Crónica publicada no Diário de Coimbra:
Portugal
mudou muito nos últimos 30 anos!
A ciência,
na sua globalidade, é uma das áreas em que essa mudança surge pela positiva como
um facto quantificável, qualificável e substancialmente significativo em
Portugal.
Mudança
elevadíssima no número de investigadores doutorados em instituições
portuguesas, mudança majoral no número de laboratórios e instituições de
ciência reconhecidas internacionalmente, centros de incubação e produção de
conhecimento científico de referência e excelência internacional, mudança no
aumento do número de museus e centros interactivos dedicados à apresentação do
conhecimento científico e tecnológico a todos.
Neste mês de
Junho assinala-se o aniversário de uma colecção de literatura de divulgação de
ciência que faz parte da história literária e editorial portuguesa
contemporânea e que influenciou um número maioritário de cientistas
portugueses: o 30.º aniversário da colecção “Ciência Aberta”, da editora
Gradiva.
Em Junho de
1982, Guilherme Valente, editor da Gradiva, iniciou a referida colecção com a
publicação de “O Jogo dos Possíveis”, de François Jacob (prémio Nobel da
Fisiologia ou Medicina de 1965), começando a colmatar, paciente e
persistentemente, uma lacuna (salvaguardando não mais do que algumas
excepções no passado): permitir o acesso, em bom português, ao conhecimento
científico actualizado e apresentado pelos melhores divulgadores de ciência e
tecnologia do nosso Cosmos.
Título após
título, com o pulsar de transumâncias fertilizantes, o crescimento da colecção
“Ciência Aberta” apresentou, em excelentes traduções, revistas por especialistas
e cientistas portugueses, uma exposição viva e intelectualmente estimulante de sínteses
sobre o conhecimento que as várias disciplinas científicas teciam e tecem sobre o Universo em que evoluímos e somos humanos.
O Editor Guilherme Valente
A “Ciência
Aberta”, livre, sem preconceitos, sem espartilhos doutrinários, sem fronteiras
geográficas nem agendas políticas (o conhecimento científico é de e para
todos), motivou e deslumbrou toda uma geração de jovens dos “7 aos 77”.
Há quem
(pelo menos o Professor Doutor Carlos Fiolhais no seu livro “A Ciência em Portugal”)
designe a geração de cientistas que, no início da década de 80 do séc. XX (e
décadas sequentes), desabrocharam solida e compaginadamente para a ciência com
a “Ciência Aberta”, como a “Geração Gradiva”.
Dezenas de
investigadores com quem tenho conversado sobre este assunto incluem-se, sem
hesitações, no que esta designação implícita: foi muito devido à “Ciência
Aberta” da Gradiva que as suas formações científicas se fizeram e/ou
completaram, que as suas escolhas e opções de investigação se definiram.
As novidades
sobre um horizonte possível e tangível, numa escala de amplitude sem
precedentes entre o atómetro (milésima milionésima parte do nanómetro) e os
mais de 13 mil milhões de anos do Universo, foram sendo primeiramente reveladas
através da “Ciência Aberta”. Conhecimento acessível nas
fronteiras do saber e para além do que se ensinava e ensina nas nossas
Universidades.
Hoje,
passados 30 anos, a colecção que cresceu ininterruptamente com uma média
impressionante de um novo título em cada dois meses, tem vindo a incluir no seu
seio e de forma crescente, vários autores portugueses: só nos últimos 11 anos
publicou 27 obras de cientistas portugueses, num total de 37 publicados desde o
início da colecção (a lista não cabe no espaço desta crónica!).
Para além do
que ficou dito, acrescente-se que a “Ciência Aberta” compõe-se no presente por
193 obras de incontornáveis divulgadores de ciência como sejam Hubert
Reeves, Carl Sagan, Richard Feynman, Stephen Jay Gould, Stephen Hawking,
Richard Dawkins, entre muitos, muitos outros.
Por fim, aproxima-se
uma outra celebração: a do título número 200!
Cá estaremos para o ler.
4 comentários:
São livros que pouco param na estante :))
Aqui abertos, consultados, sublinhados, anotados e manuseados por 3 gerações estavam à mão de semear :
1) O século dos Quanta - Prof. Doutor João Varela (Vice-Porta voz da experiência CMS no CERN)
2) A Lição esquecida de Feynman - O movimento dos Planetas em torno do Sol, de David L. Goodstein e Judith R. Goodstein, este ainda a transitar da geração dos meus pais para a minha.
Muito justa homenagem.
E qual é o próximo António Piedade?
Sem dúvida uma colecção de alta qualidade. No entanto quando um livro se esgota demora anos até ser reeditado! Exemplos: Está a brincar senhor Feynman!, QED e muitos outros não estão disponíveis há anos!
Eu lia-os religiosamente de uma ponta à outra há uns anos atrás.. Os primeiros 90 foram de certeza lidos. Desde então, tenho visto com agrado que se publicam a um ritmmo superior ao que tenho disponível para os terminar. Enfim, chegará a altura de os ler. Quando chegar o 200 vou fazer questão de enviar uma foto com a estante dos 200. Por enquanto ainda cabem todos numa Billy. A caminho dos 300! Nessa altura já em ebook, provavelmente.
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