segunda-feira, 11 de junho de 2012

Reflexão Sobre a Formação dos Professores


“Um dia quando olhares para trás,verás que os dias mais belos foram aqueles em que lutaste” (Sigmund Freud, 1856-1939).

Reflicto, convidando o leitor afazer o mesmo, sobre um comentário de “Disaliter visum”, ínsito no meu postAinda as Ordens e Câmaras Profissionais e oRespectivo Ante-Projecto de Regulamentação” (6/06/2012). Comentário que faz jus à rebeldia que nos dá conta Ramalho: “O homem só é homemdesde o instante em que perante o conflito da consciência e da autoridade,aprende a ser um rebelde”.

Houvesse mais rebeldes e a rebaldaria a queassistimos no ensino não superior nãoteria chegado ao ponto a que chegou e a que não é estranha a falta de uma Ordemdos Professores que sirva os interessesde todos os professores sem se deixar dominar por forças de bloqueio (leia-se,certos sindicatos e escolas superiores de educação) que tudo fazem em prol doprincípio de quanto pior, melhor!

E assim se explica que, sem fazer grandes ondas, devagar devagarinho, as escolas superiores de educação,criadas em substituição das antigas escolas do magistério primário paraformarem, APENAS, professores para o actual 1.º ciclo do básico (antigo ensinoprimário), formem agora professores,inclusivamente, para o ensino secundário. Pior do que isso, que se tenham transformadoem pequenas e ridículas universidades com um leque de cursos que já, pouco ounada, têm a ver com a formação de professores do 1.º ciclo do básico.

Longos anos porfiei na procura daletra de uma canção da minha meninice que se me negava na neblina da memória,em que um símio trauteava ao som de uma viola:

“Do meu rabo fiz navalha
Da navalha fiz camisa
Da camisa fiz farinha
Da farinha fiz menina
Da menina fiz viola
Trim-tim-tim vou para Angola”

Encontro semelhança entre estaespécie de ladainha com as escolas superiores de educação que de um diploma decurta duração fizeram um bacharelato; de um bacharelato fizeram uma licenciatura:de uma licenciatura fizeram um mestrado;e que, de um mestrado, tudo fazem para outorgar doutoramentos.

Quando ainda só corria o boatosobre a possibilidade dos licenciados pelas escolas superiores de educaçãopoderem vir a leccionar no 3.º ciclo do básico, foi a direcção do Sindicato Nacional dosProfessores Licenciados [por Universidades] recebida, em audiência, pela então secretária de Estado da Educação, AnaBenavente. Aproveitando o ensejo, sendoeu na altura presidente da respectiva Assembleia Geral, coloquei-lhea questão. Fazendo jus à proverbial ambiguidade dos políticos, fechou-se ela emcopas sem conseguir disfarçar um ar de desagrado perante a ousadia da questão pormim levantada
.
Não me dando por achado, colhendoinspiração no pensamento de Sigmund Freud, em epígrafe, voltei à cargarecordando-lhe (os políticos esquecem, ou fingem esquecer, facilmente, o que lhes não convém) que a Leide Bases do Sistema Educativo, então em vigor, contemplava, apenas, essa possibilidade, emrigoroso exclusivo, a licenciados universitários com destino à docência. Porseu turno, sem se dar ela também por achada, replicou ditatorialmente: “Mas a lei muda-sede um dia para o outro!”

Tinha razão! O mal estáprecisamente na ligeireza com que em Portugal se fazem e desfazem reformas, se promulgame derrogam leis, quer sejam boas ou más, óptimas ou péssimas, justas ouinjustas, em prosa escorreita ou deficiente redacção que serve o desígnios dolegislador ou de quem lhe concede essa autoridade. Existem, portanto, razõespara pensar que as decisões políticas se acobardam perante a turba que semanifesta ruidosamente na rua ou obedecemaqueles que se deslocam silenciosamentenos corredores do poder para que não seja estabelecida uma fronteira quedelimite as competências dasfaculdades e das escolas superiores deeducação.

Reconheço que para mudar estestatu quo é necessário que os políticos ajam com seriedade e sem a preocupação de porem em risco as suascarreiras de “devoção” à res publica naquilo a que costumo chamar da “dança dascadeiras”. Em que sobejam sempre maisaspirantes a cargos ministeriais do que cadeiras! Enquanto não se fizer estadepuração de uma espécie de clonagem de formações continuará a vigorar o princípio de que a qualidade do ensino estána razão inversa da qualidade da formação dos professores. Não compreenderisto, reincindindo nos mesmos erros, e promover outros por acréscimo, é prosseguira política do avestruz.

3 comentários:

José Batista da Ascenção disse...

Meu caro Rui Baptista

Tenho para mim que o discurso do Professor Sampaio

Nóvoa, apresentado em "post" anterior, não considera

o que tão bem denuncia neste seu texto, como fazendo

parte do que (ele) referiu nas seguintes palavras: "

nas últimas décadas realizámos um esforço notável no

campo da educação, da escola pública, das

universidades"... etc. O problema existe e é muito

sério. A agricultura que devíamos ter extinguimo-la,

as pescas destruimo-las, e a educação de crianças e

jovens transformámo-la em barrelas de incompetência,

cobardia e irresponsabilidade. Salvam-se 20 ou 30%?

Espero e desejo que sim. Mas, e os outros?...

Tínhamos o direito de os tratar assim?

Que lhes fazemos agora ou daqui por poucos anos?

Esperamos que cresçam para os mandar emigrar?

Mas quem os vai querer?

E que lhes vamos dizer quando nos chamarem

incompetentes e irresponsáveis, não só por

palavras?...

Quem faz más sementeiras não tem boas colheitas...

Rui Baptista disse...

Meu caro José Batista da Ascenção: Uma vez mais nos encontramos tendo como ponto de encontro os problemas da nossa Educação. “Nossa” no sentido restrito da palavra, porque, em sentido lato, ela é, ou devia ser, uma verdadeira, constante e premente preocupação nacional. Ou seja de todos os portugueses: governantes, políticos, professores, alunos, pais, encarregados da educação e do simples cidadão comum.

Mereceram estes problemas atenção especial, especialíssima, no passado dia 10 de Junho, por parte de António da Nóvoa, reitor da Universidade de Lisboa, um académico com obra feita e reconhecida no domínio das Ciências da Educação. Ou seja um verdadeiro engenheiro de como se deve encarar e (re)contruir o Edifício do sistema educativo, e não, como tal, um simples trolha do chamado "eduquês". Pontuou-se o seu discurso sobre o Conhecimento e, como não podia deixar de ser, sobre o passado. o presente da Universidade Portuguesa.

Todavia, eu receio (o futuro, assim o espero se encarregará de me demonstrar estar eu a ver uma tempestade num simples copo de água) que a fusão da Universidade de Lisboa e da Universidade Técnica de Lisboa constitua um mega-agrupamento de faculdades e institutos superiores sem qualquer coesão espacial com a Faculdade de Motricidade Humana, na Linha do Estoril (Cruz Quebrada), e as Faculdades de Letras e Direito sitiadas no Campo Pequeno.

Não se aplicará aqui o princípio de quanto maior a nau maior a tormenta? Será uma nau de quantidade não acompanhada de qualidade em obediência à louvável (e alcançável?) intenção com que vai ser criada para colocar esta futura universidade de Portugal ao nível das melhores universidades europeias?

Pergunto, não afirmo por me faltar o Conhecimento, de que nos falou e tão exaltou o professor António da Nóvoa, que me possa permitir ir além da chinela. E não afirmo, por outro lado, em lembrança de palavras visadas C.K. Chesterton: “A democracia não consiste em deixar que o povo eleja a resposta, nas tão-só em permitir-lhe que faça as perguntas”.

Rui Baptista disse...

Errata: Substituo a última linha do 2.º §, deste meu comentário, pelo seguinte texto: "sobre o passado, o presente e o futuro da Universidade Portuguesa".

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