectura du travail de Sebastião e Silva, dont une mise au point s'imposait”.”[Este artigo destina-se a trazer algumas generalizações e complementos ao artigo de G. Köthe sobre o mesmo assunto. Foi contudo concebido de forma independente, na sequência da leitura do trabalho de Sebastião e Silva, acerca do qual se impunha um apuramento”.]

Professor Jorge Buesco, aqui temos um exemplo de como um gigante (Grothendieck) subiu aos ombros de outro gigante (Sebastião e Silva) para ver.

Saudações cordiais,

Joaquim Manuel Ildefonso Dias disse...

Professor Jorge Buesco;

Estou desolado com o que li na primeira página do seu livro.

Não sei que lhe possa dizer para que reconsidere o que escreveu. Talvez este testemunho do Professor António Andrade Guimarães, Catedrático de Matemática da Faculdade de Ciências do Porto;

“Sempre reputei o facto de poder conviver com Sebastião e Silva um autêntico privilégio histórico: só de séculos a séculos é possível beneficiar em Portugal da presença de espíritos científicos da força do dele.”

Professor Jorge Buesco, repare ainda no que diz o Professor A. Guimarães; “Uma vez observou-me Sebastião e Silva: repare em como Descartes descreveu a estrutura do acesso a qualquer teoria matemática, por mais elevado que o seu nível seja. Esse acesso concretiza-se sempre mediante sucessão de pequeninos passos, - transições elementares de cariz silogístico, - em número variável com o grau de elevação da teoria em causa. Pode acontecer que seja muito grande esse número de pequeninos passos, - que qualquer pessoa pode dar, - e então a teoria torna-se de acesso “difícil”.”

Se o Senhor Professor Jorge Buesco tivesse tido o privilegio de conhecer o Professor Sebastião e Silva, e aprender com ele, e ouvir dele este conselho que dava aos seus orientando de pesquisa “Exerça a sua liberdade criadora, não se deixe pear por coisa alguma” certamente não escrevia a primeira página.[aqui a razão fundamental está na Educação, como o Professor Jorge Buesco bem diz]

Creia-me contudo um amigo que o saúda cordialmente, e que lê com muito prazer os seus artigos na revista Ingenium, e que fica à espera que a sua opinião evolua, que reconsidere o que escreveu, porque terá necessariamente que o fazer, e como dizia Bento de Jesus Caraça “ Se não receio o erro é só porque estou sempre pronto a corrigi-lo”; possa também o Professor Jorge Buesco numa outra oportunidade corrigir o erro que agora comete, e que em nada o inferioriza, são só os grandes homens que os cometem, e se os reconhecer, eles servem para enaltece o seu carácter, é isso o que nos mostra a história da ciência.

Joaquim Manuel Ildefonso Dias disse...

Professor Jorge Buescu; (peço-lhe desculpa por não ter escrito correctamente o seu nome)

Deixo aqui o seguinte link:

http://antonioanicetomonteiro.blogspot.pt/2011/04/no-centenario-da-faculdade-de-ciencias.html

Nele consta uma carta com o testemunho do Professor Manuel Valadares sobre o caso António Monteiro, que o Senhor certamente desconhece;

Ela é tão esclarecedora. É a realidade tão diferente daquela que descreve no livro acerca do Professor António Monteiro, que o Senhor Professor Jorge Buescu vai ter que reescrever o livro sob pena de não escrever os factos reais, tal como se sucederam.

Cordialmente,

Joaquim Manuel Ildefonso Dias disse...

Professor Jorge Buesco;

Eu penso que no seu livro e em “Para saber mais” falta uma referência à entrevista do Professor Sebastião e Silva em artigo publicado no jornal A Capital em 4 de Dezembro de 1968, que transcrevo um pouco, porque ela faz luz a alguns dos aspectos escritos no livro:

“Outro ponto a salientar é o seguinte: a crise universitária em Portugal é um caso sui generis, que seria de todo erróneo equiparar ao de outros países da Europa. E vou já dizer porquê. A partir dos anos 30, a politica progressiva do Instituto para a Alta Cultura permitiu a um número apreciável de jovens licenciados portugueses trabalhar, pela primeira vez, em meios universitários evoluidos, sob orientação de professores que eram investigadores - alguns deles “prémios Nobel” famosos (Madame Curie, casal Juliot-Curie, J. Perrin, L. de Broglie). Foi um raiar de esperança no horizonte nacional! Infelizmente, ao regressar a Portugal, essa geração de pioneiros não encontrou um meio que estivesse preparado para os receber e, custa-me dizê-lo, a reacção mais viva que se lhe opôs partiu da própria Universidade. Hoje, a situação é diferente: existe já nas próprias Universidades um certo número de professores que são investigadores; porém, a estrutura é a mesma e a incompreensão subsiste; mas esta vem agora, principalmente, do meio extra universitário.”

Cordialmente,

Joaquim Manuel Ildefonso Dias disse...

Professor Jorge Buesco;

Deixo-lhe estes dois links que deitam por terra toda a sua "teoria eloquente" a respeito do Professor António Monteiro;

http://antonioanicetomonteiro.blogspot.pt/2009/07/eles-foram-de-facto-valores-sonegados.html

http://antonioanicetomonteiro.blogspot.pt/2007/07/abaixo-assinados-dirigido-spm-em-4-e-6.html

Joaquim Manuel Ildefonso Dias disse...

Professor António Piedade;

Terminei a leitura do livro que apresenta. Confesso-lhe que foi para mim uma tortura desde a primeira página, que no entanto a consegui levar até ao fim, com um esforço tremendo é certo, dou o meu tempo como muito mal empregue.

Várias vezes durante a leitura fugia-me o pensamento para o que escreveu o Professor Bento de Jesus Caraça ao escritor francês Georges Duhamel. Este obteve de Bento de Jesus Caraça, a resposta devida - numa carta, que atendendo à conversa e à circunstância particular da situação em que se encontravam não lhe fora possível dar de imediato. De qualquer forma a conversa (do género que imaginamos com facilidade pela resposta) deu aso a esta resposta, e cito, uma pequena parte aqui, porque interessa, sobretudo, mostrar o sentimento vivido na época, e assim melhor assinalar muitas das fragilidades na descrição das situações ao longo do livro:

“Deixemos de lado certos aspetos da nossa conversa, como por exemplo o empenho com que tentou convencer-nos de que, afinal de contas, nós somos aqui em Portugal muito felizes... (tenho a certeza que se apercebeu do caricato da situação) e ainda as opiniões que expressou sobre alguns dos seus colegas escritores, opiniões que me provocaram algum espanto e que, seguramente, em nada o honram.”

Penso que aquilo que o Professor Jorge Buescu nos faz com este livro é colocar, numa situação, cuja crítica só pode ter uma resposta como idêntica aquela. É portanto um livro cuja nota só pode ser negativa, muito negativa. Perdõe-me a falta de cortesia, mas é o sentimento que o livro me deixa.

Aceite os meus cumprimentos cordiais extensivos também ao Professor Jorge Buescu, esperando que numa próxima consiga fazer melhor.

Jorge Buescu disse...

Estimado Joaquim Ildefonso Dias:

muito obrigado pelos seus comentárioa. Contudo, não creio que o que descreve contradiga o que trago a lume. Para dar um exemplo, é claro que conheço o que descreve em

http://antonioanicetomonteiro.blogspot.pt/2011/04/no-centenario-da-faculdade-de-ciencias.html

e o que escrevi é totalmente compatível com isto. O que acontece é que aprofundei a investigaçao histórica aqui apresentada e concluí que a história de Monteiro é mais complexa do que comummente apresentada. Mas,como costumo citar aos meus alunos apresentando a imagem de Caraça e também diz, "se não temo o erro é porque estou sempre disposto a corrigi-lo". Até agora não encontrei, contudo, documentação histórica que mostre estar em erro o que afirmei.

Não tenho dúvidas de que muito do que afirmo é polémico, pois não está de acordo com a "interpretação convencional". Mas é documentalmente fundamentado em fontes primárias, razão pela qual nunca citaria blogues. E a função de um ensaio é estimular a reflexão e o diálogo.

Como este.

Cordialmente,

Jorge Buescu.

Cordialmente,

Jorge Buescu disse...

Estimada leitora Aurélia Santos:

muito obrigado pelas suas palavras tão estimulantes. De facto desmonto alguns dos argumentos nos quais se baseia uma certa "narrativa convencional", como os que refere. Embora não seja um historiados nem pretenda sê-lo - sou um matemático - tudo aquilo que afirmo está documentalmente suportado e é resultado de anos de investigação.

Acredite que fico muito feliz em receber palavras como as suas, que são a melhor recompensa para todo o esforço e pensamento investidos.

Cordialmente,

Jorge Buescu.

Aurélia Santos disse...

Caro Professor Jorge Buescu:
(Declaração de interesses: Não nos conhecemos pessoalmente, pelo que, deste ponto de vista, as minhas palavras são isentas).
Como sabe, o Professor Luís Albuquerque, que tive a felicidade de conhecer na Faculdade de Letras de Lisboa, onde orientou mestrados (e provavelmente doutoramentos, depois de jubilado), cuja formação inicial foi em Matemática e em Engenharia Geográfica, viria a fazer carreira universitária, na Universidade de Coimbra, precisamente nessas duas áreas científicas. Viria ainda a ser Director da Biblioteca Geral da mesma universidade.
O que não o impediria de vir a ser um historiador dos Descobrimentos de 1.ª água e uma autoridade neste período histórico e nestas temáticas.
Portanto, para quem não quer ser historiador...
Sabe, o rigor que podemos observar nas fundamentações que traz à luz para sustentar as suas teses ensaísticas e a minúcia e economia de palavras dos passos explicativos (extremamente didácticos) com os quais nos vai apresentando a sua narrativa, penso que só um Matemático o podia conseguir.
Não fora a elegância da escrita.
Tudo junto tornam o seu livro cativante.
Permita-me que lhe faça uma sugestão, o Prof. Henrique Leitão, que tem feito um trabalho extraordinário, quer na divulgação da obra (integral, anotada e explicada) de Pedro Nunes, quer na construção da história da Matemática, precisa que outros o acompanhem nessa tarefa (ainda muito) solitária mas imprescindível.
A Matemática e a sua história merecem-no.
Nós precisamos de ter o referencial do passado, saber o que fomos, conhecer com rigor as nossas forças e fraquezas, para que não nos iludamos em narrativas fantasiosas, seleccionando alvos fictícios, convencidos de que sabemos tudo, para que seja possível construir um futuro melhor, mais informado, mais culto, mais exigente e rigoroso.
Estamos ainda muito longe disso, mas, como dizia a poeta andaluz António Machado: «Caminante, no hay camino, se hace camino al andar.»

José Batista da Ascenção disse...

Ex.mo senhor professor Jorge Buescu

Também eu li o seu livro de vez, em todos os lugares e durante todos os

bocadinhos que tive disponíveis, motivo por que o livro andou dois dias

comigo, para todo o lado, literalmente. Sublinhei-o em muitas páginas,

hábito com que "estrago" todos os livros que leio (e que são meus). Fiquei

espantado e deliciado. É claro que vou relê-lo mais que uma vez, porque

sinto que preciso disso. Entusiasmado, li algumas passagens à minha mulher,

que é professora de história do ensino básico e secundário, que confirmou a

divergência com a "narrativa histórica convencional", mas atendeu aos

argumentos fundamentados que (tão bem) expõe.

Eu sou professor de biologia do ensino secundário e, de matemática, ou

relacionado apenas consigo ler livros seus ou de Nuno Crato. Não me

pronuncio sobre quem são ou foram os melhores matemáticos do país, prefiro

calar-me, nessa matéria... E ouvir.

Mas não fico calado em lhe pedir que escreva, escreva sempre para os

(ignorantes) ávidos como eu de certos livros, escritos de certo modo. E

fundamentados como está este seu.

Confesso que o impulso de escrever este pequeno comentário resultou da

leitura de todos os comentários anteriores. É assim uma espécie de

"solidariedade" e apoio que o senhor não precisa e dispensa. Mas que eu

preciso (e não me dispenso) de exprimir. Porquê? Olhe, porque senão

rebentava. Há-de desculpar a bruteza da expressão.

E obrigado. Muitíssimo obrigado.

Jorge Buescu disse...

Cara Aurélia Santos:

muito obrigado uma vez mais pelas suas palavras cativantes. Permita-me dizer-lhe que o Prof. Henrique Leitão, de quem tenho a honra de ser amigo há mais de 30 anos e é possivelmente o maior especialista actual sobre História da Ciência em Portugal, foi a pessoa que mais influenciou o ensaio.

Ele foi essencial, durante os últimos anos, para a orientação dos estudos e fundamentação da opinião, na vertente histórica, que exponho. Ele consta, como pode verificar, dos agradecimentos e tive o prazer de o lançamento do livro ter sido feito por ele.

Além de meu amigo de longa data, é alguém por cuja obra científica tenho enorme admiração e que está a deixar escola, como refiro no ensaio.

Cordialmente,

Jorge Buescu.

Jorge Buescu disse...

Estimado José Batista da Ascensão,

muito obrigado pela suas palavras tão sinceras e comoventes. Como já disse mais acima, são elas que nos fazem sentir que tudo valeu a pena. Com palavras como as suas, como é poderia pensar em deixar de escrever?

Cordialmente,

Jorge Buescu

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