Minha crónica no "SOL" de hoje (coluna "HELIOSFERA"):
No tempo de
Darwin discutia-se se o homem descendia do macaco. Hoje sabemos, graças aos
avanços da teoria da evolução, que o homem actual (homo sapiens) e o chimpanzé (pan
troglodytes) tiveram um antepassado comum, isto é, são ramos próximos da
grande árvore da vida.
Em 1955 descobriu-se,
com algum espanto, que os humanos tinham apenas 23 pares de cromossomas, em
contraste com os 24 dos chimpanzés. O cromossoma 2 humano parecia ter resultado, no
processo evolutivo, da junção de dois cromossomas menores que aparecem noutros
primatas (chamados cromossomas 2A e 2B). Mas hoje sabemos mais. Em 2005,
passados apenas dois anos após ter sido finalizado o Projecto do Genoma Humano,
foi sequenciado o genoma do chimpanzé. Concluiu-se que a diferença genética
entre o homem e o chimpanzé era maior do que se supunha: existia entre os dois uma
diferença de cerca de quatro por cento no código genético, quando a
variabilidade dentro da espécie humana não ultrapassa um por cento. De então
para cá, à medida que as técnicas de decifração do genoma foram evoluindo,
tornando-se muito mais acessíveis, foram sequenciados, de um modo completo ou
apenas parcial, grupos de indivíduos, tanto humanos como de outros primatas.
Hoje estão disponíveis na Internet os genomas de mil pessoas (projecto Mil
Genomas) distribuídas por várias etnias. Somos todos iguais, por todos possuirmos
a informação que dá origem a seres humanos, mas também somos todos diferentes,
em virtude de pequenas alterações de letras no ADN. E começam a aparecer
estudos que se debruçam sobre a variedade genética dos nossos parentes
biológicos mais próximos.
Um dos mais
recentes desses estudos, publicado em Março passado na revista de acesso livre PloS Genetics, para além de ter identificado
uma subespécie nova do chimpanzé, apresentou uma conclusão curiosa. A variação
entre chimpanzés que vivem em África separados apenas por um rio era maior do
que a variação entre humanos que vivem em diferentes continentes, separados por
grandes mares. Esse facto fala a favor de uma maior deslocação das populações
humanas e também de um maior cruzamento entre elas. Entre as muitas diferenças
entre os seres humanos não podemos deixar de incluir a maior capacidade de
viajar e de se misturar.
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