quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010
A SINFONIA INACABADA DE EINSTEIN 2
Segunda parte de "A Sinfonia Inacabada de Einstein" (A primeira parte pode ser vista e lida aqui):
Esta era a Teoria da Relatividade Restrita de Einstein. Mas ele não se ficou por aqui: dois meses depois publicava uma adenda de três páginas à sua teoria. Nessas páginas ligava a energia à massa e, ao fazê-lo, formulava a equação matemática mais famosa de todos os tempos: E = m c².
"O que Einstein demonstrou com esta equação é que existe uma simetria entre energia e matéria. Pensemos nisso: a matéria é algo em que podemos tocar, o nosso corpo é feito de matéria, podemos saboreá-lo, podemos cheirá-lo; mas a energia é muito nebulosa, muito difusa. O génio de Einstein reside no facto de ter sido capaz de demonstrar que eles são, na realidade, dois aspectos da mesma coisa."
Esta pequena equação iria, um dia, explicar o modo como, no princípio dos tempos, logo a seguir ao Big-Bang, a energia se transformou em matéria. Explicava como o Sol podia gerar uma enorme quantidade de energia a partir duma quantidade minúscula de combustível e abria os olhos dos cientistas para o poder letal contido no interior de cada átomo. Desta pequena fórmula surgiram tanto a criação como a destruição.
"Quando estes artigos foram publicados em 1905, devem ter constituído um choque para a comunidade científica, porque nessa altura Einstein era um completo desconhecido. Contudo, reconheceram de imediato que eram revolucionários e que, de facto, Einstein fizera esta descoberta."
Para qualquer pessoa estas descobertas eram suficientes, mas Einstein tinha ambições maiores.
Enfermeira: Sempre que pode, atira aquilo 100 vezes contra a parede. Se falhar uma vez, recomeça tudo de novo.
Einstein: Admiro a persistência dele.
Enfermeira: Não sente, por vezes, vontade de desistir?
Einstein: Só depois de encontrar a resposta.
Enfermeira: E será que tudo tem uma reposta?
Einstein: Não sei, mas penso que pode haver uma resposta para tudo.
Enquanto o mundo ainda tentava compreender a Teoria da Relatividade Restrita, já Einstein avançara e se dedicava ao grande cientista do século XVII, Isaac Newton, mais particularmente às suas leis da gravidade.
"Diz a lenda que Newton se inspirou ao ver uma maçã no pomar. Einstein inspirou-se num pensamento semelhante. Pensou: "O que acontecerá se eu deixar cair uma maçã, mas se, ao deixá-la cair, estiver a descer de elevador? Seguramente a maçã flutuará em frente do meu rosto, será como se a gravidade tivesse sido cancelada.” "
A gravidade é a força que domina o nosso Universo, mantém enormes planetas e estrelas nas suas órbitas, e que mantém os nossos pés firmemente ancorados no solo. Porém, embora as leis de Newton descrevessem os efeitos da gravidade com grande precisão ninguém conseguira explicar o que a causava. A grande descoberta de Einstein foi que todos os corpos maciços, como os planetas e as estrelas, encurvam o espaço e o tempo, e é essa curvatura que designamos por gravidade. Isto tornou-se conhecido como a sua Teoria da Relatividade Geral.
"A grande descoberta foi oferecer uma razão para a gravidade. A imagem que Einstein tinha da gravidade era a de que objectos maciços, como estrelas e as galáxias, encurvavam o espaço e o tempo e que outros objectos ao deslocarem-se por esse espaço-tempo curvo sentiam a gravidade. A gravidade não seria mais do que a curvatura do espaço e do tempo."
A Teoria da Relatividade Geral foi o maior triunfo de Einstein. Tornou-o famoso como não acontecera com outro cientista, nem tornaria a acontecer.
"Considero a Teoria da Relatividade Geral a obra-prima de Einstein."
"O termo génio é muito usado na Física, mas no caso de Einstein aplica-se certamente à Relatividade Geral. Foi ela que criou a sua reputação. "
Embora as teorias de Einstein sobre o tempo e a gravidade possam parecer estranhas, a sua obra continua a ser fundamental para a nossa compreensão do Universo.
Os aviões ao utilizarem sistemas de posicionamento global têm em consideração os cálculos do tempo de Einstein para navegarem com precisão. Os satélites de exploração do fundo cósmico têm de compensar as irregularidades através das afirmações de Einstein sobre a gravidade.
O trabalho resultante deste período da vida de Einstein ajudou-nos a construir o mundo moderno. Mas, apesar disto, outro dos seus trabalhos também completado em 1905 já continha em si as sementes do que se tornaria a sua obsessão. Uma obsessão que se prolongaria até ao último dia da sua vida e que resultaria em fracasso e isolamento.
As raízes dos problemas de Einstein provinham de uma outra das suas grandes paixões. Ele via uma relação entre a física fundamental do nosso Universo e um sentido de elegância, beleza e até mesmo espiritualidade. Para ele estas leis do Universo eram uma expressão do divino, uma crença partilhada por muitos cientistas, incluindo o distinto físico de partículas e pastor anglicano, o Prof. John Polkinghorne.
Rev. John Polkinghorne (Univ. Cambridge): "Einstein era um violinista amador. Um dia, num concerto em Berlim, ouviu o jovem Yehudi Menuhin tocar e ficou entusiasmado com o seu desempenho. E conta-se que ele abraçou o jovem e lhe disse: “Ao ouvi-lo sei que há um Deus no Céu”. Penso que quando deparamos com uma grande beleza, quer seja na música ou em algo semelhante, ou beleza na acepção científica de ordem e fecundidade do mundo, é difícil para nós não pensar que existe uma mente e um propósito por detrás dela. Einstein está profundamente impressionado com o facto de que ao estudarmos o mundo físico penetramos sob a sua superfície e descobrimos uma ordem maravilhosa e notável, um padrão muito belo que acaba por ser expresso na matemática, que é a linguagem natural a usar."
Einstein acreditava que as regras do Universo podiam ser sempre explicadas através de fórmula matemática e elegante. De facto, pensava que a ciência podia levar a uma compreensão dos desígnios que Deus tinha para o Universo.
Referência: Bartusiak, M. (2005). Einstein's Unfinished Symphony: Listening to the Sounds of Space-Time. National Academies Press.
Compilação: Sara Ferreira
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