O enigma de Andrómeda é um livro de ficção científica de Michael Crichton publicado em 1969. Embora a partir deste tenham já sido feitos dois filmes não parece haver tradução em Portugal.
Um satélite cai numa pequena cidade e uma bactéria fatal e desconhecida começa a matar a população. Misteriosamente apenas um bebé e um bêbado sobrevivem. A criança tem cólicas e não pára de chorar e o alcoólico, sabe-se depois, bebeu um líquido com álcool que não devia ser usado para consumo humano. Os cientistas passam quase toda a história a procurar uma solução para o enigma e assim salvar a humanidade. O que defendeu o bebé e o bêbado da acção da bactéria?
Descobre-se que ambos têm o pH do sangue ligeiramente alterado e que isso é suficiente para inibir a bactéria. Mas por que razão têm o pH do sangue alterado? O bebé chorão porque ao chorar expira de forma mais rápida libertando mais dióxido de carbono, aumentando dessa forma o pH do sangue. Se parar de chorar o pH volta ao valor normal rapidamente, mas o seu nível mantêm-se superior ao valor óptimo enquanto o bebé chora. De facto, o nosso organismo controla as pequenas variações do pH do sangue em grande parte através do ritmo da respiração e da eliminação do dióxido de carbono que está em equilíbrio com o ião bicarbonato. E o bêbado? Bebeu álcool com uma pequena quantidade de metanol o que lhe baixou o pH do sangue. O metanol é metabolizado a formaldeído e este rapidamente passa a ácido fórmico que o organismo não consegue eliminar, mantendo-se assim durante algum tempo a acidose do sangue.
Os mecanismos responsáveis pela toxicidade do metanol e cegueira causada por este composto não são ainda bem conhecidos. O principal suspeito foi inicialmente o formaldeído que se forma a partir do metanol. Trata-se de um composto cuja solução aquosa (chamada por vezes formol) é usada no embalsamamento de cadáveres e preservação de espécimes animais ou orgãos, cuja acção preservante advém da polimerização das proteínas. No entanto, não é detectado formaldeído nas vítimas, mas sim ácido fórmico, após a ingestão acidental ou contacto continuado com metanol. Para além disso, a cegueira não se manifesta imediatamente.
Por outro lado, não é nenhum mistério que os ratos não tenham acidose após ingestão de metanol. É que, contrariamente aos humanos, estes têm enzimas que degradam o ácido fórmico e não são por isso um bom modelo animal para o estudo da toxicidade do metanol.
Na minha opinião, um bom livro de ficção científica ou policial é aquele que nos abre os olhos para enigmas para os quais ainda não temos solução.
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4 comentários:
Eu já assisti o filme "Andrômeda",e é muito fascinante!
Ainda não assisti ao filme mas amei o blog de vcs! Diante de tanto lixo que encontramos pela internet, o que vi aqui é exceção, não a regra.
Parabéns pelo texto e pela aula de Bioquímica. Se muitos estudantes tivessem a oportunidade de aprender dessa forma tão instigante, creio que eles teriam uma outra visão dessa ciência.
apesar de ser um tanto complexa gostaria de saber um pouco sobre bioquimica acho fascinante essa ciencia
O filme de ficção nem substitui o bom livro. Por isso é necessário, imprescindível a leitura de clássicos literários, precisamente os de recomendação para um ensino de excelência.
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