Na entrevista referida em texto anterior, a senhora presidente do Conselho Nacional da Educação afirmou que é preciso “mudar o paradigma do trabalho dentro da sala aula”.
Para se fazer uma tal afirmação seria preciso, antes de mais, conhecer-se em pormenor esse mesmo paradigma. Ora, tanto quanto sei, não dispomos desse conhecimento: haverá estudos de observação dispersos, filiados em múltiplas teorizações, que recorreram a estratégias e instrumentos de investigação diversos, e que incidem neste ou naquele ano, ciclo ou nível de escolaridade, nesta ou naquele área curricular ou aspecto de ensino e/ou de aprendizagem, mas daí a termos uma ideia completa e consistente do paradigma ou paradigmas de trabalho em sala de aula (pois nem sequer sabemos se há um ou vários…) vai uma grande distância.
De seguida, seria fundamental apontar o paradigma alternativo, o paradigma novo, que, com fundamento filosófico e científico, se nos afigure perfeito e que, portanto, se justificaria colocar em prática. Mas, dispomos nós de um novo modo de pensar e agir, susceptível de orientar o trabalho dentro da sala de aula? Tanto quanto sei, não existe: cada teorização, cada autor avança convictamente a sua proposta, não se podendo, porém, dizer que uma é, em absoluto, maia válida do que a outra.
De notar que uma "mudança paradigmática", se atendermos ao significado desta expressão, tem necessariamente de ser profunda, justificando-se, neste ponto, perguntar: o paradigma actual (a existir, claro) é completamente inadequado, de modo que urja a respectiva substituição?
Em vez do mais que habitual apelo à mudança-pela-mudança, não seria preferível que um organismo como o Conselho Nacional da Educação se empenhasse na análise alargada do ensino que tem, de facto, lugar em sala de aula, num estudo conduzido por princípios de objectividade e rigor, de modo que, em função dos dados obtidos, se pudesse identificar o que está certo (devendo ser recomendado) e errado (devendo ser mudado)?
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4 comentários:
Quando ouço falar em "mudar de paradigma" apetece-me puxar da pistola...
É um chavão recorrente das tendências relativistas pós modernas: o saber científico "estabelecido" é um paradigma caduco, tal como todos os modelos que lhe estão associados - o do ensino em particular. É preciso "mudar de paradigma" significa , para essa gente, deixar de ensinar ciência, património, memória, e passar à brincadeira socio-afectiva: impingir valores, atitudes, combater "preconceitos", socializar, promover criatividade... tudo pretextos para criar gente ignorante mas diplomada com a ilusão de igualdade social. Uma mentira criminosa e herdeira do tal pensamento "novo paradigma" de que Hitler foi precursor.
Não concordo com mudança nenhuma de paradigma! O que é preciso é fazer crer tantos aos paizinhos como às criancinhas que quando entram numa escola é para estarem calados, ouvirem o professor o que este tem para lhes transmitir e tanto lhe custou assimilar,portarem-se bem com os colegas e cumprirem com os deveres para casa.
Enquanto professor, só tenho de me preocupar em preparar as matérias da minha disciplina, programar bem as aulas, cumprir com o meu horário, fazer umas consultas, e deixar-me de andar em perdas de tempo com os meus colegas em pseudo-reuniões de trabalho que nada me dizem.
Quanto à indisciplina, à mínima falta de respeito é aplicar o que em tempos se aplicava - pôr na rua - e é pena que algo mais não se possa fazer, agora com estes modismos do estatuto do aluno que é mais uma palhaçada e perda de tempo.
Quanto às aprovações, elas só deveriam ocorrer após um exame final de ano que englobasse toda a matéria. só assim o aluno se convenceria que tinha de estudar e deixar-se dessas palhaçadas que são as áreas de projecto, EA e a formação cívica, bem como agora essas tretas em que os paizinhos os colocam fora da escola: balet, musica, futebois...
Estou farto desta libertinagem e desta tentativa de me entrarem pela porta dentro que pretendem agora incrementar à custa da nossa avaliação. Isto é apenas para nos controlar e obrigar a passar mais tempo na escola, estupidificando-nos ainda mais. Na minha sala sou eu que mando e não é qualquer professor titular cujo curriculo nem conheço que agora me vai avaliar. Até porque nem entreguei qualquer tipo de objectivos-outra do pós-modernismo educativo!
Esse senhores/as do "eduquês" é que vêm com estas dos paradigmas e teorias, mas nem sabem o que é estar dentro duma sala de aulas com 20 alunos, alguns com nee declaradas e outros queo deixaram de ser -deviam era estar todos em instituições que os atendessem como antes- porque estar numa aula só deve estar quem quer aprender e não quem não quer. Para estes há os cursos profissionais e os cef's. E a exame só deve ir quem o professor achar que está em condição de fazê-lo. quem não estiver reprova e volta parao ano. Se começassemos a (re)adoptar este paradigma, muita coisa mudaria. Eu não tenho problemas no meu quotidiano-eles já sabem que comigo não pisam o risco. Só muito esporadicamente lhes tolero alguma confiança.
Mário Adolfo Lithério
Como dizia um deputado do vintismo: "Nunca mais aprendemos, e a pachorra vai-se esgotando".
É sempre o mesmo do mesmo, isto é, quando não somos capazes de precisar o nosso pensamento, utilizamos chavões e etiquetas, para dizer: "aquilo que queremos dizer está tudo explicado nos chavões e nas etiquetas; para quê explicar em pormenor o que não sabemos?".
E assim vamos vivendo na floresta da educação.
Para os "especialistas" e "cientistas" da educação é sempre necessário mudar de paradigma, porque para eles isto é essencial para continuarem a viver às custas do trabalho dos professores e às custas das experiências pedagógicas com os alunos. Enquanto não percebermos que a única coisa deveras importante para estes pós-modernos é continuarem a viver às custas do Estado, não percebmos nada e o empobrecimento do país continuará...! Mas que fique claro, não tenho nada contra os lobbies. Os lobbies existem em todos os países democráticos, o problema é o facto de os nossos políticos ainda não terem percebido que os "cientistas" e "especialistas" da educação são apenas e só um lobby com interesses muito fortes no estado actual da educação e que tudo farão para para garantir a sua sobrevivência com ideias tão interessantes como OBRIGAR todos os professores a frequentar cursos nas escolas "superiores" de educação sobre coisas tão importantes como: "Gestão de conflitos em educação", "Psicossociologia da educação", "Melhores práticas educativas", "Contextualização psicossocial educativa", entre muitas outras.
Esta situação é natural, depois de terem perdido milhares de pagadores de propinas (ou seja alunos) nos seus cursos "superiores" de educação necessitam como de pão para a boca que o Pai Estado OBRIGUE todos os professores a pagarem essas mesmas propinas. Quem tiver dúvidas basta verificar a evangélica ideia do curso de formação de professores transversais a todas as áreas do conhecimento...! Este curso já existe e pretende criar uma espécie de professor generalista capaz de leccionar tudo e um par de botas, apesar de não saber nada de coisa nenhuma! Mas como para as "ciências" da educação o professor deve ser apenas "alguém capaz de orientar os alunos na sua própria aprendizagem", esta formação deve chegar!
Uma coisa que apreciei bastante foi o facto de uma amiga minha me ter contado que numa turma do 7º ano de escolaridade, os pais quando perceberam que a professora de Matemática aplicava em sala de aula as pedagogias românticas dos "cientistas" da educação, pegou na filha e matriculou-a num colégio privado bem conhecido de Lisboa. Primeiro ameaçou com o Conselho Executivo que retirava a filha se a professora não aumentasse de forma dramática o nível de exigência, como o Conselho Executivo até defendeu as tais pedagogias activas, a aluna nunca mais compareceu na escola.
Escusado será dizer que esta aluna deverá ter um futuro bem diferente dos colegas que ainda permanecem na tal escola pós-moderna.
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