sábado, 23 de junho de 2012

Crime sem Castigo: Violência escolar nas instituições de ensino médio


Alguns atos de violência praticados na escola não são percebidos por supervisores pedagógicos. Esse foi um dos resultados da pesquisa realizada pela enfermeira Michelly Rodrigues Esteves em seu mestrado na Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP. O estudo avaliou seis escolas urbanas públicas de ensino médio do município de Alfenas, em Minas Gerais, que, juntas, somam aproximadamente 4 mil alunos, entre fevereiro e março de 2011. Em vista dessa realidade, a pesquisa chama a atenção para a necessidade de novas estratégias voltadas à orientação de alunos, funcionários, familiares e da comunidade para o enfrentamento da violência que ocorre no âmbito escolar.

Michelly entrevistou nove supervisores pedagógicos naquelas escolas e questionou as ações assumidas para o enfrentamento da violência. Eles informaram que cada uma das escolas busca estratégias próprias, como: advertência verbal ou escrita, comunicação de pais ou responsáveis e, quando necessário, contato com o Conselho Tutelar, Guarda Municipal e até com a Promotoria Pública.

No período da coleta de dados, a segurança das escolas era realizada pela Guarda Municipal, mais especificamente pela Ronda Escolar. Mas Michelly comenta que a assistência não ocorria da mesma maneira em todas as escolas, fato que pode se justificar pela existência, na época, de apenas um guarda municipal para realizar a cobertura de todas as unidades de ensino.
Quanto ao Conselho Tutelar e à Promotoria Pública, a pesquisadora verificou que os supervisores não reconhecem a efetividade de ambos, uma vez que as escolas se sentem obrigadas, por imposição do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), a receber nas salas de aula os alunos infratores. Ao mesmo tempo, porém, essas escolas não têm acompanhamento para a prevenção de reincidências de casos, o que, segundo ela, torna qualquer ação apenas paliativa.

Famílias –
A família ganhou destaque no trabalho de Michelly, que ouviu dos supervisores, nas diferentes abordagens, referência à “necessidade primordial de que os pais sejam mais conscientes em relação aos filhos, participando mais ativamente da realidade escolar”.

Com relação às manifestações de violência, os supervisores geralmente se limitam aos danos físicos e deixam de perceber determinados atos como violentos, comenta Michelly. “Grande parte dos supervisores referiu as discussões entre alunos, as quais envolvem professores, em determinadas situações. Mas essas discussões foram relatadas por tais sujeitos como algo natural, justificável pelas divergências natas entre seres humanos ou, até mesmo, pela adolescência, fase do desenvolvimento em que os alunos se encontram.”

Como resultado de seu trabalho, ela afirma que cada setor faz o que está ao seu alcance, dentro do seu conhecimento e de suas possibilidades, sem a certeza de que esteja fazendo o melhor. Mas, para enfrentar a violência, a pesquisadora alerta que é necessário desde a intervenção em violências cotidianas vividas pelas escolas e a conscientização dos profissionais, dos familiares e da comunidade até as políticas públicas educacionais, destacando a relevância da atuação em rede.

A atuação conjunta dos setores saúde e educação é vislumbrada para o enfrentamento da violência. As universidades desempenham inúmeros projetos de extensão nas escolas, os quais são acolhidos e desejados pelas mesmas. Essa parceria é considerada fundamental para que os alunos almejem uma profissão”, comenta a pesquisadora.

Ela recomenda a interação das escolas com os pais e com a comunidade, já que a atuação conjunta dos diversos setores envolvidos com as escolas pode promover a proteção das mesmas, de seus alunos e de seus profissionais, reduzindo as manifestações de violência.

A dissertação de mestrado “Um olhar sobre a rede social no enfrentamento da violência escolar nas instituições de ensino médio de Alfenas-MG
” foi defendida no Programa de Pós-Graduação em Enfermagem em Saúde Pública, em fevereiro de 2012, sob orientação da professora Maria das Graças Bomfim de Carvalho.

Camila Ruiz - Jornal da USP 983

1 comentário:

Michelle disse...

Excelente trabalho!
Claro que a família precisa participar e interagir junto a instituição! Mas como mãe, percebo que as escolas não estão preparadas ou não tem a formação suficiente para inserir a comunidade e a família dentro do cotidiano escolar. Quando tentamos fazer isso, a escola em alguns casos se sente como uma intromissão, ou muitas vezes os gestores não querem ou não estão preparados para realiza-la da forma mais adequada possível.
Espero que o trabalho da srta Michelly sirva de alerta para gestores e para a própria comunidade universitária - e principalmente esta - para que faça a extensão como deveria ser: devolver à sociedade os frutos dos impostos investidos em sua manutenção; pq muitas vezes, esta interação é realizada somente visando apontar erros, e não na concreta busca de soluções!

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